Capítulo 6
Ah, Blythestone! Tinha me esquecido como ela era. Aquele límpido céu azul de um lado enquanto milhares de nuvens se aglomeram no outro, ameaçando uma chuva que nunca chega enquanto a outra parte do sol derrete os transeuntes. Aqueles pássaros que parecem um martelo batendo quando cantam. E os jovens andando cada vez com um veículo da moda diferente no meio da rua: skate, patinete, carrinho, patins, ski...
É sério.
Teve um inverno que se andava de ski. Começaram a inventar manobras. Nomes para as manobras. Até tinha uma vestimenta específica de quem era da galera do ski.
Madeline e minha filha Joyce estavam encantadas em voltar. A vizinhança não era a mesma, mas elas amaram ver novamente a placa vermelha e amarela do Joker's Burguers. Tivemos que pegar alguma coisa no drive thru antes de ir até a casa.
É. Era uma casa e não um apartamento. É mais trabalhoso de cuidar, mas o espaço é melhor. E agora temos o garoto... Mesmo que seja mais caro é só um aluguel por um mês mesmo, dificilmente o caso vai durar mais que isso.
- O que foi, meu garoto? Olhe aqui!
- Rê!
- O que foi? Não quer o macaquinho?
- Rê rê!
- Ele está meio quieto, não acha não?
- Deve ser a mudança. O espaço aqui é bem maior e todo mundo está andando para lá e para cá carregando caixas. – Disse Joyce enquanto descansava no sofá da sala. Eu e Madeline (mais Madeline do que eu) no momento fazíamos conforme Joyce tinha descrito.
- Vocês sabem que não precisavam trazer toda a casa, certo? Vamos ficar só por um pouco. – Disse me levantando e me preparando para voltar ao quarto com a nova leva de bagagem. Estávamos pegando as pilhas da sala e as levando cada qual em seu lugar. – Vocês duas dariam bons caracóis.
- Ué. Vai que você recebe uma transferência permanente e a gente já fica por aqui? Oh, seria o máximo.
- Porque você vai ver aquele seu namorado antigo?
- Ugh.
Agora com o nascimento do garoto era claro que Joyce nem pensava em voltar com ele. Não acompanhei de perto, mas o relacionamento deles pelo que eu sabia tinha terminado de forma desastrosa. Joyce devia ter repulsa só de eu lembrar a existência dele.
Adoro.
Tenho que mencionar mais vezes.
- Não vai se trocar, pai?
- Ãhn? Não... Eu tenho que ir direto no DH daqui a pouco.
- Credo, assim? Sem nem tempo para tirar a viagem da barriga?
- Hoje eles vão me mostrar uma cena recente de um crime lá.
- Ui, se for violento nem quero ouvir.
- Então não pergunte. Ha-HA!
Fui até a cozinha e abri a geladeira.
- Amor? Cadê aquele refrigerante?
- Deve estar no isopor, ainda! – Ouvi ela falar de lá do quarto.
Eu quase que estava com vontade de ajudá-la a descarregar, mas eu teria que sair para trabalhar dali a pouco. Então nem era tanta vontade assim.
Meu trabalho, quando é de campo, é tranquilo: você vai até lá, cumprimenta o defunto, pode até comer alguma coisa enquanto olha os detalhes do ocorrido. O pessoal da perícia que cata o lixo todo para você... A meu ver ia ser mais como que um passeio por Blythestone. Eu só ia ter que marcar algumas coisas na cabeça para pensar depois.
O evento naquele dia tinha hora marcada, só que eu por conta da preguiça tinha evitado de viajar mais cedo para chegar antes, então por isso que estava em cima da hora.
- Madeline... – Fui até o quarto.
- Sim, amor?
- Amor da minha vida.
Me despedi dela com um beijo.
- Já vai indo? Bom trabalho! – Amor disse.
- Vou nessa Joyce. Tchau para você. Tchau garoto! – Ele estava com os olhos cada vez mais arregalados.
- Tchau!
- Ee! – O menino levantou uma mão e abaixou. Tomei como uma despedida.
Eu trabalho nesse ramo há anos então até conhecia o pessoal de lá. Quer dizer... Pelo menos achava que conhecia. Caramba... Como trocam esses funcionários para lá e para cá, não?
Canterbury, o do bigode branco, eu conhecia. Lembro dele. Lembro que ele era o zé que não causou impressão alguma. Ha-HA!
Mas agora era tudo que eu tinha, fazer o quê?
A cena ficava afastada da cidade, no bairro "Veronaz", onde tem aquele parque com o mesmo nome do bairro. Eu e Madeline costumávamos levar Joyce lá, fazíamos pique-nique e tomávamos aquele sorvete da sorveteria rosa da frente.
Difícil acreditar que o parque do Veronaz estava tão perigoso a ponto de estar vazio daquele jeito em plena segunda-feira.
A ideia é que tinha ocorrido outro – mais um – assassinato por ali e eu estava indo lá para conhecer as manias do novo maluco. Claro que não tinham interditado o parque todo. Provavelmente devem ter feito o serviço da perícia correndo e arrastado o corpo na medida o mais rápido possível para uma área mais afastada.
Eu estava checando no meu celular as mensagens do grupo do DH deles me dando as coordenadas para a hora que eu chegasse, mas uma vez no parque, antes de ir para o local de trabalho passei e peguei uma casquinha com duas bolas naquela sorveteria rosa lá da frente. Os sorvetes de fruta deles são ótimos, sabe... Mas agora a sorveteria era amarela.
Tá. Finalmente quando eu cheguei no desgraçado, como eu antecipei, Canterbury estava lá. Era ele que estava organizando o grupo de mensagens. E parecia que ele também estava dando as ordens por ali.
- Can-ter-bu-ry... Canterbury scene. Uma cena Canterbury. Cena de crime. Ha-HA!
- Você não mudou muito, turista. Tá um pouco mais velho só.
- Esquisito se tivesse mais novo. - Apontei com a cabeça para a cena escrota: - O que temos aí?
Eu não precisava descrever a cena escrota, mas vou; de repente anoto para contar para a Joyce depois: o corpo estava sobre um círculo de mato queimado no meio da grama. Todo o terreno ao redor da grama estava revirado como se um profissional de manutenção tivesse ficado meio maluco e decidido trazer o trator ali para fazer uma chuva de terra. Árvores ao redor da área estavam ou derrubadas ou já tinham sido limpas, mas dava para notar pedaços delas faltando.
Bem no centro onde estava o corpo não havia quase grama. Só terra. E esta estava preta. O corpo acima era um cadáver encolhido composto apenas de ossos tostados, que disposto como um embrião ou como algo que se encolhe ao ver alguma coisa que o ameaça. Tal como o resto a cabeça do corpo estava só no crânio. "Só" é modo de dizer, tinha um pouco de pele e carne também, mas estas estavam grudadas nos ossos, de um modo escorrido e ambas derretidas e misturadas umas nas outras. Como lombo derretido quando escorre para fora da frigideira, sabe.
O crânio era só uma cabeça morta de caveira, mas passava uma expressão aterrorizada. Você podia ver o medo nos olhos da figura do defunto. Como se ele tivesse visto alguma coisa e morrido exatamente naquela posição. Congelou, queimou e nunca saiu do lugar. Era uma cara dessas que é tão feia que dá vontade de ficar olhando, sabe?
Era uma cena legal. Parecia bem de cinema. Se tivessem dado uns retoques ficaria melhor ainda.
Eu a olhava e analisava enquanto lambia o sorvete de maracujá.
O velho Canterbury respondeu:
- Ninguém sabe ao certo se é uma mulher ou homem ainda. Não achamos nenhum pertence e nenhum jeito de identificar o corpo...
- Antes que continue: deixe-me dar os parabéns! Estou vendo que conseguiu uma nova estrela. Isso aí! Primeiro-tenente.
Canterbury enrubesceu, mas deixou-me lhe dar um abraço.
- Quando foi?
- Faz tempo já. Acho que oito meses.
- Isso aí.
- E você, Heckmann? Quando sobre?
- Pbt! Meu departamento é foda, você sabe...
- Mas acho que depois dessa você sobe para tenente, hein? Esse aqui é especial. O major te falou o quanto é importante que você tenha vindo? Estamos precisando de alguém como você aqui.
- É? Phil não me disse muito, não...
Canterbury parecia me examinar de cima a baixo.
- Falando nisso... – O velho usava "falando nisso" para mudar de assunto - ...Uns ratos da PF pode ser que te atazanem. Apareceram por aí depois que começamos com esse caso.
- Que que a PF tem a ver com isso?
Ele balançou a cabeça e começou a ir-se na direção de uma das colegas de trabalho dele que eu não conhecia. Apenas respondeu em tom ligeiramente exuberante: - Eu sei lá!
Mais de longe ele me incentivou:
- Pode tomar o tempo que for. Veja se você chega a alguma conclusão, porque nós já vimos oito desses e necas.
Tomei uns minutos para analisar a cena.
Tudo sugeria que a vítima tinha morrido queimada viva por alguma coisa que queima bastante. Algo como uma explosão? Não... Estava para algo mais concentrado: se fosse uma explosão a paisagem estaria muito mais acabada. A impressão que aquilo passava é que a vítima simplesmente pegou fogo do nada. E o fogo era forte o bastante para queimar o chão também. Um fogo que veio, tomou conta do corpo e cessou instantaneamente.
E as árvores derrubadas ao redor sugeriam que teve luta de um certo tipo.
Um tipo bem grotesco, aliás.
É... Não importa como se olhe, aquilo não era natural.
Sabe... O ruim de Blythestone é que ali não tem um tema. Silverbay tem um tema. Silverbay fica logo do lado da capital; de Lurburgh District. O tema lá é política. Quando acontecem essas coisas assim perto de Lurburgh ou de Silverbay você tem por onde começar. Os políticos são sujos; a Harmon as vezes exagera, mas ela tem razão: eles são sujos. Quando acontece alguma coisa desse tipo você pelo menos tem uma base de por onde começar... De quem tem as ideias do que pode ter acontecido. Quase sempre é alguém relacionado a alguém relacionado a um partido.
Sproustown, a cidade dela, também tem um tema: o tema lá são drogas. Todos os casos que ela tem pendente que ela anda pedindo ajuda para não passarem de jurisdição tem a ver com o tráfico de drogas por lá. Então ela já tem as ideias... As manhas. Ela tem algo para se basear e começar a investigar.
Blythestone é no meio do mato.
Não tem nada em Blysthestone.
O que aconteceu ali? Alguém morreu queimado, e daí? Era foda...
Se a perícia não achou nada era difícil sequer de começar.
Não tinha muita saída senão entrevistar os envolvidos, mas na semana passada Phil já tinha me falado do caso. Era um serial killer que matava a esmo. Não tinha essa de vítima envolvida com algo suspeito e morreu por queima de arquivo, por chantagem, por dinheiro, por desentendimento amoroso, nada. Morre qualquer um e em qualquer lugar.
Mata qualquer um e não deixa pista nenhuma.
Como pegar um desgraçado assim?
Passei o resto das próximas horas tirando informação de várias fontes. Principalmente dos colegas que eu não conhecia, mas também de umas testemunhas que estavam ali quando o negócio aconteceu.
Quer dizer, elas não testemunharam per se, mas... Ah que seja, vai ficar mais claro se eu transcrever um pedaço. Vou relatar o diálogo com aquele velho com que conversei na parte de trás do parque:
-
.
Tá antes de começar, vou dar uma impressão de como estava a cara do velho. Só porque foi meio engraçado. Ou sinistro... Você que escolhe:
O velho tinha os olhos arregalados. Eram olhos opacos que não pareciam encarar o interlocutor. Era como se ele os dirigisse a mim por formalismo e não para captar a imagem daquele com quem conversa, sabe? A entonação de sua voz durante toda a troca de frases era oscilante: ora parecia desembestado falando alto e rápido, ora era remansoso, abaixando o tom de voz de forma que eu quase não podia ouvir.
Agora sim:
-
.
Tá o contexto é o seguinte: eu o parei, perguntei o nome, comentei sobre o acontecido, aí ele deixou escapar que estava ali até então:
- E o que o senhor viu?
- Nada!
- Er. Mas não estava aqui?
- Às seis e meia eu estava lá. Bem lá. Aí quando era umas sete e pouco, eu estava longe. Eu ia abrir a grade de ferro da entrada de trás - (o velho trabalhava lá) - e ouvimos um barulho. Eu e a Martha. – (outra funcionária) - Mas não era um barulho de fundo. Era uma arcabuzada! Impossível de ignorar!! Era como se estivesse acontecendo aqui do lado! Não tinha como não parar o que estava fazendo e ir na direção para saber que bicho que era! Ela ficou e eu fui. E aí o corpo estava no chão. Tudo já tinha acabado.
- E aí o senhor voltou ao interior para chamar a polícia pelo telefone, certo?
- Tudo já tinha acabado! Não vi começar, mas quando cheguei o fogo tinha começado, deixado queimar e sido acabado. O início e o fim da fogueira. Do corpo ao cadáver. Da floresta à clareira. Da vida à morte. Do princípio ao fim. Tudo no tempo de eu ir e vir.
- Er... Sim, mas...
Nessa parte o velho se aproximou e pôs as mãos nos meus ombros. Ainda portando aquela expressão assustadiça e sem brilho:
- Não há como fugir, policial. Todos estamos condenados! O fogo virá e consumirá a todos e nunca saberemos o que aconteceu.
Eu... Não lembro de ter feito mais perguntas depois que soltei as mãos dele de mim.
Tipo estranho.
Eu teria anotado ele como principal suspeito, mas ele trabalha no parque e estava no trabalho durante os outros assassinatos, então...
Segundo os colegas novos que eu não conhecia do DH não tinha ninguém em comum em todas as cenas. O velho embora tenha deixado uns parafusos caírem tinha razão nesse sentido: o que quer que fosse vinha, queimava e desaparecia. Ninguém ficava sabendo.
Parecia até o caso do Prince. Era bem do mesmo jeito.
O que tá dando nos serial killers para ficarem fazendo esses casos complicados? É uma forma de protesto coletivo por causa da final do EFL?
(O que que foi aquela final do ELF? Juiz totalmente comprado...)
Depois daquilo eu fui almoçar com o Canterbury, porque voltar para casa estava fora de cogitação né... Já eram quase uma da tarde...
E depois do almoço eu fui para o prédio do DH. O prédio do DH deles. Não era bem um prédio. O deles era uma estrutura de um andar só que ficava numa área grande coberta daqueles bloquinhos de cimento que ficam cruzados um vertical e horizontal. Eu já tinha vindo ali outras vezes, mas faz tempo. Quando você trabalha no ramo viaja bastante por esses lugares. Não tinha mudado muito.
Mas como o agora primeiro tenente Canterbury tinha dito, um pessoalzinho nariz empinado da PF estava ali.
- Prazer – O loiro alto de cabelo arrepiado com cara de alemão me estendeu a mão – Sou o detetive Insira Nome, nós da federal estamos conduzindo a série de assassinatos dos corpos queimados.
Assim que ele falou o nome dele eu esqueci, tamanha era a importância dele para o desenrolar dos eventos. Se quiser ser mais preciso você vai ter que completar essa lacuna que eu deixei, ha-HA!
Insira Nome continuou:
- Por isso, subtenente – Ele abaixou os olhos para meu distintivo para citar o meu cargo – qualquer informação a mais que ficar sabendo... Peço que reporte para nós. Como investigador designado pelo departamento de Silverbay sei que deve ter seus desentendimentos com a divisão federativa, mas... É imprescindível que a condução seja feita da maneira correta. Afinal, se algum investigador começar a guardar informações para si e acabar resolvendo o caso por si próprio... Ainda assim... Terá que revelar o que sabe para os encarregados legais do caso, se é que me entende. Não há porque competir se a glória será de um departamento e não de uma pessoa. Espero que entenda.
O Insira Nome foi mesmo direto ao ponto, heh?
Ele sorriu e depois bateu uma continência.
Aquele tipo de briguinha entre departamento era bem comum. Fazer operação em conjunto com outrem sempre é um saco. Sempre.
Com um sorriso irônico mas tentando parecer genuíno, retribuí a continência e fui falar com a novata. Uma jovem ruiva de óculos que estava lendo uns papeis sobre uma mesinha que ficava na frente de uma coluna de cimento que parcialmente sustentava o prédio.
- Oi. – Me aproximei.
- "Oi, meu gato. Ainda bem que você investiu primeiro"
Não... Não foi bem assim, ela respondeu como mesmo? Ah:
- Oi. - (seco)
- Já que tem tanto PF acho que não tem porque trabalhar né? Dá para deixar tudo para eles.
Ela quase que sorriu, mas olhando para baixo fez uma cara desconfortável.
- Heckmann de Bay. – Estendi a mão.
- Jessie Drumhein.
Costumo ser cortês com apresentações e tal, assim sempre apresento as pessoas, só que sinceramente? Não tome como spoiler, mas... Você não vai precisar guardar todos esses nomes, ok?
- Isso tudo na mesa é sobre os corpos queimados?
Ela suspirou.
- Não... Isso é um caso de lobisomem que estou pesquisando. – Abaixou o tom de voz – me realocaram.
- Como?
- Isso. Me tiraram do caso.
Parei para olhar ao redor. Havia três agentes da PF ali. Em geral num DH existia poucos qualificados para fazer o trabalho sujo, sendo que três normalmente somava uma equipe quase que toda para cuidar de um caso. Especialmente quando estavam acontecendo mais que um em paralelo. Parecia que os ratos queriam mesmo pegar o negócio para eles.
E daí tinha "eu".
O subtenente esporadicamente interino de outro departamento.
Se eles precisavam de ajuda então...
Quer dizer, vamos estruturar isso melhor; olhar pelo lado realista da coisa: um departamento tem um caso tão difícil e de escala tão elevada que precisa fazer parceria com outros para cuidar do mesmo. Aí esse departamento entra com pedido e convida agentes interinos. E quando o interino chega aqui descobre que aparentemente não estão querendo muito que os interinos se metam no caso.
Mas afinal eles precisavam do interino ou não?
Tem alguma coisa estranha por aí...
Como eu ainda estava meio atrás no andamento do processo, para me familiarizar melhor eu fui de novo até a sala do Canterbury e pedi os arquivos dos depoimentos das testemunhas dos sete crimes que ocorreram durante aquela semana.
- Os arquivos? Vai ter que pedir para a PF. Eles já tomaram posse.
Ok. Agora eles estão de sacanagem comigo...
O resto do meu dia de trabalho foi mais ou menos nessa linha: inventa uma coisa para pesquisar; vai até o pf; pergunta "papai, deixa?", aí enrola e enrola, aí finalmente consegue; aí lê e não consegue nada; aí inventa uma coisa para pesquisar; vai até o pf; pergunta "..."
Não descobri nada de muito interessante porque parece que as pistas e informações estão todas separadas de forma que não dá direito para se ter uma ideia geral da coisa toda. É como se eu tivesse comprado um quebra cabeça de 1000 peças, dividido em 5 pilhas de 200 e estivesse tentando montar o inteiro analisando uma pilha de cada vez.
Mas teve uma coisa eu descobri naquela tarde: a PF é um pé no saco.
♪And here I go again on my own
Goin' down the only road I've ever known
Like a drifter, I was born to walk alone
And I've made up my mind ♪
Era eu no carro, voltando para casa e cantando com o rádio.
Yaduming Feasant, o bairro em que estávamos alojados, não era muito longe do DH. De carro, pelo menos. Cheguei lá em menos de vinte minutos.
Estava para abrir a porta quando senti meu celular vibrar. Peguei-o na mão e adivinhe só: era Harmon.
Fiz um biquinho: "huummm. O papo está de pé." Ha-HA!
Que idiota.
Não tinha nem plateia ali para me ver fazendo a piada.
No fim era só uma mensagem.
Deslizei a senha e acessei. O conteúdo era assim:
"Heckmann...
...
Quer saber quem matou Jabresi Prince?
Está no seu email."
Aquela nanica... Não sei como ela conseguia.
Entrei.
A sala estava mais arrumada agora sem todas aquelas caixas. O garoto estava dormindo no colo da Joyce, que estava sentada no sofá fazendo qualquer coisa no celular.
- Boa tarde. – Disse meio baixo, para não acordar o menino.
- Cansado?
- É... Não foi um dia fácil. Cadê sua mãe?
- No banho.
Fui até nossa suíte. Já iria tirar aquele uniforme grudento, mas antes decidi que ia abrir no meu celular reserva e pelo menos checar o que a Harmon tinha feito. Meu celular reserva eu usava só esporadicamente quando estava com alguma cisma de que se usasse o normal poderia ser interceptado. Como eu usava aquela coisa quase que nunca e quando dava mais que umas cinco vezes de uso eu jogava fora e trocava, era um meio de acessar a rede que era quase que impossível que alguém ficasse sabendo.
Era indiscutível que as provas que ela me passou apontavam para o verdadeiro criminoso.
O foda era que o caso agora estava com Phil, então eu não podia fazer nada a respeito. De qualquer forma pelo que ela me passou parecia ser um rolo e tanto.
Mandei uma mensagem para ela:
"Pq não mostra para Laura ou p/ Phil? To em Blythestone, agr."
Logo recebi:
"Não sou autorizada a interferir em casos em andamento que estejam fora de minha jurisdição. O secretário da justiça andou me ameaçando pessoalmente."
Soltei um assovio leve.
Coloquei meu celular na cabeceira e meio que me deitei, encostando a cabeça na parede fria.
Aquele era um momento de escolha. O que fazer?
Harmon tinha me dado aquela informação porque aquele nosso trato ainda estava em vigor. Mas eu tinha feito aquilo quando eu estava em Bay ainda. Então eu tinha que ver... Será que eu tomava nota da informação e tratava de resolver o caso?
Eu podia passar a informação para o Phil e continuar por ali.
Ou... Eu podia voltar para Bay.
É sério...
A informação que Harmon me deu mudava tudo. Resolver o caso do Prince ia ter impacto o suficiente para uma promoção... E se eu continuasse ali era capaz de não dar em nada, porque a PF estava toda enchendo o saco.
O que indicava uma coisa que estava martelando na minha cabeça: aquilo que eu falei, sabe: porque convidar o subtenente interino se não se precisa dele? Será que Harmon estava certa e Phil tinha feito aquilo só para me afastar?
Precisava confirmar a veracidade da fonte, mas se o que ela me enviou fosse verdade o PDJS estava metido nisso. E Phil tem uns chegados do PDJS.
Mas não é possível... "Aquele" Phil? Metido com políticos e o que é pior, me passando para trás? Não pode...
Só se o próprio Phil estivesse sendo enganado também. Era possível. Porque o senador tinha vindo lá na segunda.
Espera, mas então... Quando Harmon me perguntou de Luinge na terça ela já sabia? O quanto e o que exatamente aquela menina sabe?
E se tudo isso fosse mesmo uma armação? O que isso significava? Phil secretamente não espera que eu suceda? Esse crime daqui é tão ruim assim que ninguém que tentar vai conseguir alguma pista? Tenho sabido que Harmon está com problemas em Sproustown com ondas de crimes que duram semanas e ela também disse que parecia que o departamento estava ocupado com um enterro mas eu nem cheguei a perguntar, mas falando sinceramente... Na minha linha de trabalho nunca vi um caso tão elaborado que eu ficasse mais de um mês sem conseguir resolver.
Então eu estava naquele dilema... Tinha que decidir qual era a verdade. O que era o certo? Voltar e resolver o caso do Prince? Ou entregar nas mãos do Phil e tentar esse aqui? Tudo dependia de se isso era armação ou coincidência. E eu tinha que escolher por mim mesmo e no instinto... Porque tanto se Phil estiver armando e eu escolher Blythestone ou se ele não estiver e eu escolher Bay... Eu estarei só fodendo com minha carreira.
E agora? Em quem acreditar?
Harmon ou Phil?
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