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Capítulo 08. A Bruxa de Harrenhal


O momento em que Cristina escorregou e caiu na famosa Lagoa Azul, na zona rural do Jaboatão dos Guararapes, quando resolveu fazer uma caminhada com os amigos, começou a assombrar seus sonhos.

Cristina começou a pensar que talvez tivesse morrido com a queda e fora transportada para aquele mundo como punição de algo que fez na adolescência. Contudo, o lugar de onde caiu não era tão alto, e não havia pedras no fundo da água. Por que ela foi parar em Westeros?

Se lembrava da sua mãe murmurando como Cristina era uma mulher responsável, como ela era extremamente metódica e focada em sua carreira. Sua mãe acreditava que a filha era incrível, pois ser uma professora universitária não era para qualquer um, especialmente quando dava aulas para o curso de enfermagem e parecia entender muito bem do assunto.

"A sua cunhada está grávida, Cristina" Murmurava sua avó. "Quando você vai ter os seus?"

"No dia de são nunca."

Cristina não queria crianças, já havia dado aulas para algumas no início de sua graduação e não gostou da experiência. Além disso, ela queria fazer mais do que fazia. A medicina parecia ser uma boa área, e por isso a mulher não parou de estudar.

Sua mãe era a única que a defendia. Ela dizia que Cristina estava se tornando o que ninguém naquela família conseguiu. Que ela seria uma mulher de sucesso.

Depois de muito esforço e insistência dos seus amigos que voltaram a falar com ela, Cristina foi com eles fazer uma visita ao ponto turístico do Lago Azul.

Eles olharam bastante para as marcas de vitiligo nos braços e no rosto dela porque Cristina não as tinha antes de se trancar em casa para viver estudando e trabalhando. O dermatologista disse que aquilo foi causado por estresse, e quanto mais ela continuasse naquela rotina sem pausas para lazer, mais as marcas aumentariam e ela poderia acabar doente novamente.

Mas ela precisava estudar mais. Cristina precisava correr atrás, precisava...

Ela não precisava mais fazer nada.

Estava vivendo em um mundo onde ela mesma não existia, dentro de um navio a caminho da própria morte em Porto Real enquanto sentia uma dor estranha no peito.

Não conseguiu dormir, não foi possível pregar o olho e nem sair da cabine de onde estava dormindo. Tomaram sua espada e ela foi trancada com Maggie dentro de um quarto de madeira com mobílias luxuosas e um banheiro bom demais para aquela época.

Pelos murmúrios que escutou do lado de fora, percebeu que os soldados tinham medo de se aproximar da porta, e que Aemond era extremamente corajoso por prendê-la dentro da cabine dele. Alguns começaram a adivinhar que Cristina o enfeitiçou e por isso ele estava apaixonado por ela.

"Bem, não era exatamente assim."

Ela pensou.

De toda forma, não era como se Cristina quisesse ver a tripulação daquele navio, então todos estavam satisfeitos até onde conseguiam. Apenas um homem baixinho abria a porta completamente trêmulo e olhava para ela recolhida no meio do breu da cabine. Ele enxergava a silhueta de uma mulher alta demais cujas costas eram banhadas pela luz amarelada das inúmeras velas, e os olhos verdes iluminados profundamente em amarelo e vermelho como os de um animal. Ele achou que nunca tinha visto algo tão medonho.

Sem desviar a atenção dela, como se estivesse tomando cuidado para não fazer movimentos bruscos e causar um bote, deixava sobre dois pratos no chão três refeições por dia, refeições muito boas de forma que ela nunca achou que fosse comer novamente na vida.

Havia carne defumada com a gordura derretendo e cintilando à luz das velas, uma variedade de grãos temperados com orégano e manteiga, geleias cremosas espalhadas sobre os vários pães recheados com queijos derretidos. Cristina também recebia vegetais assados e caramelizados junto a leite fresco e bolos doces, cobertos com uma fina camada de glacê e frutas cristalizadas.

Ela também recebia roupas de frio por debaixo da porta, e quando se vestiu pela primeira vez com o conjunto do vestido verde, luvas e capa preta que ganhou, imaginava o motivo pelo qual estava sendo cuidada daquela forma. Talvez Aemond quisesse humilhá-la de alguma forma?

Cristina colocou a cabeça para pensar enquanto observava Maggie calada e já sem feitiço algum sobre sua mente, dobrando as próprias roupas velhas. Magnólia não recebia roupas e nem o mesmo tratamento, o que fazia com que a mulher mais velha dividisse com a garota as que possuía dos dois dias anteriores de viagem desde que entraram no navio.

Maggie estava se sentindo culpada demais para conversar com Cristina, então tentava fingir não estar escutando qualquer tentativa de assunto que a mulher iniciava, ignorou até quando Cristina pediu sua opinião sobre uma fuga de Porto Real.

Então elas faziam as coisas separadas e em silêncio, e Cristina desistiu de tentar falar com a menina para focar em seus próprios pensamentos.

A mais velha estava incomodada com o fato de estar vestido peças nobres e reais em seu corpo, de estar comendo o que a realeza comia por ordens de Aemond, o seu maior inimigo dentro daquele mundo.

Ele poderia tê-la matado, poderia ter encontrado outra bruxa poderosa como Alys Rivers, capaz de estourar cabeças com o pensamento. Contudo, Aemond a estava levando presa para Porto Real, a mantendo aquecida, segura e saudável quando os mesmos cuidados não eram transmitidos a Maggie, que dividia a mesma cabine que ela.

O movimento do mar completamente gelado, fazia Cristina estranhamente se sentir mais confortável e diminuía os sintomas da sua ansiedade, apesar da dor insistente em seus pulmões que aos poucos começou a deixá-la preocupada. Ela tentou pensar na cama extremamente macia que a ajudava a pensar com mais foco, porém não era de grande ajuda imaginar que Aemond já dormiu naqueles lençois em algum momento.

Sem muitas alternativas, tentou entrar na mente do personagem.

Se Aemond a estava mantendo saudável, era porque precisava dela daquele jeito. Não apenas para ajudá-lo em feitiços e para acordar Aegon, já que ele poderia amarrá-la a correntes e obrigá-la a fazer isso desde o início.

Aemond disse que sentia dores quando Cristina estava longe dele, mas quando pegou a mão dela por aqueles míseros instantes, a expressão de alívio dele foi impagável. Ele também mencionou que queria matá-la de forma brutal, até salivou com o pensamento, mas não fez menção de tocá-la violentamente em momento algum.

Cristina estalou os dedos quando entendeu, e se sentiu idiota por não pensar nisso antes.

Aemond a encontrou depois dos vagantes brancos, até incendiou o templo onde estava escondida com o resto dos cidadãos de Vilavelha. Ela pensou que não havia nenhuma forma de ele ter adivinhado que ela estava lá, a não ser que fosse puramente por conta da ligação da maldição.

Sua linha de raciocínio levou sua imaginação a situação em que o platinado provavelmente sentiu a ameaça dela, e dessa forma, ele deve ter seguido o fio que os ligava até encontrar Cristina em Vilavelha.

Cada peça do quebra-cabeça começou a se encaixar.

A maldição de Harpa havia feito mais do que apenas ligar os destinos dos dois, ela havia entrelaçado suas existências de uma forma que compartilhavam sensações físicas e provavelmente emocionais. A dor que Aemond sentia quando Cristina estava longe era um reflexo direto da maldição, que implorava proximidade para aliviar o sofrimento.

Mas isso não se aplicava a Cristina, para ela, Aemond não cheirava e nem fedia, e tampouco se importava com o que acontecia com ele. Nunca sofreu nenhum hematoma ou dor que não soubesse de onde estava vindo. Quanto a Aemond, ele precisava dela por perto para aliviar as consequências de estar amaldiçoado.

Cristina não era apenas um instrumento para Aemond usar; ela era precisa para a própria sobrevivência dele. Ele precisava mantê-la viva e bem, não por misericórdia, mas por pura necessidade egoísta.

Tudo o que ela sentia, ele também sentia. Isso significava que qualquer dano a ela seria refletido nele. Era essa a proteção que Harpa queria para impedir sua morte.

Mas ela morreu mesmo assim, restando a Cristina acreditar na sua teoria de que os efeitos da magia que lhe favoreciam, diminuiriam com o tempo.

Cristina sentiu um floco de neve cair sobre sua bochecha, vindo da pequena janela que mantinha aberta e aos poucos começava a mostrar sinais de terra firme. Ela mordeu o dedo, imaginando que Aemond subestimou sua capacidade de raciocínio, ou talvez ele achou que Cristina devesse saber disso.

Eram muitas variáveis, tanto que começou a sentir uma tensão se formando em sua nuca e o peito doeu ainda mais quando respirou fundo.

— Me ignorar te faz sentir menos culpada? — Cristina murmurou ao tempo em que Maggie continuava desdobrando e dobrando novamente as novas roupas delas. — O mínimo que eu mereço, é que você olhe para mim e me responda.

Cristina normalmente não seria tão rígida, mas a ação de Maggie pelas suas costas custou a liberdade de ambas.

— O que você quer que eu diga? — Murmurou Maggie com sua vozinha fina e baixa, ainda segurando uma capa verde entre os dedos trêmulos. — Eu sei que deveria te pedir desculpas, mas isso parece... parece inútil se for comparado com o que eu fiz. — Os ombros dela começaram a se mover em soluços baixinhos. — Eu mereço a morte. Eu mereço qualquer coisa que aquele verme amaldiçoado decidir fazer comigo.

— Você não merece a morte porque foi irresponsável, mas sabe que agora haverá consequências, né? Estou aqui há dias tentando te dizer que Aemond pretende te mandar para um bordel, mas você não me responde nada! — Magnólia se virou para Cristina com as sobrancelhas retorcidas, os cabelos louros e ondulados caiam pelas costas magras dela como se fossem fios de luz. Os olhos azuis estavam avermelhados, mostrando a quantidade de ódio e tristeza que preenchiam aquele corpo pequeno. — Você simplesmente aceitou seu destino? Estou te dizendo há dias sobre a conversa que tive com ele quando você estava enfeitiçada, mas você nunca me responde!

— Não existe ninguém neste mundo que eu odeie mais do que aquela gente! — Ela gritou para Cristina. — Por causa do governo podre deles, minha mãe e tantas outras pessoas morreram! Minhas tias, meus primos, estavam desnutridos quando eu era menor! E eles se foram por uma coisa que parece tão supérflua para Aemond e companhia: a fome! A fome levou todos eles, mas eu fiquei aqui! — Ela limpou os olhos. — Você agora é a pessoa que eu mais amo e eles também estão tentando te tirar de perto de mim. Eu te entreguei a ele de mão beijada como um presente oferecido! Você está sendo levada embora e eu não posso fazer nada! — Maggie soluçou mais um pouco enquanto seu rosto se tornava vermelho. — Você sabia que ele estava lá e ainda assim foi atrás de mim. Eu te fiz fazer isso, então a culpa de tudo que vai acontecer a partir daqui, é minha! Eu mereço o que fizerem comigo!

Cristina abriu a boca, mas nada saiu. Queria dizer para aquela menina não se torturar tanto, queria dizer que resolveria tudo e ambas continuariam juntas. Queria avançar para abraçar aquela criança, mas Maggie se afastou e continuou:

— Não sou digna de te pedir desculpas e nem de conversar com você. Vou aceitar meu destino por agora, mas prometo que vou te tirar de lá. Depois disso, colocarei a cabeça de Aemond em uma lança e a observarei enquanto pego no sono em meu quarto. — Maggie foi até a porta e deu três socos, fazendo um barulho imenso. — Vocês estão ouvindo?! Estão servindo uma família de usurpadores! Vão morrer do mesmo jeito que ele-

Cristina correu até ela e tampou sua boca, a puxando para trás. Maggie estava falando tudo que ela queria dizer, mas aquela gente servia a sua comida. Poderiam estar impedidos de matar ou ferir as duas, mas se sentissem ameaçados ou ofendidos, ninguém os impediria de colocar coisas questionáveis misturadas às suas refeições.

Céus, onde estava aquela menina idiota e preocupada com a saúde do velho que estava difamando sua mãe? Talvez Maggie trocasse de personalidade quando se tratava de assuntos políticos.

Cristina queria falar mais com ela sobre seus planos, queria bolar alguma maneira de impedir que aquela criança fosse mandada ao bordel, sobre a sua teoria de que Aemond sofreria as mesmas consequências caso ela fosse ferida. Mas o navio parou com um baque, e pela janela, podia ver construções de madeira e pedra.

Oh, merda. Chegamos.

Ambas pensaram ao mesmo tempo.

Antes que pudessem pensar em sair correndo e aproveitar os ruídos dos homens se preparando para desembarcar, a porta da cabine foi aberta com um rangido em protesto.

A luz atingiu os olhos delas como se fossem farpas, mas ainda assim foi possível ver que quem estava lá, olhando para ambas como se fosse um pássaro prestes a devorar dois insetos, era Aemond coberto de neve.

Sem dizer uma palavra, os guardas que o acompanhavam avançaram, agarrando Maggie pelos braços e a arrastando para fora da cabine. Ela lutou enquanto os flocos de neve caíam sobre sua cabeça e roupas, mas era pequena e frágil demais. Suas mãos foram amarradas rapidamente às costas, e ela foi conduzida para fora da vista de Cristina mesmo que ambas estivessem protestando e gritando, tentando se segurar uma na outra.

Enquanto Maggie era levada para um lado completamente diferente do dela, Cristina sentiu o metal frio do ferro puro se apertando ao redor de seus pulsos e tornozelos, lhe trazendo uma queimação estranha e incômoda sobre a pele. Ferro puro. Com aquilo, Aemond havia garantido que ela não teria a menor chance de usar qualquer forma de magia.

Ele olhou para o rosto dela por mais segundos do que precisaria, devorando a imagem que poderia ser pintada em um quadro e colocada sobre sua cama. Então mandou que a levassem, e Cristina chutou todas as pedras pelo caminho de propósito, mordeu a língua e as bochechas, se sentindo extremamente infantil por aquilo. Ela poderia fazer mais, poderia gritar para todos presentes algo que o fizesse passar vergonha, poderia diminuir a moral dele, mas do que adiantaria? A vida dela e a de Maggie só pioraria.

Maggie. Cristina não conseguia mais vê-la.

Estava sendo puxada pela corrente de ferro como se fosse um animal, e nem sabia se aquele metal à volta de suas mãos e pés a impedia de fazer qualquer coisa. Mais parecia uma crença popular, porque ela não sentia muita diferença em seu corpo.

No final, Cristina levantou uma sobrancelha quando foi levada a uma porta lateral do castelo, e ao invés de descer até as prisões, foi puxada para cima em vários lances de escadas. Ela tinha que agradecer ao corpo musculoso de Harpa, porque se dependesse de suas pernas originais, os guardas teriam que arrastá-la pelos degraus se quisessem levá-la a qualquer lugar.

Aemond tomou a corrente curta da mão de um dos guardas e abriu uma porta no corredor sombrio e úmido, puxando Cristina para dentro.

— Você sabe que eu só estou te seguindo porque eu quero, né? — Ela perguntou enquanto Aemond, com a corrente enrolada na mão, andava de um lado para o outro, reunindo livros e mais livros de uma estante alta naquelas paredes e os colocando no chão. — Me puxe como se eu fosse um animal de novo, e eu vou mostrar o que te falta.

— Quer lutar comigo? Tente a sorte, apesar de achar que não fará nada. — Ele murmurou e olhou para Cristina por cima do ombro enquanto suas mãos estavam esticadas procurando o que quer que fosse naquela estante. — Afinal, que escolha você tem?

Cristina sentiu a raiva borbulhar em seu estômago quando puxou suas mãos e consequentemente a corrente da mão de Aemond. Ela esqueceu todos os alertas que lhe mandavam não provocá-lo, então queria derrubá-lo no chão e enforcá-lo com a corrente que ele estava segurando. Contudo, ele já havia soltado antes, a fazendo cambalear para trás e bater as costas na porta fechada. A coluna de Aemond sofreu um pequeno espasmo, constatando a teoria de Cristina.

Extremamente previsível. — Ele murmurou em valiriano. — Fique quieta e espere. Logo vou te apresentar a sua casa alguns degraus abaixo.

Então ela seria mandada para a prisão.

Ela seria mandada para a prisão.

Ela se recompôs, puxando os braços com força para lados opostos até que aqueles pedaços de ferro sucumbissem. Ela provavelmente não deveria se ferir apenas esperando que Aemons sofresse as consequências, mas a sensação de saber que estava fazendo com que ele sofresse, a deixava tão feliz que mal sentia por conta da adrenalina.

Aemond a olhou com horror ao tempo em que Cristina esfregava sua pele no ferro sem se importar com a profundidade que seriam cortados. O rei regente pensou que aquela mulher era uma selvagem, um animal tão terrível e estranho que inflige feridas a si mesmo sem se importar com as consequências... mas Aemond pensou que nunca viu um animal com tais atitudes, então aquela maldita mulher só poderia ser um demônio.

Ele foi até ela rangendo os dentes, retirando as chaves das algemas do bolso interno de seu manto antes que ela arrancasse as próprias mãos, mas ela, agindo como uma tola mimada, já havia quebrado o ferro. Seus pulsos foram cortados pelo ferro, arranhados e deixados em carne viva, assim como estavam os dele.

Cristina sempre foi uma mulher calma e pensativa, completamente estrategista e silenciosa, mas estava mudando de forma muito radical. Era como se Harpa estivesse se misturando a ela, pois machucar a si mesma nunca seria uma opção.

Ele imaginou que Alys estivesse errada sobre o ferro, ou talvez Harpa fosse mesmo tão poderosa como ela mencionava.

— Previsível, você diz? — Ela perguntou avançando pela sala e encontrando uma caneta tinteiro dentro de um pequeno livro de poesias escritas á mão. — Me diga, o que será que vai acontecer com seu único olho bom caso eu fure o meu? — Cristina sorriu. — Aemond, o Caolho vai ser chamado de Aemond, o Cegueta. Será que vai conseguir reinar sem enxergar nada?

Se ela ficasse cega de um olho, ainda possuía outro. Aemond só tinha um e ela estava ameaçando tomá-lo dele também. Aquela mulher era louca, ainda mais do que ele imaginava ou tivesse ouvido falar. Harpa era uma mulher terrivelmente mimada, metida e preocupadíssima com a sua aparência. Aemond pensou que todos aqueles anos provavelmente a mudaram.

Contudo, logo após o mínimo pensamento de admiração pela coragem dela, a raiva o atingiu imediatamente. Estar sendo colocado em uma situação de vulnerabilidade e dominância por outra pessoa que ele deveria controlar, parecia ser inadmissível. Mas tudo que ele fez foi apertar as unhas nas palmas das mãos e respirar fundo.

Quanto a Cristina, ela estava sentindo sua barriga formigar. Ela não teria coragem alguma de furar seu próprio olho, ainda mais quando estava vivendo naquele mundo horrível sem médicos decentes, e também não aguentaria a dor. Ela admirava a persistência de Aemond quando ele era criança, domou o dragão que deveria ser da prima, perdeu um olho e virou um dos maiores assassinos de Porto Real.

Bastava que Aemond acreditasse na loucura dela, e ele acreditou.

— Há algum tempo espalhei um decreto sobre a runa amaldiçoada na sua mão, e agora espalhei novos rumores sobre a sua pessoa. Você não será bem-vinda em lugar algum além deste castelo, e se tentar sair, será asassinada. — Ela ainda estava segurando a caneta tinteiro com a ponta virada para seu olho verde, pensando que Aemond criou um plano suicida caso ela fugisse dele. Se ela fosse assassinada, então ambos morreriam. Uma coisa trágica que Cristina achava asquerosa. — Mas vamos ver. Se ainda não feriu seu olho, quer dizer que está esperando um acordo.

Cristina queria interceder por Maggie, mas sabia que Aemond não devolveria aquela criança para ela, já que ele queria ter algo para ameaçá-la, e a menina era uma ótima moeda de troca para chantagem. Ele sabia que ela não fugiria sem Maggie, e se a garota estivesse dentro das mãos de Aemond com ele ameaçando a vida dela a todo momento, então Cristina o obedeceria, mesmo que de má vontade.

Céus, se ela tivesse coragem de arrancar o próprio olho para deixá-lo cego...

— Você acha que me deixa intimidado? — Ele engoliu saliva e cruzou os braços enquanto seu cabelo saía da trança longa e começava a cair pelos seus ombros e costas como uma cachoeira de prata. — Vai mesmo arriscar sua própria visão para tentar me ferir? Você é uma mulher tola e incompetente que subestima minha capacidade de continuar governando, mesmo que cego.

— Você já é incapaz de governar mesmo enxergando de um olho. — Um enorme e pesado livro surgiu nas mãos de Aemond. Cristina demorou meio segundo até perceber que aquele era o seu grimório.

Seus dedos estavam tremendo de agonia por estar sendo obrigado a escutar aquilo, mas felizmente não estava com o humor ruim, tendo em vista que a presença daquela mulher, mesmo que distante, aliviou a sua dor consideravelmente.

— E isso é tudo culpa sua. — Aemond folheou as páginas amareladas e grosseiras até encontrar algo. Ele murmurou algumas palavras rápidas em valiriano e apontou o dedo para Cristina, momento em que a caneta voou da mão dela e seus braços se abaixaram e se prenderam ao lado do corpo imediatamente. — Você está proibida de se ferir para tentar algo contra mim. Se tentar fazer algo assim, seu corpo vai paralisar.

— Você-

Armond a havia enfeitiçado!

— Eu não preciso me mutilar para provar um ponto. Você pode até tentar me ferir, mas sou eu quem quem está segurando a sua corrente. Pode ter uma vida quieta por enquanto se você colaborar. — Aemond se aproximou dela, abaixando o rosto para olhá-la mais de perto, apesar de terem quase a mesma altura. Enrolou uma mecha de cabelo tingido de marrom nos dedos dele e a cheirou. — Mas se eu achar que você é uma ameaça que não vale o risco, posso muito bem deixá-la entorpecida e inútil com leite de papoula sobre uma cama até descobrir como me livrar de você... ou se não, pode envelhecer lá enquanto eu vivo minha própria vida sem me preocupar com o que você vai fazer.

Então Cristina trincou os dentes. Estava não apenas com raiva, mas possessa. Estava terrivelmente furiosa porque ela não poderia fazer nada contra ele e dependia do anseio de poder de Aemond para continuar viva.

*

Sete dias presa em um quarto.

Bom, ela deveria agradecer por estar em um quarto e não em uma cela escura e úmida disputando o espaço com ratos e baratas.

Enquanto isso, considerando que Aemond estava muito irritado com ela pela forma como o ameaçou e como falou com ele, Cristina deveria pensar melhor nas suas ações, pois quanto mais ódio ganhasse de Aemond, mais rápido ela morreria.

Seus dedos estavam doloridos de tantos origamis de estrelas que fez arrancando as páginas dos livros sobre a cabeceira da cama. O chão estava cheio deles, assim como os lençóis. Eram livros velhos e estavam empoeirados, tinha certeza de que Aemond não daria falta deles.

Cristina já havia checado as janelas, e parecia ser o começo de uma piada infame quando percebeu que estava na ponta da torre mais alta do castelo, e abaixo das trilhas do vidro, as ondas batiam com raiva contra as pedras. Se ela tentasse descer, morreria pela queda contra as pedras.

As mulheres que lhe traziam comida, a olhavam com extrema curiosidade, e quando percebiam o olhar de Cristina sobre elas, saiam correndo com os e estivessem vendo um demônio. Algumas vezes fazia menção de lhes dar um susto, e elas caíam no chão enquanto tropeçavam nas próprias pernas. Isso a fazia sentir culpada por alguns segundos.

De qualquer forma, estava pensando na distância entre uma torre e outra e calculando a rota, caso pudesse escalar aquelas paredes sem escorregar e cair na água quando sentiu uma presença.

Uma mulher de cabelos longos e pretos estava parada no canto de seu quarto, fazendo Cristina tropeçar na barra do vestido e se afastar bruscamente. Os olhos dela eram verdes como o de Cristina, e brilhavam da mesma forma ameaçadora.

Ela parecia estar há bastante tempo ali, e caminhou até o meio do quarto para que a luz das velas banhassem seu corpo esguio.

— Uma mulher poderosa com a expressão de um coelho e tropeçando nas barras do seu vestido ao ver uma irmã. Isso é vergonhoso. — Murmurou.

— Alys. — Disse Cristina. A mulher levantou as sobrancelhas.

— Sim. Você me conhece. — Ela sorriu. Havia algumas pequenas rugas em seu rosto, demonstrando que era alguns anos mais velha do que Cristina. Talvez Alys tivesse seus cinquenta anos. — Me conhece pelos boatos ou pelos meus feitos?

— Te conheço por ser a bruxa de Harrenhal, ou a... amante de Aemond Targaryen. — Ela riu.

— Aquele rapaz não me quer. Como eu poderia ser amante dele? — Perguntou. — Ele matou todas as mulheres que tentaram se aproximar dele de alguma forma sugestiva. O coitadinho virou quase um eunuco. — Ela andou até Cristina, virando seu rosto como uma coruja. — Seu coração é forte para lançar feitiços. Eu a invejo.

Cristina engoliu saliva quando Alys sorriu para ela, analisando-a da cabeça aos pés enquanto mordia o lábio inferior.

— Você conseguiu deixá-lo extremamente irritado. Eu não faria isso se fosse você. O seu feitiço apesar de eficaz, vai diminuir com o tempo, ainda mais se aquele menino cultivar o ódio que sente pelo que fez com ele, como o deixou aleijado. Você vai morrer. — Ela riu, esticando a mão sobre o peito de Cristina. — Deveria ser mais amável com ele.

— Isso é-

— Ah, não será tão difícil. Você gosta de colecionar coisinhas quebradas, não gosta? Aquela menina que você pegou para si mesma como se fosse uma filha... você se sente responsável por ela. — Alys colocou a mão sobre a barriga de Cristina. — Você se parece comigo. Eu gosto de colecionar coisas quebradas, e Aemond não é nada além disso. — Alys apertou os lábios contra a orelha gelada de Cristina. — Ele é um menininho procurando por calor. Se está procurando uma forma de viver, finja estender uma mão quente a ele.

Alys se afastou sorrindo. Os cabelos dela pareciam dançar junto à escuridão do quarto, e ela se desmanchava como fumaça.

Cristina sabia que aquela personagem era uma das, se não a mais traiçoeira daquele universo. Ela era extremamente manipuladora.

— Talvez esteja certa, mas o que você ganha tentando me ajudar a ficar viva? — Perguntou. — Não posso te dar poder, o que pretende?

— Oh, você insinua que estou tramando contra você?

— Não estou insinuando, é uma afirmação. — Cristina cruzou os braços, sentindo novamente aquela dor esquisita nos pulmões quando respirava fundo. — Você não está dizendo isso porque é gentil comigo ou porque me considera uma irmã.

Cristina perguntou a si mesma se estava com pneumonia. Por que não sentia os outros sintomas? Apertou o peito com a mão enquanto semicerrava os olhos para Cristina.

— Hm. — Ela sorriu e olhou para a mão da ruiva sobre o peito. — Não é você quem está doente. Agora que está por perto, infelizmente vai sentir a mesma dor e agonia que ele.

Então Alys evaporou dentro do escuro, como o gato Cheshire de Alice.

Ao mesmo tempo, a porta do quarto se abriu violentamente com a silhueta escura envolvida por capas e mantos.

O cabelo prateado, liso e longo estava descendo livremente pelos ombros, costas e coxas sem ser preso em lugar algum, emoldurando o rosto longo de Aemond, o olho profundo lilás e o outro onde a safira azul brilhava dentro da cavidade ocular. Cristina pensou que, naquele ponto, ele já não tinha tanta vergonha do olho faltante.

Ele pareceria perfeitamente bem se não fossem pelas profundas olheiras abaixo dos seus olhos e das eventuais tosses secas e profundas que ele soltava quando cobria a boca com a mão enluvada.

— Preciso sair. — Ele murmurou rouco.

— E daí?

— Eu não posso ir sem você, pedra no meu sapato. — Cristina olhou para suas próprias roupas verdes, luvas pretas e capuz. Pareciam mais chiques do que as habituais.

Aemond queria poder pegar aquela mulher pelo pescoço e levá-la com ele como se faz com um gato, mas não podia. Observou com curiosidade, as centenas de estrelas de papel no chão do quarto e os livros destruídos.

Era como se ele estivesse cuidando de uma criança possuída. Esperava que pudesse levá-la o outro lado do castelo para ver Aegon e tentar descobrir o que aconteceu para que ele ficasse daquela forma, mas se ela ainda estava agindo como uma fera destrambelhada, o que poderia impedi-la de avançar e separar a cabeça do seu irmão do corpo usando as próprias mãos apenas para atingi-lo?

Ele deveria esperar e pensar mais um pouco, mas a única coisa que desejava naquele momento, era poder jogá-la daquela janela.

Aemond pensou que poderia agarrar Harpa pelo braço para pendurá-la para fora do parapeito e sentir a temperatura quente da pele dela novamente.

Queria sentir o gosto dos lábios dela nos dele, cheirar os cabelos dela e ter um lapso de folhas secas do outono em seu nariz novamente. Ele queria ouvir os suspiros dela em seu ouvido, e antes que desejasse mais alguma coisa ou expressasse em palavras, o que geralmente acontecia quando ele pensava muito em algo, enfiou a ponta do seu anel contra a palma da mão.

Se você não sair agora, vou te arrastar para fora. — Ele falou entredentes e baixinho em alto valiriano.

Cristina o ignorou enquanto passava pelo rei regente parado na porta e avançava, sendo seguida pelos soldados e depois pelo próprio Aemond atrás dela.

Alys até poderia estar correta, mas deveria tomar cuidado. Estava sendo mais vigiada do que pensou.

***
Próximo capítulo vamos trabalhar na química do casal que vai tentar se matar a cada 30 segundos 😔👌

Me digam o que vocês estão achando, ou o que esperam da história, se tem algo incomodando vocês nos capítulos e etc. É a primeira fic que eu faço e estou um pouco insegura ksksksks a personalidade do Aemons tem sido um desafio.

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