Eu, eu estava parado

Você estava ali

Dois mundos colidiram

E eles nunca poderiam nos separar

(Never tear us apart - INXS)

    Senti o couro cabeludo formigar ao ouvir Taylor. Pelo seu tom de voz sabia que estava sério e preocupado. Peguei o carro e voei até o pub o mas rápido que pude. Encontrei-o conversando com alguns funcionários enquanto terminavam de guardar algumas caixas. Parecia tenso, mas ao me ver sua expressão se suavizou. Me deu um abraço apertado, e um longo beijo.

- O que aconteceu? - eu estava preocupada.

- Vamos conversar no escritório. - caminhamos de mãos dadas até o escritório que ficava nos fundos do Pub. Era pequeno, mas bem arejado, com paredes azul escuro, uma mesa, uma poltrona num azul mais claro, um MacBook e vários papéis espalhados em cima da mesa, além de uma linda foto de Taylor e Lucy se divertindo, construindo um castelo de areia na praia enquanto sorriam para a câmera.

- Fala logo Tay, está me deixando nervosa!

- Eu perguntei a minha mãe sobre a carta.

- E...?

- E ela me disse que lembra quando você foi lá em casa e pediu para que ela me entregasse. Disse também que no dia em que eu voltaria ela levou a carta consigo para o restaurante para que eu pudesse abri-la assim que chegasse lá. Mas que como precisei ir na escola para acertar os horários da nova turma de violão eu não fui para o restaurante.

- Fala logo tudo, Taylor Harper! - ele falando por etapas estava me tirando do sério.

- A Megan apareceu no restaurante procurando por mim. Minha mãe não lembra exatamente o porquê, mas que acha que chegou mencionar a carta para ela. Disse que não lembra do desenrolar do assunto porque tem muito tempo, mas que a Megan levou a carta para me entregar.

- A Megan!? Não pode ser! - tinha que ter algum engano naquela história. A Megan era minha amiga!

- Ela disse que como era uma carta sua imaginou que eu iria querer ler imediatamente, por isso deu para ela. - Taylor disse sério. – Nesse dia eu encontrei a Megan na escola. E foi ela quem me disse que você tinha ido embora. Perguntei se você tinha dito alguma coisa, qualquer coisa, e ela me disse que não. Que havia ficado sabendo porque seu pai encontrou com o pai dela e disse que vocês estavam indo embora. - ele mantinha seu olhar penetrado como se toda aquela história o tivesse levado para o passado. – Lembro da minha mãe me perguntar de você quando cheguei em casa naquele dia. Eu estava tão possesso que fui grossa com ela dizendo que não queria saber de você nunca mais, e muito menos queria que alguém falasse de você. Ela nunca mais tocou no seu nome.

    Eu por mais que tentasse não conseguia acreditar que a Megan teria sido capaz de fazer algo tão cruel assim e ainda com a cara de pau de agir comigo como se nada tivesse acontecido. Me viu sofrer pelo Taylor, se fez de minha amiga e não me disse nada! A dissimulação em pessoa! Ela era a responsável por eu e Taylor ficarmos sem nos falar durante todos aqueles anos! Um nutrindo mágoa pelo outro e a culpa era toda dela!

- Danny, calma... - Taylor com certeza viu minha expressão de raiva se formar enquanto eu sentia meu rosto queimar.

- Eu vou atrás dela! Como ela pôde? - ameacei a sair pela porta do escritório.

- Você não vai a lugar nenhum desse jeito! Você precisa se acalmar... - disse Taylor me segurando pelos braços.

- Como eu posso me acalmar? Aquela fingida... aquela... meu Deus, eu quero esfregar a cara dela no asfalto! - sentia tanta raiva que falava entre os dentes. – E por que você está tranquilo? Fique com raiva junto comigo, Taylor!

- Eu também estou, Danny. Mas não irá adiantar nada nos descontrolarmos. Vamos confrontá-la, mas para isso vamos bolar um plano.

    Somente Taylor estava frio o suficiente para bolar um plano, porque eu não tinha cabeça para pensar em mais nada a não ser ir lá e puxar Megan pelos cabelos! Enquanto Taylor andava de um lado para o outro pensando no que íamos fazer, eu pensava em dezenas de desastres que queria causar a Megan. Queria que ela sofresse, e mesmo assim não chegaria perto do estrago que ela tinha feito em nossas vidas.

    Taylor pediu para eu ligasse para Megan e Denise e as convidassem para irem ao "R&B", ele iria fazer um pocket show extra para se redimir de não ter aberto o Pub no domingo anterior e gostaria de convidar a todos. Ele ligou para Scott que disse que iria com Casey.

    Foi um desafio falar com Megan como se não soubesse de nada, mas consegui soar quase natural. A princípio disse que não iria porque estava muito cansada da viagem, mas depois de insistir muito e ter que quase implorar apelando para o emocional, ela aceitou.

    Taylor havia ligado para outros amigos e conhecidos avisando do show e para minha surpresa, o Pub estava lotado para um dia de semana. Todos estavam lá para ver Taylor, e eu não poderia dar mais razão à eles. Eu havia ido a Tulsa pelo mesmo motivo.

    Estava um pouco afastada observando Taylor falando com várias pessoas sempre muito simpático e extrovertido. Era incrível como ele era popular em Tulsa, podia dizer que até mais do que eu. As pessoas paravam mais para falar com ele do que comigo, o que era engraçado.Mas não me incomodava nem um pouco, pelo contrário. Estava adorando passar pelo menos um pouco despercebida e assistir Taylor em seu meio. 

    Era emocionante como o valorizavam como artista e como empresário, pois ele era uma cria da cidade, nascido e criado em Tulsa. Ele se mantinha ocupado com as pessoas e coisas que aconteciam no Pub, mas mesmo de longe dava sempre um jeito de olhar para mim e sorrir,me entregar uma cerveja e depositar pelo menos um selinho em meus lábios disfarçadamente, o que fazia meu coração saltar. Sim, só dele chegar perto de mim, já sentia meu coração pular...

    Taylor subiu ao palco com seu inseparável violão, agradeceu a presença de todos e começou a cantar uma música de seu álbum. Era uma mistura de folk e rock com melodia e letra extraordinária que falava sobre relacionamentos. E em seguida mais algumas músicas, fazendo todos se animarem ainda mais. Era inegável o seu talento para cantar, tocar e compor canções.

- É maravilhoso estar aqui hoje cantando para vocês, podendo me redimir um pouco de não ter aberto nosso lugar, mas voltamos com tudo! E para celebrarmos à isso, uma rodada de cerveja para todos por conta da casa! - disse animadamente enquanto as pessoas iam a loucura por poderem beber de graça. – E aproveitar esse clima em que estamos comemorando e dizer que hoje temos mais uma vez, agora com a devida honra a mais sensacional, deslumbrante e cantora com a voz mais bela que esse mundo já viu. 

    Taylor olhava na minha direção com o olhar mais orgulhoso e um sorriso escancarado, fazendo todos olharem também e aplaudirem. 

– Canta a próxima música comigo? - perguntou. Fiquei nervosa instantaneamente, não cantava com ele há tantos anos. E o Tay era tão bom, cantava tão bem que me senti um tanto insegura. Ele me viu reticente, e acrescentou: - Vamos lá, você está acostumada com estádios, o que é uma plateia de um humilde Pub? - seu comentário fez as pessoas rirem e começarem a clamar pela minha subida ao palco. Olhei para Taylor com a minha melhor expressão de "Só você mesmo..." – Vem, baby.... - saí de perto do balcão e fui até o palco. 

    Perguntei com o olhar qual seria a música enquanto pegava o outro microfone preso na lapela. Taylor trocou o violão pela guitarra e começou aquelas acordes conhecidos para todos nós cantando virado completamente para mim.

"Não me pergunte

O que você sabe que é verdade

Não preciso te contar que

Eu amo seu coração precioso

Eu, eu estava parado

Você estava ali

Dois mundos colidiram

E eles nunca poderiam nos separar"

    O olhar de Taylor era penetrante, como se ele sentisse cada palavra que cantava. Ele tinha o poder de me entorpecer completamente. Era lindo, era sexy, era visceral. Com dificuldade entrei na segunda parte de "Never tear us apart", cantando com a mesma verdade que via em Taylor. E tudo ao redor simplesmente passou a não existir, ninguém mais importava além de nós dois. Aquela letra estava carregada de sentimentos que eram conhecidos nossos. Ao terminar a canção, puxei Taylor pela camisa e roubei-lhe um beijo repentinamente que retribuiu sem pestanejar, ah, eu precisava dele...

    Nos perdemos em nós e só conseguimos voltar ao ouvir os aplausos e gritinhos da plateia eufórica com a nossa cena. A Danny que sempre calculava tudo à sua frente que eu conhecia nunca teria feito aquilo, mas eu sentia que estava me despedindo dela...

- Que lindo ver vocês dois! - Denise comentou animadamente como sempre enquanto me puxava para um abraço. – E que beijo foi aquele? Estou sem ar até agora!

    Megan estava um pouco deslocada, parecendo preocupada. Agora seu comportamento estranho quando soube de mim e Taylor fazia sentido. Toda aquela sensação descontraída que eu estava no Pub com Taylor se esvaiu quando ela chegou, não conseguiria mais relaxar enquanto não tirasse toda aquela história a limpo. Depois de algum tempo que haviam chegado, Taylor terminou o show.

    Seguindo o plano, eu deveria ficar com Megan sozinha, então sentei ao seu lado para tentar puxar assunto sobre a viagem, e na desculpa de que não conseguia lhe ouvir por causa da música alta sugeri que fôssemos para o lado de fora. Nos afastamos um pouco do Pub e Megan pareceu ficar mais solta ao contar de sua viagem, enquanto eu contorcia meu estômago para fingir que me importava. Logo depois Taylor já nos observando de longe foi até nós. Quando Taylor se pôs ao meu lado de braços cruzados, parei de fingir, mudei de expressão rapidamente, fazendo-a congelar na hora.

- Ok, Megan... o que você fez com a minha carta para o Taylor?

Olá pessoal! Espero que estejam bem!

Mistério desvendado... quem diria né?

E agora como vai ser? Será que ela vai assumir ou vai tentar negar?

Na sexta iremos descobrir! :D

Obrigada por todo o carinho, vocês são demais!

Beijos beijos!

Helena Yara Araujo