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39: Time's over


Oiii! Espero que vocês estejam bem (eu não estou, mas vamos deixar baixo). Dêem like agora e comentem o que acharam, façam uma coisa por mim pela primeira vez na vida, pelo amor!

Essas vozes que vivem no meu ouvido
Para sempre sussurrando pensamentos que eu me arrependo de ouvir
Admito que estou com lavagem cerebral
E a mente fodida
Palavras destinadas a destruir
Apagando-me

Se lembra de quem eu era antes
Eu costumava ser tão pura
Tão protegida

Salvo, em 84 c/ Besomorph

• • •

• ALEXA LEBLANC •

A minha visão fica turva. Não consigo continuar a ler imediatamente. As palavras parecem pesar toneladas. O meu estômago se revira, mas não é só pela dor que já me incomodava antes. É algo mais profundo.

De repente, ouço o som de batidas na porta. O Damiano voltou mais cedo? Ele tem a chave, não precisaria bater. A minha mente entra em pânico. Fecho a pasta e coloco tudo de volta no lugar apressadamente, desligo o abajur e corro para a sala, tentando parecer tranquila. O meu coração bate como se fosse sair do peito.

— Já vou! — digo e tento controlar o tremor na voz.

Ajeito os fios de cabelo que caem no rosto e acalmo a respiração antes de abrir. O rosto que me recebe não é o de Damiano, o que me deixa mais tranquila, porém, não menos confusa.
Pelo contrário, o meu corpo treme ao ver quem se atreveu a me procurar e chegar até aqui.

— Bryan? O que faz aqui?! — percorro o olhar dele para os dois seguranças que o acompanham, como se fossem a sua sombra.

— Como assim "o que eu faço aqui"? Vim visitar a minha noiva — ele diz, com um sorriso grande, e dá um passo para entrar no apartamento.

— Eu não sou nada sua — digo antes de empurrar a porta para trancá-los fora, mas não sou mais rápida nem mais forte.

Um dos seus homens me impede e empurra de volta com uma força que me faz recuar e bater as costas na parede. A dor latejante na minha coluna se intensifica.

— Então é aqui onde você e aquele imbecil se escondem quando não fazem aparições públicas juntos? — ele entra a passos lentos, sendo seguido pelos homens de negro e óculos escuros.

O Bryan passa a mão pelos fios loiros e tensiona os músculos da mandíbula, em um sinal de quem não está minimamente feliz.

— Se é um apartamento medíocre no centro de Nova Iorque que você quer, eu posso comprar quantos quiser — ele continua, sem sequer me olhar, apenas vagueia pelo espaço e toca em coisas aleatórias pelo caminho.

Ainda confusa por tudo que vi e li no escritório de Damiano, eu demoro para me afastar da parede e formular uma frase coerente.

O Bryan para no meio da sala e segura uma moldura que estava na estante. É uma foto minha e do Damiano, tirada durante uma das gravações da campanha, num set de filmagem ao ar livre, um vale repleto de flores coloridas. Os meus braços estavam ao redor dele, e os nossos rostos muito próximos enquanto cochichávamos trivialidades. Ele observa a imagem por um longo momento, o sorriso zombeteiro desaparece e dá lugar a uma expressão perigosa.

— Você parece feliz aqui, Alexa. Feliz demais — comenta e atira a moldura no sofá como se fosse lixo. Ele finalmente olha para mim, os seus olhos frios queimam os meus — Mas isso vai acabar.

Os meus olhos se arregalam, o pânico começa a pulsar no meu peito.

— Bryan, você precisa sair daqui. Agora. O Lucca vai voltar a qualquer momento, e você não quer estar aqui quando isso acontecer.

Ele ri, mas é um som sem humor, seco.

— Ah, sim. O príncipe encantado que te roubou de mim. Ele não é nada, Alexa. Nada — ele se aproxima, a tensão no ar fica insuportável — Você acha que ele vai te proteger? Ele nem consegue proteger a si mesmo.

— O que você quer, Bryan? — pergunto, a minha voz trêmula, mas firme o suficiente para mostrar que não vou recuar.

Ele inclina a cabeça, como se estivesse a considerar a pergunta, e então sorri de forma quase encantadora, mas a ameaça no seu olhar é clara.

— Eu quero o que é meu — ele dá um passo à frente, e instintivamente recuo, as minhas costas contra a parede — Você.

— Eu não sou sua! Nunca fui! — grito, e tento afastá-lo, mas ele segura os meus pulsos com força, me prendendo contra a parede.

— Ah, mas você é. O seu pai prometeu. E eu não aceito ser enganado.

Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, eu me inclino instintivamente para a frente e mordo a sua mão, que aperta o meu pulso direito. O plano é fugir, me trancar no quarto pelo tempo que conseguir e ligar para Damiano, então quando o Bryan solta um grunhido pela dor da mordida e me deixa livre por um segundo, eu consigo escapar e correr com tudo o que posso.

— Vadia de merda! — ele rosna atrás de mim — Peguem ela!

Ouço as botas dos seus homens pisarem duramente o chão no meu encalço, mas sou mais rápida ao entrar no quarto e trancar a porta com o pequeno trinco metálico.

O meu coração está acelerado, e sinto as mãos tremerem enquanto seguro a maçaneta para garantir que a porta não será aberta com facilidade. Ouço os passos pesados cada vez mais próximos e as batidas insistentes na madeira.

— Abra essa porta, Alexa! — o Bryan grita do outro lado, a sua voz carregada de ódio.

Ignoro, pego o telefone na mesa de cabeceira e disco o número do Damiano com os dedos trêmulos.

— Vamos, vamos...atende! — murmuro enquanto olho para a porta, que agora vibra com os golpes.

— Alexa? — a voz do Damiano soa do outro lado, e nunca fiquei tão aliviada em ouví-lo.

— Damiano, ele está aqui...Ele invadiu o apartamento com dois seguranças. Ele...ele disse coisas horríveis! — a minha voz sai quebrada, a adrenalina corre pelo meu corpo.

— Ele quem, Alexa? Quem está aí?! — o seu tom muda completamente, altera-se para uma aflição envolta em irritação.

— O Bryan...— sai como um sopro, queima a minha garganta.

Há um silêncio breve, mas denso.

— Eu estou a caminho. Fique onde está e não abra essa porta. Vou ligar para a segurança agora. Não se preocupe, amore mio. Eu já chego.

A linha cai, e eu inspiro fundo, enquanto tento me acalmar. Os minutos se passam com o Bryan a fazer de tudo para romper a porta, bem como os seus seguranças que não medem esforços físicos para isso. A cada segundo que se esgota, eu fico mais aliviada e, paradoxalmente, com mais medo. Eu tento procurar algo para me defender no caso deles conseguirem entrar, mas antes que eu possa raciocinar, ouço algo mais forte do outro lado da porta. Um dos seguranças tenta forçá-la, e o trinco começa a ceder.

— Alexa, isso não vai te salvar! — o Bryan grita — Abra agora, ou eu faço pior!

O meu olhar desesperado percorre o quarto, procurando algo o mais rápido que posso. Então vejo o abajur pesado na mesinha ao lado da cama. Corro para pegá-lo e fico perto da porta, seguro-o firme com as duas mãos, pronta para atacar.

De repente, a madeira cede, o trinco se quebra, e a porta se abre com força. O Bryan entra primeiro, os olhos brilhantes de fúria, seguido por um de seus seguranças.

— Você quer lutar? Ótimo — ele dá um passo na minha direção.

Eu não penso duas vezes. Ergo o abajur e balanço com força, acerto ele no ombro. Ele recua e berra, mas o segurança vem na minha direção. Tento resistir, mas ele é muito mais forte, e antes que eu possa atacá-lo novamente, ele agarra o meu braço e me derruba no chão.

Grito, não só pelo susto, mas pela dor que se espalha pelo meu corpo inteiro.

— Chega! — o Bryan rosna, enquanto segura o ombro onde o atingi — Leve-a daqui.

— Me soltem! — grito, chuto e luto, mas a força deles é esmagadora.

O homem me ergue do chão e o Bryan agarra o meu cabelo, me puxa com tanta força, que sinto alguns fios se desprenderem do meu couro cabeludo.

No entanto, antes que possam me arrastar para fora do quarto, o som de uma porta bater na parede ecoa pelo apartamento, seguido por passos rápidos.

— Soltem ela. Agora — a voz de Damiano é baixa, quase um rosnado, mas cada palavra está carregada de uma raiva gelada que faz o Bryan hesitar por um segundo.

Ele se vira lentamente, ainda segura o meu cabelo, com um sorriso que beira o deboche.

— E você chegou. Que ótimo timing, Lucca. Ou deveria dizer...Damiano Russo?

A minha respiração quase para. O Bryan sabe o outro nome do Lucca!

O Damiano entra no quarto, os seus passos deliberados, como um predador prestes a atacar. Os dois seguranças do Bryan se posicionam, mas ele levanta uma mão para impedir qualquer confronto imediato.

— Não é um nome que você deveria usar tão levianamente, Bryan — o Damiano para a alguns passos de nós, o seu olhar fixo no seu oponente, e depois desce para a mão dele nos meus cabelos — Eu vou dizer isso só mais uma vez. Solte-a.

O silêncio na sala é sufocante. Finalmente, Bryan solta os meus cabelos, mas o faz com um gesto teatral, como se fosse por vontade própria.

— Calma, Russo. Só estou aqui para buscar o que é meu por direito.

— Ela não é sua. Nunca foi. E nunca será — Damiano rebate, a ameaça clara em sua voz.

Bryan dá um sorriso enviesado, um brilho de provocação nos olhos.

— Isso ainda está para ser decidido.

Ele faz um sinal para os seguranças, e os três saem lentamente, mas não sem que o Bryan deixe um aviso final:

— Isso não acabou, Alexa. Nem de longe.

Quando a porta se fecha atrás deles, os meus joelhos fraquejam, e eu quase caio no chão. O Damiano está ao meu lado em segundos, segura-me firme, mas há uma tensão feroz em seu corpo, como se ele estivesse a se segurar para não sair atrás do Bryan nesse exato momento.

— Você está bem? Ele te machucou? — ele pergunta, a sua voz carregada de preocupação.

Eu faço que não com a cabeça, mas os meus olhos estão cheios de lágrimas e o meu corpo dói como o inferno.

— Ele sabe, Damiano. Ele sabe...

O Damiano inspira profundamente, o seu maxilar trincado.

— Isso não é mais um problema para mim, pequena — ele diz, como se quisesse me passar uma segurança que os seus músculos tensos não sentem.

• DAMIANO RUSSO •

Tudo o que eu sempre quis foi vingança. Não importava o quanto o mundo girasse, o quanto o tempo passasse ou quantas pessoas entrassem e saíssem da minha vida. O meu propósito era um só: derrubar o Maurice.

O túmulo dos meus pais sempre foi um lembrete cruel do que a vida pode tirar. Eles eram a minha luz. O meu norte. A minha âncora em um mundo que nunca foi gentil. Quando os perdi, não perdi apenas as pessoas que mais amava. Perdi a fé. Perdi a esperança. Perdi a mim mesmo. E, no vazio que ficou, a vingança floresceu como a única coisa que me mantinha vivo.

Quando a Amélia apareceu, eu não entendia por que ela estava ali. Durante meses após o assassinato dos meus pais, eu me sentia como um boneco quebrado. O meu tio Vincenzo assumiu o papel de tutor, mas ele mal sabia lidar comigo, muito menos com a sua própria dor. Então, permitiu que a Amélia Rossi, uma amiga de longa data da família e advogada de confiança dos meus pais, se aproximasse.

Na época, eu não sabia o quanto ela se arriscava apenas por estar ali. O Maurice já movia as suas peças, já ameaçava qualquer um que ousasse desafiar o seu domínio. Mas a Amélia era mais esperta do que ele. Ela não só cuidou de mim naquele momento de fragilidade, como plantou as sementes do meu futuro.

Ela sabia que não tinha muito tempo. O Maurice não permitiria que ela ficasse por perto. Então, em silêncio, ela reuniu o que podia. Provas. Relatórios financeiros falsificados. Transferências bancárias fraudulentas. A declaração de um ex-contador do Maurice que desapareceu misteriosamente meses depois. Fotografias de reuniões clandestinas. Tudo isso, ela escondeu.

Quando o Maurice finalmente a ameaçou, a Amélia fez a única coisa que podia fazer: desapareceu. Mas, antes de ir, ela me deixou uma caixa. Dentro dela, não só estavam alguns dos documentos que incriminavam o Maurice, mas também uma fotografia antiga comigo. Atrás dela, uma anotação: "Sempre juntos, não importa o que aconteça."

Aquela frase se tornou o meu mantra. Durante anos, mantive a caixa escondida, esperando o momento certo. E, quando alcancei a maioridade, comecei a abrir cada envelope, ler cada documento, entender cada detalhe do que o Maurice havia feito.

Ele não só tirou a vida dos meus pais. Ele os traiu. O meu pai confiava nele, acreditava que o Maurice era um amigo, um aliado. E enquanto o meu pai planejava expandir os seus negócios, o Maurice planejava como se apropriar deles. Ele falsificou documentos para transferir a propriedade de empresas-chave para o seu nome. Manipulou contratos. Subornou testemunhas. E, quando o meu pai descobriu, Maurice o eliminou.

Eu sabia que enfrentá-lo diretamente seria suicídio. O Maurice era poderoso, intocável. Não bastava apenas acusá-lo. Eu precisava destruir tudo o que ele tinha construído.

E foi então que decidi que a única maneira de fazer isso era por dentro.

Foi assim que o Lucca Rossi nasceu. Um homem sem passado, um empreendedor ambicioso disposto a se aliar a qualquer um para alcançar o sucesso. O Maurice, com toda a sua ganância incontrolável, não resistiu. Ele acreditava ter encontrado um novo peão para manipular, e eu deixei que ele acreditasse nisso.

Entrar na vida dele foi a parte mais difícil. Foram anos a estudar cada movimento, cada pessoa ao seu redor, cada fraqueza. Eu me aproximei lentamente, sempre cuidadoso para não levantar suspeitas. E, quando finalmente consegui me tornar o seu parceiro em negócios menores, soube que estava no caminho certo.

Mas então veio a Alexa.

Ela era o inesperado. O elemento que o meu plano não previa. Quando a conheci, ela não era nada do que eu esperava. Filha do Maurice, eu imaginava que ela seria tão fria e calculista quanto ele, talvez mimada também. Mas a Alexa é...diferente. Ela tem uma luz que eu não via há anos. Uma humanidade que parece completamente oposta ao homem que a criou.

Eu deveria ter ficado longe. Eu sabia disso. Envolver-me com ela era um risco desnecessário. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nela que eu não conseguia ignorar. Talvez fosse o fato de que, pela primeira vez em anos, alguém me fazia sentir algo além de ódio.

No começo, eu a usei. Não vou negar isso. Eu precisava estar perto dela para obter informações sobre o Maurice, para entender melhor os seus movimentos. Mas, com o tempo, percebi que ela estava a me mudar. Eu não queria admitir, mas a Alexa era mais do que uma peça no meu jogo.

E agora, olhando para ela, machucada por causa do Bryan, um fantoche ridículo do Maurice, eu sinto algo que não esperava sentir: preocupação. Não arrependimento, jamais. Mas preocupação.

O Bryan é só mais uma extensão do poder do pai dela. Um homem desprezível, enviado para controlá-la, para garantir que o Maurice continue a puxar as cordas. Ele é perigoso, sim, mas não tanto quanto o Maurice. E isso me preocupa. Porque, enquanto eu me preparava para a batalha final, a Alexa foi arrastada para o centro disso tudo.

As provas que tenho contra o Maurice são mais do que suficientes para destruí-lo. Mas não posso usá-las ainda. Ainda não. Preciso do momento certo, de uma oportunidade para expô-lo de uma forma que ele não possa se reerguer. O que eu queria era ter os contratos de compra e venda falsificados que estão em poder do Maurice, juntá-los com todas as provas que a Amélia recolheu, e aumentar na quantidade de evidências que vão acabar com o castelo de areia que aquele criminoso construiu.

O próximo passo é simples, mas arriscado: expor o Maurice publicamente. Não basta entregá-lo às autoridades. Ele tem juízes, políticos, policiais no bolso. Eu preciso de algo maior. E essa oportunidade está próxima.

Mas, antes disso, preciso garantir que a Alexa esteja segura.

Olho para ela enquanto ela tenta se recompor. Há algo nos seus olhos, algo que grita por ajuda, mesmo que ela não diga uma palavra.

— Nada irá acontecer com você, confie em mim — murmuro e seguro -a firmemente junto a mim.

Ela não responde, mas eu vejo a dúvida nos seus olhos. E, pela primeira vez, sinto o peso do que fiz. Não arrependimento, mas...algo próximo disso.

Amélia, você sabia que seria assim? Que a minha vingança teria um preço tão alto?

Ainda assim, não há volta. O Maurice precisa cair. E, se para isso eu tiver que perder a Alexa, eu não tenho como impedir isso.

Mas, no fundo, sei que não vou desistir dela tão facilmente. A Alexa é minha. Ela é a minha luz, mesmo que eu nunca tenha pedido por isso. E, se eu perder essa luz, serei consumido pela completa escuridão.

— Confie em mim — eu digo novamente, tentando passar uma segurança que eu não sinto.

Tudo o que sai da minha boca são promessas vãs de que tudo ficará bem, mas o que eu queria que saísse é: me perdoe pelo que está prestes a acontecer.


• ALEXA LEBLANC •

Sentada na cadeira da mesa de um restaurante, eu dou leves goles na bebida refrescante que a Manon pediu para mim. É doce e frutada, com um leve toque de álcool, o que eu achei que me ajudaria a afastar os sentimentos e pensamentos maus que me acometem desde o dia da invasão do,Bryan no nosso antigo apartamento, e também, o dia em que vi todos aqueles papéis no escritório do Damiano.

Nós nos mudamos para outro lugar, tentamos encontrar um que não fosse tão no centro da cidade, mas que não estivesse longe da empresa. A Manon se ofereceu para registrar o lugar no seu nome, para que o Bryan não conseguisse nos achar novamente. E mesmo que conseguisse, ele seria preso se chegasse a menos de cinco metros de mim, devido à medida de restrição abri. Parece que resultou, já que nunca mais vi nem a sua sombra.

Fazem duas semanas desde então. Eu tenho tentado, sem sucesso, acessar o escritório de novo, mas o Damiano, como sempre, parece estar dez passos à minha frente. Cada tentativa minha de descobrir mais sobre aqueles papéis, sobre o que ele realmente esconde, tem sido frustrada. Ele reforçou a fechadura, instalou uma câmera, e até mudou a senha do computador. É como se ele soubesse que eu sei de alguma coisa, ou que, ao menos, pressinto.

Eu sinto a Manon me observar enquanto mexo no canudo do meu drink, sem voltar a beber. Ela sabe que algo está errado. Sabe desde o dia em que teve que ir às pressas para ficar comigo. Mas não diz nada, em respeito ao meu silêncio. Foi assim desde o dia em que saímos daquele apartamento no meio da tarde, enquanto eu tremia e mal conseguia processar o que havia acabado de acontecer. Ainda lembro dos gritos do Bryan do lado de fora, a voz do Damiano ainda ecoa na minha cabeça, em pedidos para que eu respirasse, que confiasse nele.

Confiança. Essa palavra tem me assombrado nos últimos dias. Como confiar em alguém que esconde tanto? Como confiar em alguém que manipula as coisas ao seu redor para que só ele tenha o controle? Como?

O Lorenzo se aproxima com um sorriso caloroso, ele equilibra um prato de salada caprese fresca e um pouco de massa. Ele coloca o prato na frente da Manon.

— Espero que esteja bom. Peguei as opções que você sempre gosta, amore — ele diz e inclina-se para beijar a namorada na testa antes de voltar ao buffet.

A Manon sorri para ele, uma expressão suave que eu raramente vejo. É o tipo de conexão que eles têm, algo tão natural e confortável que me faz sentir um aperto no peito. Não por ciúmes, mas pela ausência de algo assim na minha própria vida agora.

— O Lorenzo realmente entende de comida — comento, mais para quebrar o silêncio do que qualquer outra coisa.

— E ele sabe disso. Gosta de se exibir — A Manon ri e pega o garfo. Ela lança um olhar afetuoso na direção dele, que agora está encarregado de servir algo para mim.

Quando o Lorenzo volta, ele coloca um prato à minha frente, desta vez com uma seleção variada de comida. Ele sorri, apoiando as mãos nos quadris.

— Não sabia exatamente o que você gosta, então fiz uma mistura. Se não gostar, posso buscar outra coisa.

— Está ótimo, Lorenzo. Obrigada — respondo, sincera. Ele tem essa energia calorosa que é difícil não gostar.

Ele se senta ao lado da Manon e se serve de uma taça de vinho enquanto olha casualmente para o relógio.

— O Damiano é conhecido pela pontualidade, nunca achei que ele se atrasaria para algum compromisso — comenta, com um toque de humor. Eu não consigo sorrir.

— Talvez ele tenha se perdido no trabalho...ou ficado preso no trânsito — a minha prima dá de ombros.

Eu desvio o olhar, a menção do Damiano traz à tona os pensamentos que tento a todo custo ignorar. É inevitável que ele surja na conversa, mas a minha cabeça ainda gira com tudo que aconteceu recentemente.

— Alexa? — a voz da Manon me tira do meu transe. Ela me observa com a testa franzida — Tudo bem?

— Sim, estou bem. Só perdida em pensamentos — Eu forço um sorriso e aceno.

Antes que ela possa insistir, o Lorenzo muda de assunto, talvez por perceber a minha hesitação.

— Então, a Manon me disse que vocês duas têm se encontrado bastante ultimamente. Faz bem ter alguém para conversar, não é?

— Faz, sim — respondo e luto para parecer mais animada — A minha prima tem sido uma ótima companhia.

— É isso que gosto de ouvir. Você sabe que pode contar connosco, Alexa — Ele sorri, satisfeito.

Eu apenas aceno novamente, realmente aprecio a sinceridade dele. Mesmo assim, há uma parte de mim que sabe que não posso contar tudo, pelo menos não ainda. Não até que eu descubra o que se passa, o que o Damiano esconde.

Enquanto o tempo passa, o Lorenzo e a Manon continuam a conversar, e eu me forço a participar, rindo de uma piada ou comentando sobre algo trivial. Tento me convencer de que é bom estar aqui, que isso me ajuda a manter os pés no chão.

Depois de alguns minutos, vejo o Damiano entrar no restaurante. Ele está impecável, como sempre, o terno escuro perfeitamente ajustado e o cabelo penteado para trás. Os seus belos olhos encontram os meus por um breve momento antes de se desviarem para a minha prima e o namorado. Quase me encolho no assento. A sua energia é opressora, é como se soubesse até o que eu penso só com um olhar. Não é uma sensação bem-vinda.

— Finalmente — o Lorenzo brinca, levantando-se para cumprimentá-lo com um abraço rápido — Achei que tinha desistido de vir.

— Eu disse que viria, não disse? — o Damiano responde, sua voz controlada, mas com um leve toque de humor. Algo que não é típico dele, que só aparece quando está satisfeito com alguma coisa, quando algo saiu como ele queria.

Ele olha para mim novamente, os seus olhos analisam rapidamente a minha expressão antes de se sentar ao meu lado. Ele parece estranhamente eufórico, como se tivesse acabado de fazer algo muito importante.

— Alexa, querida — ele diz em cumprimento, a sua voz mais suave agora, antes de se inclinar e beijar o meu pescoço, depois a minha bochecha.

Gosto de quando ele é carinhoso, sempre gosto. Mais ainda porque sei que não é algo que faz parte da sua personalidade, e que ele só o faz porque sabe que eu preciso.

— Oi, tudo bem? — respondo, e tento manter o meu tom neutro diante do calor que os seus beijos me trazem.

Ele se recosta na cadeira, ainda com um sorriso discreto no rosto, como se estivesse divertido com algo que só ele sabe. Ele tira o paletó com um gesto simples, pendurando-o na cadeira, e ajeita os punhos da camisa. O Lorenzo e a Manon trocam um olhar breve, claramente notam a energia diferente dele.

— Você parece animado hoje, Damiano. Algo aconteceu? — ela pergunta casualmente, enquanto se inclina para pegar a taça de vinho.

— Digamos que tive um dia produtivo — dá de ombros, os olhos brilham com um misto de mistério e satisfação.

Eu arqueio uma sobrancelha, intrigada com a resposta vaga, mas mantenho a minha expressão impassível enquanto luto para ignorar o calor persistente onde os seus lábios tocaram a minha pele.

— Isso é bom, eu acho — digo, os meus braços cruzados sobre a mesa — Algum projeto novo na empresa?

O Damiano me encara por um momento, os seus olhos intensos examinam cada detalhe do meu rosto antes de responder.

— Não, nenhum. Você saberia, querida. Este projeto é...diferente, mais pessoal.

A resposta me faz engolir em seco. Não sei porquê exatamente, mas um calafrio se apossa do meu corpo no exato segundo em que ele para de falar.

— Algo que eu sou permitida saber? — ergo uma sobrancelha inquisidora, os tremores na espinha mal me deixam raciocinar como deve ser.

— Claro, querida. Você pode saber tudo sobre mim — ele diz, uma tremenda mentira, mas que sai com tanta naturalidade que até eu acredito — Eu fui fazer isso aqui.

Só então me dou conta da sacola que ele trouxe. Uma sacola grande e pesada, que ele pousa no centro da mesa, o que chama a atenção do casal que se perdia nas suas conversas. O Lorenzo e a Manon observam a sacola com tanta ou mais curiosidade do que eu, e quando o Damiano revela o conteúdo dela, o seu primo franze o sobrolho dramaticamente e pega um dos envelopes.

— Convites de aniversário? — ele pergunta, lendo o que quer que esteja escrito no cartão preto dentro do envelope da mesma cor.

A Manon pega um e eu, confusa, me mantenho parada e imparcial, à espera que o dono de toda essa orquestra decida se explicar.

— Uma festa? Você?! — o Lorenzo fita o primo com descrença e eu noto que o dito aniversário é de Damiano, algo que nem eu mesma tinha conhecimento prévio.

— Sim, uma festa. Achei que estava na hora de celebrar...a vida — Ele pega um dos convites e o desliza na minha direção, os seus dedos roçam os meus por um breve instante. O toque é...estranhamente frio — Quero todos vocês lá. Vai ser especial.

Eu pego o envelope com cuidado, tento decifrar as suas intenções, mas ele não me dá pistas. O convite é elegante, com letras douradas gravadas em um papel preto fosco. "Convido você para uma noite inesquecível," lê-se no topo, salta aos meus olhos como uma confissão silenciosa. Uma noite inesquecível...

— Eu não sabia que o seu aniversário seria daqui a uma semana — murmuro, sem tirar os olhos do papel.

— E eu não sabia que você daria uma festa. Ele nunca dá festas, ele odeia o próprio aniversário! — o Lorenzo exclama, perplexo.

Eu subo o olhar para o rosto do quase aniversariante, que parece incomodado com as palavras do primo, mas não deixa transparecer de todo.
Sei que não deve ser fácil comemorar o aniversário da sua vida, quando, de alguma forma, também é o aniversário da sua morte. Os pais do Damiano morreram no dia do seu aniversário, e eu entendo que, de alguma forma, ele morreu também. Só não entendo como e porquê ele decidiu que seria bom dar uma festa de aniversário agora. E também, o motivo de parecer tão...ansioso para isso.

— Talvez seja a hora de ressignificar algumas coisas — ele diz, a sua voz firme, mas com um toque de vulnerabilidade que é quase imperceptível — Nem tudo no passado precisa ser uma sombra no presente, não é?

— É nisso em que acredita? — a minha voz sai leve e como um sopro.

Eu o observo atentamente, tento entender as suas verdadeiras intenções. Ele não é do tipo que dá passos em falso ou faz algo sem um motivo muito bem calculado. Essa festa não pode ser apenas uma tentativa de "ressignificar o passado". Essa festa será mais.

Ele se aproxima um pouco mais e toma o meu queixo na sua mão em um gesto ousado. O seu toque é frio, mas, paradoxalmente, dói e queima, mesmo sendo tão delicado quanto uma pluma que pousa no chão.
Eu fecho os olhos quando os seus lábios roçam os meus, esquecendo totalmente do mundo ao nosso redor.
Penso que ele vai me beijar e me preparo para isso, mas as suas palavras rente ao meu rosto fazem o meu sangue esfriar.

— É nisso em que todos vocês devem acreditar.

As minhas mãos se apertam contra a mesa enquanto mantenho os olhos fechados, o calor do seu hálito ainda tão próximo dos meus lábios. Sinto como se estivesse em queda livre, mas quando finalmente abro os olhos, ele já recuou. Está sentado novamente, com uma expressão que beira o casual, como se nada tivesse acontecido. Como se fosses apenas um devaneio da minha cabeça.

— Certo, isso ficou intenso demais para um almoço — o Lorenzo comenta para quebrar o silêncio tenso. Ele pega mais um dos convites e o sacode no ar — Vamos focar no que importa: vai ter ou não comida italiana nessa festa? Porque, sinceramente, isso é tudo o que me interessa.

A Manon revira os olhos, mas ri, e eu tento acompanhá-los, embora a minha mente ainda esteja presa às palavras de Damiano e ao impacto da sua proximidade. Ele está a brincar comigo, com a minha sanidade, disso tenho certeza. Ele gosta desse tipo de jogo, faz parte da sua natureza sádica. Ele quer que eu fique inquieta, que me perca nas dúvidas que ele planta em mim. E se diverte com isso.

— Eu só espero que tenha boa comida e uma música decente. Não vou à uma festa para ouvir discursos filosóficos — o Lorenzo continua, fazendo a namorada rir mais alto.

— Haverá tudo o que você quiser, primo — o meu algoz responde com um sorriso enigmático — Desde que você esteja preparado para tudo o que a noite trará.

O meu olhar encontra o olhar do Damiano por um breve momento, e ele ergue a taça de vinho como se brindasse em minha direção. Não sei o que ele planejou para a dita noite inesquecível, mas uma coisa é certa: a festa dele será mais do que uma celebração. Será o início de algo que pode mudar tudo.

• • •

Gostaram? Se sim, já sabem o que fazer. Deixa a estrelinha e diz o que achou. Beijo, vadias!

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