Um caminho diferente para nós
Jungkook tinha terminado o último prato, entregando a Taehyung, vendo-o enxugar com cautela antes de guardar no armário. Suspirou, indo até a mesa e puxando uma cadeira para se sentar. Taehyung jogou o pano na mesa, fazendo o mesmo.
- Você está cabisbaixo, Jungkook. Eu sei... sei que parece idiota, mas você precisa confiar que tudo vai ficar bem - Taehyung falou empolgado, tentando empolgá-lo também. Jeon queria chorar agora. Ele levantou o olhar e encontrou com os de Taehyung. Tão cheios de vida, vividos. Sorriu pequeno, lembrando que ele estava perto, mas nunca o suficiente. Conviveu com isso por muito tempo, mas agora... agora era diferente. Não queria ter que partir e vê-lo sozinho em sua despedida. Podia dar amor a Tae, podia fazê-lo sorrir em momentos bobos, podia cuidar dele nas boas e péssimas situações, podia ser o anjo dele. Realmente sabia que ele poderia ser isso. Mas como? Com seus sessenta dias, isso só serviria para fazer a pessoa que mais amava criar esperanças para morrer no final, como uma fagulha de fogo contra a água.
Isso o fez encerrar o sorriso, deixando um suspiro pesado escapar. Desconfiava seriamente que conseguisse manter a verdade oculta com toda a sua expressão de acabou, fim da linha. Esperaria pela bomba relógio.
- Eu deveria ligar para os meus pais? - perguntou quase sem voz, sem encarar o mais velho. Talvez eles se sentissem culpados com sua situação. Para ser sincero com seus sentimentos, Jeon queria mesmo colocar as cartas na mesa e dizer sua situação declinante, em como a pessoa adequada que seus pais lhe jogaram era a culpada por seu final trágico. Mas aos poucos ele guardava esse pensamento egoísta na mente, afinal, seu fim seria rápido, mas seus progenitores viveriam com a culpa pelo resto de suas vidas.
- Eles tem que saber, Jungkook. Todos precisam. - o Kim juntou suas mãos sobre os joelhos, fazendo Jeon sentir um sentimento bom no peito, o calor das mãos de Taehyung pareciam incendiar sua alma, clamando para que ela brilhasse cheia de vida novamente.
- Tudo bem - murmurou. Avisou que voltaria logo, indo apenas buscar seu celular na mesa de centro na sala, voltando para a cozinha e sentando no mesmo lugar. Discou o número, mordendo o lábio inferior enquanto aguardava um retorno da outra linha.
Taehyung não o olhava agora, encarando suas mãos unidas. Jungkook sabia que ele não gostava de seus pais. Sendo sincero, ele não gostava dos seus pais. Por quererem decidir seu futuro, o jogaram no buraco negro que estava o consumindo de dentro para fora.
Se ao menos eles não tivessem o impedido... se ao menos fosse Taehyung...
- Oi, mãe... - Jeon falou baixo quando ouviu a voz aguda na outra linha. Ela perguntou o que houve para uma chamada inesperada. Quis rir. - Eu fui ao médico hoje e descobri que estou doente. Farei um tratamento pelos próximos dois meses. - o som surpreso e as perguntas de como aquilo aconteceu surgiram. É culpa sua. - Joseph tinha a doença e passou para mim.
Houve um silêncio ensurdecedor no outro lado da linha. Jungkook olhou para Taehyung, os olhares que compartilharam o mesmo pensamento.
E então, a chamada caiu.
Jungkook olhou para a tela, o chamada encerrada fez seu peito bater acelerado, não de susto ou surpresa, mas de desespero. Ela realmente encerrou a chamada quando indiretamente mencionou que a culpa era deles. Como bons ignorantes, eles fingiriam que isso era culpa apenas sua.
- Ela... desligou. - falou sem emoção, colocando o celular na mesa. Taehyung não disse nada, um aperto em sua mão se fez após isso. Jeon sorriu com os lábios frisados. Enquanto tivesse Taehyung, ele ficaria bem.
- Você quer assistir algo?
- Seria bom, para variar.
Taehyung levantou, guiando-o até que estivessem na sala, sentados juntos no sofá de dois lugares, os canais sendo passados pelo controle nas mãos do Kim. Seu próprio corpo explanava para o mundo o quão vulnerável estava agora, a cabeça deitada sobre o ombro largo do mais velho enquanto seus olhos localizavam os canais que passavam.
Um programa de culinária estava passando no canal que Taehyung resolveu deixar. Jeon suspirou calmamente quando percebeu que as mãos ainda estavam unidas, os dedos entrelaçados como se tivessem medo de soltarem. Talvez tivessem.
- Podíamos fazer essa receita, que tal? - Taehyung mencionou em referência ao prato sendo preparado na tela. Jeon concordou.
- Vamos fazer porções grandes para durar a semana inteira - brincou, ouvindo o riso baixo de Taehyung antes que ele prosseguisse.
- Poderíamos deixar para o almoço, então eu viria para comer com você - Taehyung propôs em provocação, mas Jeon adorou a ideia.
- Realmente? Você viria? - sua cabeça estava inclinada em busca de ter uma visão do perfil de Taehyung, do maxilar marcado, do nariz bonito e das bochechas cheias. Era possível notar o modo como Taehyung franziu a testa em descrença.
Taehyung olhou para ele, os rostos extremamente próximos agora. Centímetros separavam a ponta de seus narizes.
- Você ainda não tem certeza disso? - Taehyung soltou com um olhar carinhoso, e Jeon sorriu pequeno, murmurando baixo uma resposta.
- Tenho.
- Bom. Eu faria tudo por você, Jungkook. Tudo para ficar do seu lado - o Kim falou antes que ele inclinasse um pouco o rosto para a frente, a ponta do seu nariz tocando o de Jungkook. Um sutil beijo de esquimó, mas ele estava bem com isso.
Jeon não conseguiu esconder o sorriso de seus lábios quando voltou a posição inicial, e suas bochechas queimaram depois quando ele percebeu que continuou com o sorriso na boca sem nem perceber.
Eles passaram longos minutos ali, até que Jungkook se esquecesse do tempo enquanto caia no sono.
Sonhou com um campo florido, cheio de margaridas, sem horizontes a frente, apenas flores e mais flores. Estava no centro dele, e logo depois, seu corpo estava no chão, deitado enquanto encarava o céu azul e sem nuvens. O som das cigarras encheram seus ouvidos. Então seu olhar se perdeu no seu lado esquerdo, os olhos encontrando os de Taehyung, ao seu lado, sorrindo pequeno. Sorriu de volta, o calor cobrindo sua mão quando o mais velho as uniu.
- Eu vou ficar sempre ao seu lado. - a voz de Taehyung soou firme, e Jeon ficou contente por saber que aquilo não era real. Ele poderia deixar escapar a verdade sem sentir remorsos.
- Obrigado, Tae. Mas eu estraguei tudo.
- Eu confio em você, Jungkook. Você confia em mim?
Jungkook sabia que era um sonho, mas seu coração batia tão acelerado contra o peito. A brisa contra suas madeixas o fez se sentir bem, as palavras saindo de sua boca sem perceber.
- Confio.
- Então acredite quando digo que estaremos juntos até o fim. - ele sorriu doce, como sempre fazia quando queria acalmá-lo. Jeon assentiu, porque Taehyung nunca mentiu para ele.
- Nós ficaremos - falou, e então suas testas estavam unidas, a respiração leve se unindo uma a outra. - Eu amo você, Taehyung.
- Acorde, Jungkook.
Então seus olhos estavam abertos.
Taehyung o encarava com o mesmo olhar de sempre, uma mistura de atenção e carinho, e Jungkook poderia até sentir que não merecia tudo isso. Era bom demais para alguém que partiria em dois meses.
- Por quanto tempo dormi? - perguntou enquanto se ajeitava no sofá, tentando olhar Taehyung direito. Ele tinha o rosto levemente vermelho e mexas de cabelo molhadas, imaginou que ele tivesse acordado a pouco e ido lavar o rosto.
- Já são cinco e meia. Preciso ir ou chegarei atrasado - Taehyung falou, e Jeon assentiu enquanto levantava cambaleante.
- Tudo bem, hyung. Obrigado por ter vindo hoje - disse enquanto acompanhava Tae até a porta.
- Não foi nada. Ficará bem?
- Eu vou, não se preocupe comigo. Boa aula - viu Taehyung concordar antes de pressionar um beijo em sua testa. - Até, Tae hyung.
- Até, Jungkook. Fique bem.
Então Jungkook o viu partir com metade do seu coração na mão. Fechou a porta quando a imagem de Taehyung sumiu, voltando-se para se deitar no sofá enquanto trazia os joelhos para o peito, apertando-os com os braços.
Seus olhos fechados o levavam ao mesmo pensamento. Partes quebradas do sonho, a sua voz dizendo eu te amo. Não que tivesse dúvidas disso, porque não sabia de algum momento que não amou Taehyung. Entretanto, nunca tinha dito a ele, e fazer isso em um sonho só parece ser algum tipo de mensagem para que ele acelere.
Acabou o tempo, você precisa dizer logo.
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