Once, la promesa
São Paulo, vinte dias após o fim da copa do mundo.
Manuela apertou as têmporas doloridas, já amenizadas pelo tylenol tomado minutos atrás. O desconforto era notável e sua raiva, parecia transpassar sobre o seu corpo, afetando até sua criatividade para escrever os artigos do dia.
O Real não dava merecido reconhecimento para seus jogadores, pensou.
Na foto da manchete exposta no seu monitor, a imagem de Thibaut Courtois, goleiro que havia deixado seu nome na copa, mostrava seu feito de forma contrastada, ao lado das letras garrafadas, dizendo em bom e alto português:
"Goleiro sensação da Copa é contratado pelo Real Madrid e assume a posição principal do time."
A jornalista não tinha nada contra o goleiro belga, aliás, tinha visto o feito dele no jogo da Brasil, estava em campo no dia. Mas o que faziam com Navas era de fato doloroso, fazendo a fechar os punhos por não ter uma vida financeira estável o suficiente para pegar o avião até a capital espanhola e jogar uma bomba dentro do clube.
Diante dos fatos, Manuela respirou fundo, pendendo a cabeça para trás.
Sabia bem que Keylor estava muito triste. A conversa entre os dois era diária e sempre o assunto de sua vulnerabilidade no time era tocada pelo goleiro, que demonstrava aflição diante da situação que se encaixava ao seu lado. Sempre fora seu sonho, desde menino, jogar pelo Real e tudo agora parecia escapar de suas mãos, jogando-o no abismo da frustação. Manuela bem sentiu quando Keylor lhe mandou uma mensagem há dois dias, dizendo que o belga estava já com a titularidade em mãos.
Pobre Navas, o Real não merecia seu amor.
Manuela bufou e se levantou da mesa onde estava sentada, procurando pelo celular, preocupada por Keylor não ter dado notícias. Procurou pelo aparelho e quando o achou do lado da mesa, se assustou com a vibração, mostrando a foto do goleiro na tela.
— Keylor? — Atendeu, segurando no celular com força, enquanto se sentava na cadeira da empresa.
Silêncio.
— Keylor, fale alguma coisa! — Manuela repetiu, já sentindo meu peito falhar. — Eu estava escrevendo uns artigos e vi sobre a ascensão do belga... — Respirou fundo novamente, tentando manter a calma, se é que havia alternativa. — Ia te ligar assim que conseguisse.— Nada, apenas o barulho de respiração. — Keylor? Pelo amor de Deus, não me mate do coração!
— Perdão. — Sua voz que era melodia para os ouvidos da jovem veio em um tom quase que estático, por conta do peso presente nela. — Vi a reportagem assim que acordei. Faz algumas horas, mas...
Com certeza esperou se acalmar para me ligar, Manuela pensou.
— Está no clube? — Manuela quis saber, olhando para o relógio, eram quase nove da manhã. Em Madrid deveria ser três da tarde.
— Não, estou em casa. Não tive coragem ainda, hoje não foi dia de treino. — Keylor respondeu com certa dificuldade. Manuela escutava sua respiração pesada e isso de certa forma a rasgava por dentro. — Perdão pelo meu estado. Estou dilacerado. Eu já imaginava isso, mas...
— Eu também estou. — Falou por fim, extremamente frustrada por não estar ao seu lado no momento. — Eu sinto muito.
— Eu vou lutar, Manu. — Sentia o choro em sua voz. — Lutar pela vaga de titular.
— Não, Keylor. — Manuela pediu, passando os dedos pelo rosto. — O Real não te merece. Meu, simplesmente esse time não te merece!
— Mas... — A voz do costarriquenho se alterou levemente, mas em seguida o silêncio retornou na linha.
— Você merece muito mais. Muito mais. — Manuela continuou, cerrando os dentes por alguns instantes. — Keylor, me escute. Fale com o seu empresário, ou seja, quem for. Não fique mais aí. Estou pedindo para sair desse clube. Eu sei, posso estar parecendo uma louca, mas estou vendo o quanto tudo isso está te fazendo mal. Por favor, por favor! Não aguento de te ver assim! Meu coração se rasga em várias partes ao escutar sua voz abatida, seu falar cansado. Eu não quero sentir essa agonia, não mais! Dói muito ver uma pessoa que gostamos passar por esse momento de problemas. Eu sei, Keylor, seu sonho sempre foi estar aí e cara, esses anos consecutivos de títulos o Madrid deve a você. Mas está na hora de buscar outros ares. Ares que não te sufoquem, apenas te levem para um lugar bom, um lugar melhor. Um lugar que você merece.
Manuela respirou tão fundo que seu peito doeu e novamente veio o silêncio. Tudo que ela escutava era os seus batimentos completamente descompassados.
— Você está certa. — Keylor finalmente disse, depois de alguns segundos. — Preciso me dar ao valor. Preciso buscar meu reconhecimento e parece que aqui será muito difícil. Vou ver o que dá para fazer.
— Exatamente. — Manuela completou. — Converse com seus amigos daí, eles devem ter a mesma opinião que eu. Não pense que sou louca. — Sorriu por fim, mesmo ainda triste por não presente, ao lado do goleiro. — Eu queria estar aí, te abraçando, pois eu sei como é difícil, estou escutando suas lágrimas caírem. — Manuela balbuciou com a voz pesada. Keylor riu baixo e logo em seguida, mais silêncio na linha. — Eu queria estar aí contigo. Não sabe a vontade que estou pensando.
— Mas você já está. — O goleiro falou finalmente, arrancando um sorriso da jornalista que foi de orelha a orelha. — Sempre está. Sua voz me tranquiliza, suas palavras... são incríveis. Você é incrível por inteiro.
— Lembra do que eu te disse, dias atrás? Eu sempre te disse, Keylor. Mesmo que longe, com você passando por essas lamentações há um mar de distância, eu estou do seu lado.
"Por que eu te amo." Pensou, mas era cedo demais dizer. Seu amor era grande, mas o medo de assustá-lo era maior. Então apenas mordeu o lábio, controlando-se na cadeira. Na hora certa tudo seria dito e concretizado.
— Eu nem sei o que dizer, Manu. Espero um dia retribuir tudo isso, se é que tem como.
— Já está retribuindo. Olha só o número que tenho em meu celular. — Keylor riu. — Olha o quanto estamos próximos, juntos. Quer pessoa mais feliz do que eu?
— E permaneceremos juntos, não é? — Keylor murmurou, agora mais aliviado.
— Sem dúvidas, Navas. — Manuela completou, ainda com o sorriso brotado em seu rosto. — Sem a total dúvida.
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