003
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CAPÍTULO 003
Fragmentos da Verdade
Seus olhos tranquilos olhavam atentamente os documentos entre seus dedos, analisando cada palavra daquele pedaço de papel velho cheio de coisas e símbolos estranhos. Meu pé inquieto sobre seu carpete parecia irritá-lo a medida em que o tempo passava e apenas respirações eram ouvidas naquele escritório.
Tentei não pensar nos olhos castanhos sobre o meu rosto; cheios de ódio. É demais até para alguém como eu.
Meu corpo relaxado sobre aquela cadeira de couro, era apenas um disfarce para a tremenda confusão que a minha mente refletia em meu interior. Eu preciso ficar longe. Preciso protegê-la do perigo que eu represento.
O som que meus dedos fizeram ao bater sobre a mesa de Julian, fizeram o homem erguer os olhos dos papeis me encarando diretamente. Ignorei sua carranca, meus olhos olhando além de seu patético resmungado para que eu fizesse silêncio para que ele pudesse se concentrar.
A mansão do antigo senhor Winckler, George Winckler, ainda cheirava a flores de primavera. Os móveis impecáveis e totalmente ornados entre si e a pintura das paredes.
— Onde você conseguiu esses documentos? — Meus olhos finalmente se voltaram para o homem à minha frente.
— De onde seriam, do museu da universidade. — Seu cenho franziu.
— Roubou isso, Molaschi?
— Quer que eu desenhe? A Ordem me deu um trabalho, eu apenas cumpri.
— Não estou questionando. Mas não acha que poderíamos ter simplesmente pedido que alguém os levasse para nós. Sem que precisasse furtar?
— Corta essa, sabe que Helena não confia totalmente nela para esse tipo de tarefa. Você sabe disso.
— É certo que sim. Pela breve análise, é realmente o que estávamos procurando, mas não sei exatamente quanto tempo levarei para conseguir decodificar tudo.
— Não me importo se levará meses ou até anos, Helena foi bem clara quando disse que quer essas informações. — Sua mandíbula travou. Um sorriso ardiloso em seu rosto.
— Sei exatamente o que Helena espera de mim. Não preciso que um moleque mimado me diga isso.
Olhei para Julian, sua expressão calma enquanto seus olhos transbordavam sagacidade.
— Me diga uma coisa, Scorpius, ainda tem interesse por ela? — Minhas sobrancelhas arquearam. — Hora, sabe de quem estou falando.
— Não, definitivamente não sei.
Julian parecia me estudar, sua expressão inabalável. Bem diferente de sua versão quando está com ela. Ele fechou a pasta de couro, colocando os dois cotovelos sobre a madeira de sua mesa.
— Soube que você a procurou no dia do baile.
E então eu entendi.
— E quem te disse que eu já tive algum interesse por ela?
— Bem, você era obcecado por ela quando eram crianças. Não se desgrudavam, eu notei na forma que você olhava para ela.
— Éramos apenas amigos. Nunca além disso.
— Então nega que já teve ou ainda tem qualquer tipo de interesse por ela?
— Obvio. Nunca houve e nunca haverá qualquer interesse nela. — Um pequeno sorriso presunçoso surgiu em seus lábios.
— Achei que tinha interesse. Afinal, nunca o vi transar, nem mesmo tocar as garotas que frequentam as festas da Ordem.
Sorri amargo.
— Não que eu deva algum tipo de explicação sobre a minha vida pessoal, mas eu apenas não gosto de participar de orgias. E nem preciso mencionar as garotas, são sempre atiradas e sem escrúpulos algum.
— Claro que não tem escrúpulos, são contratadas para pagar um boquete sempre que tivermos necessidade. Se procura uma santa, acho melhor ir procurar em um convento.
Mordi a parte interna de minha boca, sentindo o gosto de sangue invadir meu paladar.
— Sou apenas um apreciador do que acontece entre quatro paredes. Você mesmo disse, eu sou obcecado, nunca gostei de espectadores e muito menos de compartilhar o que é meu. — Julian sorriu fraco, concordando. — Se me der licença, tenho outros assuntos para resolver. Quando tiver avanços na decodificação pode me avisar.
Assim que deixei o escritório, meus pulmões voltaram a funcionar normalmente. Um alívio imediato me inundando, mas essa sensação não durou muito. Não depois que meus olhos se perderam em suas ondas caindo de maneira rebelde de seu coque mal preso com um lápis. As pernas cruzadas sobre a cadeira e seus olhos totalmente imersos as palavras, ou seja lá o que esteja escrito naquele livro velho e enorme que parecia não ser útil para nada.
E então eu me peguei observando-a mais uma vez. Como sempre um intruso em um de seus momentos sagrados. Lilly sempre pareceu inatingível quando estava com os seus livros, suas irises passeando pelas palavras e criando mundos e universos diferentes dentro de sua cabeça. Universos e mundos em que eu não exista, que não possa machucá-la.
— Por que você fica me olhando enquanto estou lendo na biblioteca?
— Gosto de te ver concentrada nos livros. — Admiti. — Principalmente quando está lendo aqueles seus livros de romance, ou os de fantasia. Parece que está em outro universo completamente diferente e distante.
— Você deveria ler, Scorpius. Mesmo que não sai da sua cama, quando lê, sua mente cria os mais diversos cenários e lugares que você poderia imaginar. — Seus olhos brilharam quando me disse aquilo.
— Quer me indicar um, então? — Ela abriu um sorriso enorme em minha direção e enfiou a mão dentro da mochila.
— É um clássico. "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski. É um pouco estranho, mas é um dos meus favoritos. Tenho certeza de que você vai gostar.
Fechei meus olhos, suspirando silenciosamente ao lembrar-me do dia em que ela me deu o seu livro favorito sem ao menos ter ideia de que eu já o tinha lido por no mínimo umas 8 vezes quando soube que ele era um de seus favoritos. Se tornou o meu também.
— Sempre em casa com os livros, Ma Belle. Não mudou nada no fim das contas. — Disse finalmente, quebrando o silêncio que parecia querer me sufocar.
Seu dorso virou-se lentamente em minha direção, o olhar frio suficiente para me fazer querer desaparecer dali no mesmo instante.
— Não me chame assim, Molaschi. — Seu tom totalmente frio. — O que está fazendo aqui?
— Negócios com o seu tio, nada demais. — Forcei um meio sorriso e ela permaneceu seria.
— Negócios? E com o meu tio? — Ela arqueou a sobrancelha, fechando o livro e se pondo de pé. — Ou você só está mexendo em coisas que não devia de novo?
Senti o seu golpe imediatamente. Ela sempre foi boa com as palavras, principalmente quando se tratava de me desmontar inteiro com elas.
— Talvez os dois, nunca se sabe. — Provoquei de volta, assistindo seus orbes revirarem teatralmente. — E você? Ainda estudando sobre essas coisas que ninguém liga?
Seu corpo se endireitou e ela deu um passo em minha direção.
— Pelo menos eu estou fazendo algo produtivo e útil. O que você está fazendo, Scorpius? Além de perder tempo, claro.
— Às vezes, perder tempo é necessário para o que realmente importa. — Dei de ombros, mesmo que o seu comentário tenha me afetado bem mais do que eu gostaria.
Lilly moveu seus lábios em uma risada seca.
— Ah, sim. Porque você entende muito sobre o que importa. Diga-me, Scorpius, quantas vezes você já cruzou os limites para provar que é algo que, não é?
Senti o calor subir pelo meu pescoço e tomar meu rosto. Tentei controlar minha respiração, mantendo meu rosto neutro.
— Não sabia que você andava tão interessada em mim, Ly.
Ela se aproximou mais, o olhar fixo ao meu.
— Interessada? Não. Eu só gosto de lembrar a mim mesma de quem você realmente é. Um mentiroso. Um oportunista pilantra manipulador.
Fechei minhas mãos em punhos, minha raiva tomando conta do meu corpo enquanto meu sangue fervia.
— Você não sabe de nada, Lilly. Absolutamente nada.
— E não quero saber. — A voz dela era firme, cortante. — Porque, ao contrário de você, eu ainda tenho minhas próprias escolhas.
Aquelas palavras foram o mesmo que tomar um tiro. Dei um passo à frente, praticamente colando meu corpo ao dela, possuído pela raiva que escapava por entre os meus poros.
— Você acha que sua vida é perfeita, não é? Mas sabe o que é engraçado? Mesmo sem saber de nada, você age como se fosse melhor que todos.
Ela não me respondeu. Seus olhos castanhos me fitaram com desprezo, como se estivesse tentando decidir se valia a pena continuar aqui.
Finalmente, ela balançou a cabeça, se dirigiu aos livros sobre a mesa os segurando em seus braços e saiu da biblioteca, deixando-me sozinho.
Eu permaneci ali, parado. O silêncio da sala pesando contra o meu peito como um manto sufocante. Olhei para a estante de livros, meus pensamentos perdidos em quantas vezes Lilly estivera aqui, cercada pelo que ela mais amava.
E eu? Sou um intruso, aquele que não deveria estar aqui.
Mas não importa. Muita coisa já não importa mais.
Deixei que meus olhos percorressem por todas aquelas páginas mais uma vez, procurando o que havia deixado passar. Eu não cometo erros, desde que entrei para a Ordem, sendo o mais jovem a fazer parte dela, jamais cometi um único erro. Até hoje.
Meu pai me disse que Helena gostaria de me ver, não especificou, mas eu tinha certeza de que a minha falha a faria me punir, mesmo que eu nunca houvesse falhado antes. A lembrança dos gritos e ameaças repercutindo em minha mente. Meus olhos fechados enquanto os meus próprios gritos chamando pelo meu pai ecoavam pelos corredores.
Toquei a ponta dos meus dedos sobre as marcas que ainda estavam cicatrizando em minhas costas, as queimaduras com símbolos que, após a cicatrização, ficariam marcadas completamente sob minha pele. Mas nenhuma dor física poderia superar o estrago que eles haviam feito em minha mente. A droga que usaram para me dopar, antes de me jogarem naquela cela escura por dois dias sem água e comida com minhas piores lembranças e alucinações.
Joguei a cabeça para trás, deixando meu corpo relaxar sobre a cadeira de meu escritório. Pilhas e mais pilhas de livros espalhadas em meio a inúmeras anotações, meu cérebro se esforçando o máximo que era capaz para não relembrar de nada daqueles dias.
Finalmente desisti de tentar decifrar onde estava o meu erro e me levantei, deixando aquela tarefa para depois. Preciso tomar um pouco de ar antes de enlouquecer completamente com essa merda toda.
O barulho dos meus sapatos de couro ecoando pelo longo corredor vazio, me davam a falsa impressão de que, conforme me movia, as pinturas me acompanhavam, me julgavam e zombavam de mim entre si.
Caminhei o mais de pressa que pude, saindo da mansão e andando despreocupadamente pela trilha que leva até a floresta. Os meus músculos estavam tensos, minha respiração desregulada e meu rosto mais pálido que o normal com duas bolsas escuras enormes logo abaixo de meus olhos. Noites de sono não aproveitadas, no fim das contas realmente fazem falta.
Adentrando cada vez mais pela trilha sinuosa, tentando afastar o turbilhão de pensamentos que me sufocavam desde aquela discussão na biblioteca. Mas, parecia que quanto mais eu andava, mais fundo minha mente mergulhava nas memórias que eu gostaria de esquecer. O meu fracasso com a Ordem surgindo em minha mente como um pesadelo que a cada vez que fecho os olhos, parece que o meu corpo está revivendo cada segundo daquele tormento.
O ar da floresta parecia mais pesado, como se a própria natureza me punisse por ter atitudes tão desprezíveis. Meus pulmões pareciam arder enquanto eu tentava buscar por ar, os meus olhos embaçados pelas lágrimas que se formavam ali. Meu corpo cambaleou, tentando manter-se de pé.
Meus pés tropeçaram sobre uma raiz, jogando meus joelhos e minhas mãos sobre as folhas secas. Lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto enquanto lutava para conseguir respirar. Minha visão estava totalmente turva, o mundo parecia girar. Ouvi o barulho de passos sobre as folhas secas e lutei para tentar erguer minha cabeça, mas foi em vão. Forcei minha garganta, tentando gritar por socorro.
— Scorpius? — A voz de alguém chamou pelo meu nome de uma maneira firme, mas ao mesmo tempo suave. Apertei as folhas entre os meus dedos enquanto lutava para conseguir erguer a cabeça. Meus olhos ainda estavam turvos, minha respiração cada vez mais distante. Eu tentei responder, mas a minha voz não saia.
Levei uma das mãos até o meu peito, enquanto lutava em permanecer acordado e respirando. Ouvi algo ser jogado no chão e segundos depois duas mãos seguraram meus ombros, me ajudando a sentar e encostar as minhas costas sobre o tronco de uma árvore.
— Scorpius, olhe para mim! Respire!
Minha visão finalmente focou em seu rosto, Lilly. Lilly estava ali, segurando em meus ombros e com os olhos transbordando em preocupação.
— O... o que você está fazendo aqui, Ly? — Minha voz saiu mais fraca e baixa do que eu gostaria. Uma tensão ainda maior me envolvendo ao olhá-la. Tentei me levantar, mas minhas pernas falharam, me fazendo cair de novo.
Lilly olhou ao redor, possivelmente procurando por alguém. Sua expressão não escondia o seu desconforto de estar aqui, e isso me deixa mal. Eu não quero que ela se sinta desconfortável por estar perto de mim.
— Você precisa respirar...
— Eu... não consigo... — minha voz soou rouca, quase em um sussurro. Meus olhos se erguendo para olhá-la em um pedido silencioso de ajuda.
Suas mãos tocaram meu rosto, enxugando algumas lágrimas que insistiam em cair.
— Consegue sim. Me escuta, tá bom? Só faz o que eu disser. Inspira... — Ela puxou o ar profundamente, segurando-o por alguns segundos. Seu olhar fixo em mim para ter certeza de que estou prestando atenção. — Agora expira. Devagar. Vamos, faça igual eu.
Tentei desesperadamente imitar os movimentos dela, me engasgando com o meu próprio ar. Meu corpo tremia que me deixava incapaz de coordenar meus próprios pulmões.
— Eu vou... desmaiar. — Fechei os olhos, minhas mãos indo até o chão para me apoiar.
— Não vai, não. — A voz dela se tornou mais suave, quase como um sussurro que me envolvia. Lilly sentou-se ao meu lado, sua mão sobre minha bochecha, fazendo uma pequena caricia. — Você é Scorpius Molaschi. Arrogante, insuportável, mas é forte pra caramba. Você não vai desmaiar agora, não na minha frente pelo menos.
Apesar da minha dificuldade para conseguir respirar corretamente, soltei um riso fraco em meio a um suspiro descompensado. Isso involuntariamente pareceu me ajudar a recuperar o controle aos poucos.
— Isso, melhor. Continua. Inspira... — Seus dedos me acariciando me davam a sensação de estar sendo dopado, mas de um jeito bom. — Isso, agora expira. Tá vendo? Tá passando.
Assenti, continuando a imitar seus métodos de respiração que milagrosamente pareciam me acalmar. Aos poucos, fui conseguindo ter o controle sobre a minha respiração outra vez. Lilly ainda tinha suas mãos por meu corpo. Uma delas em meu ombro, por cima do meu Cardigan preto de sempre e a outra sobre o meu rosto, enxugando os resquícios de lágrimas que desceram por ali pouco antes.
Notando meu olhar sobre si, ela afastou as mãos rapidamente, ficando de pé e passando as palmas sobre seus joelhos.
— Você está bem? — perguntou ela, agora em seu tom seco e áspero de sempre.
Balancei a cabeça, minha voz saindo um pouco trêmula.
— Eu... acho que sim.
— Ótimo. Porque carregar você até a sua casa realmente não estava nos meus planos. — Ela cruzou os braços, se fazendo de indiferente.
Tentei me levantar, mas as minhas pernas ainda estavam instáveis depois dessa crise. Lilly suspirou, revirando seus olhos e estendendo uma de suas mãos para mim.
— Vem logo, antes que eu me arrependa.
Olhei para sua mão estendida, ainda hesitante se deveria tocá-la, mas acabei aceitando depois de falhar outra vez. Quando estava de pé outra vez, fiquei parado por alguns segundos, fitando os meus sapatos e com os olhos o mais baixo que conseguia.
— Por que você me ajudou? — Perguntei, quebrando aquele silêncio que pairava sobre nós dois.
Lilly deu um passo para trás, desviando o olhar de mim quando a encarei.
— Não sei. Talvez porque eu tenha um pingo de humanidade. Ou talvez porque seria um inferno ter que explicar para a polícia que você morreu aqui na floresta e eu achei o corpo. Eles me teriam como a principal suspeita.
Seu comentário foi cortante, mas havia algo em sua forma de falar que parecia menos fria que todos os nossos outros encontros.
— Obrigado, Lilly. — Disse com toda a minha sinceridade.
Ela ergueu os olhos, surpresa, mas não respondeu.
— Não me agradeça. Mas também não ache que isso muda alguma coisa. —Ela virou-se, pegando suas coisas do chão e indo embora.
Acompanhei sua silhueta até que sumisse completamente entre as árvores. Olhei para os meus sapatos, tentando processar tudo o que havia acontecido nos últimos minutos. Em como sua voz e o seu toque conseguiram me acalmar quase que instantaneamente.
Minha cabeça girou com a possibilidade que surgiu em meu cérebro. Talvez nem tudo esteja realmente perdido.
Talvez algumas coisas ainda importem no final das contas.
Olha, pra duas pessoas que se odeiam eles tão se saindo melhor que a encomenda, viru! O coitado do Scorpius sendo maltratado pela tal Ordem, isso vai dar o que falar ainda...
Mas e então, o que estão achando da história? Gostam da trama, dos personagens, de como está sendo desenvolvido? Podem comentar e me dizer suas opiniões, gosto muito de ler o que vocês comentam e saber se estão gostando da história como um todo.
Dominion tem atualizações semanalmente, não em um dia certo, mas toda semana haverá atualização de um ou mais capítulos. Então, sejam gentis e deixem seu voto e seus comentários!!!
Beijos de luz,
Kalisa.
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