CAPÍTULO 07.
POV LUDMILLA OLIVEIRA
Eu não sabia o que estava fazendo e muito menos o que fazer. Só sei que não podia deixá-la sozinha, ainda mais nesse estado, no estacionamento.
– Ok — respirei fundo, olhando para ela ao fazê-la sentar em um banco na entrada do pub — você veio sozinha? — questionei
– Eu quero beber — ela cantarolou, me fazendo revirar os olhos
– Onde você mora ? — questionei mais uma vez
– Eu não sei — ela levantou — vamos beber — a mesma disse segurando na minha mão.
Assim que senti o seu toque em minha pele, respirei fundo, implorando para que a minha mente se mantivesse sã, mesmo após tantas doses de bebida alcoólica ingeridas.
– Srta. Gonçalves — a segurei, impendido a mesma de caminhar
– Meu nome é Brunna, para de ser tão chata — falou revirando os olhos
Que criança mais birrenta, meu Deus!
– Pegue o seu celular e ligue para que alguém de confiança venha te buscar — pedi tentando ter paciência
– Eu não, liga você — respondeu bufando e voltando a sentar no banco.
Senhor, daí-me força e discernimento. Peguei a sua bolsa e tirei o seu celular de lá, entregando para a mesma.
– Não quer ligar — ela falou dando de ombros, me entregando o celular.
Tentei ligar e o mesmo pelo visto estava descarregado. Xinguei inúmeros nomes mentalmente e peguei o meu aparelho, ligando para a Patrícia.
– Droga, Patty — exclamei após a chamada ir pela terceira vez para a caixa de mensagem.
Deixei algumas mensagens para a Patrícia e quando voltei a olhar para a Brunna, a mesma estava dormindo na porra do banco.
– Onde eu fui me meter, porra! — resmunguei sem saber o que fazer.
Não tinha como eu entrar naquele pub e sair perguntando quem era ou não amigo dela. Seria até arriscado, vai que um psicopata alegasse conhecê-la ou sei lá o quê.
Não tive escolha, acabei pedindo um Uber para a minha casa.
– Brunna, levante — sacudi o seu braço — temos que ir — olhei para ela
– Estou enjoada — resmungou enquanto levantava com a minha ajuda
– Vamos cuidar disso — neguei com a cabeça enquanto a conduzia em direção ao carro.
Ao entrarmos no carro, mais uma vez tentei descobrir o seu endereço, mas de nada adiantou, quando ela abria a boca era somente para falar coisas sem nexo algum.
Cerca de 30 minutos depois, chegamos no meu prédio. Praticamente tive que carregá-la até a minha cobertura, já que a mesma não conseguia se manter em pé sem apoio.
– Ok — suspirei ao senta-la na cama do quarto de hóspedes — acho que você precisa de um banho — olhei para ela
– Você vai me dar banho? — ela questionou deitando na cama — eu não sei tomar banho — cantarolou gargalhando — eu quero que você me dê banho — pediu rindo
– Espero que depois de hoje, você nunca mais resolva beber para chegar nesse nível — cerrei o olhar em sua direção — criança — respirei fundo, vendo que mais uma vez ela já estava cochilando.
Resolvi que o melhor era não dar um banho nela. Primeiro que eu não queria ultrapassar nenhum limite, e segundo que, ela não tinha a menor condição de tomar um banho sozinha.
Retirei o seu salto, e ajeitei o seu corpo na cama, ajustando a temperatura do ar em seguida.
– Sua ressaca ao acordar será terrível, criança — sussurrei enquanto observava a mesma dormir — onde eu fui me meter, meu Deus — questionei ao perceber que já estava a tempo demais observando-a dormir.
Deixei-a dormindo no quarto de hóspedes, e fui direto para a sala, pegando o seu celular e colocando no meu carregador. Por sorte, ambas tínhamos iPhone.
Enquanto o seu celular carregava, segui direto para o meu quarto, mais especificamente, para o meu banheiro. Eu precisava urgentemente de um banho dos pés a cabeça.
E foi o que eu fiz, tomei um banho enquanto refletia sobre o que havia acontecido essa noite. Após secar o meu cabelo, me vesti e conferi o meu celular.
Nenhuma mensagem da Patrícia.
Era típico dela fazer isso nas festas, sumir para, como ela mesma diz, ter uma noite digna do que ela merece.
Deixei o meu celular de lado, e fui até a sala, por sorte, o celular de Brunna começou a tocar.
"CheeChee"
Pensei se atendia ou não, mas com certezas notaram o "sumiço" dela, então optei por atender.
Ligação on
– brunna, até que enfim, porra! – ouvi uma voz exclamar aliviada – aonde você se meteu, bunduda?? – questionou – não me diga que sumiu do nada só para dar, sua safada – exclamou mais uma vez, me fazendo perceber o quão bêbada ela também estava
– Aqui é a Ludmilla – respirei fundo, tentando ignorar a sua última fala
– Ludmilla? Que Ludmilla? — ela questionou imediatamente — cadê a Brunna?? — perguntou de novo
– Ludmilla Oliveira— falei
– Espera — ouvi alguns cochichos — a professora megera e insuportável?? — ela questionou me fazendo revirar os olhos e segurar uma risada. Eu amo essa fama.
– A própria — respondi
– Oh — ouvi a mesma exclamar — não me diga que você sequestrou a minha amiga para fazer dela picadinho — disse
— Não, eu não fiz isso, pode ficar tranquila, ok? — neguei com a cabeça — encontrei a Camila no estacionamento do Pub, ela estava visivelmente bêbada, vomitando, enfim — encurtei a história — não lembrava o endereço de casa, então fiquei com receio de deixá-la lá sozinha, e acabei trazendo-a para a minha casa — expliquei
– Uhm, acho que entendi — respirou fundo — posso te passar o endereço e você chama um Uber para ela, ok? — sugeriu
– Não — neguei — ela está dormindo, como falei, Brunna está bêbada — andei pela sala — creio que não é seguro para ela sair nesse estado sozinha — expliquei
– Faz sentido, Ludmilla — ouvi mais cochichos – anote o meu número e me chama pelo seu WhatsApp, ok? Quero que me mande uma foto da minha amiga e me garanta que ela está bem — mais uma vez, notei seriedade no seu tom, apesar de todo o álcool.
....
A ligação com a Juliana, me mostrou duas coisas: a Brunna me detesta e fala mal de mim para todos os seus amigos e, em segundo lugar, ela tem uma amiga e tanto que se preocupa como poucas vezes já vi na vida..
Além de mandar uma foto, tive que fazer uma chamada de vídeo com a mesma, mostrando que a Brunna estava bem e segura.
– Puta que pariu — suspirei ao me jogar no meu sofá.
Não dormi praticamente nada o restante da madrugada. Por volta das 07 da manhã, levantei de fato, já sentido a porra da ressaca destruir todo o meu ser.
Caminhei até o quarto de hóspedes e ao notar que Brunna ainda dormia, de meia volta, indo direto para a cozinha.
Tomei uma xícara de café preto e forte para ver se expulsava essa ressaca e fui para o meu quarto, me jogando no chuveiro.
Após o banho, vesti um conjunto de moletom, já que a chuva castigava o tempo lá fora. Fiz um coque no meu cabelo e antes de sair do quarto, peguei o meu celular, atualizando as mensagens.
WhatsApp on:
~ Juliana ( CB )
Bom dia, Sra. Oliveira! Brunna já acordou? Estou tentando ligar para o celular dela mas não estou obtendo sucesso.
Acabei rindo com a mensagem, essa Juliana não se parecia em nada com a doida com quem falei por ligação ontem. Será que ela se lembra das coisas que me disse? Enfim..
Bom dia. Ela ainda está dormindo, quando a mesma acordar, peço para que entre em contato.
Óbvio que eu iria voltar a ser a Ludmilla de sempre. Se ontem, em algum momento fui boa e agradável, a culpa é toda da porcaria do álcool.
Depois da conversa com a Juliana, segui para ver as mensagens da Patty. Acabei deixando um áudio, informando por cima o que havia acontecido e pedindo para que ela viesse hoje pela noite aqui em casa.
Por sorte, hoje era o meu dia de folga no hospital.
Estava prestes a ouvir um áudio da Luane, quando ouvi um grito ecoar por toda a minha casa.
– A bela adormecida acordou — balancei a cabeça, fechando a porta do meu quarto e seguindo para o quarto de hóspedes.
Assim que entrei no quarto, pude notar que ela estava encolhida na cama, agarrada a um travesseiro e com os olhos totalmente arregalados. Franzi a sobrancelha, sem entender o motivo para tanto surto, mas ao ouvir um miado na cama, notei que o Lyon estava deitado lá.
É sério que ela tem medo de gatos??
– O que.. — fui interrompida pela mesma
– Sua louca — ela berrou enquanto me olhava — o que você está fazendo aqui? O que você fez comigo? — questionou bastante nervosa — você me sequestrou, é isso?? — me acusou
Ok, amnésia alcoólica! Eu mereço mesmo!
– Talvez se você não tivesse enchido tanto a cara ontem, saberia o que aconteceu e o porque de você está na minha casa — afirmei enquanto olhava para ela
– Eu.. — ela começou a gaguejar — o que aconteceu? Meu Deus — levantou depressa — eu não, não.. — começou a falar e de repente vi a mesma desmaiar diante dos meus olhos.
Isso só podia ser uma grande brincadeira do destino. Por sorte, a mesma havia caído em cima da cama, o que facilitou e muito a minha vida. Ajeitei o seu corpo sobre o colchão e fui rapidamente até o meu escritório, retornando com a minha maleta.
– Tudo ok — sussurrei após checar as suas pupilas — vamos lá, criança — apertei o seu braço — acorde — fiz todo o procedimento para que a mesma acordasse.
Não me assustei com o desmaio porquê com certeza ele é fruto do nervosismo, da ressaca, e do fato dela estar de estômago vazio e ter levantado depressa.
Um minuto depois, lá estavam aqueles olhos castanhos abertos.
– Acho melhor você se acalmar, Brunna — orientei, guardando meu material — prometa que não vai mais berrar e eu prometo que te conto o que aconteceu — olhei para ela
– Ok — a ouvi suspirar.
POV BRUNNA GONÇALVES
Não tinha como não surtar.
Do nada, eu acordei em uma casa completamente diferente, com um gato na cama, sendo que eu tenho pavor de gatos.
E quando eu a vi na minha frente, não tive outra reação a não ser culpá-la ou atacá-la.
Agora eu estava sentada na cama, enquanto ela, a pessoa que mais tem despertado o sentimento de ódio em mim, está sentada em uma poltrona, me contando tudo o que havia acontecido.
– Puta que pariu — exclamei ao entender tudo — meu Deus, eu nunca mais vou beber na vida — neguei com a cabeça
– É uma boa ideia, criança — ouvi aquela voz sarcástica ao fundo — bom, no banheiro tem toalha e itens de higiene pessoal — me avisou — tome um banho, você está precisando — falou antes de sair
Eu estou precisando?? Ela ainda tem a coragem de dizer que eu estou fedendo?
– Obrigada por salvar a minha vida, Ludmilla — resmunguei — mas vai se foder! — exclamei caminhando até o banheiro.
Fiz como ela orientou, e ao sair do banheiro vestida com o roupão, vi uma mude de roupa em cima da cama.
Respirei fundo e comecei a vestir, notando que no meio de tudo ainda tinha uma calcinha com etiqueta, deixando claro que era nova.
Sai do quarto sentindo a minha cabeça latejar e o meu estômago roncar. Não sabia muito por onde ir, mas segui o cheiro de comida e a encontrei na cozinha.
– Sente-se e coma — apontou para a mesa
– Obrigada, eu acho — sussurrei obedecendo
Olhei para a mesa e vi um comprimido ao lado de um copo com água.
– É um analgésico bom para a ressaca — disse como se lesse a minha mente — pode tomar — apontou
Fiz como ela disse e tomei o medicamento. Respirando fundo e olhando em volta. Sua cozinha era linda, bastante moderna mas com alguns toques sutis e retrôs que se casavam perfeitamente.
– Aqui — colocou um pote na minha frente – comece pela salada de frutas, vai te fazer bem – avisou e saiu da cozinha, me deixando sozinha.
Respirei fundo, e como estava morrendo de fome, comecei a comer. Após terminar a salada de frutas, segui para as panquecas e devo admitir que estavam uma delícia. Finalizei com um copo de suco de laranja.
Levantei e fui até a pia, lavando toda a louça que eu havia sujado. Após secar as minhas mãos, encostei no balcão, sem saber o que fazer, como agir..
Eu ainda estava sem entender nada, minha ficha ainda não havia caído.
Ela me trouxe para a casa dela. Cuidou de mim. Como isso é possível??
– Brunna — ouvi sua voz invadir os meus ouvidos — sua amiga está desesperada por notícias suas — neguei entregou um aparelho e eu logo notei que era meu celular
– Certo — peguei o celular — obrigada — olhei para a mesma que imediatamente se virou, saindo da cozinha imediatamente.
Liguei para a Juliana e me arrependi na hora. A mesma começou a berrar, fazendo a minha dor de cabeça piorar. Não contei muitas coisas, obviamente, mas ela logo se prontificou a vir me buscar, então mandei minha localização em tempo real por WhatsApp.
Depois de encerrar a chamada, comecei a procurar a Ludmilla, ou eu deveria só chamá-la de Sra. Oliveira? Enfim, nem eu sei.
– Licença — pedi ao adentrar a varanda do seu apartamento – minha amiga já está vindo me buscar — comuniquei sem jeito
– Certo – ela respondeu, sem desviar o olhar do meu.
Senti a minha garganta secar com a maneira como ela me olhou, e mesmo sem jeito, resolvi agradecer, afinal, ela me ajudou muito.
– Quero te agradecer por ter me ajudado tanto ontem e hoje — falei, começando a olhar para as minhas mãos — imagino que devo ter te dado muito trabalho — suspirei, mesmo sem lembrar de nada
– Realmente — ela concordou, me fazendo encara-lá — digamos que.. — fez uma pausa, levantando do mini sofá — você se comportou como uma criança muito levada — falou em um tom baixo, me causando arrepios.
Os arrepios só podiam ser de medo, obviamente. Essa mulher intimida qualquer um, ainda mais com esse tom de voz rouco e esse olhar castanho instigante.
Respirei fundo, ainda sentindo a minha garganta seca e novamente desviei o meu olhar do seu.
– Eu sinto muito — falei baixo — me desculpe mesmo — olhei para ela — isso nunca mais irá acontecer — neguei com a cabeça
– Assim espero — ela respondeu, mantendo seus olhos em mim.
Pouco tempo depois, ligaram informando que a Juliana já estava me esperando.
– Eu posso devolver na segunda-feira? — questionei sem graça, me referindo a roupa
– Pode — ela afirmou, parada na porta do seu apartamento
– Mais uma vez, me desculpe mesmo — olhei para ela
– A culpa não foi toda sua — ela afirmou
– Bom, eu já vou indo – respirei fundo – obrigada, Sra. Oliveira — dei um meio sorriso, dando as costas para a mesma
Quando eu já estava chamando o elevador, ouvi a sua voz rouca chamar o meu nome, fazendo meu corpo estremecer.
– Brunna — seu tom de voz era baixo e rouco
– Oi?! – falei baixo, me virando para ela
– Da próxima vez, tenha mais cuidado ao pedir para que alguém que você mal conhece te der banho – ela disse, fechando a porta do seu apartamento logo em seguida.
Eu paralisei no lugar em que estava.
Meu Deus do céu, como assim eu pedi para ela me dar banho? E puta que pariu, será que ela me deu banho??
– Eu estou fodida — conclui, batendo a minha testa na porta do elevador.
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