CAPÍTULO 32.
🎩 Maratona - (1/3) 🎩
POV BRUNNA GONÇALVES
Eu não sabia que palavras podiam machucar tanto. Eu não sabia que eu podia sangrar tanto assim por dentro. Eu não sabia que amar alguém poderia me causar uma dor tão palpável como a que estou sentindo agora.
Não amar Ludmilla.
Lembro que nos nossos primeiros contatos, eu tive medo de me dar mal. Mas Ludmilla se mostrou ser uma pessoa tão incrível, me entregando um amor tão singelo, que todo o medo evaporou e deu lugar a um sentimento tão único.
Eu estava feliz. Apaixonada. Reluzente.
E de repente, uma carta com algumas palavras destrói tudo isso. Me destrói. Destrói o meu coração. Sufoca a minha alma.
Ainda segurando o pedaço de papel nas minhas mãos, me sento no chão sentindo o ar evaporar dos meus pulmões.. eu não consigo respirar, eu não consigo pensar.. eu..
– Por favor, Ludmilla — sussurrei em meio a soluços deprimentes — por favor — supliquei enquanto ligava para a mesma.
Isso só podia ser um engano. Alguma brincadeira de mau gosto? Por favor, Ludmilla. Diz que é isso. Diz que é uma brincadeira.
Eu prometo te perdoar..
Mensagens não lidas. Ligações não atendidas.
Já estava prestes a sair do meu apartamento quando vi a porta se abrir e a minha melhor amiga surgir.
– Brunna? — sua voz doce procurou pela minha.
Eu não consegui dizer nada. Não quando só lágrimas rolavam pelo meu rosto e soluços saiam incontrolavelmente pela minha garganta. Não quando tudo em mim se resumia a dor. Não vi quando, mas em algum momento os braços afetuosos da minha amiga me encontraram, me deixando ainda mais desesperada.
– O que aconteceu? — ela perguntou nitidamente preocupada.
– Ela, ela.. — gaguejei descompensada — ela foi embora? — falei mais para mim do que para a minha amiga — ela foi embora — afirmei entre soluços desesperados.
Senti meu corpo ir de encontro ao sofá com a ajuda da minha melhor amiga, que não soltou o meu corpo em momento algum. Eu estava trêmula, sem conseguir raciocinar ou qualquer coisa do tipo. Juliana me pediu calma, mas eu não conseguia, não com a dor tão sufocante que estava tomando conta de mim.
– Por que ela foi embora, Juliana? — perguntei em meio aos soluços — eu não fiz nada — sussurrei — ou será que fiz? — perguntou desesperada.
– É óbvio que você não fez nada, Bru — disse me abraçando — por favor, não se culpe — pediu me apertando nos seus braços — posso? — questionou ao tocar na folha que estava nas minhas mãos trêmulas.
Eu apenas assenti e enquanto a minha amiga lia aquelas palavras tão marcantes, minha mente se teletransportou para o que eu jurava ser uma das minhas maiores certezas na vida.
Flashback on
– Amor? — ouvi a voz afetuosa da Ludmilla enquanto estudava no seu escritório. Era mais um dos final de semanas que ficávamos juntas.
– Oi, Lu — sorri para ela, antes de parar de escrever no meu caderno.
– Não acha que já está tarde demais para continuar estudando, gatinha? — perguntou ao encostar na mesa, ficando próxima de mim
– Não quando se tem uma prova de cardiologia aterrorizante — suspirei sorrindo — sabe, a professora é muito exigente.. — dei de ombros
– Sério? — ela perguntou fingindo surpresa — o quão exigente ela é? — questionou me fazendo sorrir.
– Não sei descrever — afirmei levantando — mas o que ela tem de exigente, tem de gostosa — afirmei com um sorriso sacana.
– Não é errado achar a sua professora gostosa? — perguntou enquanto rodeava a minha cintura com suas mãos quentes e possessivas.
– Não, contanto que ela não saiba — sussurrei em seu ouvido, vendo-a arrepiar-se — concorda? — mordisquei o lóbulo da sua orelha.
– Não faz assim, Bru — pediu entre suspiros, enquanto eu beijava o seu pescoço
– Não consigo me controlar — sussurrei continuando com os meus beijos — cada célula do meu corpo suplica por você — olhei nos seus olhos — meu coração é teu, Ludmilla— admiti me perdendo naqueles olhos verdes.
– E eu prometo cuidar dele com a minha vida, Brunna — ela afirmou olhando nos meus olhos, antes de selar os nossos lábios.
Flashback off
Você prometeu, Ludmilla..
Você prometeu cuidar do meu coração. Como pode destruí-lo assim? Dessa forma tão desonesta? Como?
– Eu não consigo entender — ouvi a voz raivosa da minha melhor amiga — tem algo errado, Brunna — falou me fazendo olhá-la — eu vou matar aquela desgraçada — avisou enquanto voltava a me abraçar.
Mais uma vez eu chorei nos braços da minha melhor amiga. Tentei por diversas vezes levantar e ir atrás de Ludmilla, mas Juliana não permitiu. Porém, eu precisava fazer aquilo.
Eu preciso de respostas. Ela não pode me enviar uma carta falando tudo aquilo depois de prometer me amar. Eu não aceito isso. Eu não posso ter me enganado dessa maneira.. não com você, Ludmilla. Não com você.
– Eu preciso ir até lá, Juliana — pedi a chave da porta pela milésima vez.
– Não, eu não vou deixar você se humilhar — minha amiga disse — não hoje, Brunna, por favor — me pediu.
– Ela não pode fazer isso comigo, Juliana — falei entre lágrimas — eu entreguei o meu coração nas mãos dela — sussurrei — ela não pode fazer isso — solucei antes de ser abraçada pela Juliana.
Flashback on
– Às vezes nem acredito na sorte que eu tive de te encontrar, Brunna — ouvi a voz de Ludmilla me fazendo sorrir.
Estávamos deitadas na sua cama, curtindo uma a outra após um dia estressante para as duas.
– Sabe, são nesses momentos que eu percebo quanto eu realmente te amo — olhou nos meus olhos — o hospital estava um caos, problemas para todos os lados e eu só respirava fundo e pensava que quando o dia acabasse, poderia estar com a mulher que amo — acariciou o meu rosto — você me traz paz, me faz tão feliz.. — sussurrou beijando a minha testa — obrigada por tanto — disse me fazendo suspirar.
– Me emociono em ouvir tudo isso — fui sincera também, sorrindo para ela — eu te amo como nunca amei ninguém, Ludmilla — olhei nos seus olhos — você é o meu lugar favorito — suspirei antes de beija-lá.
Flashback off
O meu lugar favorito..
Onde eu menos imaginei que poderia sentir tanta dor como a que estou sentindo agora.
Mais ligações. Mais mensagens. Nenhum retorno. Porquê você está fazendo isso com a gente, Ludmilla?
• • • • • • •
Não sei quanto tempo fiquei chorando nos braços de Juliana. Mas em algum momento, o desgaste emocional foi tanto que eu acabei adormecendo.
Despertei na esperança de tudo não passar de um pesadelo, mas ao reler a carta e ver que ela não havia nem se quer respondido as minhas mensagens ou ligações, vi que tudo era real. Duramente real.
Já se passava das 01 da madrugada quando, silenciosamente sai do apartamento deixando uma Juliana adormecida no sofá da sala. Eu não podia esperar. Eu precisava ouvir da boca dela que a mesma não quer mais nada comigo. Eu precisava olhar nos seus olhos e falar tudo o que eu estava sentindo.
Eu precisava que você falasse que tudo foi um engano e que estamos bem, Ludmilla.. que vamos ficar bem juntas.
O trânsito estava totalmente livre, afinal, já era madrugada em Nova York.. não demorei nada para chegar ao seu apartamento, mesmo não tendo noção de como consegui fazer todo o trajeto já que o meu corpo tremia..
Felizmente, não precisei interfonar ou qualquer coisa do tipo. Apenas estacionei o meu carro e subi diretamente para a sua cobertura.
Minhas mãos estavam tremendo. Ainda no elevador, deixei que lágrimas escapassem pelo meu rosto, demonstrando o quão destruída eu estava emocionalmente.. toquei a sua campainha e, eu juro que imaginei encontrar tudo, mesmo o que eu vi quando aquela maldita por foi aberta..
Uma mulher estava parada, vestida com um roupão que eu sabia já ter usado tantas vezes, segurando uma taça de vinho e me olhando com um olhar tão nojento.
– Posso te ajudar em algo? — perguntou com uma voz sarcástica.
Imediatamente lembrei da mulher que vi uma vez parada na calçada próximo ao prédio em que Ludmilla mora. Lembro que ela ficou agitada com as minhas perguntas sobre essa mulher, e veja bem onde ela está agora, horas depois de terminar comigo por uma maldita carta..
Antes que eu pudesse pensar em dizer algo ou somente voltar para o elevador, Ludmilla apareceu, ficando paralisada ao me ver ali e alternando o seu olhar entre mim e a tal mulher que sorria descaradamente.
– Brunna? — sua voz saiu falha, enquanto eu recebia um olhar que parecia machucado..
Mas não estava. Não quando ela quis me enviar aquela carta. Não quando ela quis acabar com tudo de uma hora para outra. Não quando já tem outra mulher na sua casa, usando o roupão que eu usava, bebendo do vinho que eu bebia. Você não tem a merda do direito de me olhar de uma forma machucada, Ludmilla. Não tem.
– Você é mesmo muito previsível não é, Ludmilla? — questionei com a voz embargada — nem mesmo a decência de acabar com tudo olhando nos meus olhos você teve — afirmei raivosa diante daquela cena estupida.
– Brunna, por favor — ela pediu respirando fundo, desviando o seu olhar do meu — saia, Isabelle — olhou para a mulher que parecia estar se divertindo com tudo.
Isabelle? A sua ex quase esposa? Como assim? Ludmilla me largou para voltar com essa mulher?
– Tô te esperando no quarto, meu amor — ela disse sorrindo para Ludmilla, antes de piscar para mim e sair do ambiente.
"Meu amor"
Senti meu coração acelerar ainda mais e mais uma vez foi inevitável não chorar. Não quando tudo parecia tão errado e tão sufocante.
– Não chora, por favor — Ludmilla pediu me fazendo estremecer de raiva.
– Como você pode ser tão baixa assim, Ludmilla? — avancei em sua direção — como você consegue ser tão escrota, como? — questionei com raiva
– Brunna, por favor — pediu segurando os meus braços — eu nao.. — interrompi a sua fala.
– Uma maldita carta? Eu te entreguei o meu coração e você destruiu ele com uma maldita carta? — questionei em meio aos soluços — eu te entreguei meu coração e você apunhalou ele, Ludmilla — sussurrei — porquê? — perguntei desesperada — tudo o que vivemos não significou nada para você? — perguntei — você não me amou de verdade, Ludmilla? — olhei nos seus olhos — me diz, por favor — falei angustiada — ela.. — apontei na direção do corredor — fala alguma coisa, porra — exclamei fora de mim.
POV LUDMILLA OLIVEIRA
A única atitude imbecil que eu tive foi a de escrever uma carta. Eu jamais teria coragem de dizer o que preciso dizer olhando nos olhos da mulher que eu amo.. eu fraquejaria..
E eu não posso fraquejar. Não para o próprio bem dela.
Espero que um dia você me perdoe, meu amor..
Logo após pedir para que a carta fosse entregue a ela, enviei uma mensagem para a Juliana, somente pedindo para ela retornar para casa porquê Brunna precisaria dela.. a mesma me fez várias perguntas, mas eu ignorei todas.
Assim como ignorei as ligações e às mensagens de Brunna. Li e ouvi cada recado, enquanto chorava culposamente no sofá da minha cobertura agarrada a um blusão dela. Eu me afagava naquela peça como se pudesse abraçá-la e acabar com todo o nosso sofrimento.
"Ludmilla, por favor. Fala comigo, não faz isso."
"Amor, você tá brincando, não tá? Diz que é uma brincadeira. Eu não vou brigar com você."
"Ludmilla, porque você está fazendo isso com a gente? Eu te amo tanto, por favor, não faz isso."
"Eu não consigo entender, eu fiz algo de errado? Me diz, podemos consertar tudo o que não estiver certo."
"Eu te entreguei o meu coração.. você prometeu que eu não me arrependeria, Ludmilla. Eu confie em você. Por favor."
Tantas e tantas mensagens que me faziam soluçar e me encolher no meu sofá. Por diversos momentos pensei em pegar a chave do carro e ir até ela, acabando com o nosso sofrimento. Mas eu não posso.. não posso deixar que o nosso amor destrua o seu futuro.. ela ainda tem tanto o que conquistar e realizar pela frente..
– Eu te amo, Brunna — sussurrei sentindo um dor surreal — eu te amo — repeti dentro de um choro intenso.
Em um determinado momento, nem lágrimas mais haviam dentro de mim. Os soluços continuaram, meus olhos doíam, minha boca estava seca.. eu estava destruída.. foi quando a campainha tocou e eu corri para atender, prometendo a mim mesma que se fosse Brunna ali, eu não a deixaria ir..
Mas não era ela...
– Quanto drama — Isabelle exclamou a invadir a minha cobertura, me deixando furiosa.
– Vai embora, agora — ordenei com raiva.
– Eu não vou, Ludmilla — tocou o meu rosto, me fazendo recuar — vamos ficar juntinhas — disse sorrindo.
– Você é doente — falei estridentes — saia da minha casa — avisei.
– Larga de ser dramática — deu risada — quer transar? — sugeriu fazendo meu estômago embrulhar.
– Vai para o inferno, Isabelle — desejei antes de me trancar no meu quarto.
Me recolhi no meu quarto, trancando a porta e, em um dado momento, só sai por jurar ouvir a voz de Brunna. De início, pensei ser uma miragem, mas lá estava ela, parada na minha sala.. seus olhos estavam pequenos e vermelhos, suas bochechas molhadas, seu corpo parecia tremer e aquilo me destruiu mais ainda..
Quis matar a Isabelle ali e acabar com todo o nosso sofrimento, principalmente quando ela quis insinuar que estávamos juntas para Brunna, antes de me deixar a sós com a mesma..
Olhei nos seus olhos e senti tanta dor.. como também senti a cada palavra que ela me dirigiu.. eu nem se quer sabia como reagir, não quando a minha vontade era só de abraçá-la e de pedir perdão..
– Brunna, por favor — pedi segurando o choro, eu já estava no meu limite — nós não podemos mais ficar juntas — falei sem olhar nos seus olhos.
– Porquê? Me diz, porquê? — pediu se aproximando de mim — Ludmilla, me diz, por favor — pediu chorando.
Mais uma vez me recusei a olhar nos seus olhos. Eu só queria colocar um fim nesse sofrimento todo. Eu nunca vou me perdoar por isso. Mas eu precisava afastá-la.. para o seu próprio bem..
– Nós somos um erro — falei baixo, ainda sem olhar nos seus olhos.
Eu precisava fazê-la ir embora, antes que tudo ficasse ainda pior.. eu precisava.. mesmo sabendo que jamais vou me perdoar por causar dor a pessoa que eu mais amei na vida.
– Eu te odeio, Ludmilla — ela soltou de repente, fazendo todo o meu corpo tremer — eu acreditei em você, eu te amei com todo o meu ser — disse entre lágrimas — você está me destruindo e eu te odeio por isso — disse olhando nos meus olhos — eu te odeio por me fazer te amar e ir embora de repente, Ludmilla— disse me fazendo chorar.
Fiquei parada, estática. Sem saber como agir. Eu sabia que qualquer vacilo meu, Isabelle estaria ali ouvindo tudo, pronta para atacar. Então só deixei que as lágrimas rolassem pelo meu rosto enquanto via a mulher da minha vida destruída aos meus olhos.
– Me perdoa — sussurrei prendendo a vontade de abraçá-la.
– Eu nunca vou te perdoar — disse em meio a soluços — maldito dia que eu te conheci, Ludmilla— falou me deixando atordoada — maldito dia que eu me permitir amar você — nego com a cabeça — faça bom aproveito com aquela vagabunda, vocês se merecem — afirmou antes de me olhar pela última vez e sair porta a fora, me fazendo cair no chão sem forças.
Cai no chão sem forças, deixando o choro descontrolado tomar conta de tudo. Seu olhar raivoso e ao mesmo tempo quebrado.. suas lágrimas.. sua voz tão falha e trêmula.. eu prometi cuidar dela, e fiz o contrário disso..
– Eu também me odeio, Bru — sussurrei fechando os olhos enquanto sentia uma dor insuportável.
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