Suspirando, Jungkook havia levantado para ir em direção a cozinha. Estava tão cedo, mas isso mal o segurou de começar a preparar qualquer besteira para comer. Então ele se arrumaria adequadamente e iria dormir, como sendo o único meio de alívio para seus pensamentos.

Dois meses. O que eram 60 dias comparado com todos aqueles 23 anos que carregava nas costas? Para que serviu viver tudo isso, se agora teria tudo arrancado de si? Realmente não tinha uma resposta, e mesmo que tivesse, duvidava que fosse se livrar das dúvidas que tinha.

- Porra. - O xingamento saiu após ver o pequeno fio de sangue que escorria do seu dedo indicador. Abandonou tudo onde estava, indo em direção ao quarto em busca de encontrar algum band-aid para usar. O encontrou dentro de uma gaveta da pequena cômoda, mas antes que conseguisse colocá-lo, ouviu batidas na porta.

Não tinha ideia de quem poderia ser. Seus pais... não. Mesmo que morassem perto de sua casa, eles não o visitariam aquele horário. Taehyung estava na faculdade, e por mais que desejasse que fosse ele enquanto ia atender a porta, não queria atrapalhar o amigo de fazer suas próprias coisas. O que lhe restava...

- Jiminie-hyung. - falou baixo ao reconhecer o amigo mais velho parado na sua porta com uma mochila nas costas. Ele tinha uma expressão amena, um sorriso quase imperceptível, mas que mesmo assim era acolhedor.

- Jungkook. - respondeu.

- Não sabia que vinha - Jeon abriu mais a porta enquanto falava, dando espaço para que o outro entrasse.

- Eu pretendia avisar você mas todas as minhas mensagens e ligações tem sido ignoradas - ele falou, apenas pontuando sua desculpa. Jungkook fechou a porta, um pouco sem graça.

- Me desculpe por isso. Essa última semana foi... difícil.

- Está tudo bem, não estou acusando você. Vim para te fazer companhia. Taehyung também me pediu isso.

- Ele pediu? - ficou curioso com aquela afirmação, sentando-se ao lado de Jimin no sofá.

- Sim, ele- Céus, você se cortou?! - Jimin falou assustado ao ver o sangue que cobria o dedo de Jeon, só agora a vista. Jungkook deu uma olhada, a quantidade de sangue bem maior do que a fina linha inicial.

- Uh, bem, eu acho. Estava pensando muito - buscou pelo band-aid, entregando para Jimin que fez o rápido trabalho de estancar o machucado com aquilo.

- Você quer conversar sobre isso? - a pergunta de Jimin parecia incerta, e ele até teria razão por entender assim. Jungkook havia ignorado contato pelo tempo que estava fazendo seus exames, era uma dúvida se ele iria quebrar essa ausência de conversas agora.

- Quero esclarecer as coisas, mas não sei se vou conseguir dizer tudo. - falou, desistente.

- Está tudo bem, isso não é um interrogatório - Jimin o tranquilizou, Jeon se sentiu melhor ao ouvir isso. Olhou para suas mãos juntas agora, a pequena adição do curativo parecendo mais interessante de encarar do que sua vida inteira.

- Você sabe, eu namorava com Joseph antes. Ele tinha uma doença e nunca me contou dela. Então... me contaminou sem eu saber. Depois de ter terminado com ele, comecei a me sentir muito mal fisicamente. - iniciou, vendo Jimin assentir, instigando-o a continuar. Suspirou pesadamente, prosseguindo. - Taehyung disse que eu deveria procurar um médico. Depois dos exames eu descobri que tudo que me resta são dois meses.

- Jungkook...

- Você vai ser a única pessoa para qual vou dizer isso. Os remédios que o médico passou só vão amenizar a dor, nada mais. Essa doença... minha situação já está muito agravada. Não tem como escapar disso. - seu olhar finalmente caiu sobre Jimin, tentando não se deixar levar pela dor que via nele. - Por favor, não diga isso ao Taehyung.

- Você não contou a ele?

- A parte do tempo, não. Não quero que ele saiba que estou morrendo. Por favor, Jiminie-hyung, eu estou pedindo.

Jimin mordeu o interior da bochecha com força.

- Eu não vou contar nada, não é meu direito. Mas acho que ele sim tinha o direito de saber, Jungkook.

- Eu vou dizer, em algum momento vou, mas não agora... - disse a última parte em um murmúrio. Jimin ainda estava desacreditado que aquilo acontecia com o mais novo, era surreal. Jungkook, o garoto de dezoito anos que ele conheceu no fim do ensino médio, que formou uma duradoura amizade até que fossem adultos, estava seguindo por um caminho curto. Era a pior notícia que já tinha recebido. Não queria nem imaginar o quão difícil seria para Taehyung saber disso.

Deixou o ar sair, pesadamente, a garganta seca.

- O que você estava preparando antes desse dedo cortado? - Jimin perguntou, mudando drasticamente o assunto. Jeon conteve um arfar aliviado. Não queria que sentissem pena de si, já bastava a dele mesmo por seu miserável destino.

- Qualquer coisa. - deu de ombros. Eles seguiram para a cozinha, e Jungkook foi impedido de tocar na faca, Jimin o dizendo para fazer coisas não perigosas enquanto fazia a maior parte do trabalho.

Acabou sorrindo com isso, um momento agradável sendo criado ali, mudando um pouco a rota dos seus pensamentos. Quando tudo estava pronto, eles organizaram a mesa e fizeram seus pratos.

- Ele estava muito aliviado, Jungkook. Por saber que você ficaria bem. - Jimin contou ao começar a comer. Jeon parou para ouvi-lo. - Contou que tinha medo dessa doença, mas que você deu a entender que seu médico avisou que poderia se curar.

- E não é melhor assim? Você sabe o quão preocupado ele ficaria se soubesse que não é uma simples doença.

- Talvez, mas... Taehyung já mentiu para você?

- Eu não estou mentindo para ele, Jiminie-hyung! - disse um pouco nervoso. - Só não... - abaixou a voz, sentindo os olhos encherem de água. - Só não quero ver Taehyung triste. Ver ele feliz é o que ainda me mantém firme. Não quero ter que desabar e levar ele junto comigo.

- Shh, tudo bem, eu estou sendo malvado com o meu dongsaeng, me desculpe - pediu, fazendo um carinho leve contra as madeixas de Jungkook, esperando que ele não se tornasse um mar de lágrimas. Jeon fungou, limpando o canto dos olhos enquanto assentiu. - Certo. Eu não vou mais falar sobre isso. Em vez disso, eu estou feliz que você tenha se tornado alguém tão forte.

- Isso não é verdade, Jimin-hyung. - falou falsamente frustrado, mas não estava disposto a entrar numa discussão boba sobre aquilo como costumavam fazer com bobagens. Jimin também não, apenas negando com a cabeça, e isso foi suficiente.

Depois de algumas horas, Jimin estava pegando sua mochila abandonada em algum canto da sala e a colocando nas costas.

- Essa mochila... você estava na faculdade?

- Hoje não teve aula, mas aproveitei para fazer um trabalho com o grupo. - Jimin explicou. Eles seguiram até a porta, o mais velho deles já estando do lado de fora. Sentiu ele puxá-lo para um abraço caloroso, tentando passar boas energias.

- Obrigado pela visita, Jimin-hyung. Prometo responder às mensagens - falou com um sorriso pequeno nos lábios. Jimin deu de ombros, devolvendo o sorriso enquanto se afastava.

- Não se preocupe muito com isso. Vou tentar aparecer qualquer dia desses. Até mais Jungkook, cuide-se.

- Até, Jiminie-hyung.

Quando fechou a porta, o sentimento denigre retornou. Seus olhos correram pelo teto de sua casa quando ele se jogou no sofá, um cansaço mental que o desestabilizou. Jimin tinha razão, Taehyung precisava saber. Mas a que preço? Ele não se deu o trabalho de responder, já sabendo bem a resposta quando seus olhos se fecharam, cansados.

***

O mar de margaridas estava lá novamente. Dessa vez, suas pétalas brancas eram vermelhas, como sangue. Jeongguk tocou em uma delas, vendo-a desmanchar por completo.

Gotas de água caíram no chão, pesadas, a chuva caindo grosseiramente. As flores pareciam que soltar-se-iam do chão com tamanha ventania, e Jeon tentou cobrir o próprio corpo do frio intenso.

O céu era escuro agora, um relâmpago iluminando todo o campo florido de margaridas vermelhas.

- Mentiroso - ele se virou de repente, olhando para trás. A mistura da água e do vento atrapalhava sua visão, mas ele nunca confundiria aquela voz. Era Taehyung.

- Não, eu não sou! - Jeongguk respondeu na defensiva. Ele tentou caminhar, mas seus pés afundaram, lama cobrindo seus sapatos. Sua pele estava dormente agora.

- Você mentiu, é um mentiroso!

- Não, não... - Jeongguk pensou, formulando sem perceber. Seu corpo parecia afundar a cada segundo, mas nada de movimentos. - Eu não sou. Eu ia contar, Taehyung, eu ia...

Um trovão estrondoso o fez fechar os olhos, quando os abriu, era sangue que ele via escorrer no chão, entre as gotas que caiam pesadamente do céu. Seu estômago embrulhou, e ele se forçou a olhar para frente, em busca de Taehyung.

Ele estava indo embora.

- Taehyung, espere, por favor! - gritou, sua garganta de repente seca. Ele tentou chamá-lo de novo, mas nada saia. Suas palavras tinham ido embora. De repente, o ar também faltou. Jeongguk tentou puxar o ar, fazendo força no ato, as mãos afundando na lama vermelha, a cor do sangue aglomerando entre os dedos.

E com uma segunda trovoada que ensurdeceu seus ouvidos, ele acordou.

Jeongguk puxava o ar com força, o corpo suado enquanto ele estremecia levemente. Seus olhos estavam arregalados. Jeon tateou o próprio rosto com dificuldade, sentindo o desespero explícito em seu rosto.

Ele tinha adormecido no sofá, e mal sabia que horas são. Na mesinha de centro, seu celular estava vibrando avidamente antes de parar. Franziu a testa, levantando o tronco e pegando o celular em mão. Era quase meia noite. Desbloqueando a tela, ele percebeu que havia quase sete chamadas perdidas, todas de Taehyung. De repente, ele se sentiu extremamente frenético e receoso.

Estava prestes a retornar à ligação quando viu o celular vibrar novamente, o nome do amigo surgindo na tela. Deslizou o dedo na seta verde e o atendeu, deitando-se no sofá novamente.

- Tae?

- Jeongguk, você está bem? - a voz de Taehyung parecia receosa. Jeon não sabia se sua respiração ainda se estabilizando era notável, mas esperava que não.

- Estou bem, hyung. O que aconteceu? Você parece nervoso.

- Tive um pesadelo depois que agarrei no sono estudando. Acredito muito nessas coisas, você sabe - Taehyung murmurou. Jeongguk assentiu para si mesmo, sentindo a pressão no peito. - Queria ouvir sua voz.

Eu também.

- Não fique preocupado com isso, Tae. Estou bem. Espero que você também esteja agora.

- Você está indo dormir agora? - Taehyung perguntou um pouco mais calmo na outra linha. Jeongguk também estava. Ouvir o mais velho acalmava-o, e dessa vez não foi diferente.

- Eu preciso fazer algumas coisas antes. Acabei pegando no sono no sofá - falou baixo, já se levantando. - Como foi sua aula hoje?

Jeongguk colocou a chamada no viva voz, ouvindo Taehyung explicar sua aula enquanto ele escovava os dentes. Assim que terminou, ele falou sobre a visita de Jimin, e eles acabaram entrando em um assunto sobre saírem juntos.

Ele avisou que iria tomar um banho e ouviu a confirmação de Taehyung. Deixou o celular na cama e foi para o banheiro, não se demorando ali. Vestindo roupas leves, Jeon retornou para a cama, o celular ainda no alto falante.

- Tae? - chamou baixo. Ele ouviu um chiado baixo vindo da outra linha, e imaginou que o amigo estivesse assistindo alguma vídeo aula no computador, voltando aos estudos.

- Estou aqui, pequeno. - respondeu calmamente. Jeongguk inspirou fundo, apertando os olhos.

- Eu também tive um pesadelo hoje. - disse baixo. Ele sentia o coração acelerado, como se estivesse ameaçando deixar seu corpo. - Hyung, pode cantar aquela música? A que você escreveu.

Ele ouviu um riso leve e soprado, e poderia jurar que Taehyung estava sorrindo. Depois disso, seus corpo relaxou visivelmente com a voz grossa e cheia de suavidade. Taehyung já tinha cantado aquela mesma música algumas vezes, e seu coração estava mais leve por ouvi-la.

Parece um urso no inverno
Você dorme tão feliz
Te desejo uma boa noite, boa noite, boa noite
Boa noite, boa noite

Imagino seu rosto
Você me diz olá
E então todos os dias ruins
Não significam nada para mim
Com você

Jeongguk sorriu pequeno, a respiração amena e o corpo de volta ao normal. Ele puxou o cobertor até que estivesse em sua barriga, deixando uma leve expiração sair.

- Boa noite, Taehyung.

Do outro lado, houve um silêncio pequeno, mas que não incomodava. Era apenas... silêncio. Agradável e familiar.

- Boa noite, Jeongguk.

Segundos depois, a chamada foi desligada.

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Oi amores!
O próximo capítulo dessa história já está pronto e eu logo irei publicar. Depois disso, talvez demore um pouco para sair atualização devido ao meu hiatus, como expliquei no meu perfil.

É isso, espero que estejam gostando <3