─ 01 - ❝ Não tem, mas foge dela igual o diabo foge da cruz. ❞ ♱
╭──────╯♱╰──────╮
( CAPÍTULO 01 )
❝ Não tem, mas foge dela
igual o diabo foge da cruz. ❞
━━━━━━━━━━━━━
Posters em sua parede
Livros de algo bem descolado
em seu armário
Shanyqua odeia seu nome
Prefere ser chamado pelo
apelido Shany
Nath
Apaixonada em laços
E assassinos em sequências
Que ela vê nos livros
Esquisita
Mas bem bonita
É a pérola que tem que
mergulhar pra ter
Lila, a mina dos cristais mágicos
Jovem mística, clichê de filme
Tem fetiches bizarros
Cruzes ao contrário
Jorel, nosso amigo e ele é
um sociopata, retardado
Ricardo faz os trabalhos
do seu "amigo"
Leandro faz bullying para
descontar sua raiva
O narcisismo dele bate em seu nariz
Gosta de uma garota gótica chamada
Pietra Jonhfrey
Lagarta mau, hackeia as
notas da escola
É amigo de geral
A direção o odeia, mas adora
(Letra parcialmente alterada)
A Sociedade de Nerds Psicóticos
-- Kamaitachi
O ambiente relativamente pequeno, somado com a constante gritaria, poderia assustar grande parte das pessoas.
A estrada de terra parecia interminável. E a escuridão começando a se espalhar pelo céu, num início de um entardecer.
Definitivamente, esse poderia ser um cenário assustador.
Isso é claro, se não fosse pela situação que nos encontrávamos agora.
O tal "ambiente" em questão, era o meu Volkswagen Passat vermelho de 1988, presente que meu pai me deu, quando completei 18 anos - provavelmente em uma tentativa falha de compensar sua falta.
E a constante gritaria, não era nada mais, nada menos, do que dois jovens adultos berrando ao som da música que tocava no rádio.
A Thousand Miles
───── 'CAUSE I'LL NEED YOU, AND I'LL MISS YOU AND NOW I WONDER. IF I COULD FALL INTO THE SKY, DO YOU THINK TIME WOULD PASS ME BY, 'CAUSE YOU KNOW I'D WALK A THOUSAND MILES IF I COULD JUST SEE YOU... TONIGHT!
Eu tentava me concentrar na estrada e seguir o carro azul à frente.
A poeira e a lama da via, tornavam todo o percurso traiçoeiro, e, mesmo assim, era impossível não me distrair com Lila e Ricardo encenando como se fossem as próprias "Branquelas".
Ambos sentiam-se totalmente livres para gritar o som em plenos pulmões, como se a vida deles dependesse disso.
Microfones imaginários, jogadas de cabelo falso e toda uma dramatização exagerada.
Eles estavam sendo ridículos. E, por isso, eu ri.
Para as minhas graças, depois de poucos minutos, finalmente, a música deu lugar a algo mais tranquilo, o que me permitiu respirar um pouco.
Como se lesse minha mente, a voz de Lila cortou o ar.
───── Mal chegamos no acampamento e eu já tô exausta..
Lila Bonelli, realmente aparentava estar cansada. Parte de seus fios arroxeados, mesmo em um penteado, estavam grudados em sua testa, pelo suor que toda a interpretação gerou. Os olhos verdes estavam fechados, enquanto ela soltava bufadas profundas em busca de ar.
───── Você jura? Por que será né, minha lua? ───── Respondi, zombando dela.
Ricardo se juntou a mim, na risada, tomando parte da minha atenção.
Ele parecia diferente fisicamente, quase irreconhecível.
Ver aquele menininho desse jeito, me causava uma sensação de estranheza.
Antes, Rocha era só um garoto magrelo e baixinho, que eu tinha que proteger durante nossa adolescência.
As pessoas gostavam de "brincar" com ele. Muitas vezes abusando do seu lado "bobo" e tirando proveito de sua bondade.
Foi exatamente assim que eu o conheci.
Em uma tentativa de ajudar o pequeno menino da minha sala, que frequentemente sofria bullying - algo completamente detestável, em minha opinião.
Então imagine o meu choque, quando cheguei para o buscar e encontrei a porra de uma geladeira Electrolux de duas portas, cujo a altura era igualmente impressionante.
No momento em que me virei para o banco ao meu lado, Lila estava rindo da minha reação.
Era como se meu irmãozinho mais novo tivesse acabado de passar pela puberdade. E agora fosse o dobro do seu tamanho, aguentando, pelo menos, o triplo do meu peso - ou até mais.
───── Você acha que já estamos chegando, Pip? ───── Perguntou meio nervoso.
Provavelmente, seu nervosismo vinha do fato que encontraria toda galera, incluindo algumas pessoas que não eram as mais legais com ele.
E sim, estou me referindo ao Leandro.
Babaca.
───── Bem, o carro da frente ainda tá seguindo o caminho. Mas aqui no GPS, tá falando que ainda faltam uns 10 minutinhos.
───── Cara, que ideia de girico foi virmos parar aqui no mato, né? ───── Disse Lila, após alguns segundos de silêncio. ───── Não tô reclamando do lugar, mas faz umas 3 horas que estamos nessa e nada do acampamento.
───── Quem que alugou foi aquele amiguinho da Nath, não foi? O baixinho. ───── Questionou Rocha, continuando o assunto com a menina de cabelos roxos.
Em poucos minutos, eles se perderam em suas próprias conversas.
Os dois tinham gostos completamente diferentes e também não eram muito próximos, mas ficar tanto tempo num carro já estava gerando assuntos em comum.
Tentei focar totalmente na estrada, tentando me desvincular do que eles começaram a falar.
Porém, meus pensamentos estavam, de certa forma, perdidos.
Encarando o carro azul em minha frente, comecei a pensar no encontro que aconteceria em alguns minutos.
A ideia de reencontrar os amigos, na primeira instância, pareceu algo até divertido. Mas agora, analisando melhor, foi uma ideia muito merda.
Por que catapimbas eu tinha aceitado ir para um acampamento no meio do mato, onde sei que vou ter que aturar alguém que não gosto?
Talvez minha psicóloga estivesse correta e eu realmente me odiasse muito.
Algo muito hipócrita para uma futura psiquiatra.
Minha mente vagava, sem muita esperança de voltar para o ponto inicial.
Eu sabia por que estava tão nervosa, mesmo não querendo admitir.
Reencontrar velhos amigos era, na teoria, algo bom. Mas um certo alguém estaria lá.
As lembranças de Leandro, durante o ensino médio, estavam me matando.
Principalmente, depois do comentário patético de Lila.
"Você conhece ele."
Conheço porra nenhuma.
O Leandro que um dia eu já conheci, não era o babaca que tive que enfrentar nos nossos dias de adolescentes.
Então sim, eu tinha absoluta certeza que não o conhecia, de forma alguma.
E que o papinho de Lila, que ele havia mudado, era só ladainha dela, em uma tentativa de convencer-me a ir ao reencontro.
Algo que, infelizmente, funcionou.
Como eu sou estúpida.
Ótima psiquiatra Pietra, deixando os outros brincarem com a sua própria mente
Lila me trouxe de volta à realidade com um tapa no ombro.
───── Caraca Pip, tá focadassa heim? A gente te gritou umas três vezes.
───── Claro que eu tô, alguém tem que dirigir bem nessa merda. ───── Uma confiança estava presente em minha fala, algo que foi dissipado ao ouvir a resposta de Ricardo.
───── Aham, muito focada... Você não vai subir a estradinha de terra?
A pergunta do garoto fez com que meus olhos fossem atraídos para o vidro frontal.
Olhei para frente e vi a entrada do acampamento.
A placa anunciava "Lua da Benquerença" de maneira quase cômica, considerando meu estado de espírito.
Manobrei o carro e entrei, ouvindo as risadinhas abafadas dos dois.
───── Calem a boca. ───── Tentei manter a pose, mas minha própria risada escapou.
A estrada aparentava estar bem lamacenta, provavelmente pela chuva que ocorreu a alguns dias atrás.
Ao olhar para a distância, vi um grande portão de metal, que já se encontrava aberto.
Dirigi, chegando em uma área aberta e, surpreendentemente, agradável.
Em nossos arredores havia uma cabana, algumas mesinhas de madeira, um carro azul estacionado e quatro pessoas em pé, discutindo sobre algum assunto que eu não conseguia identificar, até o momento.
Estacionei o carro vermelho e, antes de abrir a porta, virei pro lado do acompanhante, encarando Lila.
───── Minha palavra ainda está de pé. ───── Sussurrei, enquanto girava a chave da porta no sentido contrário, a destrancando.
Atrás de mim, ouvi Ricardo fazendo a mesma coisa, esperando atentamente, para ver quando nós sairíamos.
───── Pega leve, Pip. Tô te falando, vai dar tudo certo. ───── Sua voz soava cheia de positivismo, mesmo que eu tivesse certeza, que nem ela acreditava nisso.
Eu e Leandro éramos um enigma até mesmo para Lila.
Um copo vazio e o outro cheio.
8 ou 80.
Quente ou frio.
Melhores amigos ou inimigos mortais.
Jamais um meio termo.
Ao sair do carro, minha apreensão aumentou.
Desci do carro junto com Lila e Ricardo, e antes que pudesse me preparar mentalmente, Nath já estava em cima de mim, aparentando estar muito animada.
───── Você veio mesmo, eu não acredito! ───── Nath dava batidinhas com as mãos, enquanto me olhava de cima a baixo, tentando ver se aquilo era uma miragem ou, de fato, um milagre natalino.
───── Uai, eu disse que viria. ───── Respondi, tentando conter o sorriso.
Nathalia Scompa é uma garota muito bonita. Seus olhos castanhos brilhavam emocionados. Os longos fios ondulados da mesma cor foram divididos em dois: uma parte presa por uma faixa rosa, e a outra solta, fluindo pelo suéter de lã. Sua roupa combinava entre si, com tons de rosa, branco e preto por todos os lugares.
───── Mesmo assim! Faz tanto tempo que não nos vemos. Eu li um livro novo e queria muito falar com vo-
───── Nath, para de consumir a menina, ela acabou de sair do carro. ───── Exclamou um garoto, cujo eu deduzi ser o tal "amigo da Nath", parecendo cansado com toda a situação.
Inicialmente, quando ele se aproximou juntamente de Nathalia, não havia notado a sua tão baixa estatura. Algo que me fazia rir internamente.
Ele, claramente, aparentava ser alguns anos mais novo que todos nós.
Sua pele clara, quase fazia com que o cabelo descolorido e raspado se camuflasse. Os olhos azuis tinham pequenas olheiras, parecendo que não dormia direito fazia alguns dias. Se tirasse o braço engessado, sua vestimenta era bem simples: uma bermuda acinzentada, meias de coração e uma blusa de uma banda que, imediatamente, reconheci.
───── Golliraz? ───── Apontei com um sorriso. De canto de olho, pude perceber Nathalia, Lila e Ricardo interagindo.
───── Sim! ───── Afirmou, parecendo um pouco animado demais. ───── Você conhece eles? É a minha banda favorita. Inclusive, meu nome é Jorel, prazer ───── Ele estendeu a mão que não havia gesso, em um gesto educado.
Fiz o mesmo, apertando com um certo cuidado.
───── Mais ou menos, já escutei algumas músicas, são bem legais. E eu me chamo Pietra, mas pode me chamar de Pip, pirralho. ───── Com a mesma mão que estendi a ele, dei dois tapinhas em sua cabeça.
Assim que Jorel abriu a boca novamente - provavelmente para reclamar do apelido, considerando a sua cara - , foi cortado por uma voz estridente e um grande barulho de empurrão.
───── FINALMENTE vocês chegaram, toma o garotinho de vocês, porque eu não tô aguentando mais esse gótico resmungão.
Como não reconhecê-la?
Shanyqua apareceu em minha frente, cortando completamente a conversa paralela que eu estava tendo.
Mesmo com seus belos um metro e meio, a mulher tinha uma boca que claramente servia para falar. Shanyqua é uma garota de pele negra, com um estilo que daria inveja em qualquer um. Seus cabelos se encontravam em grandes tranças amarronzadas, com uma parte sendo coberta por uma linda boina vermelha. Usava um cropped verde e uma calça larga cinza, cheia de correntes penduradas na cintura.
No momento em que a menor se aproximou, tive que segurar o riso.
Se alguém não tinha mudado absolutamente nada, durante esses quatro anos, esse alguém era Shanyqua.
───── E, meu amor, caralho heim? Esses quatro anos fizeram uma maravilha em você. ───── Afirmou a garota negra, enquanto empurrava o menino com o braço engessado para lado, ignorando-o completamente.
Ela estava certa, eu havia mudado bastante.
Quando estávamos no ensino médio, eu até era uma garotinha bonitinha. Mas, por ser uma fase um tanto caótica, gostava de me "estragar".
Antes, preferia me cobrir com roupas totalmente largas, pintando o cabelo das cores que bem entendia e fazendo piercings onde dava vontade.
Se eu mudei de estilo? Não, apenas o aperfeiçoei.
Agora, meu cabelo caía em longas camadas onduladas em um tom de ruivo avermelhado, numa espécie de "wolf cut" estilizado. Os olhos castanhos brilhavam em sagacidade, atrás de uma armação retangular. Uma das sobrancelhas possuía um piercing prata, combinando com minha orelha, que se encontrava lotada por pequenos pontos prateados. Algumas roupas ainda se mantinham oversized, como era o caso da calça preta e da blusa social, aberta, de mesmo tom. Mas havia uma exceção clara, o top que estava por baixo da minha blusa.
Ele deixava à mostra uma das minhas tatuagens preferidas, dois lírios entrelaçados, que desciam em direção a calça, deixando o restante da tatuagem para imaginação.
No instante em que ia responder ao elogio de Shany, senti um par de olhos me encarando.
Um que eu não gostaria de reconhecer, sem, ao menos, precisar olhar de volta.
Ouvi um tapa estalado, vindo da direção do olhar. O que me fez virar, para observar a cena.
───── Oi Le, eu tô muito bem e você? Obrigada por perguntar! ───── Lila disse de maneira extremamente sarcástica, enquanto o encarava com um sorrisinho irônico e uma das sobrancelhas arqueadas.
───── Que porra ela tá fazendo aqui, Lila?
───── O que eu acho que você quis dizer foi: Desculpa amiga querida, da próxima vez serei minimamente educado.
───── Não, não foi. Por que caralhos você não me avisou que ela vinha?
───── Por que você acha? Se eu tivesse dito que ela estaria aqui, você jamais pisaria nesse acampamento.
───── Vai se fuder, é óbvio que eu viria, não é como se eu tivesse medo dela.
───── Não tem, mas foge dela igual o diabo foge da cruz.
Por mais que ambos tentassem falar em sussurros, a proximidade do grupo fazia com que isso não fosse possível.
Eu sabia que minha presença era indesejada, e isso não me incomodava.
Mas saber que nem o contaram que eu estaria aqui, para que ele viesse, era outra história.
───── Essa peste aí já não tem jeito não, minha linda. Passou o caminho INTEIRO reclamando. ───── Shany falou, enquanto interpretava o garoto, dramaticamente. ───── Que saco, tá muito quente. Vai demorar quantos dias? Que caminho de merda. Abre essa porra logo.
Leandro revirou os olhos, como se estivesse ignorando uma possível briga.
───── Dá um tempo, Shanyqua.
E esse foi o exato momento em que nossos olhos se encontraram.
Eu e Ricardo, definitivamente, não tínhamos sido os únicos que mudaram.
Leandro teve diversas fases em sua vida, algumas que eu conhecia, e outras que preferia não conhecer.
E, agora, não sabia em quais delas ele estava.
Seu cabelo preto ondulado, foi cortado em um mullet, permanecendo bagunçados como sempre. Os olhos castanhos, que antes encaravam Shanyqua, agora me olhavam, com um sentimento que não conseguia distinguir.
As roupas dele se mantiveram no mesmo padrão: preto sobre preto e mais um pouco de preto. Porém, por serem sem mangas, deixavam os braços dele expostos.
E ali estava algo que chamou minha atenção.
Os dois braços lacrados com tatuagens.
Quando o conheci, não havia nenhuma ali. Conforme o tempo, ele foi adquirindo algumas. Mas, da última vez que o vi, Leandro não estava nem perto de ter ambos os braços fechados com desenhos.
Era engraçado como o tempo pode mudar a aparência de uma pessoa.
───── Será que aqui tem algum lugar para jogar basquete? ───── Perguntou Ricardo, completamente desconexo com tudo o que estava acontecendo.
Lila soltou um suspiro pesado, como se tivesse acabado de se irritar com algo. Mas não falou nada sobre.
───── Nossa, não é melhor tirarmos as bagagens do carro primeiro? ───── Questionou a garota de cabelos roxos, fazendo com que eu fosse automaticamente em direção ao carro vermelho.
Rocha se aproximou de mim, retirando as malas que estavam dentro do porta malas.
───── Alguém quer ajuda? ───── Perguntou Ricardo.
───── Eu aceito! Vou aproveitar e já levar as comidas ───── Complementou Lila.
───── Oh patrão, você poderia pegar a minha mala, por favor? Já que você é forte... ───── Pediu Shanyqua, fazendo com que o garoto fosse para o outro lado pegar a mala dela.
Vendo a facilidade que foi para ele carregar três malas nos ombros, Nath e Jorel, aproveitaram para pedir também.
───── Po, pega a minha também. Tô com o braço quebrado, sabe como é né?
Assim, Ricardo pegou a mala dele também, ficando com um total de quatro malas.
O que me deixou tanto surpresa, quanto preocupada.
───── Ei, tem certeza que tu não quer uma ajudinha? Se quiser, eu posso levar a da Lila ───── Minha voz não passou de um sussurro, tendo certeza que não iria o constranger na frente de todos.
───── Que isso, Pip, pode ficar tranquilassa! Isso aqui é moleza, para mim.
Ainda desconfiada, permaneci do lado dele, enquanto segurava minha própria mala.
───── É... Pessoal, cadê a chave da cabana? ───── Perguntou Nath, que olhava aos arredores, procurando uma possível entrada para a cabana em frente.
───── Eu falei com o proprietário, ele disse que ia tá debaixo da pedra, do lado da porta, alguma coisa assim ───── Respondeu Jorel.
Ricardo seguiu em direção à cabana e, como se não houvesse outra opção, fui atrás dele.
A construção era simples, mas tinha algo de estranho. O tipo de lugar que parecia abandonado, com a madeira desgastada, a varanda pequena e as janelas de metal fechadas.
Na porta, uma inscrição quase apagada dizia: Cabana Eclipse.
Como se o próprio nome já fosse um presságio.
Foi então que percebi: a porta estava entreaberta.
───── Não é estranho a porta já estar aberta? ───── Questionou Lila.
───── É um tanto quanto estranho... Mas assim, vocês quem me escolheram para reservar, a culpa mesmo não é minha. ───── Automaticamente, defendeu-se Jorel.
───── Ah, mas sinceramente, porque vocês deixaram pro esquisito resolver essas coisas? ───── Perguntou Shanyqua, já começando a ficar indignada com a situação.
Antes que eu pudesse abrir a boca, um empurrão me fez desviar minha atenção.
Leandro passou por mim, ignorando a minha presença como se eu fosse invisível, e abriu a porta com uma naturalidade irritante.
───── Ei! Olha por onde anda, porra.
O garoto que entrou na cabana, me encarou com aquele olhar típico dele, aquele que exalava arrogância e tédio.
───── Desculpa aí, deusa Melione, esqueci que ninguém aqui pode trombar com a vossa majestade. ───── Sua voz soou venenosa, e uma onda de raiva tomou conta de mim.
Aquilo me congelou por um segundo.
Quatro anos.
Quatro anos sem ouvir aquele apelido e, de repente, tudo voltou.
───── Ninguém aqui o caralho, garoto fantasma, meu único problema aqui é contigo.
Eu não esperava uma reação, mas o choque nos olhos dele foi como um estalo de vitória.
Porém, ao mesmo tempo, eu sabia que aquilo não era só sobre a raiva. Era algo mais profundo, mais antigo, que a gente tentava esconder.
O clima estava tenso.
Não só por nossa briga, mas por algo no ar que parecia ameaçar explodir a qualquer momento.
───── Não sei nem porque caralhos você tá aqui para início de conversa.
───── Talvez porque a Lila seja a minha melhor amiga? Tá se fazendo, ou você ficou ainda mais burro nesses quatro anos?
───── Gente, eu não acho que voc- ───── Começou Jorel.
───── Cala a boca! ───── Gritamos em uníssono.
Por um momento, nós paramos, e ficamos apenas encarando.
Havia uma mistura de raiva, estresse, cansaço e até mesmo um fundinho - extremamente bem escondido, em uma tentativa falha de enterrar - de mágoa, no olhar dele.
───── Puta que pariu, eu tinha esquecido o quão insuportáveis vocês são quando se juntam. ───── Afirmou Shany, aparentando estar cansada da briga, que mal havia começado.
───── Eles estavam quietos demais para ser verdade. ───── Sussurrou Nath, para Lila, que rapidamente concordou.
Leandro entrou na cabana sem dar a mínima para o que estava acontecendo. Eu o segui, mas mantive distância
Os outros seguiram fazendo o mesmo, achando que seria melhor do que falar qualquer coisa que começaria outra briga.
O interior da cabana, era surpreendentemente bem iluminado, principalmente com a luz vinda da lareira - que, por alguma razão, já estava acesa.
O lugar em si, parecia bem confortável, porém, nada espaçoso.
O ambiente era todo aberto, possuindo uma cama de casal, uma sala de estar e uma pequena cozinha.
Um forte cheiro de produto de limpeza pairou sobre o ar, demonstrando que o lugar tinha sido limpado recentemente.
───── Ta tudo certo gente, pode entrar. ───── Falou Ricardo, enquanto já colocava as malas no chão.
Imediatamente, antes que qualquer pessoa pudesse, se quer, pensar. Nathalia começou a gritar.
───── A suíte é minha! A suíte é minha! A suíte é minha! ───── Porém, assim que ela adentrou o local, seu sorriso sumiu e sua feição tornou-se em algo parecido com desconforto. ───── Gente... Cadê a outra cama?
───── Eu juro que nas fotos tava diferente! ───── Adiantou Jorel, já imaginando a chuva de xingamentos que receberia.
Me aproximei do pequeno sofá que estava perto de uma das paredes e sentei nele, percebendo que a "criança", claramente, tinha caído em um golpe gigantesco.
Jorel e Lila começaram a discutir sobre a possibilidade da cabana ter outro andar, seja para cima ou para baixo. Quando Shanyqua começou a estalar os dedos sem parar
───── GENTE! Vocês estão desfocando. Desfocando. É o seguinte, a cama de casal... Ela é minha! Eu sou a mais velha, então assim.
E foi ali, que a verdadeira discussão se instaurou. O grupo se dividiu tentando decidir quem ficaria com qual lugar.
Para ser muito sincera, ignorei boa parte do que estavam falando, tentando entender o motivo pelo qual só não subíamos para a casa enorme do topo da colina.
───── Por que vocês estão brigando tanto por isso? ───── Assim que os perguntei, os olhares foram atraídos para mim. ───── Tem, literalmente, um puta casarão no topo da colina.
───── Eu vi! ───── Afirmou Nathalia, claramente animada, por, talvez, poder dormir em um lugar descente.
───── Será que as fotos não eram de lá, Jorel?
───── Pode ser, pode ser, faz muito mais sentido.
───── Então a gente invadiu isso aqui? ───── Questionou Leandro, já encostado no sofá, com os braços cruzados.
───── Oh gente, eu tô falando, eu aluguei O ACAMPAMENTO para gente.
───── Ahhh, então aquela graninha extra que eu dei deu para comprar tudo? ───── Falou Nath, em uma tentativa falha de sussurro.
───── Ai, eu acho que as meninas deveriam ficar lá, no casarão, sabe? ───── Disse Shanyqua de um jeitinho manhoso, que me fez rir.
Shany tinha dessas.
Ela tinha acabado de brigar com quase todos os garotos, para conseguir dormir na cama, mas assim que viu uma oportunidade melhor, seguiu ignorando o ocorrido anterior.
───── Roberto Ricardo, leva para gente as- ───── Começou o garoto de braço engessado, logo sendo interrompido.
───── Ricardo. ───── Corrigi, em um tom mais sério que o normal.
A última coisa que eu precisava, era eles importunando o pobre coitado.
───── É, Ricardo, Ricardo. Desculpa. ───── Jorel falou meio desconcertado ───── Leva as malas e vamos lá pro casarão, então. Deixa as meninas aí mesmo.
───── Não, esperem, mas quem vai ficar no casarão? ───── Perguntou Nath, sem entender a confusão que estavam fazendo.
───── Eu acho mais justo nós ficarmos lá, já que é maior e somos a maioria, não é Pip? ───── Afirmou Lila, enquanto olhava para a amiga buscando sua confirmação.
───── Acho justíssimo.
Leandro, vendo que a conversa de todos parecia não ter fim, se jogou, de vez, no sofá.
O burburinho pareceu continuar, mas ele não prestava mais atenção, jogado no sofá, decidiu olhar ao redor e, surpreendentemente, notou algo que chamou a sua atenção, fazendo com que levantasse.
O garoto de mullet caminhou em direção a mesa da televisão, parecendo a encarar, quando, de repente, ele puxou algumas balas de rifle.
───── Oh galera, eu acho que esse lugar já tava ocupado por alguém... Olhem essa porra aqui. ───── Ele levantou uma das balas, que com a iluminação local, refletiu a luz, causando um estranho calafrio em todos ali presentes.
Meu estômago embrulhou.
───── Tem mais alguma coisa aí? ───── Perguntou Nath, o cortando de responder qualquer merda.
───── Tem uns pedaços de pano também, e o telefone tá fora do gancho... Parece que alguém tava com muita pressa. ───── Ao dizer isso, ele pega o telefone e o coloca sobre a orelha.
Nada foi escutado, pela reação de Leandro.
───── Nossa, mas você alugou um lugar todo quebrado, né? Olha isso aqui. ───── Reclamou Ricardo, apontando para o guarda-roupa, que estava escancarado e sem nada dentro.
───── Eu arrumei um lugar barato, é diferente. Tivemos dois dias para alugar isso aqui.
───── É o que o dinheiro de vocês podia pagar, também. ───── Comentou Nath, tentando defender o amigo.
Ouvindo a discussão, claramente, prestes a começar novamente, respirei fundo e comecei a olhar ao meu redor, quando reparei algo que não havia notado anteriormente.
Em frente a poltrona, havia uma pequena mesinha, com apenas um ventilador em cima dela.
Isso, se você não prestasse atenção.
Ao me aproximar da mesa, observei um pequeno pedaço de papel que parecia preso, embaixo do ventilador.
───── Porra criança. ───── Disse, ao terminar de ler a mensagem presente no bilhete.
Como um chamado imediato, todos me encararam, esperando que eu continuasse a falar.
───── Isso é sangue. ───── Afirmei, estendendo o papel que tinha acabado de encontrar.
Todos arregalam os olhos em espanto, não esperando algo tão demonstrativo assim.
O silêncio que seguiu foi pesado. Quando olhei para Jorel, vi algo nos olhos dele que não esperava: não era só medo, mas algo mais profundo, mais real.
Ele estava abalado.
E esse choque, mesmo que rápido e momentâneo, não passou despercebido por mim.
───── Quer saber, foda-se, eu vou dormir no carro, depois dessa porra. ───── Leandro falou, esticando os braços em rendição.
───── Como você tá levando SANGUE em um papel, como algo normal, cara? Pelo amor de Deus, olhem o que está escrito, tem bicho nessa porra. ───── Shanyqua o respondeu, já demonstrando claros sinais de desespero.
───── Calma Shany, pode não ser nada demais, né Pip? Talvez uma brincadeira entre campistas, para assustar pessoas novas aqui. ───── Deduziu Nath, tentando ir pela história mais racional.
───── Poder, até pode... ───── Respondi, não concordando de fato com o que a menina tinha dito.
A escrita corrida, o sangue, o rasgo desleixado. Não parecia ser só uma brincadeira estúpida entre campistas
───── Então vamos subir, não? É melhor. ───── Disse Ricardo, desviando de assunto.
───── Subir? Gente, vamos para casa.
───── Eles estão certos Shany, já pagamos por tudo. Talvez o problema seja só aqui embaixo, vamos subir e dar uma olhadinha, pelo menos. ───── Lila tentou convencer a amiga.
Enquanto todos conversavam, me aproximei de Jorel, ainda com o bilete em mãos..
───── Ei, Jorel, né? ───── Questionei, em um sussurro. O garoto concordou com um aceno.───── Tá tudo bem? Não leva isso muito a sério não, provavelmente é o que a Lila disse mesmo, só uma brincadeirinha paia.
───── T-Tá sim, é... Desculpa, é complicado. ───── A voz dele saiu tão baixa e trêmula, enquanto seus olhos não saíam do papel.
Não sei o que me fez não pressionar. Talvez fosse o clima estranho, ou talvez o instinto me dizendo para não forçar mais.
───── Olha, se tu quiser, pode ficar com ele.
───── Posso? Obrigado, isso definitivamente ajudaria.
Assim que o entreguei, notei que a mão - não quebrada - de Jorel, parecia estar tremendo bastante.
───── Que isso, não foi nada, pirralho. ───── Exclamei, sacudindo a mão em cima da cabeça dele.
───── Ei! Eu sou só um pouco mai-
───── Você vai ficar brincando de babá ou vai vir com a gente? ───── Perguntou Leandro, quebrando completamente a conversa.
Sua cara era completamente tediosa.
───── Nós vamos com vocês! ───── Disse Jorel, que imediatamente saiu andando para fora da cabana.
Suspirei, já me arrependendo de estar naquele lugar.
Se aquilo era só o começo, eu já sabia que a noite seria longa e provavelmente bem mais complicada do que imaginava.
Eu o encarei por alguns segundos, antes de dar um suspiro e começar a caminhar lentamente em direção ao casarão.
A ideia de estar ali, com tudo acontecendo tão rápido, me deixava inquieta, mas ao mesmo tempo, algo me puxava para seguir em frente.
Talvez fosse a curiosidade querendo matar a gata.
───── Então, no ensino médio, ele era bem magrinho e muito zoado... ───── Ouvi Nath dizer, quando ela parou para pegar um panfleto que estava na varanda da cabana. ───── Gente, é um mapa!
───── O dinheiro do papai, realmente ajudou muito, né? ───── Afirmou Nath, felizinha com o tamanho do local.
───── Que porra de "dinheiro do papai", porque vocês não alugaram algo menor? Podíamos ter economizado mó grana. ───── A voz chorosa era de Shanyqua, que estava ficando cada vez mais estressada com os amigos.
───── Seria muito mais fácil se só tivéssemos alugado um AirBnB lá onde a gente mora. ───── Comentou Leandro, concordando com a garota negra.
───── Pensem pelo lado positivo, o casarão parece ser bem grande, acho que todo mundo consegue ficar lá. ───── Disse Lila, na tentativa de mudar o tópico da conversa para algo mais positivo.
Finalmente, depois de alguns minutos, chegamos em frente ao casarão. O prédio imenso se erguia diante de nós, e as portas, aparentemente fechadas, pareciam guardar algum segredo.
Uma enorme casa está diante de nós, com as portas, aparentemente, fechadas.
───── E, de novo, onde tá a chave, Jorel? ───── Perguntei, com os braços cruzados.
───── É só procurar uma pedra... O Irineu disse que estaria embaixo dela.
Dei um passo para trás, me afastando do grupo, deixando que eles procurassem a chave enquanto eu refletia sobre tudo.
Vi Leandro indo para um lado e, impulsivamente, decidi ir para o outro.
Coisa de dois minutos depois, Nath grita, em frente a porta principal.
───── Gente, a porta já tá aberta!
Ela parecia surpresa, mas eu só senti uma pontada de desconforto.
Era estranho demais.
Quando entramos no hall de entrada, a primeira coisa que me atingiu foi o cheiro - o ar parecia fresquinho, como se tudo tivesse sido arrumado especialmente para nós.
A casa estava impecável, com cada móvel e decoração colocados de forma que parecia ter sido planejado com uma precisão exagerada.
Era como se a casa estivesse esperando a nossa chegada.
Ou talvez fosse algo a mais.
Algo em mim sentia que estava indo mais fundo do que imaginava.
.
.
.
♱ | 0.01 : PRIMEIRO CAPÍTULO AAAAA Que nervoso kkkkkkkkk eu sempre tento introduzir o máximo possível nos primeiros caps, entao espero que tenha dado certo. Também espero que tenham gostado <333
♱ | 0.02 : Personagem nova = Achados novos. Simplesmente amo adicionar coisas nas histórias, pq personagens mudam o enredo.
♱ | 0.03 : Uma coisa engraçada, é que a Pietra é DEFINITIVAMENTE a que mais tem intelecto do grupo 1 kkkkkkkk Então a maioria das interações que o Cellbit pergunta "Quem tem mais intelecto?", eu automaticamente já
vou rodar os dadinhos kkkkkkkkkk
♱ | 0.04 : Como sempre, peço que não sejam leitores fantasmas e comentem e curtam o máximo que puderem ♥︎♥︎ Além disso, quero muito agradecer pelo apoio que vocês estão dando para essa história!! Obrigada demais por todo o carinho e repercussão, vocês são incríveis ♥︎♥︎♥︎
♱ | 0.05 : De verdade, espero muito que vocês estejam gostando da historia. Aos poucos ela vai "piorando", se é que voces me entendem kkkkkkkk Então é isso amoressss, beijossss.
Spoiler do primeiro capítulo:
🔎🧊☠️
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
[ todos os créditos
para @paracossmo ]
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro