CAPÍTULO 08.
POV BRUNNA GONÇALVES
Depois daquela informação que ela soltou, eu entrei no carro totalmente atordoada. Não fazia a mínima ideia do que tinha acontecido de fato, e se ela tivesse omitido algumas situações?
– Brunna, pelo amor de Deus! — Juliana exclamou assim que entrei no carro — que porra aconteceu ? — questionou me olhando
– Fala baixo, caralho — levei minhas mãos até a minha cabeça — preciso de alguns minutos em silêncio — supliquei olhando para ela
Felizmente, a Juliana respeitou o meu momento e somente dirigiu, enquanto eu tentava colocar os meus pensamentos no lugar.
– Ok — suspirei ao sentar na minha cama – provavelmente, estou com amnésia alcoólica — olhei para ela
– Você não lembra de nada mesmo? – questionou
– Não — suspirei — exagerei na bebida — neguei com a cabeça — só sei o que aconteceu porque ela me contou — olhei-a
Comecei a contar para a Juliana tudo o que eu sabia que havia acontecido, de acordo com o que a Ludmilla me contou..
– Resumindo — Juliana olhou — ela resolveu tomar um ar no estacionamento e te encontrou tentando se livrar de um filho da puta, que ao te ver vomitar nele, tentou te agredir ? — questionou com os olhos arregalados
– Sim, foi isso que ela disse que aconteceu — afirmei, mesmo sentindo que ainda tinha mais coisas omitidas
– Chancho, aquela mulher salvou a sua vida — Juliana disse me abraçando — desculpa por não estar com você — ouvi sua voz embargada
– Você não tem culpa, CheeChee — suspirei — e sim, pelo visto ela salvou a minha vida — falei enquanto abraçava-a
A Juliana ficou mais um tempinho conversando comigo e depois saiu do quarto, alegando que eu precisava descansar. E bom, eu realmente precisava, principalmente porquê eu quero sim lembrar de tudo o que aconteceu nessa madrugada..
– Só espero não ter dito muitas bobagens — suspirei abraçando o meu travesseiro e me rendendo ao sono
....
Eu passei praticamente o dia inteiro deitada na cama, curando a porcaria da ressaca.
E, infelizmente, eu ainda não conseguia lembrar de nada da noite passada.
Após finalmente levantar, fui direto para o banho, eu precisava urgentemente lavar o meu cabelo e, de algum modo, lavar a minha alma também.
– Quem diria que logo você me ajudaria tanto assim — suspirei ao encarar o conjunto de moletom que ela havia me emprestado — talvez você não seja tão filha da puta assim — conclui, ainda afetada pela noite passada.
Encontrei a Juliana apagada, roncando e tudo mais no seu quarto, o que me arrancou umas boas gargalhadas. Como meu estômago estava roncando, segui para a cozinha, na tentativa de preparar algo rápido e gostoso.
Ou seja, preparei um macarrão com queijo.
Enquanto comia, forcei a minha mente mais uma vez, e bom, quase engasguei ao me lembrar de algo.
Flashback on
Eu precisava de um pouco de ar, então fui para a parte externa do pub.
A baixa iluminação não me poupou de ver a Sra. Oliveira ali, aos beijos com outra mulher.
Flashback off
– Puta que pariu — exclamei ao me dar conta do que eu tinha visto — meu Deus — neguei com a cabeça, ainda sem acreditar que eu tinha pego justo a professora que mais me odeia em um momento íntimo e pessoal.
Eu só faço merda, essa é a verdade. Mas será que ela tinha visto que eu tinha visto?
Ok, isso saiu confuso. Mas a minha mente se encontra assim agora, totalmente confusa.
Larguei o resto do macarrão no prato e corri até o quarto da Juliana, invadindo a sua cama mesmo.
– Você não sabe, meu Deus — sacudi ela — a Ludmilla, quer dizer, a Sra. Oliveira — gaguejei — ela é do vale — contei afobada
– Você lembrou que beijou ela?? — Juliana deu um pulo, sentando na cama.
– Óbvio que não — revirei os olhos — eu sou hétero — reafirmei
– Você é insuportável, isso sim — Juliana revirou os olhos — então como você sabe que ela é do vale? — questionou
– Eu lembrei que sai do Pub para pegar um ar e ao chegar na parte externa, a vi aos beijos com outra mulher — contei
– Oh — Juliana falou sorrindo — esqueça essa história de professora filha da puta — me olhou — agora a Ludmilla tem o meu respeito — exclamou
– Só porquê ela é do vale? — questionei revirando os olhos
– Sim, tenho empatia pelos meus! – disse em um bom tom
– Engraçadinha — segurei o riso — falando sério agora, e se ela tiver visto que eu vi? — questionei
– Ué, o que ela pode fazer? — Juliana questiono — a menos que você saia falando sobre a vida dela para Deus e o mundo, aí sim ela terá muito o que fazer — disse dando de ombros
– Uhm, realmente — concordei — mas ela me tirou para cristo por causa de um atraso — relembrei — imagina sobre isso — olhei para ela
– É diferente, eu acho — Juliana suspirou — talvez só seja o jeito dela dentro da Universidade, Bru — negou com a cabeça — ela te ajudou pra caralho, se não fosse por ela algo ruim poderia ter te acontecido — me lembrou
– É — suspirei — você tem razão, Juliana — concordei lembrando das últimas horas.
Fiquei um bom tempo conversando com a Juliana e depois retornei para o meu quarto, precisava organizar a minha vida, ou seja, refazer o meu planejamento semanal.
– Parece que a vida ama brincar com a minha cara — balancei a cabeça vendo a quantidade de aulas de cardio que eu teria essa semana
Estava finalizando tudo quando a Juliana entrou no meu quarto com um balde de pipoca nas mãos.
– Tô sem sono, vamos ver um filme — me intimou, deitando na minha cama
– Você é tão folgada — revirei os olhos, organizando minha bancada
– E você me ama — fez uma careta — aliás, que horas vamos amanhã? — questionou
– Ir amanhã para onde ? — questionei de volta
– Não sei — ela deu de ombros — talvez para a casa dos seus pais, comemorar o aniversário da sua irmã?? — ironizou
Oh Deus. Como eu podia esquecer que amanhã é aniversário da minha irmã, Sofia?? Eu só posso estar com a merda da cabeça na lua mesmo.
– Eu esqueci completamente disso — suspirei — ao menos o presente dela eu já dei — fiz menção ao carrinho de compras na Shein que a bonitinha me fez comprar
– Você é lerda — Juliana cantarolou enquanto comia
– Vamos por volta das 11 da manhã para poder ajudar no que precisarem lá — avisei
– Okay, bunduda — concordou — agora senta logo aqui — ordenou ligando a tv.
POV LUDMILLA OLIVEIRA
Depois que a Brunna foi embora, resolvi que precisava espairecer a minha mente. Então, troquei de roupa e fui malhar.
Estava difícil de processar o que havia acontecido. Para muitos pode ser bobagem, mas dentre tantas opções que poderiam ser consideradas, porquê logo levá-la para a minha casa? Para o meu ambiente mais seguro e íntimo?
Eu prezo pela minha privacidade ao ponto de não trazer ninguém até aqui que não faça parte do meu círculo mais íntimo.
Minha casa é como o meu santuário.
Talvez fosse essa minha atitude que estivesse me causando essa dor de cabeça infernal.
Após o treino, tomei banho, um analgésico e deitei na minha cama. Eu precisava dormir, era isso.
.....
Eu não dormir, eu praticamente hibernei como não fazia há muito tempo. Quando acordei, já era fim de tarde e como eu não estava com saco para cozinhar, pedi um jantar para mim e Patrícia.
E por falar na mesma...
– Anotou a placa do caminhão que te atropelou? — ela questionou ao entrar no meu apartamento
– Foi impossível fazer isso, graças a velocidade em que ele estava — respondi, sentando no meu sofá
– Justo — ela deu risada — então, bonitinha — me olhou com olhos acusadores
– Ai, Patrícia — revirei os olhos — é meio óbvio que eu não seduzi a minha própria aluna e a trouxe logo para a minha casa para transarmos loucamente — respondi, antes mesmo que ela dissesse essa estupidez
– Foi o que eu pensei no caminho para — ela me olhou — mas aí lembrei que estava falando de você, não de mim — fez uma careta e gargalhou
– Exatamente — dei risada também — você que gosta dessas aventuras loucas e sem sentido — revirei os olhos
– É porquê eu sei o bom da vida — deu de ombros — e isso só aconteceu umas.. — fez uma pausa — 4 vezes?! — falou com dúvida
– Eu mereço — suspirei negando com a cabeça
– Você é careta, Ludmilla — me olhou — mas vamos lá, me conte tudo o que aconteceu — pediu — quando te vi saindo com a Kenea, imaginei que fossem curtir o resto da noite juntas — deu de ombros
Eu nem tava lembrando mais da Kenea, aliás, preciso até mandar uma mensagem para ela. Deixei a mesma lá plantada sozinha...
– Bom, eu realmente estava ficando com ela na área externa — contei — mas, em um dado momento, senti que estava sendo observada e quando ergui a cabeça, lá estava a Brunna, nos encarando — respirei fundo
– Oh — parecia exclamou — ela te viu com a Kenea? — perguntou o óbvio
– Não é óbvio?! — revirei os olhos — a mesma acabou saindo praticamente fugida, então resolvi ir atrás dela — expliquei
– Porquê? — questionou — não é você mesma que diz que a sua vida pessoal só diz respeito a você? E eu super concordo com isso, inclusive — disse
– Sim, realmente — suspirei — mas sei lá, eu só fui atrás dela — dei de ombros — não para dar explicações ou sei lá o quê, mas algo me disse que eu precisava ir atrás dela — respondi bem confusa, afinal, era isso que eu estava, confusa.
– Tá, mas e depois? — ela questionou ansiosa
Bom, contei detalhe por detalhe para a Patrícia. Em um dado momento, nosso jantar chegou, então continuamos conversando enquanto comíamos.
– Eu não acredito que ela pediu para você dar banho nela — Patrícia gargalhou
– Nem eu — revirei os olhos — se antes eu já achava ela uma criança, bêbada então, parecia um bebê gigante — bufei
– Coitada — Patrícia riu — você também fica impossível quando está bêbada — me lembrou
– Cala a boca, Patty — apontei o garfo para ela
– Tá bom, Sra. Vou fazer da vida dela um inferno mas na primeira oportunidade já enfiou a menina dentro da sua tão sagrada casa — tirou sarro de mim
– Nossa, eu não sei porquê sou sua amiga — olhei para ela — eu não disse que iria fazer da vida dela um inferno, eu só disse que iria fazer o que precisava ser feito para torná-la uma profissional excelente — relembrei — e, eu não tinha opção, ou eu a trazia para cá ou a largava na rua — ressaltei
– Ok, vou ficar calada — ela disse segurando o riso
– Acho bom — respondi voltando a comer
Enquanto jantávamos, a Patrícia acabou recebendo uma chamada de urgência para ir até o hospital, então voltei a ficar sozinha.
Aproveitei para dar carinho ao Lyon e atualizar as mensagens do meu WhatsApp, reafirmando com a Luane a nossa saída amanhã.
Por fim, coloquei um filme qualquer na tv e deitei, esperando o sono chegar.
....
Despertei por volta das 07 da manhã, e como combinado às 10 já estava entrando na casa dos meus pais.
– Eu sei, pai — respondi enquanto aguardava a Luane descer — mas eu juro que não tô me matando de trabalhar — olhei para ele
– Me engana que eu gosto, Ludmilla — ele respondeu — te conheço como a palma da minha mão — ergueu a mão
– Ok — suspirei rindo e abraçando o mesmo — mas é algo bom, paizinho — falei — sabe que a medicina é a minha maior realização — suspirei
– Eu sei e sinto muito orgulho de você, minha filha — acariciou o meu rosto — nas nossas vidas não podem ser resumidas ao trabalho — olhou em meus olhos — quero só o seu bem — suspirou
– Te amo — sorri ao abraçá-lo.
Bom, depois de conversar um pouco com o meu pai, finalmente a Luane apareceu, dizendo que estava pronta. Como a minha mãe não estava em casa, apenas me despedi do meu pai.
– Qual a necessidade de uma mala tão pesada? — questionei após colocar a mala dela no carro
– É que de noite teremos uma festa do pijama — exclamou entrando no carro — não é incrível? — sorriu para mim
– Com certeza, pirralha — sorri negando com a cabeça enquanto ligava o carro.
A manhã com a Luane foi incrível, fazia tempo que eu não ria tanto assim e me atualizava das novidades dos jovens. É cada meme e cada gíria que não tem como não rir.
Apesar que falando assim, eu pareço até uma idosa...
– Esses presentes já valem por uns três anos — informei enquanto dirigia para o endereço da sua amiga
– Nem vem que não tem — resmungou na hora — só compramos umas besteirinhas — cantarolou
– Besteirinhas? — gargalhei — você me faliu, pirralha! — olhei para ela
– Como você é dramática — gargalhou enquanto levava a mão até a testa
Após alguns minutos de trânsito, músicas animadas e conversas, chegamos ao endereço que ela havia me passado.
– Você pega a minha mala, por favor, Lud? — pediu enquanto pegava a bolsa, algumas sacolas e o presente da amiga
– Tem certeza que não quer que eu deixe as compras lá em casa? — questionei retirando a sua mala do carro
– E perder a chance de desfilar para as minhas amigas? Não mesmo — negou na hora
– Senhor — suspirei revirando os olhos e seguindo para a entrada da casa com ela
Luane tocou a companhia e segundos depois uma mulher bastante gentil apareceu, retirando o avental que usava.
– Luane, querida — abraçou a minha irmã — só faltava você — sorrio
– Oi, tia Mia — minha irmã respondeu carinhosamente — acabei demorando um pouco mais — deu risada — essa é a minha irmã, Ludmilla — me apresentou
– Oh — ouvi a mulher exclamar — já vi que a beleza é um dom da sua família — sorrio me cumprimentando
– Obrigada — respondi sorrindo e devolvendo o cumprimento — vim apenas deixar a Luane — falei
– Não quer se juntar a nós? — perguntou gentilmente
– Não, senhora, mas agradeço o convite — sorri
– Senhora está no céu — a mesma me deu um tapinha no braço — pode me chamar de Mia — avisou
– Oh, claro — sorri sem jeito
– As meninas já estão na piscina — avisou dando passagem para mim e para a Luane — pode colocar suas coisas no quarto de Sofia — olhou para a minha irmã — sabe o que caminho, não é?! — deu um sorriso gentil
– Sim, tia, eu sei, obrigada — minha irmã respondeu — vem, Lud — me puxou pela mão
– Licença — pedi ao entrar na casa.
Ajudei a Luane a subir com a mudança dela, porquê sinceramente, a menina carregava uma bagagem para passar 1 mês fora de casa.
– Ok, já vou indo — falei após colocarmos suas coisas no quarto — se cuide — abracei a mesma
– Te amo — ela me abraçou forte — você lembra o caminho da saída, não é? — do nada falou afobada — aquelas falsas já começaram a disputa sem mim — disse saindo correndo
– Luane — a chamei, mas foi em vão – puta que parou viu — respirei fundo, negando com a cabeça.
Ao sair do quarto, senti o meu corpo colidir com o de outra pessoa, até pensei que fosse a Luane, mas quando ergui a cabeça, lá estavam aqueles olhos castanhos.
– Brunna? — olhei para a mesma surpresa — o que faz aqui? — questionei confusa
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