CAPÍTULO 04.
POV BRUNNA GONÇALVES
Eu estava muito ansiosa, isso era inegável.
Passei a semana toda esperando o dia de hoje, e foi horrível perceber que ela não daria as notas naquela aula..
Não me contive e mesmo que em meio a calafrios, acabei indo até a bancada dela para perguntar sobre.
Por e-mail.
Ok, vamos receber por e-mail.
Nem preciso dizer que já entrei na aula de gastro com o celular em mãos, checando o meu e-mail.
– 8,0 – ouvi Júlia sussurrar com um sorriso nos lábios
– Parabéns, Ju - sorri orgulhosa – você é foda, amiga - olhei para ela
– Nada ainda? - ela me disse questionou bloqueando o seu iPad.
– Não - neguei com a cabeça.
10 segundos depois, a notificação chegou no meu celular.
Senti minhas mãos suarem frio de tanta ansiedade e, imediatamente, cliquei na notificação, rolando até o final para ver o que realmente me interessava:
Nota: 7,0.
Filha da puta.
Eu não acredito que aquela filha da puta fez isso.
Ela não tem a droga do direito de fazer isso.
Eu não acredito.
– Aquela miserável - sussurrei entredentes – meu Deus - senti a vontade de chorar invadir o meu corpo.
– Ah não - ouvi a voz de Júlia ao meu lado – 7? - ela questionou também incrédula – só pode ter sido erro de digitação, amiga - tentou contornar
– Isso não é erro de digitação - sussurrei com raiva – mas eu não vou aceitar isso - avisei levantando.
Eu estava com muita raiva e muito, mas muito frustrada.
Eu sei do que sou capaz e sei o quanto me dediquei naquele trabalho. Sei muito bem que ele era digno de mais que a porcaria de um 7,0. A porra da média do trabalho. Eu nunca tiro a média em nada, nem em nenhuma matéria.
Sai da sala e intuitivamente, segui até a sala dos professores.
Tentei engolir a porra do choro para manter a minha voz firma, mas é tão difícil fazer isso...
Ao entrar na sala, sem bater mesmo, vi que ela estava lá, sozinha.
Não me contive.
Confrontei aquela desgraçada mesmo, mas no fim das contas, só fiquei com mais raiva e mais frustração.
– Só foi um atraso, meu Deus – sussurrei sentindo as lágrimas deslizarem pelo meu rosto – ela não pode foder a minha vida por causa de um atraso – falei incrédula, após ser deixada falando só naquela sala.
Levei cerca de 10 minutos para conseguir levantar e sair daquela sala, mas ao fazer isso, acabei me batendo com a professora de pediatria.
– Ei – senti as mãos dela nos meus ombros - tudo bem com você? – questionou me olhando nos olhos
– Eu.. – gaguejei não conseguindo prender o choro novamente – desculpa – sussurrei saindo o mais depressa possível dali.
Meu Deus, como se não bastasse todo esse inferno. Agora a professora pediatra deve estar me achando uma problemática chorona.
Tudo isso por causa dela.
Eu odeio aquela mulher.
Odeio.
Perdi praticamente toda a aula de gastro tentando me acalmar no banheiro.
Quando retornei, não demorou muito para sermos liberados, já era hora do almoço.
– Eu não entendo - sussurrei depois de desabafar com Júlia – é ser muito cruel - lembrei dos olhos verdes vidrados em mim
– Infelizmente não podemos fazer nada, Bru - Júlia disse me olhando – com certeza é implicância da parte dela, o que te resta é esperar isso passar, eu acho – ela deu de ombros – o importante é não deixar isso te abalar, ok? Nada de perder o bom desempenho que você sempre teve nessa universidade – me aconselhou
– Você tem razão - suspirei – vou continuar fazendo minha parte, e se essa situação continuar, vou comunicar a diretoria - avisei – ela não vai destruir a minha vida acadêmica – afirmei sentindo raiva, medo e tudo mais.
– Vai dar tudo certo, amiga - Júlia sorriu docilmente para mim.
......
O resto do dia passou como uma tortura para mim. Mas, diferente do que ela deseja, eu não vou me foder ainda mais nessa história. Prestei atenção nas aulas, participei como sempre, e fui elogiada como sempre.
Só aquela louca para não reconhecer o quanto eu sou dedicada ao meus estudos.
Assim que fomos liberados, segui em direção ao carro e passei para buscar a Juliana, obviamente contei tudo para ela, que ficou com tanta raiva como eu.
– Que vontade de chutar a bunda daquela mulher, Chancho - ela falou enquanto entrávamos no apartamento
– Oh, eu também queria fazer isso - afirmei me jogando no sofá – e as coisas que ela me disse na sala dos professores - neguei com a cabeça – ela teve a audácia de me chamar de criança, que ódio - rosnei indignada
– Ela te chamou de criança? – Juliana perguntou boquiaberta
– Exatamente, duas vezes - afirmei
– E o que você respondeu? - questionou
– Nada?! - dei de ombros
– Oh - ela balançou a cabeça - ainda bem que isso não foi comigo, porque eu não teria me contido – disse dando uma leve risada
– Como assim? - questionei curiosa
– É aquilo, né?! - ela deu de ombros – só deixo me chamar de criança, se for me colocar para mam.. – cortei-a imediatamente, ao me dar conta do que ela quis falar
– Juliana, para de ser assim - berrei jogando uma almofada nela – sua maníaca por sexo - olhei incrédula para ela
– Sou mesmo e não nego - ela deu risada, me fazendo rir automaticamente – tá vendo?! É esse sorriso que eu quero ver no seu rosto, Chancho - disse deitando no sofá comigo
– Te amo, Cheechee - suspirei abrandando-a
Fiquei um tempo conversando com a Juliana, ainda sobre o que aconteceu hoje, e depois levantei, indo direto para o banho. Logo após isso, comi uma tapioca preparada pela minha melhor amiga e me tranquei no quarto, enfiando a cara nos livros.
Por mais que a situação de hoje não saísse da minha mente por nada, eu ainda precisava seguir em frente e dar o meu melhor, não só nessa, mas em todas as outras matérias.
Nada nem ninguém estragará o meu sonho.
Nem mesmo aquela mulher insuportável, com o rei na barriga.
Quando parei de estudar, já eram 23h da noite, ou seja, hora de dormir.
Tento manter um equilíbrio, afinal, minha saúde mental também é importante e essencial.
Organizei minha mesa de estudos, e sai do quarto somente para beber água, encontrando a Juliana morgada no sofá com os seus livros espalhados. Ela ama estudar nesse sofá.
– Cheechee - chamei-a calmamente
– Me deixa, bunduda - ela resmungou virando para o lado
– Depois não diga que eu te deixei dormir no sofá duro - dei risada caminhando para a cozinha.
Tomei a minha água e retornei para o quarto, indo direto para a minha cama.
Fechei os olhos e de imediato aqueles olhos castanhos se fizeram presentes na minha mente, me fazendo remexer na cama.
Mas será possível que nem na hora de dormir aquela peste me dará paz?
Se foda, Ludmilla Oliveira
Sussurrei revirando os olhos e virando para o lado, implorando para não ter pesadelos com aquela louca.
POV LUDMILLA OLIVEIRA
Eu não sou um monstro.
Quer dizer, sou um pouco cruel, mas nada tão grande assim também, convenhamos.
Eu sabia o que estava fazendo. Ou melhor, eu saiba porquê estava fazendo aquilo.
Minha parte eu fiz, agora resta sabe como Brunna seguirá daqui para frente. Só espero estar certa em relação a minha intuição, espero mesmo estar certa.
Estranhamente, essa foi a primeira vez em que senti algo diferente ao olhar aqueles olhos castanhos repletos de lágrimas.
Seria compaixão pela situação da garota?
Mas eu nunca sinto compaixão por alunos.
Na real, acho que é só o sentimento de identificação que, especialmente com ela, veio de um modo avassalador.
Passei o dia inteiro pensando nisso, o que só me deixou com muita raiva, detesto não ter o controle sobre a minha mente.
Ao chegar em casa, por volta das 22:00, eu estava exausta. Tanto fisicamente quanto mentalmente.
Dei um pouco de atenção ao Lyon, e segui direto para o banho. Depois de fazer todo o meu ritual da noite, deitei na cama e peguei o meu celular, abrindo o WhatsApp.
WhatsApp on:
Patty: Encontrei a Brunna na sala dos professores hoje.
Patty: Chorando, inclusive. Você é tão rápida, Ludmilla!
E o que te faz achar que eu tenho alguma coisa a ver com o choro dela?
Patty: Eu te conheço bem, bunduda.
🙄
Só fiz o que precisava ser feito. Vamos ver como ela vai reagir.
Patty: Espero que você tenha feito o certo mesmo, Ludmilla.
WhatsApp off
Eu também espero, Patty – sussurrei deixando o celular de lado.
.....
A noite foi um pouco inquieta. Mas, como disciplina é o meu terceiro nome, às 06:30 eu já estava de pé, exercitando o meu corpo na minha academia.
– Lyon, por Deus - resmunguei ao vê-lo deitar por cima de mim – eu estou malhando, ok?! – encarei o mesmo e não aguentei, sorrindo em seguida.
Com a intromissão de Lyon, acabei encerrando o meu treino e seguindo para a cozinha.
Tomei um bom café da manhã, na companhia do meu amigão e depois subi.
Minha manhã estava livre, ao menos pelo fato de que eu precisava comparecer a uma reunião na Universidade. Então, tomei um bom banho e comecei a me arrumar.
Coloquei uma saia lápis midi preta, juntamente com uma blusa social branca, dobrando as mangas e salto alto nos pés. Além de claro, minha maquiagem de sempre e resolvi soltar os cabelos com leves ondulações.
Ao descer, me despedi do Lyon e segui rumo à Universidade.
No caminho, recebi uma ligação da minha mãe, então conectei o celular ao carro e atendi.
Ligação on:
Já que a minha filha não lembra que tem mãe, eu faço questão de lembrá-la – ela cantarolou ao perceber que eu havia atendido.
Quanto drama, dona Silvana – sorri negando com a cabeça – essa semana foi uma loucura, mãe – suspirei
Problemas? – ouvi sua voz preocupada
Os de sempre – dei de ombros – trabalho e trabalho – afirmei
Meu amor, você não acha que dedica muito da sua vida somente ao trabalho? – e lá estava aquele assunto de novo – você também precisa viver, Ludmilla – suspirou
Eu amo essa vida, mãe – parei na sinaleira – amo mesmo, me sinto completa – afirmei
Mas tudo precisa de um equilíbrio, filha – respondeu imediatamente – quando você tinha a Isa.. – interrompi ao ouvir aquele nome
– Esse assunto não, mãe – falei firme
– Desculpe - ela suspirou – só quero te ver feliz, minha pequena – acabei sorrindo com a sua fala
– Eu sei disso, mãe – respondi atenta ao trânsito – estou feliz, ok? – falei – prometo que amanhã almoço com vocês, mande beijos para todos – pedi
– Estaremos te esperando – disse sorrindo – te amo, filha – ouvi sua voz carinhosa
– Te amo mais, dona Silvana - afirmei antes de encerrar a ligação.
Ligação off
Balancei a cabeça, tentando dissipar os pensamentos que já começavam a se formar só com essa rápida conversa com a minha mãe, e continuei o meu trajeto.
Ao chegar na Universidade, estacionei o meu carro e segui direto para a sala de reuniões.
– Ludmilla, querida - ouvi a voz de William assim que entrei
– Olá, Will - sorri cumprimentando o mesmo – podemos começar? - questionei enquanto sentava
– Claro - ele afirmou sentando em uma poltrona.
A reunião não durou mais que 40 minutos. Só precisamos alinhar algumas coisas relacionadas ao meu contrato e alguns projetos que quero implementar na Universidade.
Gosto de trabalhar com o Will porquê tanto ele, quanto eu, somos objetivos e racionais.
E essas são duas coisas que eu não só amo, como prezo muito para tê-las.
– Whisky ? - ele questionou ao terminamos a reunião.
– Não mesmo - neguei rindo – vou para o hospital após o almoço - expliquei conferindo as horas – aliás, acho melhor já ir adiantando - levantei
– Tudo bem então - ele sorrio vindo me cumprimentar – é sempre um prazer trabalhar com essa sua mente brilhante, Ludmilla
– Fico grata e honrada, Will - devolvi o cumprimento
Conheci o William durante a minha faculdade. Mais especificamente no meu quarto ano. Ele foi o meu professor de cirurgia geral. Anos depois, quando eu já estava atuando como cardiologista, o reencontrei e não pude negar o seu convite para preencher a vaga de cardio que faltava na Universidade em que ele era diretor.
Coincidentemente, a mesma Universidade em que tive a honra de me formar.
Eu aceitei o convite de imediato porquê sempre tive prazer em ensinar. O hospital e a sala de aula são meus dois lugares favoritos no mundo, e poder conciliar essas duas coisas é incrível para mim.
Ao deixar a sala de reuniões, ouvi meu celular tocar e vi o nome de Patrícia brilhar na tela.
Atendi e continuei meu caminho rumo ao estacionamento.
Eu só não esperava me distrair tanto com as bobagens que a Patty estava falando, ao ponto de me bater com uma outra pessoa.
Intuitivamente, ao ouvir um "ai" sendo entonado, acabei segurando o corpo que havia trombado em mim, na tentativa de impedir que ele fosse ao chão.
E quando eu olhei em direção ao rosto que havia debatido comigo vi aqueles olhos castanhos.
Brunna Gonçalves.
Senti um certo incômodo na garganta, ao olhá-la tão profundamente nos olhos.
Olhos esses que me olhavam de forma tensa e fria. Enquanto eu ainda mantinha minhas mãos em volta do seu corpo.
Respirei fundo, sentindo mais uma vez o peso do olhar dela, e, voltando a órbita, afastei os meus braços do seu corpo.
– Srta. Gonçalves - respirei fundo, ao olhá-la inquieta na minha frente
Surpreendentemente, ela cerrou o olhar em minha direção, ajeitou os livros que carregava nos braços e saiu.
Me deixando falando sozinha.
Ninguém nunca me deixou falando sozinha.
– Ora, ora – balancei a cabeça, ainda impactada com a quantidade de raiva que tinha em seu olhar – que criança mal educada – acabei sorrindo, colocando os meus óculos e seguindo meu caminho para o estacionamento.
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