0.2 ✟ ⎯⎯⎯ Suspiros na Bruma Noturna
✟⎯⎯⎯⎯⎯⎯ DOIS
sighs in the night mist
AEMOND NÃO POSSUÍA um dragão. Todos sabiam disso, seu irmão e sobrinhos faziam questão de reforçar; Cada visita ao Fosso do Dragão era um cruel lembrete de sua falha no cumprimento de seu dever de sangue. Os Targaryen, mais próximos dos deuses do que dos humanos, controlavam dragões, detinham o mais nobre sangue do reino, e ainda assim ele não podia cumprir com sua única responsabilidade. Muitos lhe disseram que um dia teria um dragão, que seria um montador extraordinário, mas ele era apenas uma criança, uma criança assombrada por suas próprias inseguranças. Diversas vezes aventurou-se pelo Fosso, em busca de um companheiro alado para chamar de seu, ansiando por sentir-se verdadeiramente parte de sua linhagem, porém nunca obteve sucesso.
Taliya não pôde acompanhá-lo naquela jornada, pois estava ocupada com o terrível presente que recebera em zombaria de sua falha. O porco rosa, uma cruel piada gestada por Aegon, o qual parecia favorecer mais os bastardos de Rhaenyra do que seu próprio irmão. Aemond, como de costume, adentrou o território dos dragões, buscando seu lugar entre eles. No entanto, foi surpreendido pelo súbito fogo lançado por Dreamfyre, o dragão de sua irmã Halaena. Arrastado pelos guardas até sua mãe, o rosto pálido e sujo de terra e fuligem foi o suficiente para que Alicent, Halaena e Taliya descobrissem o ocorrido.
⎯⎯⎯ Este tem sessenta anéis... e dois pares de perna em cada um ⎯⎯ múrmurou Halaena ⎯⎯ São duzentos e quarenta. Tem olhos... embora, não acredito que possa ver.
⎯⎯⎯ E por que isso acontece? ⎯⎯ a Rainha respondeu, olhando levemente para Taliya.
⎯⎯⎯ Está além da nossa compreensão. ⎯⎯ fora a única coisa que a princesa a respondeu.
Apesar de muitos a chamarem de louca, Taliya sempre fora uma boa amiga de Halaena, especialmente em seus raros momentos de lucidez. Aemond valorizava isso profundamente, pois sua irmã era uma das poucas pessoas que ele realmente apreciava na Fortaleza Vermelha, sempre empenhado em protegê-la de contratempos. Embora Storm reconhecesse que a princesa era uma sonhadora, as analogias frequentemente obscuras de Halaena muitas vezes não faziam sentido para ela até que se materializassem. Em alguns momentos, quando as palavras da sonhadora eram compreensíveis, os mais velhos geralmente não lhe davam muita atenção. Afinal, quem acreditaria nas visões de uma menina com menos de doze anos, considerada por muitos como tendo inclinações à loucura?
⎯⎯⎯ Vossa Graça. ⎯⎯ chamou o guarda ao entrar segurando o braço de Aemond.
⎯⎯⎯ O que é que você fez? ⎯⎯ disse a Rainha com os olhos arregalados, se aproximando do filho enquanto Halaena apenas disse que ele fez isso de novo.
⎯⎯⎯ Depois de quantas vezes você foi avisado, devo confiná-lo em seus aposentos? ⎯⎯ ameaçou o filho. Taliya o olhou preocupada, mas ao menos tempo o repreendendo.
Taliya suspirou, erguendo-se e seguindo a rainha com um semblante fatigado. Sempre fora assim, e, apesar dos esforços de Alicent para entender seu filho e confortá-lo, a verdade permanecia inalterada: ela nunca poderia conceder-lhe o que ele tanto ansiava, jamais poderia dar-lhe um dragão.
⎯⎯⎯ Eles me fizeram fazer isso! ⎯⎯ berrou o platinado, alternando seu olhar entre sua mãe e sua serva.
O pequeno rosto do Príncipe contorceu-se de dor, os olhos levemente úmidos pelas lágrimas que se formaram em meio ao turbilhão de sentimentos.
⎯⎯⎯ Como se você precisasse de incentivo. Sua obsessão por essas feras vai além da compreensão. ⎯⎯ retornou Alicent, com as mãos nos pequenos ombros de Aemond.
⎯⎯⎯ Eles me deram um porco! ⎯⎯ gritou novamente, com os olhos roxos com lágrimas.
⎯⎯⎯ Um o quê? ⎯⎯ disseram Taliya e Alicent ao mesmo tempo.
⎯⎯⎯ Eles disseram que encontraram um dragão para mim. ⎯⎯ começou a explicar ⎯⎯ Mas era um porco.
Os olhos da jovem Taliya encontraram-se com os de Aemond, transbordando de compaixão pelo garoto.
⎯⎯⎯ Você terá um dragão um dia. ⎯⎯ confortou-o a Rainha.
⎯⎯⎯ Ele terá que fechar os olhos. ⎯⎯ Halaena disse baixo.
eu sei o que você está pensando,
Aemond.
LADY LAENA, INFELIZMENTE, encontrou seu fim, numa trágica conclusão que beirava o suicídio, se analisarmos a sucessão dos eventos. O bebê em seu ventre já não respirava, os deuses o retiraram de sua mãe sem vida alguma, e então ela correu para junto de seu majestoso dragão, Vhagar, a mãe dos dragões, clamando para que ele a consumisse com seu fogo. A morte de Laena Velaryon não abalou os filhos de Alicent, os quais nunca foram próximos, especialmente desde que Daemon se casou com ela após a morte suspeita de sua primeira esposa; raramente eram vistos juntos. No entanto, por laços de sangue e respeito, os Targaryen dirigiram-se a Driftmark para o funeral. Taliya acompanhou-os de bom grado, enquanto Aemond implorava à sua mãe que lhe permitisse ir, e mesmo com relutância, ela acabou cedendo aos desejos do filho.
Entre todos no reino, Taliya é sem dúvida a pessoa que melhor conhece o jovem Príncipe. Ao observar o brilho nos olhos do platinado ao ouvir o nome de Vhagar e lembrar que o dragão agora não possui um dono, Lady Storm percebeu os planos de Aemond naquele momento. Ele pretendia reivindicar o maior dragão vivo para si. Um desconforto apertou o peito da serva, enquanto ela ponderava sobre as terríveis possibilidades que poderiam surgir a partir do simples desejo do príncipe. Todos sabiam que a Princesa Baela seria a escolhida para tentar reivindicar o dragão de sua mãe, mas Aemond temia que ela pudesse ser rejeitada pela fera ou até mesmo sofrer um destino trágico. E Taliya compartilhava desse temor, como se as mentes das duas crianças estivessem entrelaçadas, ela intuía exatamente o que ele planejava.
Enquanto seus irmãos tinham a opção de voar majestosamente em seus dragões ou viajar de barco com o resto da família, Aemond nunca teve o privilégio de conhecer os céus; pelo menos, não da maneira que ele tanto ansiava. No entanto, mesmo em suas viagens marítimas, Taliya sempre esteve ao seu lado, oferecendo-lhe companhia e consolo. Agora, com a costa de Driftmark surgindo à vista no horizonte, a criança de cabelos castanhos aproximou-se silenciosamente do Príncipe, encontrando-o em uma das laterais do navio, imerso na contemplação do vasto e imponente mar diante deles. Os passos leves da serva não chamaram a atenção de Aemond.
⎯⎯⎯ Eu sei o que está passando por sua mente, Aemond. ⎯⎯ a voz suave próxima ao platinado o fez se sobressaltar levemente, ele virou-se para encará-la.
⎯⎯⎯ Não sei do que está falando, Storm. ⎯⎯ respondeu ele rispidamente.
⎯⎯⎯ Pretende reivindicar Vhagar, não é? ⎯⎯ os olhos violetas de Aemond se arregalaram, como ela poderia saber? ⎯⎯ Suspeitei que tal pensamento lhe ocorresse, meu Príncipe.
⎯⎯⎯ Você acha que é a coisa certa a se fazer? ⎯⎯ a sobrancelha franzida do jovem denunciou sua incerteza.
⎯⎯⎯ Laena Velaryon faleceu, Vhagar está sem cavaleiro. ⎯⎯ começou Taliya, inclinando-se sobre o parapeito do navio ⎯⎯ Mas acredito que fazê-lo agora seria desrespeitoso para com as filhas dela. Baela espera que o dragão seja dela com a partida da mãe. ⎯⎯ Ela voltou seu olhar para o garoto ⎯⎯ Contudo, isso não significa que a Mãe dos Dragões não o aceitaria, Meu Príncipe.
Talvez ela não devesse ter compartilhado essas palavras com ele, pois isso poderia ter evitado o desafortunado incidente que se seguiria entre as crianças.
agora eu posso te levar
para conhecer os céus.
OTTO HIGHTOWER ACABARA de conduzir Aegon II pelos braços de volta ao castelo após o príncipe ter exagerado na bebida, mais uma vez. Com a chegada da noite, Aemond começou a se preparar mentalmente assim que pisaram em terra firme. O velório de Laena Velaryon não despertou dor ou luto em nenhum dos filhos de Alicent, nem mesmo em Taliya, que jamais havia conhecido a princesa. Ela permaneceu ao lado de Aemond durante toda a cerimônia, exceto nos momentos em que trocou leves sorrisos com Jacaerys e Lucerys, o que incomodou ligeiramente o platinadoQuando todos se dirigiram para seus aposentos, durante a breve caminhada até os seus próprios, Taliya ouviu passos rápidos em direção à saída subterrânea do castelo. Maldizendo a teimosia dos Targaryen, ela correu para seguir Aemond.
Apesar de não estar familiarizada com os corredores do Castelo do Serpente Marinho, Taliya conseguiu desviar dos guardas reais e se esconder quando fez barulho sem querer. Os cabelos platinados de Aemond apenas facilitaram encontrá-lo na escuridão da praia onde se encontravam. Puxou a saia do vestido e retirou os sapatos desconfortáveis, lançando-se numa corrida para alcançar o príncipe. Ofegante, com o suor grudando os fios castanhos em sua testa, finalmente conseguiu segurar Aemond pelo ombro. Ele se assustou momentaneamente, pensando que alguém o estava impedindo, mas logo se tranquilizou ao encontrar os olhos castanhos de Taliya.
⎯⎯⎯ O que você está fazendo aqui, Lia? ⎯⎯ disse em um sussurro, como se alguém pudesse os escutar.
⎯⎯⎯Eu não vou deixar você ir atrás da Vhagar sozinho, Aemond! ⎯⎯ respondeu com um tom autoritario.
⎯⎯⎯ Você quer se matar? É o maior dragão vivo! ⎯⎯ o platinado a segurou pelos ombros.
⎯⎯⎯ Não seria tão ruim... ⎯⎯ comentou brincalhona, o garoto apenas suspirou cansado e aceitou sua companhia.
O caminho até o dragão transcorreu em completo silêncio, como se até mesmo o vento se recusasse a perturbar o sono da criatura. Taliya, ao se aproximar do dragão adormecido, teve que conter sua respiração, temendo despertá-lo com o mais leve ruído. Vhagar estava ali, majestosa e imponente, sua presença preenchendo o espaço ao redor com uma aura de grandiosidade e perigo. Um pequeno grito de admiração escapou dos lábios de Taliya, cativada pela magnitude da besta diante de seus olhos.
Embora não fosse tão esteticamente belo quanto Sunfyre ou Dreamfyre, Vhagar exercia um fascínio único sobre ela, uma mistura intrigante de temor e reverência. Impulsionada pelo desejo de se aproximar ainda mais, a jovem quase se deixou levar pela curiosidade, ignorando completamente qualquer senso de cautela. No entanto, antes que pudesse dar mais um passo, Aemond a deteve bruscamente, interrompendo seu avanço e trazendo-a de volta à realidade.
⎯⎯⎯ Fique aqui, entendeu? É uma ordem. ⎯⎯ Sussurrou ele, visivelmente tenso. ⎯⎯ Se algo acontecer comigo, volte para o castelo e diga que eu a obriguei a vir até aqui. Não quero que te incomodem, especialmente minha mãe.
⎯⎯⎯ Se algo acontecer com você? Meu Príncipe, isso significa morte. ⎯⎯ Seus olhos se arregalaram de temor. ⎯⎯ Não posso permitir que vá!
⎯⎯⎯ Fique quieta, Taliya. ⎯⎯ A voz de Aemond soou firme enquanto a empurrava, fazendo-a cair na areia. Isso lhe deu tempo para correr em direção a Vhagar.
Ao se recompor, Taliya procurou pelo garoto na escuridão. Os cabelos brancos de Aemond próximos ao enorme dragão a deixaram aflita, levando-a a morder os lábios até machucá-los, uma mania terrível que sempre fora repreendida por seu Príncipe. O medo de Aemond era palpável, e mesmo que ele tentasse disfarçar, sua serva o conhecia muito bem para ser enganada. A respiração do dragão erguia a areia ao seu redor, enquanto emitia um ronco alto e assustador, e o jovem Príncipe se aproximava ainda mais. Os enormes olhos verdes do dragão se abriram quando Aemond tentou subir em sua cela, a cabeça gigante da criatura se virou para o platinado, que ao respirar fez um vento em seu rosto. O garoto respirou descompassadamente enquanto começou a gritar os comandos que viu seus familiares dizendo antes. Ao tentar novamente segurar a corda para montar em Vhagar, o dragão o olhou novamente e abriu a enorme boca, rugindo para Aemond e mostrando sua chama prestes a ser lançada.
⎯⎯⎯ Aemond! ⎯⎯ Taliya gritou de onde estava, mesmo que ele mal pudesse ouvi-la.
⎯⎯⎯ Dohaeras! Dohaeras, Vhagar! ⎯⎯ Pediu para que o dragão se acalmasse ⎯⎯ Lykiri! Lykiri! Lykiri. ⎯⎯ Se acalme, Se acalme.
O dragão, com sua pele cor bronze adornada por faixas azuis esverdeadas e olhos verdes brilhantes, que antes parecia incomodado com a atitude do Targaryen, surpreendentemente pareceu se acalmar. Fechou a enorme boca e apenas respirou fundo, como se compreendesse as palavras sussurradas por Aemond. A respiração que Taliya segurou, sem nem perceber, foi solta em um suspiro de alívio, o platinado se virou para ela e com um gesto rápido, ele acenou para ela, um aceno de despedida momentânea, antes de voltar sua atenção para o imenso dragão sob ele. Com uma expressão engraçada de choque, Aemond montou em cima de Vhagar, tentando se acomodar da melhor forma possível, mesmo com a dificuldade causada pelo tamanho do dragão. Com mãos trêmulas, ele desenrolou a corda na cela do dragão e se preparou para voar.
⎯⎯⎯ Soves! Dohaeras, Vhagar! Soves! ⎯⎯ Voe! Obedeça, Vhagar! Voe! E então o dragão voou.
Taliya fechou os olhos por um instante, ignorando a sensação de vertigem que ameaçava consumi-la. Ela se recusou a admitir a preocupação que se insinuava em seu coração, optando por concentrar-se no som estrondoso de Vhagar cortando os céus noturnos de Driftmark. O eco dos gritos de Aemond, mesclados entre a exaltação e a apreensão, ecoou em seus ouvidos, uma sinfonia turbulenta que a envolveu como uma brisa fria. Apesar dos momentos iniciais de agonia diante da inexperiência de Aemond, o restante do voo pareceu se desenrolar com uma calma inesperada, como se o próprio céu estivesse acalmando os ânimos tumultuados do jovem príncipe.
QUANDO AEMOND DESCEU do dragão, transbordando de felicidade e realização, seus olhos varreram a praia em busca de Taliya. Assim que a avistou, correu em sua direção, como se a areia fervilhante sob seus pés não fosse obstáculo. O abraço que ele lhe concedeu foi vigoroso, repleto de uma emoção que parecia quase palpável. Taliya sentiu seu corpo estremecer sob o aperto do príncipe, sua respiração descompassada revelando a intensidade do momento. Com habilidade tranquila, ela buscou acalmá-lo, temendo que a exaltação pudesse levá-lo ao desmaio. Contudo, ao fitar o sorriso radiante no rosto platinado, uma expressão até então desconhecida para ela, Taliya sentiu-se revitalizada. Os ombros outrora tensos do jovem pareciam mais leves, e seus olhos brilhavam sob o manto prateado da lua.
⎯⎯⎯ Você conseguiu! ⎯⎯ Parabenizou o príncipe, passando a mão nos fios prateados do menino. ⎯⎯ Eu disse que conseguiria.
⎯⎯⎯ Você estava certa, como sempre, Lia! ⎯⎯ Segurou as mãos sujas de areia da menina, analisando o rostolevemente manchado de sujeira de sua serva e rindo levemente. ⎯⎯ Mesmo que não queira, acho melhor voltarmos.
Ao adentrarem a passagem que levava ao castelo do Trono de Madeira, as duas filhas de Daemon e os dois filhos de Rhaenyra os encaravam furiosos, especialmente Rhaena, cujo olhar era uma lâmina afiada. A primeira ação de Aemond foi posicionar Taliya atrás de seu corpo, como se pudesse oferecer alguma proteção contra as outras quatro crianças, cujos olhos pareciam faiscar de raiva. Rheana fora a primeira a falar.
⎯⎯⎯ É ele.⎯⎯ disse rápido, cujo ele respondeu, Sou eu. ⎯⎯ Vhagar é o dragão da minha mãe.
⎯⎯⎯ Sua mâe está morta. ⎯⎯ Taliya puxou a manga de sua roupa, protestando ⎯⎯ E Vhagar tem um novo dono, ela é minha.
⎯⎯⎯ Ela era minha! ⎯⎯ A pequena garota gritou.
⎯⎯⎯ Então você deveria tê-la reivindicado! ⎯⎯ O garoto gritou de volta ⎯⎯ Talvez seus primos possam encontrar um porco para você montar. Iria combinar com você.
Num movimento ágil, Baela avançou em direção a Aemond com a intenção de feri-lo, mas o garoto a repeliu com firmeza, fazendo-a cair ao chão; Assim como empurrou Taliya para trás, tentando impedir de acertarem ela. Rhaena, irmã de Baela, desferiu um soco no rosto de Aemond após empurrar a irmã para o chão, e o garoto retaliou da mesma forma.
⎯⎯⎯ Venha para cima de mim de novo e eu vou te alimentar para o meu dragão! ⎯⎯ Taliya sussurrou o nome dele, o pedindo para parar.
Jacaerys e Lucerys, ao presenciarem toda a cena, avançaram furiosamente contra Aemond, que, entre chutes e socos, mal conseguia se esquivar, acabando por ser derrubado ao chão. Lady Storm, sem saber como agir, tentou impedir a violência gritando e se colocando à frente de Aemond, mas suas tentativas foram em vão quando o filho mais velho de Rhaenyra a empurrou de lado, ordenando que se afastasse. Todas as crianças investiram contra o Targaryen caído, e de forma impulsiva, sua Lady tentou intervir para protegê-lo. Aemond, com o rosto ensanguentado, conseguiu se livrar dos agressores e, agarrando Lucerys pelo pescoço, empunhou uma pedra que encontrou no chão. O ar estava pesado de tensão, os corações batendo em descompasso diante da violência que se desenrolava.
⎯⎯⎯ Você morrerá gritando em chamas assim como seu pai morreu! ⎯⎯ o platinado vociferou com raiva ⎯⎯ Bastardos!
⎯⎯⎯ Meu pai ainda está vivo! ⎯⎯ chorou Lucerys, com o rosto também ensanguentado e o nariz visivelmente quebrado.
⎯⎯⎯ Ele não sabe, não é? ⎯⎯ disse para Jacaerys ⎯⎯ Lord Strong.
Num ato rápido, Jacaerys desembainhou sua adaga e a empunhou em direção a Aemond. Os olhos de Taliya se arregalaram ao perceber que o Príncipe Herdeiro não hesitava, levantando-se rapidamente apesar das pequenas dores em seu corpo e posicionando-se ao lado de seu Príncipe.
⎯⎯⎯ Por favor, acabem com isso! ⎯⎯ disse ela para todos, mas foi ignorada.
⎯⎯⎯ Fique fora disso, Lia. ⎯⎯ Jace respondeu, enquanto Aemond o repreendia por chamá-la assim, apenas ele podia.
Aemond empurrou Lucerys na direção de Jace, que conseguiu desviar a adaga a tempo para não ferir o irmão. Tentou atacar o Príncipe platinado, mas na segunda tentativa, quando ergueu a lâmina novamente, Taliya se colocou à frente do Targaryen, recebendo um corte limpo no ombro. A garota desviou o olhar para seu ombro, soltando um pequeno gemido de dor e surpresa, o Herdeiro recuou e quase deixou cair a adaga. A ardência não foi sentida, em meio à adrenalina do momento. Os olhos tanto de Velaryon quanto de Targaryen se arregalaram, o sangue manchando a roupa rasgada da serva.
Em um acesso de raiva, Aemond chutou Jacaerys na barriga, derrubando-o. O platinado lançou um rápido olhar para Taliya antes de apertar a pedra com mais firmeza, erguendo-a e baixando o olhar para Jacaerys. Enquanto isso, Lucerys conseguiu se arrastar até a adaga de seu irmão, e, ao perceber a oportunidade, jogou areia nos olhos de Aemond para distraí-lo, enquanto o mais novo partia para o ataque.O grito de dor de Aemond fez com que os ouvidos de Storm doessem e seus pelos se arrepiassem.
⎯⎯⎯ Aemond? Aemond! ⎯⎯ o garoto se encolheu segurando o olho cortado, encostou nas costas do menino que tremeu.
Os guardas reais finalmente intervieram, separando tardiamente a briga. Ser Harrold os ordenou que se afastassem e se aproximou do príncipe, lançando um olhar de pena a Taliya.
⎯⎯⎯ Meu príncipe, meu príncipe. Deixe-me ver. ⎯⎯ Pediu para que ele se virasse ⎯⎯ Deuses sejam bons.
não olhe para mim, devo
parecer um monstro.
AEMOND ESTÁ SENTADO em uma cadeira com o olho parcialmente costurado, o semblante triste e bravo, nitidamente mostrando a dor do platinado. Taliya está sentada ao seu lado, segurando com uma mão um pano em seu ombro cortado, e sua outra mão agarra firmemente a de Aemond. O garoto em momento algum encarou sua serva, com medo da rejeição, do medo, ou seja lá qual reação ruim ela poderia ter ao ver seu rosto cortado, inchado e machucado. Rapidamente o salão se encheu e Alicent correu rapidamente até seu filho, com o rosto exageradamente contorcido de preocupação, o olhar da Rainha passou por Taliya, e reparou que a serva de seu filho também estava machucada, acabou por acariciar rapidamente as costas da menina e logo após se concentrar em seu filho.
⎯⎯⎯ Como você pôde permitir que tal coisa acontecesse? ⎯⎯ o velho rei gritou.
⎯⎯⎯ Os príncipes deveriam estar na cama, meu rei. ⎯⎯ Ser Harrold tentou justificar.
⎯⎯⎯ O jovem Príncipe foi atacado por seus próprios primos, Vossa Graça. ⎯⎯ Ser Criston disse.
⎯⎯⎯ Você jurou proteger e defender meu sangue! ⎯⎯ o Rei berrou novamente, recebendo pedidos de desculpa.
⎯⎯⎯ A Guarda Real nunca teve que defender príncipes de príncipes, Vossa Graça. ⎯⎯ Criston tentou novamente, sendo respondido rispidamente pelo Rei Viserys, Isso não é resposta!
O meistre que cuida do olho de Aemond suspirou com pena, o olho do Princípe não iria se curar, está perdido para sempre. A jovem Taliya, logo ao seu lado, pareceu não se importar com seu próprio machucado, obviamente como ela o faria? Seu Príncipe estava sem um olho, como ela poderia reclamar de um pequeno corte?
⎯⎯⎯ Vai sarar, não vai, meistre? ⎯⎯ a Rainha disse apreensiva.
⎯⎯⎯ A carne sará. ⎯⎯ respondeu terminando de costurar o olho de Aemond ⎯⎯ Mas o olho está perdido, Vossa Graça.
A Rainha caminhou rapidamente em direção ao seu filho mais velho, o mesmo recuou ao ver a mãe se aproximando. Taliya chamou por Aemond que a ignorou, olhando na direção contrária da garota, ainda com vergonha.
⎯⎯⎯ Onde você estava? ⎯⎯ Alicent deu um tapa no rosto de Aegon
⎯⎯⎯ Eu? Ai! ⎯⎯ respondeu chocado ⎯⎯ Para o que foi aquilo?
⎯⎯⎯ Isso não foi nada comparado ao abuso que seu irmão sofreu enquanto você estava se afogando, seu idiota. ⎯⎯ gritou de volta para o filho.
As princesas Rhaenys e Rhaenyra, juntamente do Serpente Marinha, entraram rapidamente, ambas chamando por suas netas e filhos; Rhaena e Baela correram em direção à avó, que as abraçou rapidamente, enquanto Rhaenyra analisava o rosto dos filhos com uma feição preocupada. Os pequenos olhos inchados de Lucerys não só da briga, mas também de choro, denunciavam o tumulto emocional que haviam enfrentado. Enquanto todas as crianças discutiam sobre como Aemond fora o culpado de tudo, ou que os meninos foram insultados ao serem chamados de bastardos, e outros tópicos surgiam, Aemond os interrompeu com um grito.
⎯⎯⎯ Quem fez isso? Eles me atacaram! ⎯⎯ Aemond se virou, berrando.
As crianças voltaram a se explicar, mas o Rei interveio com firmeza.
⎯⎯⎯ Suficiente. ⎯⎯ O Rei gritou.
⎯⎯⎯ Chega... Deveria ser meu filho contando a história! ⎯⎯ Alicent protestou.
⎯⎯⎯ Aemond... Eu saberei a verdade sobre o que aconteceu. ⎯⎯ Viserys se inclinou em direção ao filho ⎯⎯ Agora.
Alicent olhou para seu marido, incrédula. Para ela, estava claro o que aconteceu, e esperou profundamente, mesmo sabendo que aquilo não aconteceria, que o rei não se fizesse de cego novamente apenas para proteger sua filha.
⎯⎯⎯ O que mais há para ouvir? Seu filho foi mutilado. ⎯⎯ Vociferou raivosa ⎯⎯ O filho dela é o responsável, e como se não bastasse, machucaram a Lady Storm.
⎯⎯⎯ Foi um acidente lamentável. ⎯⎯ Rhaenyra tentou justificar.
⎯⎯⎯ Acidente? O Príncipe Lucerys trouxe uma lâmina para a emboscada. ⎯⎯ Os olhos cheios de angústia de Alicent se viraram para sua ex-amiga ⎯⎯ Ele pretendia matar meu filho.
⎯⎯⎯ Foram meus filhos que foram atacados e forçados a se defender. ⎯⎯ A gargante da Princesa Herdeira fora limpa em um leve pigarro ⎯⎯ Insultos vis foram lançados contra eles. ⎯⎯ Viserys a respondeu, perguntando sobre os insultos ⎯⎯⎯ A legitimidade do nascimento dos meus filhos foi fortemente questionada.
⎯⎯⎯ Ele nos chamou de bastardos. ⎯⎯ Lucerys disse rapidamente.
⎯⎯⎯ Meus filhos estão na fila para herdar o Trono de Ferro, Vossa Graça. Esta é a maior das traições. ⎯⎯ Disse firme, olhando para o filho de Alicent ⎯⎯ O Príncipe Aemond deve ser questionado com severidade para que possamos saber onde ele ouviu tais calúnias.
Alicent pisou mais à frente, em choque e raiva, torcendo que fosse apenas um pesadelo, e que não tivesse que suportar outro ato de Rhaenyra.
⎯⎯⎯ Por causa de um insulto? Meu filho perdeu um olho. ⎯⎯ Alicent juntou as sobrancelhas em choque.
Viserys se virou para Aemond, inclinando-se em sua direção, e o bafo fedido do Rei bateu contra o rosto do platinado quando seu pai lhe perguntou:
⎯⎯⎯ Você me diz, garoto. Onde você ouviu essa mentira? ⎯⎯ a voz de Viserys, estressada, se dirigiu a Aemond.
⎯⎯⎯ O insulto foi uma fanfarronice no pátio de treinamento. Muitos meninos. Não foi nada. ⎯⎯ A Rainha foi interrompida pelo Rei ⎯⎯ Aemond... eu te fiz uma pergunta. ⎯⎯ disse Viserys.
Taliya, sentindo uma enorme dor no ombro e na cabeça diante de toda a bagunça que se tornara a reivindicação de Vhagar, encolheu-se em seu lugar, voltando a morder a carne da parte inferior de seu lábio. Aemond apertou sua mão, mas a menina não saberia dizer se foi de conforto ou medo do Rei.
⎯⎯⎯ Aemond... olhe para mim. ⎯⎯ Chamou o menino ⎯⎯ Seu rei exige uma resposta. Quem contou essas mentiras para você?
Alicent o olhou firmemente, negando com a cabeça. Foi ela quem disse aquilo, todos da família sabiam. Mas Aemond a ama demais para jogar esse ato de traição em cima de sua mãe. Taliya concordou com a Rainha, tudo já está caótico o suficiente e admitir que a própria Rainha disse tais coisas sobre os filhos da Princesa Herdeira seria o suficiente para que uma guerra acontecesse.
⎯⎯⎯ Foi Aegon.
⎯⎯⎯ Eu? ⎯⎯ respondeu o mais velho, chocado.
⎯⎯⎯ E você, garoto? Onde você ouviu tais calúnias? ⎯⎯ o Príncipe hesitou, ficando em silêncio enquanto seu pai se aproximava ⎯⎯ Aegon! Diga-me a verdade!
⎯⎯⎯ Nós sabemos, pai. Todo mundo sabe. Basta olhar para eles.
⎯⎯⎯ Essas intermináveis lutas internas devem cessar! Todos vocês! Nós somos família! ⎯⎯ voltou-se para todos no quarto, indignado ⎯⎯ Agora peçam desculpas e demonstrem boa vontade uns com os outros. Seu pai, seu avô, seu rei exige isso! Isso é insuficiente.
A Hightower sentiu-se tomada por uma raiva enorme e se virou para o Rei.
⎯⎯⎯ Aemond foi danificado permanentemente, meu rei. A "boa vontade" não pode curá-lo. ⎯⎯ protestou a Rainha.
⎯⎯⎯ Eu sei, Alicent, mas não posso restaurar o olho dele. ⎯⎯ a Majestade respondeu como se fosse óbvio.
⎯⎯⎯ Não, porque foi levado. ⎯⎯ ela se virou para seu marido, que a respondeu ⎯⎯ O que gostaria que eu fizesse?
⎯⎯⎯ Há uma dívida a ser paga. Terá em troca um dos olhos do filho dela. ⎯⎯ disse decidido, e Lucerys se agarrou ao vestido de sua mãe com medo.
⎯⎯⎯ Minha querida esposa. ⎯⎯ foi interrompido ⎯⎯ Ele é seu filho, Viserys. Seu sangue.
Aemond finalmente olhou para Taliya, agora com seu único olho.
⎯⎯⎯ Não... permita que seu temperamento guie seu julgamento. ⎯⎯ o Rei a respondeu.
⎯⎯⎯ Se o Rei não buscar justiça, a Rainha o fará. ⎯⎯ com um rosto raivoso, virou-se para seu guarda Sor Criston... traga-me o olho de Lucerys Velaryon. ⎯⎯ o pequeno Lucerys se contorceu de medo, chamando por sua mãe ⎯⎯ Ele pode escolher qual olho manter, privilégio que não concedeu ao meu filho.
Enquanto Ser Criston andava em direção a Lucerys, o rei interrompeu.
⎯⎯⎯ Você não fará tal coisa. Fique parado. ⎯⎯ Comandou o Rei.
⎯⎯⎯ Não, você está jurado a mim! ⎯⎯ Alicent gritou novamente.
⎯⎯⎯ Como seu protetor, minha rainha. ⎯⎯ Crisotn abaixou a cabeça.
⎯⎯⎯ Alicent, este assunto... está encerrado. Você entende? ⎯⎯ disse para sua esposa ⎯⎯ E que fique claro, qualquer pessoa cuja língua ouse questionar o nascimento dos filhos da Princesa Rhaenyra deverá removê-la.
⎯⎯⎯ Obrigado, pai. ⎯⎯ Rhaenyra disse contente.
Enquanto Alicent roubava a adaga do Rei, Aemond não tirou os olhos de Taliya, que ficara pálida de fraqueza enquanto toda a briga acontecia no salão de Driftmark. O pano, que uma vez fora branco, agora estava tingido de vermelho escarlate, e a mão da menina não fazia tanta pressão quanto deveria. Ele se sentiu culpado. Se ela não tivesse tentado protegê-lo, se ele a tivesse mandado de volta para o castelo enquanto ainda era tempo, ela não estaria machucada. Seu olhar se voltou para o meistre que cuidou de seu olho e o chamou silenciosamente enquanto todos tentavam impedir Alicent de avançar com a adaga em direção a Lucerys.
Aemond se levantou para que sua serva pudesse se sentar ali, enquanto o meistre cuidava do ombro cortado; O Princípe pensou em se agachar próximo á cadeira onde sua serva está sentada, mas a ídeia que ela poderia ver seu rosto o assustou, enojou, então se limitou a apenas ficar próximo dela. O corte, de mais de dez centímetros, estava horrorosamente aberto; felizmente, o aço Valeriano fazia um corte limpo, disse o meistre. Aemond segurou a mão de Taliya firmemente, confortando-a da dor da agulha entrando em seu ombro e saindo repetidas vezes. A garota não percebeu, diante de toda a dor que sentia, que o Príncipe correu em direção à mãe quando ela finalmente largou a vontade de cortar o olho de Lucerys.
⎯⎯⎯ Não fique de luto por mim, mãe. Foi uma troca justa. ⎯⎯ Se encostou em sua mãe ⎯⎯ Posso ter perdido um olho... mas ganhei um dragão.
AEMOND PENSOU QUE estaria sozinho assim que sua mãe o deixasse em seu quarto no castelo do Serpente Marinho, mas ao ver Taliya parada em frente à sua cama, isso o assustou. Tentou esconder o rosto, mas o mínimo contato com qualquer coisa, até mesmo o vento, o fez estremecer de dor. Rapidamente, Taliya se sentou ao lado dele, gentilmente retirando a mão do menino do próprio rosto. Ele virou o rosto para o outro lado, tentando se esconder novamente. Com um suspiro cansado, Taliya segurou delicadamente o queixo machucado do platinado e virou sua cabeça na direção dela, oferecendo-lhe um olhar compassivo e reconfortante. Nos olhos dela, ele viu não apenas compaixão, mas também uma expressão de profunda preocupação e cuidado. Aemond sentiu uma onda de gratidão e calor se espalhando por seu peito, mesmo com a dor latejante em seu rosto machucado.
⎯⎯⎯ Eu disse para minha mãe não te deixar entrar. ⎯⎯ murmuro baixo ⎯⎯ Eu não quero que você veja... isso.
⎯⎯⎯ Aemond, você sabe que eu nunca teria medo de você, certo? ⎯⎯ ela responde igualmente baixo ⎯⎯ Olhe para mim. ⎯⎯ suplica com os olhos lacrimejados.
⎯⎯⎯ Eu devo parecer um monstro... caolho. ⎯⎯ seu olho finalmente se encontra com os de Taliya, e logo desce para os lábios machucados e o ombro coberto por um curativo ⎯⎯ Eu sinto muito, eu não devia ter deixado você vir comigo.
⎯⎯⎯ Nada disso. ⎯⎯ ela o interrompe ⎯⎯ Já tivemos muito acontecendo hoje. Não foi sua culpa.
⎯⎯⎯ Você fez de novo... ⎯⎯ sussurra, chamando a atenção da garota ⎯⎯ Arrancar toda a pele da sua boca ainda é mutilação, você sabe não é?
⎯⎯⎯ Não inverta isso, Aemond. ⎯⎯ ela franze as sobrancelhas ⎯⎯ O que você gostaria que eu fizesse?
O platinado não precisa pensar muito naquele momento frágil. Ele segura os pulsos de Taliya e os passa pelos próprios ombros, inclinando a cabeça em seu ombro bom, pensou muito antes de fazer aquilo, talvez ela sentisse nojo dele agora, ou coisas piores. Algumas poucas lágrimas escapam do olho roxo do garoto, que entre soluços e gemidos de dor tem seus sentimentos confortados pelas pequenas mãos de Taliya fazendo carinho em seu cabelo bagunçado, até mesmo após o banho. Os dedos pálidos do menino seguram a mão desocupada da menina, fazendo leves carícias enquanto ambos se permitem afundar na serenidade reconfortante da presença um do outro.
⎯⎯⎯ Apenas me permita ficar assim um tempo, Lia.
5.500 palavras pra vcs amores.
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