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As pessoas ao redor abriam espaço para o carro de changbin passar, a multidão de pessoas que lotava a pista de corrida clandestina era das mais variadas: havia pessoas de fora do território bang e de vários bairros distantes. Pessoas que changbin nunca viu e velhos conhecidos. Todas num mesmo ponto, e com um único objetivo mútuo. Gastar seus dinheiros com apostas.
E tinha o moreno, que iria arriscar seus pneus recém trocados e gasolina para provar ao dono do território onde residiria que era bem melhor que ele.
Mas antes que tirem conclusões precipitadas, o moreno tinha uma explicação plausível para sua sede de vingança contra o australiano: seu orgulho estava em jogo. Já tinha perdido várias e várias vezes para o mais velho nas corridas da Wolfgang — nome do percurso mais perigoso que deu origem ao local onde o moreno sempre corria nos fins de semana —, e queria mostrar que seu carro era bem melhor do que a Harley Davidson preta que o maior pilotava.
Changbin passou meses montando o Mustang amarelo que conseguiu recuperar do seu pai depois que ele faleceu, trocou as peças antigas por novas, pneus antes furados e carecas foram trocados por novos e sem nenhum rastro de asfalto neles, o moreno apenas manteve a coloração mostarda com listras pretas na parte do capô porque gostava do jeito que ela reluzia perante o sol escaldante do meio dia em frente a garagem da sua casa.
Quando finalmente achou um lugar para estacionar a poucos metros de distância da linha de chegada e de partida, o baixinho desceu do automóvel ajeitando a jaqueta de couro sintética que vestia por cima da camisa preta. Ele marchou em direção a minho — o rapaz que recolhia as apostar — olhando ao redor, havia muita gente de olho na corrida que estava procedendo, alguns iam atrás dos corredores para ter uma experiência melhor e outras apenas observavam tudo pelo celular, uma vez que um dos rapazes que trabalhava com minho na organização das corridas lançavam um drone para monitorar a corrida e transmitia ao vivo na internet.
— hey, lino. — acenou para o rapaz de fios vermelhos meio alaranjados, alguns passos de distância dele. Uma pequena rodinha se formava ao redor do mais velho, ele recolhia as apostas de algumas pessoas e dava informações, era um dos caras de confiança da família bang. Minho mantinha uma oficina que às escondidas fazia alguns serviços de desmontagem de automóveis para o dono do território. Se você precisava de algo, era só falar com o garoto de fios ruivos e olhos felinos.
Minho terminou de pegar as apostas, usando uma liga amarelada para fazer pequenos amontoados com as notas impressas, ele andou até o seo e passou um braço por cima dos ombros do menor, arrastando ele até a pequena tenda isolada onde ficam monitorando as corridas para guardar o dinheiro. Changbin o seguiu de bom grado. Tinha uma relação boa com o lee, uma vez que ele era praticamente o namorado do seu melhor amigo, por mais que não entendesse que relacionamento esquisito ele e seungmin mantinham. Era um tipo de namoro aberto que claramente incomodava o kim, mas aquele era um assunto que ele não podia se meter diretamente, afinal, ambos rapazes eram adultos e deveriam se resolver como tal. No momento, o moreno só tinha uma coisa em mente: vencer christopher.
— pensei que você tinha falado pro minnie que ia dar um tempo nas corridas. — soltou o menor antes de entrar na pequena tenda que ele e mais três homens dividiam para gerenciar a Wolfgang, voltando rapidamente com as mãos vazias.
— só falei isso pra tranquilizar ele. — admitiu. Seungmin se preocupava tanto com o moreno quanto com minho, o perigo de sofrerem um acidente nas corridas não podia ser facilmente ignorado, e a chance de serem presos, por menor que fosse — já que as corridas estavam sempre mudando de endereço para os policiais não interceptarem com tanta facilidade —, ainda era algo que podia acontecer de uma hora pra outra.
— você não presta. — o menor deu de ombros, escondendo as mãos nos bolsos da jaqueta. — se ele souber que você tá aqui, com certeza você volta pra casa sem uma perna.
— o que os olhos não vêem, o coração não sente. — minho riu, balançando a cabeça. — vai dar pra me encaixar em alguma corrida? De preferência com seu chefe.
— ainda obcecado pelo chan? — changbin revirou os olhos com exagero, retornando até onde o Mustang amarelo estava. O ruivo precisou andar rápido para acompanhar o compasso apressado do rapaz. — quando você vai parar com essa palhaçada e assumir logo que todo esse ódio pelo chris é só tesão reprimido, hein? — segurou nos ombros do menor, acompanhando ele. — até o minnie que é bestinha percebeu isso, e você ainda nessa. Que feio, binnie. — zombou com um sorrisinho irritante. Changbin bufou empurrando o mais velho.
— você sóbrio só fala merda. Por que não vai encher o cu de cocaína e para de zumbir no meu ouvido que nem um mosquito irritante?
— ow, baixinho, vai com calma. — ergueu as mãos para o alto rindo quando este o encarou com raiva.
Changbin deu as costas para o lee, mesmo sabendo que não era o suficiente para ele largar do seu pé. O moreno não suportava a presença do maior às vezes, apesar de achar o ruivo um cara legal, na maior parte do tempo ele estava fazendo piadinha ou alguma gracinha que provavelmente tiraria o menor do sério. E changbin simplesmente odiava aquilo. Ainda mais quando ele assumia algo que não era verdade. A única coisa que sentia pelo bang era desprezo. Apenas queria ganhar dele numa corrida, pegar um bom dinheiro com aquilo e sumir do território.
Tinha tanta coisa pendente com aquele australiano que nem mesmo sabia como aguentava a vontade de bater no rostinho perfeito e simétrico dele.
Quando retornou até o seu carro, a corrida que antes estava acontecendo finalmente chegou em seu ato final. A balbucia ao redor não era nada de novo, pessoas gritavam e se agitavam como selvagens, o barulho estridente dos pneus dos carros e motos que corriam fazia o chão tremer. Changbin foi até o seu automóvel, afastando quem fosse que estivesse sentado sobre o capô do simpático Mustang modificado, apenas sua carranca e mal humor tangível era capaz de afastar todos da sua frente.
Quando a Harley Davidson 883 preta ultrapassou por um milésimo a linha de chegada bem na frente de uma BMW, a multidão gritou em entusiasmo e excitação, correndo até a moto. Changbin nem mesmo precisou esperar que o rapaz tirasse o capacete, ele já sabia quem era. Christopher era adorado pela multidão de viciados em adrenalina e jogos de azar, cumprimentando um ou outro enquanto descia da moto e tirava foto com algumas pessoas, agindo como uma celebridade. O moreno odiava ver aquilo, todos o tratavam como se ele fosse um rei, e não como um cara qualquer que tinha dado sorte na vida. Ele era neto de um ricaço que passava o dia todo sem fazer nada além de coçar o próprio saco e jogar golfe em sua mansão particular.
Particularmente changbin odiava toda a família bang, e parecia que seu ódio era retribuído, uma vez que só deixavam o garoto viver ali porque seu pai era amigo dos bang. Mas aquilo era coisa do passado, e o moreno estava juntando dinheiro para vazar o quanto antes dali.
Chan o achou mesmo no meio da multidão, e o moreno fez questão de revirar os olhos e cruzar os braços. Ele sorriu enquanto pedia licença, andando com calma até o baixinho com o capacete embaixo do braço. O loiro depositou seu peso no braço, esticando ele até tocar na lataria do capô do Mustang do seo, ele abaixou o corpo na direção do baixinho, olhando dentro da imensidão de turmalina negra que era os olhos do menor.
— veio me ver, amor? — chan indagou sorrindo, deitando levemente a cabeça para o lado apenas para observar o moreno se remexer desconfortável e encará-lo com nojo.
— vim ganhar de você.
— não delire, querido.
— veremos.
Empurrou o australiano para trás e desceu do capô do carro, entrou no automóvel e ligou os motores, dando um pequeno impulso para frente a fim de expulsar o loiro da sua frente. Logo após aquilo, changbin ainda viu o mais velho ir até sua moto, colocando novamente o capacete. Eles iriam correr. Minho apareceu na janela do carro do baixinho apenas para passar breves instruções, dando a ele um GPS com o mapa da corrida, um percurso fechado e livre do engarrafamento da cidade, não era nada tão arriscado, mas ele precisaria tomar um cuidado a mais com as curvas. Como sempre, o moreno ouviu tudo atentamente, mesmo que sua atenção estivesse no bang ao seu lado, ele acenou para o baixinho apenas para provocá-lo, o que na maior parte das vezes dava certo. E nesta não seria diferente.
Minho repetiu a mesma coisa com o australiano, gastando menos tempo com ele uma vez que ele já tinha feito aquele percurso alguns minutos atrás. Changbin respirou fundo quando o sinal acima da cabeça deles lentamente deslizava entre o vermelho, o amarelo e chegava ao verde. O moreno sentiu cada pelinho do seu corpo arrepiar quando foram liberados, o carro tremeu e os pneus cantaram quando ele deu partida, saindo a toda velocidade pela estrada, não deixando tempo para o australiano acompanhá-lo de primeira. Mas nenhum dos dois ali jogavam para perder. A rivalidade que mantinham era tão antiga quanto a Wolfgang, changbin se lembrava como se fosse ontem da primeira vez que competiu com o bang, lembrava do sorriso de vitória dele e de como se sentiu inferior. Era como uma tradição as corridas de ambos rapazes, ninguém tinha coragem o suficiente de cruzar o caminho deles quando os dois estavam na pista.
Se o moreno olhasse para o lado, viria christopher mirando as esferas âmbar nele, mas estava ocupado demais para dar atenção às estranhezas do maior. Ele pisou fundo do acelerador e trocou de marcha quando o bang ultrapassou, não deixando tempo para ele cantar vitória, mantendo boa parte da corrida com eles lado a lado. Changbin gostava daquilo. Gostava da ansiedade que crescia em seu peito quando eles corriam juntos, gostava da sensação eletrizante que percorria suas veias quando tudo estava silencioso ao redor e podia focar totalmente em ganhar do australiano. Porque ele queria ganhar e iria. Tinha passado semanas reformando o Mustang, e não se conformaria se perdesse.
Faltava menos de vinte metros para cruzar a linha de chegada, conseguiu passar na frente de chan numa curva mais fechada, e já podia sentir o cheiro agradável da vitória inundando seus sentidos e o deixando letárgico. Ele iria ganhar. Estava tudo certo. No entanto, changbin esqueceu de uma coisa.
Chan era previsível na maior parte das vezes, mas em momentos críticos como aqueles, ele deixava aquilo aparecer mais ainda, deixava que seu adversário pensasse que já era vitorioso. Changbin sabia disso, mas estava dormente pela sensação de triunfo que acabou esquecendo. Quando Harley Davidson passou como um relâmpago meio azulado na sua frente, o moreno por um instante perdeu os sentidos. Ele pisou no freio com uma força enorme, puxando o freio de mão antes que pudesse atropelar as pessoas que novamente corriam até o bang. Gritos e comemorações que claramente não eram pra ele enchiam seus ouvidos, o deixando com uma sensação ruim de náusea.
Ele tinha perdido de novo.
O sentimento de inferioridade preenchia seu paladar, fazendo com que ele se sentisse pior ainda. Estava tão confiante com sua vitória naquela noite que nem mesmo cogitou que pudesse fracassar, mas tava ali bem na sua frente, sorrindo e esbanjando sua conquista, o motivo que o fez perder novamente. Humilhado, o moreno desceu do automóvel e recolheu as mãos dentro da jaqueta, sendo acolhido por minho com um abraço meio desajeitado de lado.
— eu sinto muito, cara. — o seo apenas balançou a cabeça, fingindo desinteresse. Não importava quantas vezes perdesse, aquela dor em seu peito latejava como se fosse a primeira vez, dolorosamente apertava suas costelas e prendia seu ar.
O ruivo chamou o australiano com um aceno de mão rápido, pedindo para ele segui-los. Foram parar na tenda, uma vez que lá o lee distribuía o dinheiro das apostas. Mas é aí que changbin estava ferrado, não tinha dinheiro para pagar a aposta, tinha gastado tudo que possuía ajeitando o carro e agora não tinha um tostão furado no bolso. Quando chegaram lá, minho entregou a quantia acumulada das apostas anteriores por fora, entregando tudo ao australiano, ambos rapazes se viraram pro menor, a espera dele pagar sua parte.
O sistema de apostas era até simples, o público apostava em seus favoritos — corredores que já tinham um certo histórico —, e aqueles que sugeriam uma corrida, tinham que pagar uma certa quantia, dependendo do percurso. Mesmo que tenha dado sorte por pegar uma pista menor, changbin ainda não tinha o dinheiro todo no momento, e sabia que tentar barganhar com minho não daria certo.
— eu não tenho o dinheiro agora. — admitiu constrangido enquanto encarava os pés.
— porra, changbin, aí você me quebra, cara. Você sabe que eu já não te cobro antes das corridas por confiar em você, mas eu não posso cobrir novamente seu prejuízo. Você tem que dar um jeito de arrumar esse dinheiro ainda hoje ou vamos te expulsar da Wolfgang. — ele abaixou a cabeça, se sentindo mais envergonhado ainda pelo sermão que receberá de minho.
— olha, podemos fazer um acordo. — changbin espichou os olhos até o australiano, não tendo um bom pressentimento quanto aquele acordo. — a gente esquece isso e você vira meu servo pessoal durante uma semana, o que acha?
— prefiro ser espancado até a morte.
— qual é, binnie? Eu tô te quebrando um galho.
— eu vou dizer onde vou enfiar esse galho, seu filho da p-
— já chega! — minho bradou por cima da fala do menor. — seja coerente, changbin, é melhor aceitar essa proposta do que ser expulso da Wolfgang. A não ser que você realmente queira ser expulso e não ter onde tirar uma renda extra.
O moreno respirou fundo e auditivo, mordendo a ponta da língua para conter sua raiva. Tinha ido lá com um objetivo e acabou ganhando mais problema. Aquilo com certeza não daria certo. Minho vendo que o seo ainda parecia relutante, pediu licença enquanto puxava o garoto para ter uma conversa a sós, mantendo o braço por cima dos ombros do moreno.
— escuta, bin, eu sei que você odeia o chris e quer distância dele, mas vamos concordar que seu trabalho naquele posto de gasolina não cobre nem a metade das suas dispensas, e caso você seja expulso daqui não vai conseguir pagar nem as contas de luz da sua casa. Então, engole a merda do seu orgulho e aceite esse acordo, chan não é um cara tão ruim quanto você pensa.
— você fala isso porque ele é seu chefe.
— sim, você tá certo, ele é meu chefe, e é por isso que eu conheço ele o suficiente pra te dizer que ele não é um cara tão ruim, só um pouco irritante e orgulhoso. Mas olha que surpreendente, vocês são iguais nesse quesito. Agora vai lá e aceita essa porcaria.
Recebeu um empurrão nem um pouco singelo do lee, parando em frente ao australiano. Changbin mordeu os cantinhos da bochecha e ergueu o queixo, encarando os olhos âmbar com frieza.
— tá, eu aceito. — largou a mão de qualquer jeito na frente do mais velho, virando o rosto com desgosto.
— vai ser ótimo te ter comigo durante essa semana. — o aperto de christopher era forte, como se ele estivesse fazendo aquilo de propósito, e o moreno não conseguiu esconder o tanto que aquilo doeu.
Minho sorriu para eles, dando tapinhas em seus ombros com felicidade nítida em seu rosto.
Changbin estava ferrado.
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Seja bem vindo a "drive"
Essa história já está toda planejada, mas os capítulos vão sair aos poucos. Então, por favor, tenham paciência.
Novamente peço que se vocês se sentirem a vontade, comentem. A opinião de vocês sobre a história são muito importantes para o desenvolvimento.
A história vai abordar alguns assuntos delicados, caso não se sinta a vontade, peço que não leia. E todos os personagens são maiores de idade.
Não tenho a menor intenção de ofender os artistas citados, suas personalidades são totalmente diferentes do que eu descrevo nas minhas histórias.
Espero que vocês gostem desse novo projeto.
Até o próximo capítulo !
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