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Capítulo 2 - "Freddy Krueger, É Você?"


Entramos na viatura e seguimos por uma avenida de prédios amarelos. Confesso que estava muito nervosa com tudo o que havia acontecido, e temia que a morte da Bruxa do Leste e a perseguição da Bruxa do Oeste estragassem meu show. Tinha sonhado tanto com a apresentação em Oz, e agora meu sonho estava se tornando um pesadelo.

De repente David pisou no freio e a viatura se deteve com um tranco violento. Como conjurado pelos meus pensamentos, um rosto deformado se chocou contra o para-brisa. Dois olhos dourados e brilhantes me encararam. O nariz e o queixo eram compridos e pontiagudos, e a pele tinha tantas rugas e cicatrizes que não me contive e soltei um grito de horror, pensando que o Freddy Krueger em pessoa tivesse vindo me buscar.

Admito que este filme me impressionou quando o assisti aos oito anos de idade na sessão "Filmes da Madrugada" de um canal de TV. Mas não é exagero nenhum que aquela figura que se chocara com a viatura bem podia ser o monstro de lâminas nas garras que assombrava os pesadelos de Nancy.

Ao perceber o meu susto, os olhos do monstro se suavizaram e se encheram de lágrimas, e a pele – ou o que quer que envolvesse seu rosto – ruborizou.

David saiu da viatura com a arma em punho, pronto para prender a aberração.

– Seu idiota, o que pensa que está fazendo? – perguntou, ameaçando-o com a arma.

– Eu queria que você tivesse me atropelado! – gritou o deformado, com uma voz humana e comum.

– Ficou maluco? – gritou David de volta.

– Olha para mim, cara! Eu sou um monstro. As pessoas me olham e fogem assustadas, e os que não fogem, me olham com pena. Eu estou cansado disso! Faz um favor, mira na minha cabeça e acaba logo com o meu sofrimento...

David baixou a arma, compadecido do rapaz.

– Calma, vamos conversar – propôs.

– Não. Você vai fazer aquele discurso decorado sobre dar valor à vida, mas a vida para mim é um castigo. Eu quero morrer! Será que você pode me dar um tiro de misericórdia?

Totó e eu saímos da viatura para acompanhar a discussão mais de perto, e o rapaz escondeu o rosto com o capuz da jaqueta.

– Por favor, não se esconda – pedi com a voz mansa. – Eu não tenho medo de você.

Ao menos, não mais, acrescentei com o pensamento.

Mas ele continuou escondido atrás do capuz.

– Qual é o seu nome? – perguntei.

– Ernest... Ernie – respondeu cabisbaixo. – Mas todo mundo me chama de Espantalho, ou Assombração. Acho que não preciso explicar por quê.

– Ouça, Ernie, você não tem que se matar... – comecei.

– Ninguém quer ficar perto de mim – queixou-se o rapaz com tristeza. – As pessoas veem a minha feiura e acreditam que vou lhes fazer mal. É terrível continuar vivendo assim.

– Mas não precisa ser assim, Ernie. Seus amigos não...

– Eu não tenho amigos – interrompeu-me. – Eu não tenho família, não tenho ninguém! Meus pais me jogaram numa lixeira quando eu nasci, provavelmente porque não suportaram olhar para o meu rosto. Eu cresci na rua, jogado na sarjeta. Ninguém me estendia a mão nem para dar uma esmola. Eu só consigo falar com alguém quando estou usando uma máscara numa festa à fantasia. E quando as pessoas veem o meu rosto fogem gritando "MONSTRO! MONSTRO!"...

Senti um aperto no coração, profundamente compadecida do rapaz.

– Como se não bastasse, esses caras do estúdio querem que eu faça filmes de monstro – desabafou Ernie. – Foi legal por um tempo, poder comer uma comida decente, mas o resto do elenco fica perguntando como é o meu rosto e porque eu já chego maquiado... É frustrante!

– Eu sei que deve ser horrível – ponderei. – Mas suicídio é demais. Eu conheço pessoas que podem cuidar de você, e refazer o seu rosto.

– Você faria isso por mim? – Os olhos de Ernest brilharam esperançosos.

– Só se você prometer que não vai pular do carro em movimento – propus com um sorriso divertido.

Ernie deu um leve sorriso de dentes curtos e amarelos.

– Venha comigo – eu disse. – Você vai assistir ao meu show, e amanhã cedo eu vou te levar até um cirurgião plástico... Por minha conta!

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