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8 - Thais


- O que você tá fazendo?

Desencostei o ouvido da parede e virei para Yoongi que olhava pra mim com um ponto de interrogação no rosto. Fui pra perto dele.

- Quem está dormindo no quarto desse lado? - Falei baixinho.

- É o RM. - Ele respondeu.

- Ele é barulhento né? - Tinha ido ouvir o que estava acontecendo no quarto ao lado enquanto tentava me trocar o mais rápida e silenciosamente possível. Mas de repente alguma coisa caiu com força no chão e alguém pareceu soltar um palavrão em coreano (ainda não tinha aprendido a xingar em coreano, então estava só especulando).

Então quis saber o que estava acontecendo, mas só tinha colocado a calcinha e o top, então coloquei a camiseta do Yoongi, que era a roupa mais fácil de colocar naquele momento, e depois grudei o ouvido na parede que dava para o outro quarto, que agora eu sabia ser do Namjoon!

- Provavelmente ele deve estar quebrando alguma coisa nesse momento...

Nossa! Imagina quando eu contar pra Lu e Fe que NJ é desastrado ao ponto de fazer tanto barulho sozinho no quarto...

Aaaaaahhhh, acabo de lembrar que não vou poder contar nada disso para elas... Tinha combinado isso com Yoongi...

- Você sabe que seu rosto praticamente mostra o que você está pensando? - Yoongi me perguntou, enquanto me puxava pelo braço para perto da mesa que ficava em um dos cantos do quarto.

- Vamos comer. - Ele me sentou em uma das cadeiras e tomou o outro lugar de frente pra mim.

- Acho melhor eu colocar o resto da minha roupa... - Meu estômago roncou bem nessa hora em uma reação ao cheiro maravilhoso que saía dos potes que Yoongi ia abrindo. Comida!

- Come primeiro, depois você termina de se vestir. E aí, passou o ataque de fangirl? - disse ele, mudando totalmente de assunto.

- Ataque de fangirl? Como assim? Huuummm, bibimbap!

- É. Dava praticamente pra ver seu cérebro pulando e dizendo: "Meu Deus, o BTS está na porta e no quarto do lado do meu. Não vejo a hora de contar para as minhas amigas!" - Yoongi disse isso tudo fazendo uma vozinha fina, como de criança. Revirei os olhos, mas de verdade estava me divertindo com tudo.

- Primeiro: eu não falo desse jeito. Segundo: você tem razão! Os meninos estão do outro lado das paredes e eu estou bem empolgada aqui! - Fiz uma trouxinha de alface com bulgogi, enfiei na boca e olhei para Yoongi, que estava me olhando de volta com os lábios apertados formando aquele semisorriso dos gifs que fazia as bochechas dele ficarem fofinhas. Ele estava me julgando.

- Você sabe que eu também sou do BTS? Prazer, Min Yoongi, também conhecido como Suga. - Ele estendeu a mão pra mim como em um cumprimento. Peguei a mão estendida e joguei para o lado.

- Eu sei.

- Sabe mesmo? Porque sua reação a minha pessoa foi bem diferente da de agora.

Refleti um pouco sobre aquilo, mas já sabia a resposta.

- Seu bilhete, de certa forma, tornou a sua pessoa mais real pra mim do que o resto dos meninos são. - Achei que era uma explicação confusa, mas era assim que me sentia.

- Entendo... - Eu não sabia se ele entendia mesmo, mas aproveitei o silêncio para comer, pois estava morrendo de fome.

- Será que é por causa da idade? Quantos anos você tem? - Eu tinha acabado de colocar uma colher cheia de bibimbap na boca quando ele fez essa pergunta. Mastiguei o mais rápido que pude enquanto pedia pra ele um tempo pra responder. Ele levantou e pegou no frigobar uma garrafa de água pra mim. Eu bebi um gole, que ajudou a comida a descer.

- Qual sua idade? - Ele repetiu a pergunta e resolvi devolver a pergunta pra ele, uma mania que eu tinha sempre que me perguntavam minha idade.

- Quantos anos você acha que eu tenho?  

Ele ficou avaliando meu rosto por um tempo.

- A minha idade? - Foi a resposta dele a pergunta devolvida. Ele estava com 26 anos, então ele achava que eu era seis anos mais nova do que eu realmente era.

Eu sorri.

- Não, mas agradeço pela boa impressão que tem da minha pessoa. Eu tenho 32 anos. - Respondi e continuei comendo.

- 32? Você parece ser mais nova.

- Por causa da minha carinha de nenê ou por ser uma fã doida?

- Por causa da sua aparência. Mas você é 5 anos mais velha que eu.

- 6 anos. Pela idade coreana eu tenho 33 anos já.

- Ah, é mesmo. Então posso te chamar de noona.

- Pode, inclusive espero meus honoríficos.

- Mais fácil eu começar a te chamar de ahjumma logo.

- Ahjumma não! - A conversa tomou um rumo agradável enquanto íamos eliminando a quantidade impressionante de comida que Hobi havia levado.

- Como você começou a ouvir nossa música?

- Por causa do Taehyung.

- Já sei: foi porque ele ganhou de rosto mais bonito do mundo? Acertei? - O tom de Yoongi tinha mudado de amigável para condescendente. Ele estava me julgando de novo.

- Comecei a ouvir vocês porque achei a voz dele única, além de linda. Difícil ouvir um timbre como o dele na música comercial. Além do que, quando ele ganhou esse prêmio ainda nem era fã de vocês e lembro de ter pensado que haviam homens mais bonitos que ele.

- Você ainda acha isso?

- Agora acho que ele merece ganhar qualquer prêmio. Aliás, vocês todos merecem. Eu sou uma army normal.

- Army normal. Como seria uma army normal?

- Apoia vocês, ouve todas as músicas e assiste todos os MVs. E principalmente participa de toda votação que aparece. Armys querem que vocês ganhem tudo, o mundo todo.

- Ao mesmo tempo que você diz ser army normal, parece que você também está fazendo uma crítica.

- Não é crítica, é mais um pensamento que tenho as vezes. Queremos que vocês ganhem tudo e ao mesmo tempo queremos ser o melhor fandom. Mas querer nem sempre é precisar.

- Espera um pouco! - Ele levantou e foi até o outro lado do quarto, no lugar onde eu tinha visto a aparelhagem de som e o computador. Ele voltou trazendo um caderninho e uma caneta.

- Como é? Querer...

- Nem sempre é precisar. Você tá anotando o que eu acabei de falar?

- Tenho costume de anotar qualquer palavra ou idéia que parece interessante. Então você acha que nem todas as votações são necessárias?

- Eu acho que algumas votações são só pra criar fanwar. Mas algumas, tipo da Billboard, são extremamente necessárias para vocês e pra todas nós como fãs.

- Você trabalha com o quê?

- Sou funcionária pública. - E escritora, mas essa parte completei mentalmente, pois isso ainda era incerto.

- E você gosta de ser funcionária pública?

- Dá dinheiro e não sinto falta de nada. Mas gostar, gostar, acho que é uma palavra pesada pra se usar.

- Então você tem vontade de fazer outra coisa da sua vida? Um sonho talvez?

- Isso está começando a parecer um interrogatório. Acho que eu deveria ter a chance de perguntar alguma coisa também.

- A vontade. - Ele cruzou os braços e se recostou na cadeira, me encarando. Com a anuência dele eu parei um pouco de comer.

- Como um cara introvertido como você acabou se tornando um idol?

- Eu passo essa pergunta. Até porquê eu não me considero um cara tímido.

Eu acho que usei a palavra errada. Tentei em inglês.

- Não tímido, introvertido. Quando a mente trabalha muito, mas o exterior não, sabe? Pelo menos você tem que concordar que não é o cara mais expansivo do mundo.

Enquanto eu tentava fazê-lo responder a minha única pergunta, ambos tentamos pegar o último pedaço de carne na vasilha.

- Você comeu mais que eu.

- Eu sou visita. Além do que, bem deselegante da sua parte reparar o quanto eu comi.

Ainda segurando com o talher a carne, Yoongi levantou a outra mão.

- Pedra, papel e tesoura? - Topei, mas perdi ao colocar papel e ele tesoura.

- Melhor de três! - Eu estava gostando de participar daquela brincadeira.

Acabei ganhando as outras duas partidas. Enquanto fazia a trouxinha de carne com alface comecei a cantar a música ícone do filme Rocky, o lutador. E mesmo após colocar a comida na boca continuei balbuciando a música, indo ao ápice de me levantar e reproduzir a cena do filme, em que Stallone comemora e faz passos de luta após subir a escadaria.

Estava comemorando minha vitória no meio do quarto, quando Yoongi veio até mim e abaixou meus dois braços, que ainda estavam desempenhando sua parte na minha dança da vitória, segurando levemente meus pulsos, me puxando para mais perto dele e enlaçando meus braços em volta da sua cintura. Eu ainda estava rindo por causa da minha pequena vitória, quando ele me perguntou:

- Quer tentar de novo?

Não entendi a pergunta. Tentar outro pedra, papel e tesoura? Mas não tínhamos nada para apostar... Inclinei a cabeça mais para trás pra olhar no rosto dele e ao encarar seus olhos finalmente entendi sobre o que ele estava falando...

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