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Capítulo 6

    Ouço todo aquele sangue caindo e, como os outros sons daquele ambiente, soando abafadamente.

    Como se não houvesse nenhum obstáculo, aquela mão sangrenta ultrapassa a superfície do espelho e vai se aproximando lentamente de mim. No segundo seguinte, o corpo inteiro da coisa parece querer sair.

    É então que o que eu temia há alguns minutos atrás e que já havia sido deixado de lado na minha mente, começou a se materializar à minha frente.

    De um buraco sobre o peito nu daquele corpo, se estendia o que parecia ser um coração, preso ao que eu chutaria ser vasos sanguíneos e que estavam suspensos à frente como varas bem finas. Dele gotejava um sangue idêntico ao que eu via de relance caindo sobre a pia.

    Enquanto meu cérebro tentava processar tudo aquilo, o meu pescoço estava sendo agarrado por algo macio e molhado. O rosto que antes se encontrava com um sorriso largo e dava risadas abafadas, agora estava a poucos centímetros do meu rosto e parecendo desesperado. Os lábios, dessa vez sem os dentes à mostra, faziam escorrer mais sangue que transbordava pelo queixo e tilintava no chão.

    Os olhos ainda escuros, a face à minha frente começava a derreter vagarosamente; salpicos de pele jorravam no ar, gotas de sangue pulavam à minha cara. Uma podridão imensa circundou o ambiente.

    A pele agora criava buraquinhos ao redor das maçãs do rosto, enquanto soava dali o som de algo pastoso se retorcendo...

    - Rapaz... ei garoto. Você aí... ei... - uma voz rouca e arrastada ressoa no ar...

    A realidade surgindo ao meu redor, me encontro sob uma árvore; alguns poucos carros parados sobre uma terra arenosa. O PÁTIO DA ESCOLA.

    Assim como mais cedo, minha cabeça lateja fortemente, minhas pálpebras pesam e sinto como se minha garganta estivesse comprimindo uma pequena esfera.

    - Você tá bem, garoto? Quer que eu chame alguém da enfermaria - estremeço ao ouvir isso. A possibilidade de alguém me ver imóvel e provavelmente com uma cara de horror, faz criar em mim um mar de angústia.

    Com dificuldade, tento abrir a boca.

    - N-não, claro que não... não... não precisa. Eu... eu estou bem... bem, muito bem. Obrigado.

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