🖋️4 - Jungkook (Jikook)
Olá, meu amores, tudo bem?
Hoje trago para vocês uma one diferente do que estou acostumada a escrever.
Ontem, ao ouvir uma música enquanto lia um livro, me veio a ideia dessa fic. Então, consegui ter um tempinho vago nesse feriado e para escrevê-la.
O livro que estou lendo no momento é "Você Ligou Para O Sam", então sim, pode haver traços que rementem a essa obra. Pode-se dizer que essa é uma fic baseada em um livro e desenvolvida com uma música.
Não há realmente muita ligação com a obra, mas como eu ainda não terminei de ler, não sei como ela segue a partir de determinado ponto. Mas ela me inspirou a escrever essa fic.
Lembrei também, enquanto escrevia, de um filme que eu assisti há muito tempo, que, por incrível que pareça, eu lembrei do nome assim que estava revisando essa estória. A mente da gente às vezes parece mágica.
Então, vamos ao que interessa.
Fanfic baseada na música: Valentine - Måneskin, no livro: "Você Ligou Para O Sam" e no filme: O Invisível (2007).
Capa feita pela: Itsarmyb
Boa leitura!
Jimin corria sem rumo, floresta adentro. Ele só queria fugir de sua casa por algumas horas, queria ter um pouco de paz.
O caminho pela trilha era fechado de árvores de um lado e do outro. Ele não sabia onde ela ia levar, mas corria com o rosto banhado em lágrimas, como se sua vida dependesse daquele destino.
Logo à frente, a trilha terminava em um ônibus escolar velho, parado logo antes de uma ribanceira de uns 15 metros de altura, onde havia um riacho abaixo. Ele subiu no ônibus pela porta traseira, onde uma pendia enferrujada e a outra já estava no chão, caída. Andou alguns passo no corredor e sentou no assoalho velho entre os bancos. Abraçou as pernas e baixou a cabeça nos braços, chorando em silêncio, mesmo sabendo que não tinha ninguém por perto para ouvi-lo.
Jimin havia se mudado há algumas semanas, seus pais se divorciaram e, por seu pai ser um homem muito ocupado, sua mãe acabou ficando com sua guarda.
Ele queria ficar com seu pai, assim como o outro o queria por perto, mas não foi possível. O garoto de 17 anos não tinha uma relação boa com a mãe, mas seu pai o compreendia como mais ninguém.
Ainda no ônibus, Jimin estava agora com a cabeça deitada no banco, pensando em como odiava aquela vida. Não queria ter se mudado, gostava de onde morava, dos amigos que tinha e dos professores do colégio. Agora estava em uma cidade onde não conhecia ninguém e não estava se adaptando a morar somente com sua mãe. Ele odiava toda essa mudança, essa vida nova.
- Você está bem? - ouviu uma voz desconhecida perguntar.
Jimin se arrastou para o corredor e olhou para o fundo do ônibus por onde havia entrado. Não tinha ninguém ali. Ele olhou para o outro lado e viu alguém sentado no primeiro banco.
O garoto usava uma jaqueta de couro, calça jeans rasgada nos joelhos e uma regata branca por baixo. Em seus pés estavam um par de all stars sujos e molhados. Os cabelos estavam em um corte da moda e não lhe passou despercebido os piercings na sobrancelha e lábio.
Ele parece um cantor de rock.
- Como me encontrou aqui?
- Conheço essa área como a palma da minha mão. - sorriu ladino.
- Desculpe, eu não sabia que esse lugar tinha dono. - Jimin levantou e passou as mãos pelos joelhos.
- Se existe um, esse não sou eu. - Jimin não disse nada. Baixou o rosto, não queria que o outro visse que ele andou chorando. - Como se chama?
Jimin ficou receoso em falar seu nome. Não o conhecia, e sabia que não eram do mesmo colégio. Alguém como ele, Jimin teria notado, sem dúvida.
- Eu sou Jungkook. - disse antes de descer as mãos até o bolso da calça.
- Eu preciso ir. - Jimin se virou para sair.
- Espera, você vai voltar aqui algum dia?
- Eu...não sei. - ele pulou para fora do veículo e andou pelo mesmo caminho que veio.
No dia seguinte, Jimin não queria voltar para casa depois do colégio. Sua mãe não estaria em casa, mas aquelas paredes pareciam sufocá-lo quando estava lá. Só queria voltar para Daegu, para seu pai e sua vida normal.
Ele parou em frente a sua nova casa e a observou por algum tempo. Apertou as alças da mochila nos ombros e caminhou até o fim da rua.
Desceu por um declive, se embrenhado novamente na floresta. Voltou ao ônibus da tarde anterior. Achou que poderia encontrar o garoto outra vez, mas ele não deu as caras.
Durante a semana, todos os dias Jimin ia até lá depois da aula. Na mochila ele levava seu caderno de desenho, suas canetas coloridas e um lanche. Passou a ficar até a noite por lá e só ir embora quando já não podia mais fugir da sua realidade. Ele chegava em casa, tomava banho e ia deitar, antes que sua mãe chegasse e o importunasse com seus longos discursos sobre como ele deveria se empenhar em algo mais significativo do que os desenhos.
Na semana seguinte, na mesma quinta-feira, ele ouviu o rangido dos degraus do ônibus. Desta vez estava sentado em um banco, viu a cabeleira escura entrando no ônibus e seu coração ficou inquieto.
- Oi, garoto sem nome. - aquele mesmo sorriso da última vez estava no rosto dele.
- Oi.
- É bom ver você por aqui de novo. - ele subiu o último degrau e sentou no primeiro banco.
- Desculpe, não sei se deveria estar aqui, mas...- Jimin suspirou.
- Você gosta daqui?
- Esse é o único lugar que eu me sinto bem.
- Dia difícil?
- Vida difícil. - Jungkook assentiu.
- Que bom que achou um lugar no qual se sente confortável. Apesar de...- os dois olharam em volta. Assim que seus olhos se encontraram, ambos riram.
- Eu não me preocupo com isso. - mais silêncio por alguns segundos.
- Eu costumava vir aqui às vezes há alguns anos, agora, simplesmente não consigo ir embora. - Jimin deu um meio sorriso, mas ao ver que o outro não sorria, baixou a cabeça.
Eles ficaram em silêncio por um tempo mais longo, mas Jimin se sentiu desconfortável de não ter se apresentado.
- Eu sou Jimin. - os olhos de Jungkook chegaram a brilhar ao ouvir o nome dele.
- Seu nome é bonito, Jimin. - as bochechas de Jimin ganharam um tom de vermelho. - Seu cabelo é bem legal. - Jimin passou a mão pelos cabelos dourados.
- Obrigado. - sorriu simpático. - Pena que a minha mãe não concorde com você.
- Sério?
- Sim. Eu gosto de animes e desenho alguns deles, então sempre que posso, mudo a cor do cabelo.
- Hum...- pensou um pouco. - Acho que deve ser bem legal quando seu cabelo está platinado. Deve dar a impressão de que você tem neve no lugar dos fios.
Jimin não conseguia controlar a ansiedade que crescia dentro de si ao ouvi-lo falar daquilo de forma tão natural.
- Me diz, Jimin, quais os seus animes favoritos?
Jimin se agitou no banco, todo empolgado em poder falar de algo que realmente lhe agradava. Não sendo suficiente, ele levantou e sentou no primeiro banco, em frente a Jungkook. Notou que outra vez, ele estava com os sapatos molhados. Preferiu não citar aquilo.
Jimin nem conseguia acreditar que havia tido uma tarde tão prazerosa. Depois de semanas sentindo como se sua vida estivesse em um eterno dia nublado, finalmente sentiu como se o sol tocasse sua pele de novo. Tinha feito seu primeiro amigo na cidade. Mal podia esperar pelo dia seguinte.
Foi ao colégio como de costume. Passou o dia ansioso, queria correr de volta para a floresta, estar naquele ônibus, conversar mais com Jungkook, falar sobre as coisas que o deixavam feliz. No entanto, queria saber mais sobre ele também.
Jimin fez exatamente como nos dias anteriores, foi para a floresta assim que saiu do colégio. Chegou ofegante no ônibus e esperou pacientemente pela chegada de Jungkook.
Conforme a tarde ia dando lugar ao anoitecer, Jimin ficou frustrado por ele não ter parecido. Foi para casa mais cedo, tinha um trabalho para finalizar. Ficou animado com a expectativa de vê-lo no dia seguinte.
O fim de semana parecia ter demorado mais a passar. Jimin fez o mesmo de sempre, sentou no ônibus com seu caderno e canetas. Desenhou até sentir que seus dedos já não suportavam mais.
E nada de Jungkook.
Jungkook também não apareceu nos dias seguintes, fazendo Jimin achar que ele não havia mesmo se interessado pelas coisas as quais ele falava de coração tão aberto.
No entanto, não entendia porque o garoto se mostrava tão interessado se não era algo que realmente fosse de seu interesse.
Não sabia mais o que pensar a respeito de Jungkook.
Jimin foi à floresta, deu uma volta pelas proximidades onde estava o ônibus e não viu nenhuma outra trilha que não fosse pela qual ele sempre vinha. Por trás do ônibus, ele observou o riacho abaixo. Era uma altura consideravelmente perigosa. Explorou com os olhos de onde o riacho se originava e para onde ele seguia. Ao longe, pouco mais de meio quilômetro, ele viu um carro preto capotado. O caminho que se seguia até lá, o declive era menor. Ele poderia ir acompanhando pela margem do riacho até chegar ao carro e descer mais a frente. Ousou caminhar devagar, sempre com olhos atentos ao veículo.
O carro parecia estar lá há algum tempo. Pela lataria, Jimin pode notar a ferrugem e fuligem tomando conta.
A uns 100 metros, Jimin segurou em um cipó e tentou descer a parte mais baixa da ribanceira. Ao enrolar o cipó no pulso e agarrar-se firme, foi interrompido.
- O que está fazendo? - Jimin quase caiu com o susto.
- Que merda, Jungkook! - encostou na árvore, sentindo os joelhos tremerem.
Jungkook estava a alguns passos de Jimin, parado em pé numa rocha, com as mãos no bolso da calça, usando as mesmas roupas de quando se conheceram.
- Você quase me fez cair lá embaixo. Por que tinha que chegar assim, tão de repente?
- Fiquei curioso com o que estava fazendo. - deu de ombros.
- Eu só queria ver uma coisa. - olhou para o carro dentro do riacho.
- Você não deveria ir lá.
- Por que não?
- É melhor assim. - desviou o olhar.
Ali Jimin soube que ele estava escondendo alguma coisa. Será que tinha alguma relação com o veículo? Conhecia alguém que estava no carro antes dele cair no rio? Ou só achava arriscado descer a encosta para satisfazer uma curiosidade?
- Vamos voltar para o ônibus. - deu as costas para Jimin.
O Park olhou mais uma vez para o carro, pensou a respeito, mas seguiu o Jungkook até o ônibus.
- O que houve que você não apareceu por aqui nos últimos dias? - perguntou assim que se aproximou do outro, que ainda caminhava em sua frente.
- Eu venho aqui sempre que posso.
- Isso quer dizer que só pode nas quintas-feiras? - Jungkook parou.
Jimin notou hoje que Jungkook só dava as caras nas quintas. Essa era a terceira vez que se viam, e não podia deixar de assimilar essa "coincidência".
- Por que não pode vir nos outros dias? O que você faz? Mora aqui perto? Quantos anos tem? Qual o sobrenome da sua família? - Jungkook se virou para ele e Jimin viu um semblante triste, era como se essas perguntas o ferisse.
Ele não podia deixar de perguntar tais coisas. Na última vez que conversaram, Jimin lhe contou todas essas coisas sobre si, mas Jungkook não falou nada sobre ele.
- Desculpe, eu não quis te chatear, só queria saber mais sobre você.
Ele não disse nada. Continuou parado no mesmo lugar, avaliando Jimin.
- Mas você não é obrigado a me dizer, se não quiser.
- Jimin, eu preciso da sua ajuda com uma coisa.
- Claro! - ficou animado com a hipótese de ser útil e quebrar aquele clima estranho que ficou entre os dois.
- Por que você precisa que eu entregue isso? Não pode entregar você mesmo? - dobrava a folha do caderno com a carta de Jungkook ditou. - Se tem problemas com seus pais, por que não senta e conversa com eles pessoalmente.
- Eu não posso fazer isso.
- Por que?
- É complicado! - Jungkook se exaltou, levantando do banco nervoso.
- Você não mora mais com eles?
- Não. - colocou a mão para fora, pela janela. Uma garoa bem fina umidecia a floresta.
- Tudo bem. Amanhã depois da aula eu passo por lá e deixo na caixa de correio...
- Não. - se virou para ele. - Eu preciso que você entregue hoje, por favor.
- Está ficando tarde e...
- Jimin, por favor, me prometa que fará isso hoje, sem falta. - a voz embargada dele deixou Jimin aflito. - Precisa ser hoje, e você tem que entregar nas mãos da minha mãe. É tudo o que eu te peço. - se ajoelhou diante do Park. - Me prometa que fará isso?
Jimin não conseguia desviar os olhos da tristeza que havia no olhar de Jungkook. Ele parecia sofrer muito com a situação. O coração de Jimin murchou com a angústia que ele via descrito em cada gesto do outro.
- Tudo bem, eu faço isso. - uma lágrima isolada desceu no rosto de JK. Jimin ergueu a mão para tocá-la e ele se assustou.
Jungkook se afastou tão rápido, que Jimin temeu ter feito algo errado. Mas não disse nada.
- Eu vou andando, então. Ainda preciso procurar o endereço e não quero chegar muito tarde em casa.
Jimin saiu sem se despedir de Jungkook. Estava... decepcionado. Ele queria confortar JK, queria lhe transmitir seu apoio, dizer que sabia muito bem como é se sentir deslocado em sua própria família. Dizer que também tem conflitos em casa e que sabe exatamente o sentimento de não ser o que esperam que ele seja.
Mas Jungkook se afastou de um jeito que o deixou magoado. Como se seu toque fosse repugnante, que ele só apreciava sua companhia no objetivo de obter o que queria.
Jimin suspirou fundo ao chegar na rua em que os Jeon moravam.
Antes de procurar pelo número, Jimin abriu a carta e leu uma última vez.
Mãe, pai...
Sei que nunca segui à risca todos os seus sonhos e objetivos para minha vida, mas nunca me senti menos querido ou desejado por não querer ser contador como o papai ou por não ter interesse algum em lecionar em uma faculdade como a mamãe e vocês me olharem com dúvida ou receio.
Sei que não pude mudar minha essência para caber dentro dessa família, ainda assim, eu sentia o amor de vocês todos os dias. A cada jantar que o papai preparava meu prato favorito ou nas manhãs que a mamãe insistia em me deixar no colégio, mesmo depois de eu tirar minha carteira de motorista. Eu sentia o orgulho de vocês em cada prêmio estudantil que eu ganhava, sentia a esperança crescendo dentro de vocês sempre que eu me interessava por algo relacionado ao trabalho de vocês.
Eu senti tudo isso.
Mesmo que agora esses sentimentos tenham se transformado em saudade, eu ainda me recordo de cada dia.
Sei que nossa última conversa não foi a melhor que já tivemos, e mesmo que eu não tenha sido compreensivo do mesmo jeito que vocês sempre foram comigo, eu sinto saudade até daquele último dia.
Eu sinto muito por tudo. Sinto muito por ter partido sem dizer adeus. Sinto muito por tê-los decepcionado mais uma vez.
Ainda assim, quero que saibam que eu tinha muito orgulho dos pais que vocês foram.
Para todo sempre,
com amor, Jungkook.
Jimin ficou curioso para saber o que tinha acontecido da última vez que JK viu seus pais.
Eles brigaram? Por que motivo exatamente? O que ele disse aos pais que precisou ir embora de repente sem dizer adeus? Foi tão sério assim, ao ponto deles não manterem mais contato?
Jimin encontrou o número da casa dos pais de JK, soltou o ar preso nos pulmões e se aproximou. Bateu na porta e aguardou. Na segunda batida, uma mulher da sua altura atendeu à porta. Ela parecia cansada, era visível também que andou chorando.
- Em que posso ajudar? - perguntou com uma voz calma e doce.
- Sra Jeon? - ela assentiu. Jimin estendeu a mão com a carta. - Me pediram para lhe entregar isso. - ela pegou a carta e olhou dos dois lados. - É do seu filho, Jungkook.
Os olhos da mulher encaram Jimin com espanto. Ele viu quando os olhos dela encheram de lágrimas.
- Eu sinto muito. - Jimin sabia que dizer aquilo poderia significar que ele leu o conteúdo da carta, mas o semblante dela o deixou triste.
Antes que ela pudesse dizer algo, Jimin se virou e foi embora. Ele ouviu a porta fechar quando estava na calçada. Foi para casa.
A semana passou e Jimin não esperava ver Jungkook naqueles dias, esperou até a quinta-feira. E ele estava lá quando Jimin chegou.
- Jiminie! - o sorriso largo no rosto dele deixou Jimin confiante.
- Oi! - deu um aceno tímido.
Eles conversaram, riram e compartilharam coisas da vida. JK estava mais falante dessa vez. Aquela proximidade deixava Jimin...estranho.
Jimin estava tendo uma semana bem exaustiva. Era semana de prova. Ele estava indo dormir tarde e acordando mais cedo que o normal. Naquele dia tinha chegado mais tarde do que de costume na floresta.
Em meio a conversa, deitou no banco do carro e acabou dormindo.
JK ajoelhou e observou o sono sereno dele.
- Eu adoraria ter te conhecido antes, quando tudo era possível na minha vida. - murmurou.
Ele passou a mão nos cabelos bagunçados de Jimin e sorriu. Sabia que procuraria ter mais do que amizade com Jimin, se fosse possível. O Park era gentil, carinhoso, destemido e compreensivo. Um sonhador incrível quando se tratava de seus desenhos. E tinha talento. Se fosse persistente, alcançaria seus objetivos com muita facilidade. Adorava seu jeito meigo e curioso.
Jimin acordou quando sentiu os dedos frios do Jeon em seu rosto. Os olhos deles mantiveram contato por um longo tempo.
- Jungkook...?
- Jiminie. - outra vez aquele sorriso que gerava uma sensação estranha no estômago de Jimin.
Ele levantou, sentando-se no banco, Jungkook se afastou.
- Espera! - segurou na mão dele. JK encarou sua mão na dele com incredulidade. - Por que você sempre se afasta assim de mim? - Jimin não aguentava mais ficar com tantas perguntas lhe sufocando. - Por que nunca me responde o que quero saber? E por que... só aparece nas quintas-feiras?
Ele viu os olhos de Jimin angustiados pelas respostas. Voltou a se abaixar e não soltou sua mão. Passou a outra pelo rosto quente de Jimin e o sentiu hesitar em seu toque.
- Você está com frio? Suas mãos estão tão geladas.
- Ah, Jiminie, se eu pudesse ficaria aqui para sempre, ao seu lado. Se eu pudesse, te daria todas as respostas. Se eu pudesse...- se calou.
- Se pudesse o quê? - envolveu o rosto dele com as mãos.
- Eu amaria você para sempre.
O coração de Jimin errou as batidas. Era um sentimento que ele nunca havia sentido antes. Sentia-se invencível, intocável, inabalável. Era uma euforia magnânima, que tomava conta de todos os seus sentidos.
Poderia passar o resto de seus dias ao lado de Jungkook. Queria sentir seu coração desenfreado a cada amanhecer e calmo e completo ao anoitecer. Queria ter e pertencer a Jungkook, como se isso não fosse o suficiente para suprir todas as necessidades de sua alma.
- Então me ame. - pediu com a voz baixa, se aproximando devagar. Queria beijá-lo.
Porém, quando estava perto o suficiente dos lábios dele, Jungkook hesitou, mantendo apenas sua testa na dele.
- Eu preciso ir.
- Me leve com você, Jungkook. Por favor.
- Eu...não posso. - apertou forte a mão dele.
- Então me diga para onde vai? Onde posso encontrar você? Você volta aqui na próxima semana, no mesmo horário? Por que está sempre com a mesma roupa e com os sapatos molhados. Por que você parece não se incomodar com o frio e em como as suas mãos ficam geladas.
- Você vai entender tudo em breve, confie em mim. - Jimin suspirou.
- Por favor, me beije. - JK se afastou o suficiente para olhar em seus olhos. - Por favor, me dê ao menos isso.
As mãos frias de JK subiram pelo pescoço de Jimin e alcançaram sua nuca.
- Eu nunca tive uma razão tão genuína para querer viver antes de te conhecer. Eu queria ter tudo, ser tudo com você ao meu lado. - Jimin o puxou pela jaqueta.
Até os lábios de JK estavam frios, Jimin sentiu quando ele finalmente o beijou.
- Eu fico tão feliz que você possa sentir isso, que eu pude te conhecer e amá-lo antes de partir.
- O que? - Jimin viu uma lágrima despencar do olho dele. - Você vai voltar, não vai?
JK puxou as mãos dele e beijou o dorso de cada uma sem pressa e com carinho. Se aproximou e fez o mesmo em sua testa.
- Eu estarei para sempre com você, Jiminie. - o Park não sentiu muita confiança nas palavras do outro. - Vá para casa, e dê uma chance para sua mãe. Ela morreria de saudade se você partisse. - Jimin piscou perdido.
JK se levantou e caminhou pelo corredor. Parando na porta para olhar uma última vez para Jimin. Sorriu e desceu.
Jimin correu até lá e o viu andando em direção a névoa que envolvia a floresta. Seu coração estava apertado, tinha a sensação de que aquilo era uma despedida. Que nunca mais veria Jungkook.
No dia seguinte, o colégio estava em um burburinho incessante. Era algo relacionado a um ex-aluno de lá. Jimin não deu atenção, e mesmo que quisesse, a quem ele perguntaria sobre o assunto? Não tinha amizade com ninguém.
Ele passou em uma livraria e comprou a nova edição especial de um mangá que ele gostava. Foi para uma cafeteria e começou a ler. Tinha desistido de ir até a floresta, sabia que Jungkook não estaria lá.
Nem se deu conta de como a hora passou rápido, tinha que ir para casa, sua mãe chegaria mais cedo naquele dia.
Ao chegar em casa, entrou bem devagar, pois as luzes estavam acesas, sinal de que sua mãe já havia chegado.
Chegou na sala e ela dormia no sofá com a tv ligada. Ficou parado ali por um instante, pensando no que Jungkook havia lhe dito da última vez.
Se aproximou em silêncio e pegou o controle que estava na mão dela. Olhou pacientemente para ela e deixou um beijo em sua testa.
Jeon Jungkook.
Jimin olhou rápido para a tv e viu o nome da família dele no noticiário. Ele aumentou um pouco o volume.
- ...as buscas haviam sido encerradas após duas semanas do ocorrido, mas o corpo não havia sido encontrado. Após a Sra Jeon receber uma carta, ela insistiu que o comissário da polícia retomasse as buscas. E na madrugada desta sexta-feira, o corpo do jovem que havia acabado de coletar 18 anos foi encontrado no riacho Dae-Joon.
Jimin colocou as mãos na boca, abafando qualquer som ou grunhido que pudesse emitir. Seus olhos descarregaram o choque da notícia em forma de lágrimas.
Estava lá, explicito na tela da tv a foto dele.
Jungkook estava morto.
Jimin saiu às pressas da sala, correu para o quarto e bateu a porta. Se jogou na cama e agarrou o travesseiro. Não estava acreditando que Jungkook, o mesmo garoto com quem esteve nas últimas semanas, com quem dividiu alguns momentos de sua vida e passou um tempo maravilhoso, estava morto há dias.
Como era possível?
Um aperto no peito de Jimin lhe dizia o quão dolorosa era aquela verdade. Eles nunca mais se veriam, ele nunca mais seguraria a mão de Jungkook, jamais passaria uma tarde com ele. Jimin chorou.
Não era pra ter existido nosso encontro, nossos momentos...
Jimin agora entendia porque ele estava sempre com as mesmas roupas, sapatos molhados, porque nunca respondia a suas perguntas e não queria que ele se aproximasse daquele carro.
Não queria que eu o visse morto.
Um desespero tomou conta do corpo de Jimin, a agonia era crescente. Era como se seu corpo estivesse enrolado em arame farpado, tudo doía.
Sua alma gritava.
Jimin nunca havia tido uma conexão como aquela com alguém antes. Quando finalmente sentiu seu coração vibrar de alegria, seu peito se encher de vida e esperança, descobre que nada era real.
Chegou a pensar que talvez só tenha se sentido tão especial por ele ser o único que o entendia, que o ouvia. Que se interessava pelas coisas que ele gostava e que se preocupava em saber como estava sendo sua semana.
Nada era de verdade.
Não significou nada para Jungkook. Ele não podia sentir, não podia apreciar, não podia...amar.
Estava...MORTO!
- Como ele pôde fazer isso comigo? - murmurou no travesseiro.
- Jimin? Você está aí, filho? - sua mãe bateu na porta.
- Sim. - respondeu baixo.
- Você quer jantar?
- Não, mãe, eu já...comi na rua. - mentiu, não queria sair daquele quarto ainda. E nem tinha certeza de quando gostaria de fazer isso.
- Tudo bem, qualquer coisa estarei no meu quarto.
- Tá.
Depois de falar com sua mãe, Jimin lembrou da carta que Jungkook pediu para ele escrever para a mãe dele. Entendeu porque ele não podia entregar, entendeu ele porque não morava mais com os pais. Entendeu porque ele nunca disse adeus. Ele não pôde, não teve tempo.
Foi assim que ele compreendeu que, sim, Jungkook podia sentir tudo.
Ele sentia falta dos pais, sentia o quanto a sua situação devia ser dolorosa para eles. Compreendeu porque ele estava tão triste no dia em que lhe pediu que entregasse a carta. Porque tinha que ser naquele dia.
Jimin estava no computador, procurava por matérias sobre o desaparecimento de Jungkook e sobre como foi encontrado. No dia da entrega da carta, fazia um mês que ele tinha saído de casa após uma briga com os pais e nunca mais voltou. Era uma quinta-feira.
Jimin apertou os olhos, não conseguia chorar mais, mas seu coração ainda doía a cada matéria que lia.
Jungkook havia acabado de receber uma carta da faculdade, segundo seu pai, eles não haviam ficado muito contentes por ele optar por ir para tão longe, quando as faculdades mais próximas tinham bons cursos e não era uma hora de distância de casa. Os pais dele o queriam por perto. Assim como queriam que ele fizesse outro curso que não fosse música.
Tudo fazia sentido agora. Estava claro como a água para Jimin, cada parágrafo daquela carta.
Um feixe de luz atingiu o olho de Jimin. Ele olhou pela janela e viu o sol nascendo.
- Droga! - murmurou cansado.
Ele estava exausto, passou a noite toda na internet procurando por informações de Jungkook e não percebeu a hora passando.
Só de pensar em ter que ir para a aula, sua cabeça latejava. Mas não podia faltar, hoje seria o último dia de provas.
Jimin foi ao colégio e fez um esforço enorme para se concentrar nas provas. Foi difícil, mas ele conseguiu concluir as provas finais.
Ao voltar para casa, queria muito tomar um banho e descansar. Mas ao chegar na porta, parou com a mão na maçaneta e suspirou. Deu meia volta e seguiu para o floresta, no fim da rua.
Ele não sabia o que o esperava encontrar quando chegasse lá, mas seguiu seu instinto e foi assim mesmo.
Jimin chegou em frente ao ônibus e não quis subir. Ele não estaria lá hoje.
Ele não estaria lá nunca mais.
Se afastou do ônibus e seguiu pelo caminho que fez quando queria saber mais sobre o carro e Jungkook o impediu. Ao chegar lá, o carro não estava mais. Fitas da polícia estavam em volta das árvores próximas a onde o carro estava. Jimin concluiu que era ali que Jungkook estava caído, morto. De onde estava, quando o carro ainda permanecia lá, não dava para ver.
Jimin desceu a ribanceira e atravessou o riacho com dificuldade. Ao chegar do outro lado, seus sapatos estavam encharcados como os de Jungkook toda vez que ele aparecia.
Não sabia porque estava ali, o que procurava ou esperava ver ao olhar para o centro da área isolada.
Ele agachou e ficou olhando para o local por um longo tempo. Depois levantou e seguiu pelo caminho que o carro desceu.
Chegou a uma pista de mão dupla, logo depois de uma curva.
- Ah, Jungkook...- Jimin gemeu.
Jeon Jungkook saiu de casa no início da noite da última quinta-feira, dia 14. Segundo seus pais, depois de uma discussão familiar, o jovem saiu de casa em seu carro, uma modelo Opala 1967, preto, que havia ganhado dias antes, em seu aniversário.
Segundo relatório da polícia, o carro teria se desviado de um caminhão parado na pista com problemas mecânicos logo depois da curva. Para evitar uma batida com o carro que vinha no sentido contrário, ele desviou para o acostamento, mas estava em alta velocidade e não conseguiu parar a tempo de se chocar com o gard rail e cair na ribanceira do riacho Dae-Joon.
A polícia, depois de periciar o local e o corpo do jovem, constatou que ele não morreu na hora e que a causa da morte foi um dos pulmões perfurado por uma costela quebrada. Ele ainda conseguiu sair do carro, mas não conseguiu subir e pedir ajuda.
A polícia relata também que, se o celular dele não tivesse caído no rio, ele conseguiria ligar para alguém e teria sido resgatado a tempo.
Jimin voltou pelo mesmo caminho, cabisbaixo e choroso. Não era fácil lidar com tudo o que estava sentindo. Ele sequer conseguia definir seus sentimentos.
- Oi, Jiminie. - Jimin parou onde estava, seu corpo gelou ao ouvir aquela voz.
Ele virou bem devagar, não achava possível que ele ainda estivesse ali.
E ele estava.
- Jungkook! - ele estava encostado na porta dianteira do ônibus, com as mãos nos bolsos de uma calça branca.
Agora a roupa dele estava diferente. Usando uma camisa com um blazer por cima, sapatos sociais e uma calça de linho. Estava todo de branco.
Ele se aproximou devagar de Jimin e ele notou que o Jeon não usava mais os piercings.
- Obrigado por sua ajuda, Jiminie! - parou em frente a Jimin. Estava muito próximo. - Ela foi essencial para me libertar. - Jimin fungou em um choro silencioso. - Eu fui sincero quando disse que queria ter te conhecido antes. Com certeza minha vida valeria muito a pena. - sorriu.
Jimin levantou a mão para tocar seu rosto. Bem calmo, ele aproximou os dedos de sua bochecha e eles passaram direto, Jimin não o sentia mais.
- Espero que você nunca se esqueça de mim, Jimin. - o corpo do Park tremia com o choro reprimido. - Converse com sua mãe, ouça-a e seja sincero sobre suas convicções. Compreenda-a que ela o compreenderá também. Não deixe as pessoas que você ama se afastarem de você, Jiminie. Seja feliz em toda a sua essência.
JK se aproximou do rosto de Jimin e deu um beijo em sua testa. Ele não podia sentir, mas sabia o que aquele gesto significava, e isso era o suficiente.
- Jungkook...
- Adeus, Jiminie.
Jungkook sorriu uma última vez antes de se desfazer em uma névoa branca.
Jimin caiu no chão. Chorou alto. Sentia-se vazio, oco.
Jimin acordou com uma mão quente envolta da sua. Se forçou a abrir os olhos e sentiu dificuldade com tantas luzes acesas.
Olhou em volta e soube que estava em um hospital. Sua mãe dormia em uma cadeira ao lado de sua cama, segurando sua mão.
- Mãe? - ela despertou com apenas um chamado.
- Jimin! - ela levantou rápido e colocou as mãos no rosto dele. - Graças a Deus você está bem. - o abraçou com força. - Como está se sentindo? - afastou para observá-lo.
- Eu estou bem, mãe.
- Filho, o que estava fazendo naquela floresta à noite? Tem ideia do quanto eu fiquei preocupada?
- O que houve? Por que estou aqui?
- Você não apareceu em casa na noite de sexta-feira, então chamei a polícia antes mesmo do sol nascer. Eles começaram a te procurar nas imediações de onde moramos, já que você ainda não tem amigos na cidade. Foi então que te encontraram caído naquela floresta. Seu corpo estava gelado e molhado do sereno da noite. Te trouxeram para cá o mais rápido possível, para evitar que você sofresse algum dano por hipotermia. - ela desabafou. - Jimin, o que estava fazendo lá?
Jimin só se lembra de ter deitado por algum minutos e chorado pela partida de Jungkook. Mas seu corpo estava exausto por ter passado a última noite acordado e chorando. Não havia comido direito e o desgaste emocional não ajudou muito. Então desfaleceu ali mesmo.
- Eu...estava...fazendo uma pesquisa sobre plantas para uma matéria do colégio. - Jimin mentiu. Sabia que a verdade não seria propícia. - Sinto muito, não quis deixá-la preocupada.
- Ah, Jimin...meu filho. - ela o abraçou novamente.
- Desculpe, mãe.
- Está tudo bem agora.
- Eu amo você, mãe.
- Eu também te amo filho! - apertou mais os braços em volta dele, recebendo um abraço igualmente apertado.
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