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Primeiros passos em Forks
O despertador tocou cedo demais para o gosto de Madison. Ainda era madrugada quando o som irritante a arrancou do sono, fazendo-a resmungar e enterrar a cabeça no travesseiro. Ela estendeu a mão e, sem nem olhar, bateu no botão para silenciar o barulho.
— Não... tô... pronta pra isso... — murmurou para si mesma, a voz abafada pelo cobertor.
Forks tinha um jeito estranho de fazer o tempo passar devagar e, ao mesmo tempo, acelerar as coisas quando você menos queria. Madison se levantou devagar, o corpo ainda pesado de sono. Arrastou os pés até o banheiro e se olhou no espelho. Cabelos desgrenhados, olheiras levemente acentuadas e um olhar de quem definitivamente precisava de mais umas três horas de descanso. Nada mal para uma primeira impressão, pensou sarcasticamente.
Depois de se arrumar — jeans rasgados, camiseta preta simples e um casaco grosso para espantar o frio — ela desceu as escadas, onde Georgina já estava sentada à mesa, com um livro grosso de feitiços aberto e uma xícara de chá fumegante à frente.
— Pronta para encarar mais um dia de olhares estranhos e perguntas chatas? — perguntou a mãe com um sorriso de canto, sem tirar os olhos do livro.
— Não, mas não tenho muita escolha, né? — Madison respondeu, pegando uma maçã e mordendo com um suspiro. — Eu juro que se alguém me perguntar de novo de onde eu sou, vou responder “de uma galáxia muito, muito distante”.
Georgina soltou uma risadinha e balançou a cabeça.
— Isso definitivamente deixaria as pessoas ainda mais desconfiadas, querida. Não que precise de ajuda nisso. Bruxas e vampiros não são exatamente a definição de normal por aqui.
Madison deu de ombros. Desde que chegaram, estavam mantendo as aparências, tentando se misturar. Georgina usava seus encantos para abafar qualquer suspeita, e Sarah… bem, ela fazia o possível para parecer só uma mãe preocupada. Mas Madison sabia que Forks não era uma cidade qualquer. Tinha algo mais ali. A floresta densa, a sensação de ser observada… tudo deixava um arrepio constante na pele.
— A propósito, não se esqueça — Georgina continuou, fechando o livro com um estalo suave. — Hoje é noite de lua nova. Se precisar de um tempinho pra, sabe, ajustar suas energias... é uma boa ideia.
Madison olhou para a mãe. Ajustar suas energias? Era assim que Georgina chamava os treinos agora? Claro, como se fosse algo fácil de explicar para alguém: “Ah, desculpe, não posso sair, preciso equilibrar minhas vibrações mágicas”.
— Eu dou um jeito, mãe — respondeu com um tom despreocupado. — Agora preciso ir antes que eu chegue tarde.
Pegou a mochila, jogou-a nas costas e, antes que Georgina pudesse responder, já estava saindo pela porta da frente. A chuva fina ainda caía, e a névoa matinal deixava tudo mais cinzento, como se o dia nem tivesse começado de verdade. Madison deu uma olhada para a floresta ao redor. Mesmo depois de alguns dias ali, a sensação de que algo a observava não tinha desaparecido.
O caminho para a escola era curto, e Madison aproveitou para se perder nos próprios pensamentos. Quando chegou, estacionou sua velha caminhonete na área de estudantes e respirou fundo. Hora de se misturar… ou tentar, pelo menos.
Assim que entrou no prédio, sentiu os olhares curiosos se voltando para ela de novo. Nada exagerado, mas o suficiente para saber que ainda era novidade por ali. Caminhou pelos corredores com a cabeça erguida, ignorando os cochichos e os sorrisos forçados dos colegas de turma. Primeiro período: Literatura. Ela entrou na sala e escolheu um lugar no fundo, longe da atenção.
O professor, um senhor de cabelos grisalhos e óculos que pareciam grandes demais para o rosto, levantou os olhos quando ela entrou.
— Ah, a nova aluna. Madison Martinez, certo? — disse ele, ajeitando os óculos. — Que bom que decidiu se juntar a nós hoje. Sente-se, sente-se.
Ela acenou com a cabeça, já arrependida de não ter chegado uns minutos mais cedo para evitar aquela apresentação. Se sentou e abriu o caderno, fingindo estar interessada no que o professor dizia sobre algum autor obscuro que ela mal conhecia. Mais um dia normal… até que algo capturou sua atenção.
Na janela ao lado, a floresta estava parcialmente visível. No meio da aula, ela viu um vulto passando entre as árvores. Algo rápido, quase imperceptível, mas claramente lá. Madison piscou, se inclinando um pouco mais para ter certeza de que não estava imaginando coisas.
— Algo errado, senhorita Martinez? — perguntou o professor de repente, interrompendo o que estava dizendo.
— Ah, não, desculpa — respondeu ela, endireitando-se e sentindo o rosto esquentar enquanto alguns alunos se viravam para olhá-la. — Só… me distraí.
O professor fez uma careta, mas não insistiu. Assim que desviou a atenção, Madison voltou a olhar para a janela. O vulto havia sumido. Ela franziu o cenho, uma sensação estranha de desconforto tomando conta de seu estômago. Aquilo definitivamente não era imaginação. O que quer que fosse, estava lá fora… e a observando.
A manhã passou arrastada. Entre cochichos, apresentações de outros professores e tentativas falhas de iniciar conversas com ela, Madison se pegou pensando no vulto mais vezes do que gostaria de admitir. Era como se a floresta estivesse chamando por ela, querendo que ela fosse investigar. E era exatamente o que ela planejava fazer depois das aulas.
Quando o último sinal tocou, ela praticamente saltou da cadeira e foi direto para o estacionamento. A tarde estava ainda mais sombria, a chuva engrossando conforme ela se aproximava da caminhonete. Em vez de ir para casa, no entanto, ela tomou a direção oposta, seguindo a estrada de terra que levava à parte mais densa da floresta.
O motor velho da caminhonete roncava alto, ecoando no silêncio da estrada deserta. Madison não sabia exatamente o que estava procurando, mas algo dentro dela a impelia a seguir em frente. As árvores passavam como sombras, altas e imponentes, até que ela finalmente parou em uma pequena clareira. Saiu do carro e olhou ao redor, sentindo o coração bater mais rápido.
Havia uma presença ali, algo forte, como uma corrente invisível de energia puxando-a para mais perto. Madison caminhou devagar, os pés afundando na lama macia, o som da chuva abafando qualquer outro ruído. Tudo estava quieto… demais.
— Tá aí? — sussurrou ela, como se esperasse que a própria floresta respondesse.
Silêncio.
Madison fechou os olhos e respirou fundo. Deixou sua magia fluir, expandindo-se ao redor, tentando captar qualquer sinal. Sentiu um leve formigamento na ponta dos dedos, uma vibração sutil no ar. Havia algo se movendo, distante, mas presente.
De repente, um estalo. O barulho seco de um galho se partindo fez seus olhos se abrirem, e ela se virou rapidamente, o coração disparado. Nada. Mas ela sabia que não estava sozinha. Uma sombra entre as árvores se mexeu, rápida demais para ser captada completamente. Madison respirou fundo, tentando manter a calma.
— Quem está aí? — chamou, mais firme desta vez.
Mais silêncio.
Ela deu um passo para trás, os sentidos em alerta. Havia algo errado. A sensação de ser observada estava cada vez mais forte. Com um último olhar ao redor, Madison decidiu que era melhor recuar… pelo menos por agora.
Caminhou de volta até a caminhonete, sentindo os olhos da floresta ainda cravados nela. Assim que entrou no carro e ligou o motor, soltou um suspiro pesado. Seja lá o que fosse, não tinha terminado com ela. E Madison sabia que não conseguiria ignorar aquela presença por muito tempo.
Quando voltou para casa, a noite já caía. Georgina a esperava na sala, as sobrancelhas erguidas e um ar de desaprovação claro.
— E então? Achou o que estava procurando?
Madison hesitou, mas balançou a cabeça.
— Não… mas vou descobrir. Prometo.
Georgina suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Só tome cuidado, Maddy. Há mais segredos em Forks do que você imagina.
Madison assentiu. Ela já sabia disso. E, por algum motivo, sentia que um deles estava prestes a vir à tona.
🔮 Tiktok novo: vampires_reads4
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