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0.0 ✟ ⎯⎯⎯ do fogo as cinzas


✟⎯⎯⎯⎯⎯⎯  ZERO
from fire to ashes

O Príncipe Aemond sempre foi uma alma reclusa, muito rejeitado, muito injusticado. A falta de um dragão para chamar de seu já era o suficiente para causar-lhe uma angústia profunda, uma sensação de falha iminente. Olhar para seus sobrinhos, Jacaerys e Lucerys, talvez trouxesse algum alívio, pois eles não possuíam o sangue tão puro quanto o seu, mas vê-los montar dragões que ele, por mais que tentasse, nunca conseguiria, era uma tormenta constante. Quando tinha oito anos de idade, a Rainha Alicent apresentou-lhe Taliya Storm, uma jovem que, assim como a rainha, fora criada desde a infância para servir ao rei e seus filhos. Contudo, o jovem Aegon Targaryen nunca levou-a a sério, pois como poderiam respeitar uma garota tão jovem tentando ensiná-lo? Contudo, o filho mais jovem do Rei Viserys, embora fosse um rapaz de poucas palavras, demonstrou um mínimo de respeito e interesse pelos ensinamentos que Lady Storm poderia oferecer-lhe. 

 Seria um eufemismo dizer que Aemond ficara apenas surpreso ao testemunhar a jovem serviçal comunicar-se com sua meia-irmã Rhaenyra em Alto Valiriano; o garoto estava profundamente chocado. Ao contrário de seu irmão, que apenas se sentiu mais frustrado, Aemond sentiu uma admiração crescente por ela. Percebendo que seu filho mais velho nunca a respeitaria e, talvez, poderia infligir-lhe males terríveis, Alicent designou-a para ensinar e orientar exclusivamente seu filho mais novo. Desde então, ambos podem ser avistados percorrendo os corredores da Fortaleza Vermelha, seja com Aemond compartilhando as últimas notícias - que, na verdade, não são tão novas, afinal, eles vivem em estreita proximidade - ou Taliya oferecendo-lhe seus conselhos sábios.

O grave incidente envolvendo os filhos de Rhaenyra e Alicent foi uma tragédia sem um único culpado, foi isso que Taliya disse a Aemond quando o jovem príncipe questionou se havia cometido um erro ao montar Vhagar. Aemond não considerou sua prima quando decidiu montar o dragão de sua recém-falecida mãe, mas já era tarde demais; nada poderia ser mudado. Certamente, atacar o garoto não seria a solução. Rotular seus sobrinhos de bastardos também não seria a abordagem correta para lidar com a situação, mas isso não significa que arrancar o olho de Aemond, mesmo que acidentalmente, fosse justificável como uma retaliação. No dilema, é aí que Lady Taliya sempre se viu: em cima do muro. Ela foi apelidada de pacificadora por Halaena após tentar aconselhar seu irmão mais novo a buscar a reconciliação com Aegon, após o incidente do "porco com asas".

⎯⎯⎯ Nyke istan jurnegēre syt ao, riñnykeā. ⎯⎯⎯ diz Aemond, assustando Taliya. Eu estava procurando por você, Lady.

⎯⎯⎯ Desde que começou a aprender Alto-Valiriano, vejo que está usando com mais frequência. Meu Princípe. ⎯⎯⎯ Respondeu a serva, se curvando levemente em respeito. 

 ⎯⎯⎯ Minha professora me ensiou, então devo utilizar, não é?   ⎯⎯⎯ o sorriso debochado que mesmo com o rosto descansado sempre esteve presente no rosto do princípe se ergueu em um pequeno riso.  ⎯⎯⎯ Já não leu este livro outras milhares de vezes?

 Com um leve sorriso, Taliya balança a cabeça negativamente antes de retornar à leitura de "Mil Navios", um livro estranhamente maior do que suas mãos, sem encontrar respostas imediatas. Ela passa para a próxima página, apenas para descobri-la exatamente como todas as vezes que o leu: rasgada.

⎯⎯⎯ Mil Navios. ⎯⎯⎯ fechou o livro drámaticamente ⎯⎯⎯  Adoraria saber o que diz a página que rasgaram, é sobre a Princesa Nymeria comandando dez mil navios para Dorne.




APÓS REMOVER O tapa-olho, Aemond recostou-se na cadeira luxuosamente confortável do quarto de Taliya. Enquanto a garota se concentrava em arrumar suas tranças meticulosamente elaboradas, um descuido as deixou ligeiramente desalinhadas. Aemond observava-a com seu único olho, em um silêncio que ambos haviam aprendido a valorizar ao longo dos anos. Embora o Príncipe converse muito mais com sua tutora do que com qualquer outra pessoa, é ao lado de Lady Storm que ele encontra o silêncio mais reconfortante. Erguendo-se da cadeira, Aemond avançou lentamente em direção à sua conselheira, seu olhar vagando devagar para baixo. Ao longo dos anos, ele havia se tornado um homem alto e imponente. Os cabelos castanhos, quase negros de Taliya, sempre capturaram sua atenção com sua aura enigmática. Com um suspiro, ele começou a auxiliar sua Lady a arrumar o penteado, ignorando a cicatriz no ombro da mulher que ainda o trás caláfrios. 

A Rainha Alicent sempre percebeu a crescente proximidade entre seu filho mais novo e a jovem, e se permitisse ser sinceramente franca consigo mesma, não poderia se preocupar tanto com isso. Afinal, enquanto seu filho mais velho parecia ser o epicentro de todas as dores de cabeça, ela continuava aguardando ansiosamente pelo momento de coroá-lo. Aemond sempre soube a opnião de Taliya em relação aos verdes, apesar de sua profunda gratidão pela Rainha, sua lealdade se extende a apenas Rhaenyra. E mesmo que ele não se importasse tanto, e apenas se interessasse mais em sua obsessão por Lucerys, e a incansável sede de vingança atrás do garoto. "Um olho por um olho", sussurra Storm toda vez que o assunto é trazido à tona. Em algum momento, a guerra que todos antecipam irá começar: verdes contra pretos. Taliya reza para que, quando esse momento chegar, ela já esteja a milhares de palmos abaixo da terra.

 ⎯⎯⎯ Prefiro do outro jeito. ⎯⎯ Aemond a tirou de seu transe, e os olhos escuros se encontraram com o olho roxo dele. Percebendo a expressão confusa da mulher, retornou a falar ⎯⎯ Seu cabelo. Quando as servas fazem aquela trança na frente e deixam o resto solto, combina mais com o seu rosto. 

 ⎯⎯⎯ Obrigado... Meu princípe? ⎯⎯ respondeu ainda confusa e levemente corada. 

⎯⎯⎯ Também prefiro quando você me chama pelo meu nome. ⎯⎯ sorriu provocando-a, se retirando do quarto.
















é isso minhas vidas preciosas, perdi a cabeça mesmo e lançei outra braba pra voces.

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