4 - Thais
Não consegui pegar no sono aquela noite. Ouvia o ressonar das meninas pela casa e ficava pensando nas últimas palavras da Keka e da KT antes de pegar o Uber para o aeroporto naquela madrugada:
- Super respeito sua decisão Tha. Mas acho que você só precisa ver se ela não foi baseada em algum medo seu.
- Concordo com a Keka. Se tu pesou pós e contras e viu que realmente era algo que tu queria, tudo bem. Mas se foi por receio de algo, era legal rever isso. Porque tem certas oportunidades na vida que são só uma vez mesmo. - Reforçou KT.
- Vou pensar melhor nisso meninas. Valeu pela força. - Nesse momento o carro delas chegou, nos abraçamos e fiquei olhando o carro até ele se perder da minha vista.
Voltei a deitar, mas estava desde então com os olhos mirando o teto, me perguntando se havia feito uma boa escolha. As horas passaram, o resto das meninas começou a acordar e eu não tinha conseguido pregar o olho, nem saber se tinha tomado a decisão mais acertada.
Levantei junto com elas, apesar do cansaço. Mai iria pra casa dela depois do café, assim como Lu, B e Fê iriam para o aeroporto depois de comer. Bruninha, Verô e Ra só pegariam os ônibus depois do meio dia. Comprei os pães e tomamos o café da manhã. As conversas ainda giravam em torno do show do dia anterior, mas nenhuma delas tocou no assunto do bilhete. Acho que minha cara não devia ser das melhores, tanto pela confusão mental, quanto pela noite sem dormir, mas as meninas também não falaram nada sobre ela. No meio de uma discussão sobre o fanchant da música Spring Day, só conseguia pensar sobre o que Keka e KT tinham me falado naquela madrugada, então interrompi as meninas:
- Não consigo parar de pensar na minha decisão sobre o convite do Yoongi. - O café da manhã, que até aquele momento estava muito barulhento, se tornou silencioso. Continuei.
- Se vocês estivessem no meu lugar o que teriam feito? - Eu queria genuinamente saber.
- Olha Tha, eu acho que eu teria aceitado. Claro que isso sou eu falando pra você que foi quem recebeu o convite. De verdade, eu não sei como reagiria, só estando no seu lugar mesmo pra saber. - Mai foi bem sincera.
- Vocês também teriam aceitado? - Olhei para o resto das meninas. A cara delas era de sim.
- Eu não teria aceitado. - Disse Ra. - Mas só porque sou casada.
- Eu tô no mesmo barco da Ra. - Fê concordou.
- Claro que esse convite não deve ser totalmente inocente, sem segundas intenções, Tha. Mas você sempre tem a opção do não, se você não quiser nada com o Suga. - B argumentou.
- Tem a opção do não e também levar um spray de pimenta na bolsa, caso dê alguma coisa errada... - Disse Verô.
- Então todas vocês devem estar pensando que eu sou uma boba medrosa. - Estava me sentindo pateticamente péssima naquele momento.
- Ai Tha, claro que não! Cada uma é cada uma. Você tem que fazer o que acha certo pra você. - Foi o argumento da Lu.
- O problema é que não sei se fiz o certo pra mim, ou se minha decisão foi baseada no medo... A verdade é que estou bem curiosa sobre o que rolaria se tivesse aceitado...
Eu vi a expressão de cada uma delas mudando.
- Então liga pro hotel e aceita! - B me incentivou.
- Mas ontem já disse que não iria.
- Simples. Só falar que agora tem tempo disponível e pedir pra avisar pra ele que estará lá na hora combinada. - Era o sem desculpa da Verô.
Lu segurou meu braço:
- É isso mesmo que você quer?
De verdade, eu ainda não sabia.
- Acho que vou pensar mais no assunto. Mas vocês vão saber sobre o que eu decidi, prometo!
Voltamos a comer. Tinha sido bom conversar com as meninas a respeito do que estava sentindo. Percebi que minha decisão estava sendo mais baseada no medo mesmo. Aquele medo irracional do desconhecido. Senti meu coração começar a se inclinar para dizer sim aquela proposta.
Depois do café ajudamos B, Fê e Lu a arrumar as coisas delas. Chamamos um Uber e começamos a nos despedir. Mai também iria embora junto com elas. Rolou um abraço coletivo e promessas de continuar a nos falar e visitarmos umas as outras. Também não queria que aquela amizade morresse.
Sobramos Ra, Verô, Bru e eu, mas logo mais elas também iriam embora. Comecei a sentir certa tristeza.
- Sinto que passou tão depressa. Queria que tivesse durado mais. - Disse pras meninas.
- Eu tô com a mesma sensação Tha. Parece que eu conheço vocês a muito tempo, tipo amigas de infância. - Bru, tão lindinha, complementou o que eu estava sentindo.
- Verdade Bru! Somos como amigas de infância com idades diferentes! - Foi a vez da Ra dizer.
- Amigas de infância, com idades diferentes e nascidas em lugares diferentes também. - Verô entrou na conversa.
- Foram muitas emoções em um curto espaço de tempo. - Relembrei por um instante nossas experiências com os meninos.
- Muitas emoções mesmo, você que o diga né Tha? - Verô estava dando um sorrisinho pra mim e lembrei de novo do bilhete que havia fugido um pouco da minha memória.
- Nem me fale, menina. Uma pena a Brubs e a Milazinha não terem conseguido ir com a gente no show né? - Mudei de assunto, ainda precisava decidir o que fazer.
-- Ai verdade, Tha! Queria que todas nós tivéssemos ido juntas! -- Ra lamentou.
-- Pois é, tem isso. E agora vocês também estão quase indo embora. To triste. Que hora sai o ônibus de vocês? -- Perguntei.
- O meu sai às 13h. - Respondeu Bru.
- O meu às 13h30. - Ra disse, consultando o celular.
- O meu às 14h15. - Foi a vez de Verô responder.
Consultei o relógio da sala, faltavam 15 minutos para as 11h.
- Acho melhor já irmos arrumando as coisas então, daqui a pouco vocês tem que ir também. - Então começamos a arrumar as coisas delas. Ra que tinha o percurso mais longo resolveu tomar mais um banho, e de repente já era hora delas também irem. Elas também pegaram um Uber até a rodoviária e após os abraços e beijos de despedida eu me vi sozinha em casa. Estava com tanto sono que apaguei no sofá mesmo e acabei sonhando com um corredor comprido com muitas portas, eu parava em frente a uma delas e batia, a porta se abria e um Yoongi sorridente aparecia, e nesse momento eu comecei a ouvir uma campainha. Era o telefone me acordando. Levantei do sofá e atendi.
- Alô?
- Oi filha, por que você não atende o celular. Já liguei várias vezes pra você! - Era minha mãe.
- Oi mãe. Estava dando um cochilo.
- Suas amigas ainda estão aí?
- Não, elas acabaram de ir embora. - Mas olhando para o relógio percebi que já fazia bastante tempo que elas haviam ido, já fazia mais três horas que estava dormindo no sofá, eram 15h30.
- Tô ligando pra avisar que seu pai e eu voltaremos pra casa só amanhã a tarde. Você vai na igreja amanhã de manhã? - Perguntou ela.
- Acho que não mãe. Tô bem cansada.
- Tudo bem então, volta a dormir e até amanhã. Beijo! - Ela se despediu e desligou. Voltei a deitar no sofá, mas agora sem dormir, somente olhando o teto, recordava o sonho que acabava de ter e o fato de ainda não ter decidido o que fazer.
A realidade é que tinha medo do que poderia acontecer não pela minha pouca experiência com o sexo oposto, mas sim pela minha TOTAL falta de experiência. Não tinha comentado com as meninas porque me sentia um pouco envergonhada de nunca ter namorado ou ter tido qualquer experiência com qualquer pessoa até os meus 32 anos. Mais uma vez me sentindo patética.
"Porque tem certas oportunidades na vida que são só uma vez mesmo", lembrando das palavras de KT, começava a pensar seriamente em aceitar o convite de Yoongi. Afinal, as perspectivas de começar um relacionamento amoroso que desse em casamento para que enfim eu pudesse dormir com alguém, segundo as expectativas da minha família, eram praticamente nulas naquele momento. E eu começava a duvidar também que eu tinha nascido pra viver essa experiência matrimonial. Olhava os casamentos próximos a mim e só conseguia pensar: Cruz credo!
Um último pensamento me fez tomar a decisão de aceitar: Yoongi, além de meu utt, é um cara que eu nunca mais vou ver na minha vida!
Isso! De repente me vi em pé no meio da sala dizendo em voz alta exatamente essas palavras: Eu nunca mais vou ver ele na minha vida! Decisão tomada! Eu vou aceitar! Peguei o telefone e o número do hotel e confirmei minha presença no evento daquela noite.
Precisava me preparar então. Lembrei da minha depilação vencida e pensei em seriamente ir do jeito que estava, afinal se ele tinha me convidado melhor me conhecer do jeito que era normalmente certo?
A quem eu queria enganar? Corri pra farmácia pra comprar um creme depilatório e preservativos, não podia bobear nessa. Aproveitei que estava na rua e pesquisei onde poderia comprar spray de pimenta também, seguindo o conselho das meninas, 25 de março me ajudou nessa.
Voltei pra casa equipada, me depilei e tomei banho aproveitando até pra lavar e hidratar o cabelo. Maquiagem ou não? Melhor não. Se as coisas se desenrolassem como a minha imaginação já começava a desenhar, a maquiagem seria um transtorno. E se ele me achasse feia sem a maquiagem, afinal ontem estava usando, paciência. Seria só mais um fora pra lista.
Olhei o relógio, eram 22h30. Tinha demorado tudo aquilo de tempo pra me arrumar? Recordei então a situação anterior das minhas pernas, virilha e axilas, além da hidratação do cabelo crespo, comecei a ver que até que tinha sido bem rápida.
Chamei o Uber, o hotel era do outro lado da cidade, melhor me adiantar do que atrasar. O carro chegou, agradeci mentalmente o fato do motorista não puxar assunto, 5 estrelas pra ele. Me encostei na janela e fechei os olhos. O nervosismo já começava a me dar dor de barriga. Olhei pra mim mesma e de repente percebi que estava indo para um hotel de luxo, mas minhas roupas eram nada luxuosas.
Tinha seguido a mesma lógica da maquiagem e tinha vestido uma calça bailarina, camisa jeans, tênis e a jaqueta de couro preta. Agora só conseguia me imaginar sendo barrada e escorraçada do hotel por dois seguranças gigantes...
Estava pensando essas coisas bizarras e nem percebi quando o carro parou em frente ao hotel.
- Chegamos moça. - O motorista me trouxe de volta a realidade. Agradeci a corrida e saí do carro. Olhei o celular, faltavam 20 minutos para as 23h30, tinha chegado adiantada. Ainda fiquei um tempo olhando para a entrada do hotel, sem muita coragem para entrar. Me conhecia: eu estava amarelando. Segui o conselho do meu pai, respirei devagar dez vezes enchendo a barriga. Já estava ali, não iria desistir agora. Entrei no hall do hotel, e ninguém deu importância a mim, pois havia uma mulher na recepção gritando a plenos pulmões algo sobre um problema no banheiro do quarto. Me aproximei do barraco e chamei atenção de um dos recepcionistas que parecia não saber o que fazer com a mulher e agora comigo.
- Com licença, vim encontrar com o senhor Yoongi Min, no quarto 702.
Ele olhou pra mim por um momento, mas depois voltou os olhos a mulher que ainda gritava com um dos seus colegas.
- Ele está esperando a senhora? - Perguntou, ainda sem olhar pra mim.
- Sim, creio que sim. - Também estava começando a ficar desarvorada com a gritaria.
- Então a senhora pode subir. - O recepcionista falou isso, deu as costas pra mim e entrou por uma porta atrás dele, não sei se fugindo do barraco ou indo procurar resolver o problema da mulher.
Quanto a mim, resolvi também sair de perto do barraco e fui até o elevador. Entrei no elevador e solicitei o sétimo andar ao ascensorista. A confusão da recepção havia me distraído da minha situação nervosa. Quando percebi, já estava em frente a porta 702. Olhei para os lados e estava em um corredor exatamente igual ao sonho que havia tido naquela tarde. Bati na porta. Depois de um tempo uma fresta da porta se abriu e alguém em coreano perguntou:
- Quem é?
Inclinei a cabeça para a fresta da porta:
- Annyeonhaseyo!
- Posso entrar? - Perguntei em inglês para um Yoongi que parecia muito surpreso em me ver. A porta então abriu por completo.
- Annyeon Thaisi. - Ele se afastou da porta e me deixou entrar no quarto.
Nunca havia entrada em um quarto de hotel 5 estrelas. Era realmente grande. Olhei em volta até meu olhar focar de novo Yoongi, que sorria pra mim, apesar de ainda parecer surpreso.
- Que agradável surpresa. - Me parabenizei mentalmente por ter me empenhado nas aulas de hangul e estar conseguindo entender o que ele falava. Agora era saber como estava minha conversação.
- Você não estava me esperando? - Acho que também parecia surpresa com a surpresa dele.
- Só recebi a mensagem de que você não viria.
- Mandei outra mensagem hoje a tarde informando que poderia vir.
- Não recebi nada. Espera! - Ele virou e entrou totalmente no quarto, me deixando parada ainda perto da porta. Voltou com o celular na mão procurando algo nele.
- Ah! Sua mensagem caiu no spam do e-mail... - Ele voltou a olhar pra mim, agora sem falar nada. Um silêncio constrangedor (pelo menos da minha parte) se instalou entre nós. Acho que ele esperava que eu dissesse algo. Falei em inglês o que estava na minha cabeça a mais de 24 horas já:
- Este convite, é sobre sexo, certo?
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