Capítulo 7
Você se acabou mesmo, hein fedelho?
Não falei que a sua brincadeira só traria problemas para nós? Não... Para você?
O que é? Vai ficar sentado nessa pose esfregando os dedos de novo? E porque raios você sempre deixa a janela fechada? Me deixe abrir essa porcaria.
- Não me sinto bem com a janela aberta.
E agora? O que você vai fazer? Nós livramos suas costas. Você está morto. Morto para a sociedade. E o teatro foi muito bem recebido pelo departamento de homicídios, então é muito difícil imaginar que vão desconfiar que foi armação a ponto de reabrir o caso. Mas...
...Mas também significa que você não pode ser você. Você não é mais Dwan Goodwin, o guarda-costas do senador. O segurança pessoal do senador se arrependeu de seus atos e se suicidou no próprio apartamento no dia 26 de fevereiro deste ano. Apesar de os crimes horrorosos terem sido atribuídos a ele, foi uma cena comovente.
Imagino o que os familiares dele estão pensando.
Nenhuma reação, hã? Você é mesmo um psicopata abjeto. Vai ter que mentir para a mamãe pelo resto da vida agora.
- Se possível gostaria que fosse menos famanaz comigo.
Não se preocupe, Goodwin, ou melhor... 'Não Goodwin'. Papai está sempre ao seu lado, desde que você continue me protegendo da mazela que é essa vida entre os poderosos. Só você sabe lidar com as coisas com as quais eles me atacam com tanta facilidade, por isso venho fazer uma proposta para você. Para você, o ser sem nome que não é mais Dwan Goodwin e nem está vivo: te pago vinte e cinco mil ao mês. Pago a cirurgia, você faz, muda de aparência e é contratado como meu novo segurança. Te deixo escolher o nome que quiser.
- Ei, está falando sério? Vinte e cinco mil?
É o melhor negócio que tenho a oferecer! Vai ter que aceitar. Ou acha que encontrará melhor renda fixa por aí carecendo até de identidade? Você sabe que não. O que vai fazer? Fugir para uma cidade de subúrbio e se associar ao tráfico? Virar mercenário? Mercenários podem fazer mais dinheiro, mas eles não têm renda estável e nem a segurança de que vão viver para ver o sol nascer mais uma vez. A segurança que você dá por certa todo dia quando acorda e olha seu fulminante rosto simiesco no espelho.
Tsc.
O que foi? Vai ficar me olhando com esse risinho de bobo?
- Eu... Tenho que pensar na sua proposta.
Pensar? E o que há para pensar? Garoto?
- Eu achava que não tinha alternativa... Mas parece que você acaba de me sugerir uma.
Longe dali, o penúltimo telefonema partiu de Sproustown, entre a tenente Harmon do departamento de casos especiais de Sproustown e o subtenente Heckmann, de Silverbay. Contudo, devido às precauções talvez exageradas, esta ligação nunca foi interceptada
Voz 1: Quem é?
Voz 2: Ora, você sabe quem é, subtenente Heckmann. Ou não estamos nos comunicando direito?
Voz 1: Eu não sabia... Demorei para entender o que diabos era aquilo que me veio pelo correio. Como assim? De onde você tirou isso? E como ouço sua voz a partir dessa geringonça?
Voz 2: Essa geringonça é um celular, Heckmann. Igual ao seu que você está acostumado, que carrega consigo todos os dias no bolso quando vai trabalhar... Exceto que fui eu que fiz.
Voz 1: Você!?
Voz 2: Depois que andei pedindo ao FBI informações e eles me entregaram de imediato eu percebi como é inútil confiar na tecnologia alheia para esconder informação. O melhor modo de saber que não estamos sendo rastreados é esse. Não se preocupe, a ligação não pode ser interceptada por nenhum rastreador de sinais porque ele não sua wi-fi. O sinal é particular do aparelho.
Voz 1: E por que tudo isso? E mais importante... Como desligo?
Voz 2: Não ouse desligar na minha cara depois de todo o trabalho que tive para organizar isso, Heckmann.
Voz 1: Brincadeira, meu amor. Estou sempre disponível para escutar sua voz.
Voz 2: ... Escute: eu só queria agradecer... Por ter confiado em mim.
Voz 1: Você TEM que me agradecer, mesmo! Phil deve estar puto comigo agora, sua...
Voz 2: Considere esse 'celular' como um presente de agradecimento. E mantenha ele com você. Se formos fazer mais parceria ele será útil no futuro. Por falar em Phillip... Como você contornou a situação?
Voz 1: Ah... Eu inventei uma desculpa... Não estava me sentindo à vontade em Blythestone, embora tivéssemos morado lá faz algum tempo eu disse a ele que a família tinha se apegado à Bay, e que o local que estávamos lá era bom por causa do garoto que nasceu agora... Inventei uma desculpa envolvendo a família para não ficar na cara que eu desconfiava que o caso da queimada era uma armadilha.
Voz 2: O caso da queimada vai ser resolvido?
Voz 1: Acho difícil. Está para acabar o prazo do arquivo provisório... E eles não têm nada.
Voz 2: Ele tinha começado já há muito tempo, certo?
Voz 1: É... Phil te explicou? Eu achei que era um caso recente, mas era reaberto...
Voz 2: Que coincidência que as mortes por queimada tenham recomeçado bem na hora que apareceu o caso de Prince e que o senador veio visitar o DH né? Uma grande coincidência.
Voz 1: ...
Voz 2: O assassino costumava matar mais esporadicamente aí resolveu voltar com tudo e fazer oito mortos dentro de seis dias. É... Uma enorme coincidência.
Voz 1: ...
Voz 2: ...De qualquer forma, Heck... Agora o de Prince está resolvido. Que bom, não? O que acha que vai acontecer em seguida? Acha que subirá de cargo?
Voz 1: Eu sei lá. Talvez. Pela lógica deveria. Teve bastante repercussão e eu já estava na lista faz bastante tempo... Foi um caso interessante, mas embora você tenha se empenhado para me ajudar acabou tendo um final meio anticlimático, não acha?
Voz 2: O suicídio realmente veio impremeditado. Me fez ficar um pouco constrangida... Quer dizer, enfim meus esforços não significaram muita coisa. Ainda assim... Outra coincidência né. Justo quando estávamos para resolver o assassino resolve se arrepender e mostrar-se sujeito à "redenção" desta maneira. De fato, uma grande coincidência. De qualquer modo... Só de curiosidade: não tinha como não ser verdade mesmo, né? Você chegou a analisar o corpo.
Voz 1: Estava presente durante as duas sessões: da perícia e da autópsia. A imagem bate com a das câmeras que você me enviou. As que Zerubabbel tirou. Indubitável. E o endereço e o nome descartam qualquer possibilidade de álibi. O homem estava nas cidades certas em todos os casos no dia correto. E mesmo que tenha sido uma forma de suicídio bastante peculiar não tinha como negar que ele estava morto.
Voz 2: Como que foi mesmo? Ele arrancou a própria cabeça? Que força, não?
Voz 1: Foi um truque. O cara amarrou um pedaço de corda no pescoço e amarrou no teto, aí deve ter colocado fogo no cordão para fazer parecer que não teve corda nenhuma. Subiu na cadeira, com a cabeça dentro do cordão, mas antes disso passou cola nas mãos e colocou na cabeça. Daí pulou o mais longe da cadeira que podia. A cabeça foi arrancada e o cordão foi queimado até sumir. Como as mãos ainda estavam na cabeça e a cadeira estava encostada na parede deu a impressão que ele tinha feito aquilo com um movimento só. Foi o que o legista disse.
Voz 2: Hm. Que coisa. Bem-humorado até mesmo na hora da morte, é?
Voz 1: Para você ver.
Voz 2: Bem, de qualquer forma agradeço a ajuda... Heck.
Voz 1: Eu também agradeço a sua. Mas como a minha foi muito melhor vou decidir que você ainda me deve uma.
Voz 2: Vamos conversando. Não jogue fora o celular.
Voz 1: Espere. Sério. Como eu desligo isso?
A ligação foi cortada em apenas um lado.
O último telefonema veio de um celular convencional recém-comprado da capital, direto à frente de uma loja de celulares que localizada no centro
Voz 1: McLuinge aqui.
Voz 2: ... É seguro falar?
Voz 1: Tem que ser. Acabei de comprar essa porcaria.
Voz 2: E o pirralho?
Voz 1: Está fazendo cena. Disse que vai 'pensar a respeito'. Tsc. Ele é ótimo profissional, só gostaria que não fosse tão ingrato e malcriado.
Voz 2: Mas é certo que ele ainda vai continuar conosco então?
Voz 1: Sem dúvida alguma. O coitado não tem nem onde cair morto. E de qualquer forma... Ele precisa de alguém para reparar os estragos que a necessidade dele causa para si. Ele sabe que mesmo que consiga se virar fazendo outra coisa precisa estar envolvido com alguém que lhe dê amparo legal ou senão... Vira só mais um alvo fácil para a polícia.
Voz 2: Até mesmo um vício horroroso como esse pode ser aproveitado. Diga, Luge: o FBI comprou nossa história de resgatar o caso do incendiário? Esses oito vão ser disfarçados?
Voz 1: Usamos a finesse do "Toño el Chucky", da capital, para reproduzir os corpos. Aquele mexicano não está no radar e nem em nenhum banco de dados. É impossível detectar aquela finesse. Nem mesmo alguém onisciente como o tal Zerubabbel pode fazer nada a respeito. Essa história de finesse é mesmo assustadora. Não se pode confiar em nada! Tsc... Só espero que o verdadeiro incendiário não resolva tirar proveito e causar uma cena agora.
Voz 2: Ele nunca foi pego, né? Duvido que ainda esteja na Terra. Se ele causar qualquer coisa temos apoio para acobertar a história. Por hora o que vai acontecer é que a polícia vai "achar" o suspeito e os assassinatos vão cessar, encerrando o caso por completo.
Voz 1: Não sei por que... Tenho um mal pressentimento.
Voz 2: Relaxe Luge... ... ...
...Não tem nada a ver com a gente, mesmo.
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