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43: Seu Damiano

Vamos sofrer um pouquinho?

"E, quando você olhar por muito tempo para um abismo, o abismo olhará de volta para você."

Friedrich Nietzsche

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• ALEXA LEBLANC •

O regresso à casa é turbulento. Não pela legião de paparazzi que nos seguiram por metade do caminho, nem pelas buzinas e sons aleatórios da rua, e sim, pelo que se passava na minha cabeça durante toda a viagem. Ou melhor, pelo que me atormentava.
A calçada iluminada e com um fluxo incessante de pessoas era o meu único refúgio, onde eu mantive os olhos cravados por todo caminho, e só desviei o olhar quando começamos a adentrar a pequena vila onde a nossa casa está localizada, deixando a cidade para trás.

Sou a última a chegar a casa. Pedi que o motorista me levasse a um hotel, mas ele respondeu dizendo que tinha ordens expressas do Senhor Maurice para que eu voltasse para a mansão. Vejo os carros parados de qualquer jeito na entrada da propriedade, mais carros do que o normal. Não reconheço nenhum, mas imagino que o restante da família esteja aqui. Então respiro fundo quando o motorista desce do carro para abrir a minha porta, e assim que coloco o pé para fora, uma rajada de vento gelado me invade, me fazendo estremecer e abraçar o meu próprio corpo.

Me sinto ridícula ainda vestida dessa maneira. Arranco as luvas de qualquer jeito e as atiro ao chão, e a máscara, que ainda pesa no meu rosto, é tratada do mesmo modo e espezinhada quando começo a caminhar em direção à porta de entrada.

Mesmo na parte de fora, consigo ouvir as vozes alteradas dentro de casa, e eu sei que não é pouco o que me espera.

Tento não pensar em tudo o que aconteceu nessa noite, mas é quase impossível quando meio mundo está falando sobre isso, e quando tudo em que eu acreditava se transformou em cinzas.

Eu fui usada da pior forma que um ser humano pode ser. Ele sugou, tirou e arrancou de mim até que eu não mais existisse...isso é assassinato. Ele me matou. Eu lhe dei o que restava da minha pureza, e até isso ele roubou.

O ar da noite parece mais frio do que nunca, ou talvez seja eu que não consigo mais sentir calor algum. Cada passo em direção à porta da mansão pesa como se correntes invisíveis estivessem presas aos meus tornozelos. O silêncio externo contrasta com as vozes altas e iradas que escapam pelas paredes da casa, aumentando conforme me aproximo.

O chão gelado da calçada penetra pelos meus sapatos, mas não me importo. Eu já estou entorpecida. As minhas mãos tremem ao ponto de mal conseguir abrir a porta principal. Quando finalmente empurro, sou recebida pelo completo breu.

Dou alguns passos em direção à única fonte de luz, mas não chego tão perto a ponto de ser notada. Apenas homens estão presentes no cômodo, conversando com papéis espalhados aqui e acolá. Maurice, Tio German e outros homens que não reconheço conversam sobre falsificações, as acusações do Damiano, entrando em detalhes que ele não citou no discurso, mas que, por mais que estivesse surpresa e cética com toda essa situação, só me mostram ainda mais que é algo com uma proporção gigantesca.

— Isso é um ataque pessoal, não há dúvidas — Maurice diz, a sua voz carregada de irritação. Ele agarra um dos papéis na mesa e o sacode como se fosse um pedaço de lixo — Ele está tentando me destruir com essas acusações absurdas.

— Absurdas? Elas me pareceram muito credíveis, se me permite dizer. O indivíduo possui provas, Maurice — um homem alto e grisalho, com a expressão preocupada, se pronuncia em resposta.

O indivíduo possui provas. Se existem provas, existe um crime. Damiano passou vinte e seis anos remoendo a morte dos pais, que agora descubro ser um assassinato, onde ele quase morreu, e onde o acusado é o meu próprio pai. O meu pai. O homem que me deu a vida.

Como é possível digerir isso? E onde vou tirar forças para aguentar o que está por vir? Eu estive no meio do fogo cruzado durante todo esse tempo. Damiano sempre odiou o meu pai e eu nunca entendi o porquê, cheguei a pensar que era apenas uma questão normal de desentendimento em relação ao trabalho, nunca passou pela minha cabeça que era porque todo o império que o Maurice diz ter construído pertence verdadeiramente ao casal que aparentemente ele arrancou as vidas.

Como é possível isso descer pela minha garganta!? O meu pai, o meu pai, uma assassino?! O próprio mandante da emboscada contra o meu...não, não...ele já não é mais meu. Ou melhor, ele nunca foi meu. Nunca foi meu para perdê-lo, mas eu o perdi mesmo assim. E eu falei coisas que não são verdade. Eu não o odeio, eu nunca o odiei. Mas eu queria poder odiar, talvez essa dor que lacina o meu peito não fosse tão grande. Tola, achei que ele se importava. Ele nunca se importou, foi tudo uma mentira. E no fundo, bem no fundo, eu sempre soube como essa história terminaria, mas ainda assim, eu fui e dei uma chance. Então não foi ele que me magoou, foram as minhas próprias expectativas.

— Pode me dizer o que isso significa, John? — Maurice cava a mão na cintura e direciona um olhar ríspido ao homem, como se não soubesse exatamente o que as suas palavra significam.

O homem não responde, provavelmente para não colocar mais lenha na fogueira, mas outra pessoa é mais corajosa que isso. Gostaria que fosse eu, mas é o meu tio que toma a frente. Eu continuo escondida nas sombras.

— Você sabe o que isso significa, Maurice. Contra provas concretas, não há argumentos — German diz, os olhos incisivos tão iguais, mas ao mesmo tempo tão diferentes dos olhos do Lou — Você é o meu irmão mais velho e eu não queria ter que perguntar isso, mas...é verdade?

Eu vejo Maurice, meu pai, o homem que deveria ser a minha fortaleza, a minha segurança, tornar-se algo que eu não reconheço. Ou talvez ele sempre tenha sido assim, e eu só não quis enxergar. O ambiente está opressivo, o cheiro da madeira encerada parece invadir as minhas narinas e quase me sufocar. Cada respiração soa como uma luta, cada segundo se estende em uma eternidade.

Maurice se ergue, imponente, diante dos homens reunidos. Ele balança os papéis nas mãos como se fossem piadas mal contadas.

— Isso é uma afronta! — Ele grita, a voz reverberando pelas paredes como um trovão — Uma tentativa barata de destruir tudo o que eu construí com o meu suor e sacrifício!

— Sacrifício? — German murmura, mas alto o suficiente para que todos ouçam. Ele cruza os braços, o rosto sério — Você está se referindo ao sacrifício dos Russo?

O nome ressoa como um tiro. O nome da família de Damiano. Minha respiração trava. Maurice vira o rosto lentamente para German, os olhos estreitados, e a tensão entre os dois é quase palpável.

— Isso é uma acusação, German? — a voz dele baixa, quase um sussurro, mas é mais perigosa do que os seus gritos.

— É uma pergunta — German responde, firme — Porque, se essas provas forem verdadeiras, Maurice, você não sacrificou nada. Você matou.

O meu coração salta no peito. Eu espero uma negação. Uma explicação. Algo que diga que tudo isso é um engano, uma armação. Mas ele não diz nada. Ele simplesmente...olha.

— Responda! — grito, a minha voz soando mais forte do que eu esperava. Todos os olhares se voltam para mim, mas eu não ligo. As minhas pernas tremem, mas me mantenho de pé — Responda, pai! É verdade? Você matou os pais do Damiano? Você roubou tudo deles?

Os olhos do Maurice se fixam nos meus, frios e calculistas, como se avaliassem a melhor maneira de me destruir. Ele dá um passo na minha direção, e eu automaticamente recuo. O cheiro forte do seu perfume misturado ao aroma de uísque invade o ar entre nós.

— Você realmente tem coragem de me questionar? — Ele diz, o tom incrédulo, quase divertido, mas há uma fúria fervendo por trás das palavras — Você...a minha própria filha...conspirando com aquele desgraçado contra mim!

— Eu não fiz nada disso! — digo, a minha voz falhando no final. As minhas mãos estão geladas, e sinto o suor escorrer pela base do meu pescoço.

— Mentira! — Maurice avança, apontando o dedo para mim — Você é traiçoeira. Sempre defendendo os outros, nunca o seu sangue!

— Maurice, basta! — German tenta intervir novamente, mas o Maurice o silencia com um olhar cortante.

— Não se meta nisso, German. Você sempre foi um fraco! — Ele avança para o irmão, empurrando-o com força. German quase tropeça, mas se mantém firme.

— Você perdeu o controle, Maurice. Está agindo como um lunático — German tenta se manter calmo, mas a tensão no seu rosto é evidente.

— Lunático? Eu?! — Maurice grita, rindo de forma quase histérica — Não, o lunático é aquele bastardo que você defende! Você também está do lado dele, German? Todos estão contra mim agora?

Eu sinto o meu corpo endurecer quando ele volta o olhar para mim, os olhos agora cheios de ódio puro. Antes que eu consiga reagir, ele me agarra pelo braço.

— Você vai aprender a não me desafiar! — ele sentencia e o que acontece depois é tão rápido, que mal tenho tempo de processar ou me defender.

Ele puxa os meus cabelos e me arrasta para o centro da sala. A minha cabeça arde de dor, e um grito escapa da minha garganta.

— Maurice, solte-a agora! — A voz da minha mãe soa atrás de nós, seguida pelos passos apressados de Françoise, Louis e Manon.

— Saiam daqui! — Maurice grita, virando-se para eles — Ninguém vai me dizer o que fazer!

O estalo vem tão rápido que nem percebo até que o meu rosto queima. Eu cambaleio para trás, caindo no chão. O gosto metálico do sangue preenche minha boca, e as lágrimas queimam os meus olhos antes de cair.

— Papa...por favor...— Eu sussurro, mas ele não ouve. Os seus olhos são de um homem fora de si.

— Você é uma decepção! Sempre pronta para me desafiar e seguir as suas próprias ideias estúpidas! Agora vai entender quem manda aqui!

Ele me agarra pelos ombros e me sacode com força, como se eu fosse uma boneca de pano. As minhas pernas arrastam pelo chão de mármore, o frio penetrando a minha pele exposta.

— Maurice, para com isso! — German tenta avançar novamente, mas Maurice empurra o irmão com tanta força que ele tropeça para trás.

A minha mãe corre até mim, mas o marido a empurra para longe também.

— Todos vocês contra mim! Todos! — Ele grita, os olhos selvagens.

Sou presa nas suas mãos calejadas, dedos fincando a minha carne, enquanto ele me arrasta consigo escada acima. Mal sei como consigo subir sem cair, talvez pela forma com que ele me puxa, sem me deixar vacilar.

Eu grito quando ele me empurra contra a parede, a minha cabeça bate com força. Vejo estrelas e, por um momento, tudo parece ficar em silêncio.

— Você não vai sair deste quarto! — Ele rosna, arrastando-me até o meu quarto e atirando-me para dentro — Não até aprender a obedecer!

A porta se fecha com um estrondo, e o som da chave girando no trinco é um golpe final. Eu caio no chão, soluçando, enquanto o silêncio absoluto se instala. Do lado de fora, ouço os gritos abafados de Brigitte e German tentando apaziguá-lo, mas nada mais importa. O meu corpo dói, mas a minha alma dói ainda mais.

Ele não é meu pai. Não pode ser. Isso tudo só deve ser um pesadelo, o pior de todos.

O escuro pode ser o seu maior inimigo. O silêncio também.

Caída no chão, completamente quebrada por dentro e por fora, eu olho para o teto, mal sentindo o tempo passar. Já faz tanto tempo desde que essa noite começou, e ainda assim, as estrelas no céu ainda são a única luz em pleno breu.

É claro que a madrugada demoraria. Tudo para fazer o meu sofrimento se prolongar e fazer dos meus ossos nada mais do que patê. Tento me levantar, mas não consigo, a gravidade me prende ao chão frio como se fizesse parte do meu ser. O vestido já incomoda, apertado demais na região do busto e abdômen e provocando uma ardência pela fricção dos inúmeros movimentos bruscos desta noite. Ainda assim, eu não consigo me levantar.

O meu rosto arde pelo tapa recém levado, a minha cabeça lateja pelo choque contra a parede, sem falar do meu braço, que com certeza terá uma marca de dedos pela manhã.

Em quase vinte e três anos de existência, eu nunca soube o que é ser agredida. Fui repreendida, colocada de castigo, é claro. Mas nem a minha mãe, nem o meu...pai, tocaram em um fio de cabelo meu. Nunca.

E hoje, por achar que eu me envolvi com Damiano para ajudá-lo na sua vingança, eu paguei o preço. Um preço tão alto que nem todo o dinheiro que essa família possui seria o suficiente para pagar. Portanto, aqui estou, exaurida de tanto chorar, com os pensamentos em brasa no fundo da minha mente e sentindo como se o mundo tivesse caído sobre mim.

Fecho os olhos por um segundo, e é nesse momento que ouço uma batidinha fraca na porta, como se a pessoa tivesse medo de ser notada pelo resto da casa.

— Lexi — chama, muito próximo à porta, e noto ser o Lou.

Forço cada músculo do meu corpo a se levantar, gemendo de dor no processo, mas consigo me sentar e me apoiar na porta como se fosse um bote salva-vidas.

— Prima, você está aí? — ouço outra voz, dessa vez é a Manon que sussurra.

— Lou, Manon? — as palavras rasgam a minha garganta, roucas, e fazem-na doer, mas espero que eles tenham ouvido.

— Como você está? — eles murmuram em uníssono, preocupação incrustada nas suas vozes.

Eu não sei como responder a isso. Eu nem sei como me sinto. Está tudo embolado na minha cabeça, tão confuso, tão...inalcançável. Da minha sanidade já não resta nada, e da minha alma resta apenas escuridão.

— Eu não conspirei com o Damiano contra o meu pai, eu juro...— é o que sai da minha boca longos segundos após — Eu não sabia de nada, não sabia quem ele era. Eu não sabia o que ele queria. Eu só... — a minha voz se quebra, e um soluço escapa antes que eu consiga terminar. As palavras se tornam espinhos na garganta, difíceis de soltar, mas ainda assim, elas continuam saindo, como se precisassem ser ditas para que eu acreditasse nelas — Eu só o amava. Era só isso.

Do outro lado da porta, ouço o som abafado da Manon chorando. Lou murmura algo para ela, provavelmente tentando acalmá-la, mas a sua própria voz carrega o peso da angústia.

— Nós sabemos, Lexi — Lou responde, sua voz suave, mas firme — Ninguém aqui acredita no que o tio Maurice disse. Você não é isso que ele está tentando pintar.

Eu sinto as lágrimas escorrendo de novo. Tento segurá-las, mas é inútil.

— Mas ele acredita — sussurro, apertando os braços ao redor do meu próprio corpo, tentando encontrar algum conforto no gesto — Ele acredita tanto que me... — paro, minha voz tremendo ao lembrar da bofetada, do puxão, do olhar cheio de ódio.

Manon sussurra algo, e então ouço Lou pigarrear.

— Lexi, escuta. Vamos tirar você daí. Não agora, porque ele está lá embaixo, ainda fora de si, mas... nós vamos te tirar disso.

— Vocês não entendem — a frustração na minha voz é quase palpável — Não é só de um quarto que eu preciso sair, Lou. É dessa casa. Desse inferno. Dessa vida.

Há um silêncio do outro lado. Posso sentir a hesitação deles, o medo de dizerem algo errado.

— Nós vamos dar um jeito — Manon diz, finalmente. Sua voz soa decidida, mas há uma fragilidade escondida ali — Só...só resista. Você é forte, Lexi. Mais forte do que pensa.

Forte. A palavra paira no ar, como se estivesse zombando de mim. Como posso ser forte se mal consigo ficar de pé? Como posso ser forte se não tenho mais nada?

— Toma, o Lorenzo pediu que eu te entregasse isso — Manon diz enquanto desliza um pedaço de papel dobrado pelo chão, na fresta da porta — Eu não sei o que é, mas pareceu importante.

Penso em responder, dizer qualquer coisa, mas não vou a tempo. Passos duros interrompem a nossa conversa escondida, e quando uma terceira voz soa, eu estremeço.

— Vocês os dois, saiam daqui! — é ele, Maurice — Não quero ver ninguém a menos de dois metros dessa porta.

Eu pego o papel e me encosto na porta, fechando os olhos, deixo o silêncio tomar conta por um momento. Do lado de fora, ouço os passos deles se afastando, e me sinto ainda mais sozinha.

Quando a chave soa na fechadura, eu me afasto da madeira, o suficiente para que Maurice consiga abrí-la, entrar e voltar a fechá-la, brincando com a chave entre os seus dedos.

— Me dê os seus eletrônicos — ele demanda, como se estivesse arrancando o celular à uma criança de dez anos.

— O-o quê? — gaguejo, descrente.

— Celular, computador, iPad...— ele cita, me olhando como se eu fosse burra — Tudo que usa para comunicação, me dê.

— O q...não! — protesto, me arrastando pelo chão até chegar na beirada da minha cama, que uso para me impulsionar e ficar em pé — Você não pode fazer isso, eu não fiz nada de errado.

Ele suspira, um suspiro irritado e frustrado, e cruza os braços em cima do peito.

— Nem eu, mas três horas atrás o seu namorado me acusou de ter matado, roubado e falsificado — ele diz, realmente se isentando de toda culpa, e o pior é que eu ainda não consigo acreditar que ele é mesmo o culpado — O mundo é injusto, minha filha, pagamos por erros que nem sequer cometemos. Chegou a sua hora de pagar.

Minha mente retorna a Damiano. Damiano Russo. O nome que agora arde no meu coração como um ferro em brasa. Ele é a razão de tudo isso. Ele trouxe essa tempestade para a minha vida, destruiu tudo o que eu conhecia e me deixou à deriva no caos.

— Eu não sei...não sei onde está o meu celular — digo, por fim. Não adianta resistir, se agora ele tem poder sobre mim. Estou fraca demais para lutar nesse momento — Devo tê-lo deixado no carro.

— E o resto? — ergue uma sobrancelha inquisidora, olhando em volta e depois para mim. Meus joelhos tremem.

— Está tudo ali — aponto para a escrivaninha junto à janela.

Maurice caminha até a escrivaninha com passos firmes, como se cada um fosse uma sentença. Ele vasculha os objetos sobre a mesa, empurrando com desprezo os cadernos, livros e pequenos enfeites que um dia trouxeram um pouco de cor para o quarto agora cinza.

— Você facilitou para mim, Alexa. Agora sim obedece — ele comenta, a voz pingando sarcasmo enquanto pega o meu laptop e o iPad. Ele os empilha nos braços, como se fosse uma vitória, e se vira para me encarar novamente — Talvez você tenha aprendido algo comigo, afinal.

Sinto a garganta apertar, mas não digo nada. Qualquer palavra agora seria inútil. Ele se alimenta do meu silêncio, o transformando em combustível para a sua crueldade.

Ele caminha até a porta, mas antes de sair, ele para. Gira a cabeça em minha direção, e os seus olhos me prendem, gelados, calculistas. Nunca os vi assim antes.

Quem é esse homem?

— Vou te dar um conselho, filha — ele diz, a voz baixa, mas carregada de ameaça — Esqueça esse Damiano Russo. Esqueça o que você acha que sabe sobre ele, porque eu te garanto que você não sabe de nada.

Meu coração acelera, e eu sinto um calafrio percorrer a minha espinha.

— Eu...eu não sabia de nada do que ele planejava — digo, a minha voz falhando.

— Isso é o que você diz agora, e está tudo bem — Maurice rebate, abrindo a porta — Mas se continuar a insistir em se envolver com esse homem, Alexa, pode apostar que o próximo a pagar será ele.

Quando ele sai, deixando a porta trancada novamente, o silêncio toma conta do quarto, mas ele não traz paz. É um silêncio sufocante, pesado, que me consome enquanto caio de joelhos no chão, encarando o vazio.

Damiano. Só de pensar no nele, sinto uma mistura de raiva, dor e...saudade. Ele é a razão de tudo isso, mas também é a única pessoa em quem eu consigo pensar agora. O que ele deve estar a fazer? Ele está bem?

Os meus dedos apertam o pedaço de papel que Manon deslizou para mim antes de ser afastada. Eu o abro com pressa, o coração batendo descompassado enquanto olho as palavras rabiscadas. Imediatamente reconheço a letra dele. É o mesmo bilhete que encontrei no seu escritório no outro dia, no dia em que Bryan invadiu o apartamento e quase me levou consigo. Não foi escrito pelo Lorenzo, foi o Damiano que o enviou...

Naquele dia, eu já sentia que havia algo muito errado, por isso tentei investigar por mim mesma. Não terminei de ler a mensagem, então me preparo para voltar a ler agora.

"Alexa,
Se você está lendo isso, significa que não consegui te contar a verdade a tempo. A minha vida tem sido construída sobre vingança e escuridão, mas você trouxe luz a tudo isso. Ainda assim, há coisas que você não sabe, coisas que eu deveria ter contado desde o começo, mas não consegui, não pude. Não porque eu quisesse te enganar, mas porque te perder era a única coisa que eu temia mais do que o meu próprio ódio.

Eu sei que você me odeia agora. E você tem razão. Eu menti, manipulei, usei você. Não vou tentar negar isso. Nunca fui um homem bom, e, para ser sincero, nunca quis ser. Não até você.

Eu planejei tudo. Desde o momento em que entrei na sua vida, eu sabia exatamente onde queria chegar. O seu pai destruiu a minha família, e eu esperei anos por essa chance. Você foi o erro nos meus cálculos, a variável que eu não previ.

Você me enfurece, me desafia, me descontrola. Mas também me faz querer coisas que nunca achei que pudesse querer. Você se tornou a minha obsessão, Alexa, e eu nem ao menos lamento isso. Eu faria tudo de novo, mesmo sabendo o quanto isso te machucaria..."

Paro de ler, o coração martelando no peito. É tão típico dele, dizer que sente muito enquanto admite que faria tudo outra vez. As minhas mãos apertam o papel com força, mas eu não consigo parar. Preciso terminar. Viro o bilhete, começando a ler o verso.

"Não sou o herói da sua história. Talvez eu nunca possa ser. Mas também não sou o monstro que o seu pai pinta. Eu sou seu, Alexa. Sempre fui, mesmo antes de perceber isso. E você também é minha. Não importa o que diga ou faça, você é minha, e eu nunca vou deixar você escapar."

A minha respiração para por um instante. Cada palavra é como uma faca, cortando fundo, mas, ao mesmo tempo, há algo nelas que quase me quebra. Aquele tom arrogante e possessivo, o mesmo que me fez odiá-lo no início, agora vem carregado de uma dor crua, tão humana que é quase impossível ignorar.

"Se quiser me odiar, odeie. Se quiser fugir, corra. Mas saiba disso: eu correrei atrás. Porque eu não sei mais como viver sem você.

Seu Damiano."

O papel escorrega das minhas mãos, caindo ao chão, mas o impacto é maior dentro de mim. Cada palavra que ele escreveu parece ecoar nos meus pensamentos, abalando a muralha que construí entre o que sinto e o que sei que é certo.

Damiano Russo. Meu algoz. Meu salvador.

A raiva e o amor travam uma batalha dentro de mim, e eu não sei quem está vencendo. Só sei que, mesmo com todo o ódio que ele despertou em mim, há uma parte minha que ainda o deseja. Que ainda é dele.

Permaneço de joelhos no chão, encarando o papel como se ele fosse uma arma carregada, porque, de certa forma, ele é. Damiano sempre soube como me desmontar. E, mesmo de longe, ele está fazendo isso agora.

E, mesmo assim, eu não consigo odiá-lo. Não totalmente. Não como deveria.

Eu me arrasto até o tapete no centro do quarto e me deito nele, olhando para as sombras que dançam pelo quarto. O silêncio agora é o meu único companheiro, mas ele é tão cruel quanto qualquer palavra.

O escuro pode ser o meu maior inimigo. O silêncio também. Mas, no fim, o pior de tudo é o que sinto dentro de mim: o vazio.

A luz do sol atravessa as frestas da janela e das cortinas, invadindo o meu quarto como um intruso indesejado. A minha cabeça lateja, e os meus olhos ardem ao abrir com relutância. Tentei ignorar a claridade, mas o calor crescente e a intensidade insistente me arrancam do sono inquieto.

A minha boca está seca, o gosto salgado de lágrimas ainda preso na língua. Estou no chão, com o vestido da noite passada grudado no corpo, o tecido agora áspero e desconfortável. Os meus cabelos despenteados e a minha maquiagem borrada me fazem sentir como um fantasma, um reflexo cruel de quem fui apenas algumas horas atrás.

A minha mão está cerrada ao redor do papel. Mesmo adormecida, não o larguei. Damiano. Ele é um veneno que escorre pelos meus pensamentos, misturando lembranças da sua crueldade com os momentos em que ele parecia humano, quase meu.

Lembro-me dos seus olhos cristalizados fixos nos meus, do tom áspero, mas carregado de emoção, enquanto dizia que eu era dele. As palavras no bilhete ecoam na minha cabeça: "Você é minha." Ele me destruiu, mas de alguma forma, ainda sinto a sua falta. É uma saudade dolorosa, vergonhosa.

Com esforço, empurro o meu corpo para cima, os músculos protestando após horas no chão. A minha mente está confusa, como se cada pensamento estivesse envolto em neblina. Quando finalmente me coloco de pé, a dormência na alma é pior do que qualquer dor física.

Me arrasto até o banheiro, os passos pesados, arrastados. A maçaneta fria contra a minha palma me faz estremecer. Antes de entrar, ouço o som inconfundível da porta do quarto sendo destrancada. O meu coração dispara, e eu congelo, agarrando-me ao meu próprio vestido como se fosse um escudo.

— Alexa? — é a voz da minha mãe.

Minha tensão diminui, mas só um pouco. Quando a vejo entrar, um misto de alívio e desconfiança toma conta de mim. Brigitte parece deslocada, como se estivesse em território proibido.

— Dauphin, je suis désolée, ma petite — ela diz suavemente, fechando a porta atrás de si. Os seus olhos percorrem meu rosto, captando os vestígios do que Maurice fez.

"Golfinho." Faz tanto tempo que não ouço esse apelido. Quase dói ouvir agora.

— Maman...— a minha voz é um sussurro quebrado.

Ela se aproxima, hesitante, como se pisasse em cacos de vidro.

— Quando você estava no meu ventre, eu costumava cantar para você em francês. Eu sempre achei que você reagia. Parecia que você adorava...

Suas palavras, tão suaves, me tocam de uma maneira que me assusta. Ela se senta ao meu lado, colocando uma mão sobre a minha.

— Eu preciso ir — diz ela, os olhos marejados — Maurice não sabe que estou aqui. Peguei a chave escondida, mas ele notará se eu demorar.

— Por favor, fique — seguro a sua mão com força — Não me deixe sozinha, maman.

Ela balança a cabeça, as lágrimas caindo silenciosamente.

— Dauphin, eu prometo que vou voltar.

Assim que ela sai, o vazio no quarto parece ainda maior. Decido tomar um banho. Meus movimentos são mecânicos, cada passo parece me exigir um esforço sobre-humano. A água quente escorre pelo meu corpo, lavando os vestígios da noite passada, mas não consegue limpar as marcas invisíveis.

De volta ao quarto, visto as primeiras roupas que encontro, indiferente ao que escolho. Sentada na beira da cama, tento imaginar o que está acontecendo lá fora. Como as pessoas reagiram às acusações de Damiano? Ele está bem? A dúvida é um tormento constante.

Algum tempo depois, ouço o som tímido da chave na fechadura novamente.

A porta range ao abrir, e o meu coração dispara. Ainda sentada no chão, olho para o intruso com uma mistura de cansaço e temor. Mas não é o Maurice. É a minha mãe de novo. Ela fecha a porta com cuidado e me observa com um olhar preocupado.

— O seu pai mandou que eu viesse buscá-la para o almoço — diz ela, a voz baixa e trêmula.

Meu corpo reage antes de minha mente. Cruzo os braços, defensiva.

— Prefiro ficar aqui.

— Alexa, ele não vai aceitar isso. É melhor você descer e evitar outra cena — Brigitte suspira, aproximando-se.

— Outra cena? — pergunto, a minha voz carregada de ironia. Ergo o braço, mostrando as marcas que Maurice deixou — Não vou me sentar à mesa com ele, mamãe. E não importa o que você diga, não vou fingir que está tudo bem.

— Dauphin...— a sua voz quase quebra quando ela me chama pelo apelido. Ela se ajoelha ao meu lado, como fazia quando eu era criança e me escondia debaixo da mesa, com medo do escuro — Por favor, não torne isso mais difícil do que já é. Eu não quero que ele te machuque mais.

Sinto um nó se formar na garganta.

— E sentar à mesa com ele vai evitar isso? Porque, até onde sei, tudo o que faço agora o enfurece.

Brigitte hesita, como se lutasse para encontrar as palavras certas.

— Quero que você se proteja, Alexa. Se você descer, mostra que está disposta a ceder um pouco. Talvez isso o acalme.

— E depois? O que acontece quando ele quiser mais? — minha voz está baixa, mas cortante.

— Vamos lidar com isso depois. Por favor, apenas confie em mim agora — ela segura as minhas mãos, apertando-as com força.

O apelo na voz dela me desarma.

— Não é por ele. É por você — eu suspiro, relutante, e me levanto.

Quando chego à sala de jantar, sinto o impacto antes mesmo de entrar completamente. Lá está Maurice, sentado na cabeceira, e ao lado dele, Bryan Durant. O meu estômago revira.

— Bryan? — pergunto, a incredulidade clara na minha voz.

— Alexa, que bom que se juntou a nós — diz ele, levantando-se e puxando uma cadeira para mim com um sorriso presunçoso.

— Não sabia que receberíamos visitas — as minhas palavras saem como uma acusação, o meu olhar alternando entre Bryan e Maurice.

— Sente-se, Alexa — Maurice nem sequer reage.

Ignoro o gesto de Bryan e puxo a minha própria cadeira. Sento-me, mas o meu corpo está tenso, cada músculo pronto para fugir.

O almoço começa em um silêncio desconfortável. O Bryan, é claro, tenta quebrá-lo.

— Alexa, espero que você esteja bem. Sei que as últimas horas têm sido difíceis.

Solto uma risada curta e amarga.

— Difíceis? Isso é uma maneira gentil de colocar.

— Alexa — Maurice interrompe, a sua voz carregada de advertência.

Respiro fundo, tentando conter a minha raiva. Mas então, ele decide jogar a sua bomba.

— Tenho algumas coisas para esclarecer — começa ele, colocando os talheres de lado — Alexa, a partir de agora, você continuará trancada no quarto até que eu possa confiar que não fará ou dirá nada que prejudique esta família.

— O quê? — a minha cabeça gira em direção a ele, surpresa.

— Lá fora, há uma guerra de paparazzi e jornalistas tentando conseguir qualquer detalhe sobre esta...situação. Você é um risco que não posso permitir que escape do controle.

— Eu não sou uma prisioneira! — protesto, a minha voz subindo.

Mas ele ignora o meu protesto e continua.

— E para demonstrar que esta família permanece forte e unida, decidi que o casamento entre você e o Bryan será realizado em breve.

A minha mente parece congelar. Eu sabia que ele tinha essa intenção, mas ouvir a confirmação em voz alta me pega de surpresa.

— Você não pode estar falando sério — digo, a voz trêmula.

— É claro que estou — Ele me encara com frieza. — Você fará o que eu mandar. Estou cansado de ser o bom pai. A partir de agora, serei o pai que você precisa.

— Alexa, isso é para o bem de todos. Sei que parece difícil agora, mas com o tempo você entenderá — Bryan, como o oportunista que é, aproveita para reforçar a posição.

— Eu nunca me casarei com você, Bryan. Nunca! — a minha raiva atinge um ponto de ebulição.

Ele mantém o sorriso, mas os seus olhos denunciam uma pontada de irritação.

— Não diga isso, Alexa. Você só está nervosa.

Levanto-me, mas o Maurice bate na mesa com força, silenciando a todos.

— Já chega! Você vai fazer o que eu mandar.

Quero gritar, protestar, mas estou sem forças. Não adianta. Maurice faz um gesto para Brigitte.

— Leve-a de volta ao quarto.

A minha mãe hesita, mas obedece. Ao me levantar, Bryan sorri para mim, como se já tivesse vencido. Não olho para ele. Não consigo.

No corredor, seguro o braço da minha mãe.

— Por favor, não deixe ele me obrigar a fazer isso.

Ela me olha com tristeza, mas não responde. Apenas me guia de volta ao quarto, trancando a porta atrás de mim.

Mais uma vez, fico sozinha. Mais uma vez, sou apenas uma sombra da mulher que fui.

Meu Deuuuusss. Quê que tá acontecendo? Quê que tá acontecendo?

Gostou? Já deixa a estrelinha e não se esquece de dizer nos comentários o que achou. É muito importante para o engajamento e para mim!

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