001
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CAPÍTULO 001
Sombras do Passado
O cheiro dos pinheiros do lugar em que eu criei minhas — piores —melhores memórias, invadiam meu olfato como nunca. A última vez que estive em Ravenbourg, havia visto o meu avô morto em sua escrivaninha; havia o enterrado junto do corpo da minha avó. Voltar a esta cidade depois de anos — principalmente depois do que ele me fez passar, — era como estar de volta ao meu pior pesadelo.
As madeixas onduladas e volumosas de minha mãe se destacavam de longe em meio ao pequeno amontoado de pessoas que, assim como ela, esperavam por alguém na estação — agora já reformada, — de trem aqui da cidade. Não pude deixar de sorrir ao vê-la ali com seu típico vestido champanhe cumprimentando até mesmo os pássaros que voavam em sua frente. Puxei minhas malas, tentando equilibrar todas e andar ao mesmo tempo, — o que convenhamos, está sendo quase impossível com essa quantidade de malas, — não sei por que ainda dou ouvidos a Amara e suas ideias mirabolantes de "estar sempre dentro da moda e nunca repetir uma roupa sequer em público." Honestamente, eu estou pouco me importando se irei ou não repetir uma roupa em público, essa não deveria ser a função das roupas? Usá-las sempre que tiver uma oportunidade e reutilizá-las até que não sirvam mais?
Assim que seus olhos pousaram em mim, Jane Winckler deixou de lado toda a sua classe de dama da alta sociedade e veio aos pulos em minha direção, me envolvendo em seus braços calorosos e derrubando todas as malas, que eu custei para equilibrar, no chão.
— Ah meu Deus! Como você está ainda mais linda desde o verão. — Minhas bochechas doíam pelo fato do meu sorriso estar ainda maior ao estar envolvida sobre os aconchegantes braços da minha mãe.
— Mamãe, eu estava com saudades. Vocês nem foram me visitarno último verão, achei que estavam com raiva de mim. — Alfred, o nossomotorista particular se prontificou em cuidar das minhas malas e as guiar até oporta-malas do carro. Envolvemos os nossos braços enquanto seguíamos o caminhoaté o carro. Novamente, Alfred com toda a sua gentileza e— Ah querida, eu pedi que a Darlene fizesse um vestido belíssimo para você essa noite! Ele ficou digno de uma rainha!
Meu coração errou levemente as batidas ao ouvir sua voz praticamente cantarolar sobre o vestido e hoje à noite. Como eu havia de ter esquecido disso! Hoje é o baile de outono da cidade, onde todas as famílias mais influentes, - incluindo a dele, - estariam presentes. Como eu pude esquecer que esse baile acontece anualmente neste mesmo dia.
— Tenho tanta certeza de que todas as garotas morrerão de inveja quando te virem igual uma princesa. Vai deixar todos os homens desta cidade completamente sem palavras quando puserem os olhos em tamanha beleza.
— Nem é para tanto, mamãe. A Amara também é uma mulher linda, bem mais bonita do que...
— Não ouse terminar essa frase, Lilly Winckler. Ela pode até ser bonita, isso eu não nego. Mas você é única minha filha, ou já se esqueceu dos concursos de beleza que você e a Amara disputaram em Milão e você ganhou dela todas as vezes?
— A senhora não precisa ficar lembrando disso todas as vezes, mamãe, eu ser bonita não significa nada. O que realmente importa além de um rostinho bonito, é saber usar a cabeça na área que eu escolhi seguir.
— Um desperdiço, isso sim. Sabe quantas revistas e marcas mundialmente conhecidas me telefonaram nesses últimos anos querendo que você modelasse para eles? Foram inúmeras.
— Eu sei, todas as vezes em que nos encontramos a senhora faz questão de me lembrar. Mas eu já disse, eu não iria renunciar aos meus sonhos para viver o seu sonho de ser modelo.
— Eu sei, eu sei meu amor. Mas você sabe bem que é um grande desperdício para o mercado da moda.
— É claro... — O caminho até a mansão foi cheio de Jane Winckler falando como era um desperdício a sua única filha não ter optado em seguir a carreira de modelo, ou dizendo o quanto os vestidos para o baile deste ano estavam mais impecáveis do que nunca. Se ela ao menos imaginasse que eu não tenho o mínimo interesse em estar presente esta noite, ela infartaria.
— Vejam só se não é a minha filha favorita! — A calorosa voz de Harry Winckler invadiu os meus ouvidos quase como as tortas que Núbia, nossa chefe de cozinha, preparava para mim quando era criança.
— Papai, eu sou sua única filha! É claro que sou a preferida. — Joguei uma mecha de cabelo para trás e ele me surpreendeu ao me abraçar e me erguer do chão.
— É incrível que todas as vezes em que olho para você, você está ainda mais linda. Estava com muitas saudades minha bonequinha.
— Mas à culpa é inteiramente de vocês que não foram me visitar. — Os empregados da casa já haviam subido para o meu quarto, levando as minhas malas para tal.
— Não seja tão dura com os seus pais. Nós gostaríamos de ter ido, mas com todos os preparativos para o baile de outono e com alguns imprevistos dentro do congresso do seu tio, tivemos que ficar e ajustar tudo para que a ordem permanecesse aqui em Ravenbourg.
— Tudo bem, eu sei que depois que o vovô foi assassinado as coisas não ficaram fáceis no congresso e muito menos para o meu tio. Aliás, onde ele está agora?
— Sinto muito, mas só verá seu tio á noite. Ele e os outros membros do congresso e os organizadores estão no pátio onde o baile acontece para que os últimos detalhes estejam prontos para daqui algumas horas. Deve ficar ainda mais linda essa noite, toda à cidade estará presente no baile e com certeza estarão com todos os olhos voltados para nós. Tenho certeza de que sua mãe lhe disse sobre o vestido que ela pediu que Darlene fizesse para você.
— Passou o caminho inteiro falando sobre esse vestido. — Ele riu enquanto segurava minhas mãos ao pé da grande escadaria que leva para os quartos.
— Pois então, vou deixá-la descansar. As criadas irão ajudá-la quando o horário do baile estiver próximo. — Forcei um sorriso. Enquanto subia os degraus, ao chegar no topo, em frente às janelas de cristal, pequenos fleches das minhas memórias aqui pareciam estar sendo desbloqueadas.
— Vem Ly, se você demorar assim eles irão embora quando chegarmos lá!
— Eu estou indo! Não sou tão rápida como você! — Meu fôlego falhava enquanto eu me forçava a correr para acompanhar os seus passos longos e ágeis.
— Você vai adorar, mas precisamos ir mais rápido. — Revirei os olhos e finalmente chegamos ao topo das escadas, ficando de frente para a grande janela com vista para o pequeno lago. — Olha eles ali, eu não te disse que eles estavam aqui!
Meus olhos brilharam ao observar os cisnes negros pousados nas águas tranquilas do lago, onde provavelmente iriam passar o verão antes de voltarem para onde realmente era o seu habitat natural.
— Tá vendo aqueles dois ali no canto? — Olhei na direção que ele apontava. Dois cisnes, – um casal, - separados do resto do bando. Mas eles eram diferentes, um preto e um branco. — Para mim, você é igual aquele cisne branco. É por você que eu ainda sei que vale à pena lutar.
Balancei minha cabeça para espantar aquelas memórias, desviando o olhar daquela janela. Aquelas lembranças estão mortas. Ele está morto. Preciso enterrar isso de vez, colocar ele dentro de um livro e esquecê-lo em uma prateleira alta suficiente para que eu não alcançasse. Longe suficiente para não esbarrar com esse livro novamente.
— A senhorita está tão linda! Essa cor realçou ainda mais a sua beleza. — O tecido elegante do vestido bordado à mão com fios de ouro, realçavam ainda mais o tom intenso de azul quase cintilante. Eu preciso admitir, dessa vez a minha mãe tinha razão, esse vestido está esplêndido.
— Obrigada Ginna. Pode pegar aquele par de brincos que deixei separado na penteadeira? — A empregada seguiu até o local que eu havia indicado enquanto a segunda das mulheres que fora enviada para me auxiliar enquanto me arrumo, mexeu delicadamente em meus cabelos. Minhas ondas rebeldes totalmente domadas e presas em um coque baixo elegante, apenas duas mechas do meu cabelo estavam soltas à frente do meu rosto. Assim que coloquei os brincos e uma das mulheres retocou algo em minha maquiagem, calcei os meus sapatos.
Quando finalmente pude ficar sozinha, me permiti observar para o meu próprio reflexo naquele espelho enorme que era quase do mesmo tamanho da parede. Eu estou deslumbrante. Um longo suspiro escapou dentre os meus lábios, lembro-me perfeitamente que adorava os bailes de outono, poder me encher das tortas de morango com frutas vermelhas da Núbia, ver os casais se esconderem entre os pontos cegos apenas para ficarem abraçados e trocando pequenos beijos – Igual eu e ele fazíamos.
— Vamos lá, Lilly, você não pode ficar pensando nas sombras do seu passado. Já se passaram 10 anos e você seguiu a sua vida. Sem ele.
— Falando sozinha, querida? — Ouvir a voz mansa do meu tio sempre me fizeram soltar sorrisos de alegria, e não seria diferente agora.
Abri um imenso sorriso e girei sobre os saltos, ficando frente a frente com ele. Como eu imaginava e me lembrava perfeitamente, seu típico terno azul escuro, quase preto, perfeitamente alinhado em seu corpo esguio.
— Tio Julian, eu pensei que fosse me recepcionar quando cheguei. — Ele sorriu e me apertou entre os seus braços.
— Me perdoe, bonequinha. Eu tive um imprevisto enorme e não pude estar aqui para te recepcionar. Pode me perdoar? — Fingi pensar em uma resposta e ele cutucou meu quadril com a ponta do dedo, como sempre fez quando eu era criança. Deixei um pequeno sorriso escapar.
— Está bem, eu perdoo você. Mas só se me der aquele livro que eu sempre quis da biblioteca do vovô.
— O diário velho cheio de rabiscos sem sentido? — Assenti. —Tudo bem, bonequinha. Quando for me visitar pode me cobrar. Ele já é seu.
— Sério mesmo? O senhor realmente vai me dar ele?
— É claro que sim. Você sempre gostou dele e eu não o uso mesmo, não vejo problemas em dá-lo para a minha sobrinha favorita. — Abracei ele novamente e uma risada suave soou de sua garganta.
— Já disse que amo o senhor?
— Hoje não... — Disse em tom de brincadeira.
— Eu amo o senhor tio Julian.
— Também amo você, bonequinha. Agora eu acho melhor que nós dois saímos logo desse quarto antes que a sua mãe venha aqui e nos arraste escada abaixo.
— Tem toda a razão. Vamos.
— Aliás, você está deslumbrante!
— Obrigada, minha mãe e a Darlene acertaram precisamente no vestido. — Dei uma voltinha e meu tio assobiou.
— Está encantadora! Uma verdadeira princesa. — Segurei em seu braço enquanto descíamos as escadas até a sala de estar.
— Deus! Como você ficou deslumbrante meu amor! Eu lhe disse que o vestido havia ficado impecável! Darlene nunca caprichou tanto como desta vez.
— Lembro perfeitamente do seu último baile de outono, você estava com um vestido de cetim amarelo com um laço enorme. Estava uma princesinha! — Meu pai segurou minhas mãos e me girou, para poder avaliar a peça em meu corpo. — Olhe para você agora, ainda mais linda que da última vez. Uma rainha.
— Ah papai...
— Bem, é melhor nós irmos. Não quero chegar atrasado. — Seguimos em direção ao carro. Novamente aquele frio na barriga me atingindo, eu sei que faz anos, mas esse baile é realmente o último lugar que eu gostaria de estar. Sendo bem sincera, Ravenbourg é o último lugar que eu realmente gostaria de voltar. Meus pais deveriam ter ido morar comigo na Itália, assim nunca mais teríamos que voltar nesta cidade.
—Tudo bem filha? Você parece nervosa. — A suave voz de Jane invadiu meus ouvidos me tirando de um transe.
— Estou, é só nervosismo de estar de volta.
— Ah querida, não se preocupe. Você vai continuar amando o baile, e esse ano temos uma novidade que tenho certeza de que você vai adorar!
— Novidade? Que tipo de novidade? — Um sorriso radiante estava estampado no rosto da minha mãe. E definitivamente isso é um péssimo sinal para mim.
Alguns poucos minutos depois, Alfred parou o carro e toda a tensão que eu passei a breve viagem tentando espantar, me atingiu ainda mais forte.
Um lago; um lago com águas calmas e com belos cisnes nadando em sua superfície.
— Por todos os seres divinos, essa é quem estou pensando que é? — A voz nada sutil de Clarisse, uma amiga de infância da minha mãe, me assustou. Eu sequer havia decido do carro ainda, não é possível que ela tenha me visto com toda essa rapidez.
— Clarisse! Se você está falando dessa beleza, está mais do que certa. —As duas sorriram e eu finalmente desci do carro. Meus saltos fixos no chão.
— Ah Deus, Lilly, como você está magnifica! — Abracei Clarisse sutilmente dando um beijinho de bochecha em cada lado do seu rosto.
— Você está divina Clarisse! Como estão os seus filhos?
— Ótimos minha linda. Milenna está iniciando a faculdade e o Louis se casou no início desse ano. Eu juro que tentei convencê-lo a esperar por você, mas sabe como os homens são cabeça dura quando colocam algo na cabeça.
Um sorriso escapou entre os meus lábios. Sempre achei engraçado a maneira nada sutil que Clarisse tentava a todo custo fazer com que o seu filho gostasse de mim. Não que o Louis fosse feio, mas desde que éramos adolescentes ele sempre deixou claro que era apaixonado pela Giselle.
— Fico muito feliz que ele tenha se casado. Por favor, me diga que a felizarda foi a Giselle Thompson e eu ficarei aliviada mil vezes mais. — Levei as mãos ao peito de uma forma dramática.
— Pois então pode tirar essa aflição do peito minha joia, ela foi a escolhida do meu Louis. — Não pude evitar sorrir. Louis foi um grande amigo em alguns momentos que eu precisei do apoio de alguém, - quando ele me deixou, - e eu pude ver de perto todo o seu amor por aquela mulher. Bom, ao menos alguém teve a chance de poder viver o seu conto de fadas com um final feliz.
O tempo parecia se recusar a passar, minha mãe e sua amiga engataram uma conversa sobre algo que eu não me dei o gosto de realmente dar importância. Minha atenção estava perambulando entre crianças correndo alegres pelo extenso pátio da praça central Marktplatz, alguns casais conversando e soltando risadas descontraídas, mas meu foco principal era encontrar aqueles fios loiros para ficar o mais longe possível deles.
Conforme a praça ia enchendo de pessoas, logo os membros do congresso de Ravenbourg estavam no palco central para cumprimentar aos moradores que sempre aguardavam ansiosamente por este dia do ano, - principalmente os mais pobres e os rebeldes que podiam comer e beber a noite toda sem se preocuparem se iriam ter que pagar uma conta ou se seriam acusados de alguma coisa.
Meus olhos se fixaram em alguém específico, aqueles fios platinados eram inconfundíveis. Seu típico terno preto com aquela gravata verde esmeralda e seus inconfundíveis olhos azuis como um céu em uma manhã de verão. Dalton Molaschi exibia o seu sorriso mais ardiloso em meio aqueles homens, - incluindo o meu tio.
— Lilly, ei, o seu pai está te procurando. — A voz de minha mãe sussurrando em meu ouvido me tirou daquele transe em que olhar para Dalton havia me levado.
Pense em um lago com águas calmas e belos cisnes nadando em sua superfície.
— Aconteceu alguma coisa? Por que ele está me procurando?
— Lembra-se da novidade que eu te contei? É sobre ela que o seu pai está a sua procura. Ele está te esperando perto da saída da das tendas.
Pedindo com licença as pessoas que dividiam a messa conosco, me levantei e segui para a direção que me havia sido informada. Logo encontrei o meu pai, parado e aguardando a minha aproximação.
— Céus, que bom que você chegou! Achei que teria que abrir o baile com os esfregões.
E então tudo fez sentido dentro de minha cabeça. É tradição que as quatro famílias mais influentes abrissem o baile de outono. Por muitos anos eu sempre desejei que esse dia chegasse logo. Lembro-me perfeitamente do meu último baile, o que Amara abriu com seu pai quando havia recém completado os seus 17 anos. Eu praticamente sonhei acordada por 16 anos para que esse momento chegasse, mas agora, dez anos depois, eu devo dizer que eu preferia me esconder com os rebeldes em seus trapos a ter que dançar essa valsa.
Eu não sei se serei capaz de fazer isso, não com ele.
Meus olhos vagaram pelas pessoas que abririam o baile conosco, a sua procura, mas sem obter êxito. Será que ele se mudou de Ravenbourg? Deveria ter perguntado a mamãe quando tive a chance.
Harry Winckler estendeu sua mão em minha direção e eu respirei tão forte que por um momento pude jurar que roubaria todo o oxigênio daquele lugar. Segurei em sua palma, com meus dedos todos trêmulos.
Pense em um lago com águas tranquilas e com belos cisnes nadando em sua superfície.
— Fique tranquila, bonequinha. Você é uma excelente dançarina, e sem contar que você conhece essa dança de trás para frente desde que era criança. É só fazer igual nós fazíamos quando era criança, certo?
Assenti. A verdade é que eu não estava preocupada com a coreografia ou com a dança em si, justamente por eu saber cada detalhe daquela dança que eu me senti sufocada. Mesmo que eu não o tenha visto, pela tradição que seguimos, desde o momento em que o filho mais velho da família completa seus 17 anos, passa a conduzir a abertura do baile com outro membro mais velho da família.
O último baile que eu estive presente, foi também o último que o meu avô participou. Foi a sua última dança com a minha mãe. E agora, como eu retornei para casa depois de tanto tempo longe, essa responsabilidade passa a ser minha e do meu pai. O que significa que ele estará aqui com sua mãe. A menos que ele já não more mais aqui. E eu estou torcendo pela segunda opção.
As primeiras notas dos violinos e do piano ecoaram pelo lugar e aos poucos as pessoas começaram a dar espaço ao redor da fonte. Onde dançaríamos.
Segurei delicadamente sobre o ombro do meu pai e nossas mãos se posicionaram para que finalmente o baile pudesse ser iniciado.
Ao som clássico da melodia de Waltz No. 2 de Dmitri Shostakovich, lentamente os quatro casais deram início a dança. Os movimentos gentis e leves do meu pai me traziam certo conforto ao girarmos juntos ao redor da fonte. As pessoas que nos assistiam pareciam hipnotizadas ao focarem suas visões em mim, quase que, como se eu estivesse levantado do caixão no meio do meu próprio velório.
No primeiro ato da música, com um giro suave, trocamos de parceiro. As mãos gentis do senhor Beckett pousaram em mim me guiando ao som dos instrumentos e daquela melodia que eu tanto fui apaixonada por quase uma vida inteira. Com um movimento educado, as mãos do senhor Beckett seguraram mais fortemente em minha cintura, me erguendo do chão e girando vagarosamente pelo nosso espaço.
Mais um giro e agora os dedos cumpridos e pretensiosos de Nycolas Volkova me puxaram para si. Seu típico sorriso sarcástico estava discreto em seus lábios quando segurou em minha coxa para que eu tombasse levemente para trás. Seus dedos seguraram forte em minha pele por cima do tecido fino do vestido. Senti a sua palma deslizar suavemente pelas minhas costas e balançamos suavemente ao redor um do outro. Com um pequeno balanço, Nyck me girou ao redor de si e jogou-me contra seu quadril, pouco antes de me erguer do chão outra vez e sorrir sugestivo quando me mandou um beijinho no ar e fez uma breve reverencia ao me girar contra si e passar para a última pessoa no momento exato em que a música teve o seu maior ponto.
O toque firme daqueles dedos longos e gélidos, percorreram pelo meu braço. Suas mãos a passear gentilmente, mas sempre firmes, pela minha pele desnuda me causavam calafrios apenas de pensar que Dalton estava no meu espaço pessoal. Com total firmeza, seus dedos apertaram meu quadril quando me ergueu. As pessoas pareciam estar totalmente enfeitiçadas ao encarar descaradamente a mim e ao meu par.
Quando fui novamente colocada sob chão, levei minha mão para o ombro dele, sentindo a firmeza de sua palma em minha cintura e o frio de seus dedos sobre os meus. Encostei a minha cabeça em seu peito como a coreografia ditava, mas seus batimentos cardíacos pareciam completamente desregulados. Da última vez que estive perto de Dalton, me lembrava que ele era alto, mas não que tinha mais que 1,85. Ao som aumentar brevemente, ergui minha cabeça para que o último ato da dança pudesse ser concluído e senti minhas pernas bambearem ao encontra aqueles olhos azuis cinzentos no lugar de um par de olhos azuis cor de céu de verão.
Seus cabelos loiros quase brancos estavam impecáveis como da última vez que me lembro ter visto ele. Antes de eu ir para Itália. Seus lábios vermelhos entreabertos me deixavam perceber o descontrole de sua respiração. Ele está bem aqui. Bem na minha frente e ainda por cima dançando com o corpo totalmente colado ao meu.
Desviei meu olhar para nossas mãos e pude notar algumas tatuagens que se perdiam entre as mangas de seu paletó preto. Ergui minhas mãos para segurar em seus ombros largos e altos demais para mim, quanto de altura ele tem? 2 metros por acaso? Molaschi segurou minha cintura e com um pequeno impulso me levantou enquanto girava mais uma vez. Mas o que me assustava – além de que ele me levantava tão facilmente, quase como se estivesse levantando uma pena, - eram os seus olhos não desviarem do meu rosto por um único segundo sequer.
Nossos braços cruzaram entre si e meus olhos foram obrigados a fixarem nos dele. Aqueles olhos cor de tempestade que eu evitei por tanto tempo, agora estão bem na minha frente me encarando como o diabo encara a cruz. Giramos mais uma vez e sua mão deslizou em minhas costas esticando nossos braços para cima. Apertei o seu bíceps; prendi minha perna contra a sua panturrilha e joguei o meu rosto para o lado contrário dele, fechando os olhos ao sentir seus lábios roçando a pele do meu pescoço. Seu hálito quente me fez perder parte dos meus sentidos por alguns momentos. Foi apenas quando a multidão que nos observava começou a gritar euforicamente e aplaudirem, que sai daquele transe. Me afastei dele o mais rápido que pude e o reverenciei, assim como ele também fez comigo.
Seus olhos me fitavam tão intensamente que eu me senti tonta. Eu preciso sair daqui o mais rápido possível.
— É muito bom ter você de volta, Ly. Seja bem-vinda novamente a Ravenbourg. — Era a primeira vez que eu ouvia a sua voz em anos. Estava diferente, ele estava totalmente diferente. Seus olhos azuis travessos estavam mais sombrios e sua voz mais rouca do que eu lembrava. Ele praticamente ronronou como um gato ao dirigir suas palavras para mim.
E de repente os meus sentidos voltaram e meus batimentos dispararam ainda mais.
Scorpius Molaschi estava no mesmo lugar que eu; Falando comigo como se fossemos velhos amigos de infância; Me encarando como um leão encara a sua presa; Dançando comigo; Me tratando como se nunca tivesse me destruído.
Me virei rapidamente, ignorando os chamados do meu pai e corri até o que aqueles saltos me permitiam. O mundo parecia encolher a cada segundo que passava e tudo o que eu quero é conseguir respirar normalmente outra vez.
Finalmente o primeiro capítulo está publicado!
Sejam todos muito bem vindos a esse novo mundo. Foram meses de criação e pesquisas para conseguir desenvolver bem essa história e eu espero que vocês se apaixonem tanto pelos personagens quanto eu me apaixonei ao lhes dar vida e suas personalidades.
Por favor, se puderem comentar, curtir e compartilhar essa história com outros leitores, me ajudaria muito no engajamento e na visibilidade.
Bom, muito obrigada por lerem e espero imensamente que gostem da nova história.
*Não revisado
Beijos de luz,
Kalisa.
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