15: O sonho
Quero a porra da estrela e o comentário, bicha!
Esse capítulo pode parecer doentio para você, mas só um pouquinho de nada...
Você me tem nas mãos
Não sabe o tamanho do seu poder
Eu me posto como um gigante
Mas caio quando estou perto de você
Shawn Mendes, em Mercy.
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• ALEXA LEBLANC •
Um toque gélido na minha bochecha me faz estremecer. É algo bom, mas diferente do que eu estou acostumada.
Me remexo levemente entre os lençóis, tentando buscar por mais daquilo, queria saber o que era.
Ainda de olhos fechados, um suspiro escapa da minha garganta quando o toque desliza até a minha mandíbula e uma respiração quente cobre a minha orelha e parte do meu pescoço.
Quente...quente, terroso e forte. Tão familiar que faz a minha boca salivar em antecipação.
Estou adormecida, não consigo acordar. Meus olhos estão fechados enquanto só me é permitido sentir. Sinto os dedos descerem até ao meu pescoço, o que me faz arrepiar até o último fio de cabelo.
É duro quando o aperto rodeia o meu pescoço, nem um pouco gentil, afinal, eu e ele gostamos disso, da brutalidade.
Há poucos dias eu me vi sendo enforcada desse jeito, contra a árvore. Não quis dizer a palavra de segurança, como não digo agora.
Tenho medo, mas o medo é o seu combustível, a carga que o faz aumentar a intensidade do aperto e praticamente me esmagar contra o colchão.
Minhas mãos rodeiam os seus pulsos, minhas unhas o arranham, mas ele não vacila.
Um rosnado abandona a sua garganta enfurecida.
É ele, é ele!
Sorrio, deliciada, embora sinta o ar se esvair dos meus pulmões em uma velocidade obscena.
Dói, coça e arde, estou perdendo os sentidos.
O seu peso cobre o meu corpo, grande, aquecendo cada centímetro de mim.
Está calor, dói tanto.
Estou molhada de suor e excitação, sendo estrangulada pela sua força imbatível, minhas mãos pequenas não o conseguem parar. É como ser uma formiga lutando contra um elefante.
Maldito corpo que a ele pertence. Maldita necessidade de tê-lo, maldita dor que não me abandona.
— Esse é só o começo, Fadinha...— a voz é pesada e sombria, quase como a de um animal. O timbre dele está lá, mas é tão diferente.
Ele vai me matar e eu não poderei impedir.
E o pior de tudo é que eu estou me entregando, eu morrerei, mas morrerei sendo dele e isso não me assusta. Me assusta mais ter que viver sem isso.
— Você é minha. Toda minha — ele continua, sussurrando muito perto do meu rosto. Quero vê-lo, mas meus olhos não se abrem por mais que eu tente — Fique quieta e diga que é minha!
Minhas pernas estão trêmulas, se esfregando no lençol à medida que vou parando de puxar o ar, de lutar. Não consigo. Estou esgotada e sem forças mais. Ele está me levando, eu vou, eu quero ir.
— Abra essa boca e diga que é minha antes que eu me irrite mais! — ameaça, me arrancando do colchão para me jogar no chão — Diga que me pertence.
Minhas costas embatem contra o chão frio e eu consigo puxar um pouco de ar, e é isso que destrava a minha garganta e me permite falar.
— E-eu lhe pertenço...— sibilo, com a voz arranhada — Eu sou...sua.
Uma risada baixa e maléfica ao extremo soa no ambiente, e eu luto para abrir os olhos e me livrar do aperto que me corrói por dentro e deixa a minha pele em chamas.
Quero dizer a palavra de segurança, pois, só assim poderei vê-lo e assimilar o seu rosto, entender a sua raiva. Mas não consigo. Qualquer outra palavra sai da minha boca com certo esforço, mas é como se eu não soubesse como pronunciar "morango".
— Eu vou cuidar de você — soa mais como uma ameaça ou promessa violenta. Com medo, afoita, tento fugir, me arrastando pelo chão — Acha mesmo que conseguirá fugir de mim? Eu sei tudo sobre você, e é tão perfeita...
O aperto afrouxa por um bocado e o toque dos dedos na minha bochecha retorna, mas dessa vez, quente, extremamente quente, como o inferno!
— Ah! — grito, sentindo a minha pele assar — Não...por favor...
— Minha, toda minha...— repete, a voz surpreendentemente mansa, até que o aperto retorna, forte, me tira o ar — Estou insanamente apaixonado por você.
A declaração faz o meu coração disparar, e mesmo com os olhos fechados desde o início, meu rosto se contorce e eu começo a chorar copiosamente, sentindo a dor de ser amada com tanta força, com tanta loucura.
— Me diga o quanto me ama, Fadinha — me empurra, me mata aos poucos.
— Eu o amo, amo muito...amo tanto — choro dolorosamente, confessando os segredos do meu subconsciente sem querer — Eu não consigo respirar, mas...não quero que pare, porque eu o amo...
Me remexo, entrelaçando as pernas na sua cintura, e sinto a sua dureza se esfregar contra o tecido fino do short do meu baby doll. Gemo rouca, enlouquecida, ansiando pela nossa nudez.
— Acha que eu vou chegar até ao fim e te matar? — de repente, solta o meu pescoço e agarra os meus cabelos, respirando pesado como eu — Não, eu não vou te matar, Fadinha. Você vai se matar sozinha!
Luto para abrir os olhos, quero olhar para ele e enxergar a plenitude do seu ódio por mim, o ódio que eu tanto prezo quando me fode, mas que eu odeio saber que é tão real a ponto de quase me arrancar a vida.
Eu gosto que ele me odeie, mas quero que me ame tanto quanto eu o amo.
— Por que está chorando? Não está feliz por estar comigo? Não era isso que queria? — zomba, puxando mais os meus fios. Meu choro se intensifica, meus olhos não abrem.
— Por favor...— é tudo o que consigo fazer, implorar.
— Vou te beijar para que a dor vá embora, Fadinha — sentencia, se aproximando. Sinto a sua respiração quente contra a minha boca.
É tudo que eu mais quero. Beijá-lo! Quero tanto que me beije, que arranque suspiros de mim e me faça gemer só com um beijo. Eu preciso disso para respirar.
Se não vai me beijar, que volte a me enforcar então. Talvez assim o seu ódio supra a minha necessidade.
Seus lábios roçam nos meus, macios, deliciosos, e eu abro a boca para o receber, mas num rompante, os meus olhos se abrem, o breu do meu quarto me recebe.
Minha cabeça está voltada para o teto, estou deitada de barriga para cima no chão. Uma das minhas mãos agarra o meu pescoço e a outra se esfrega contra a minha buceta ardida, buscando pelo orgasmo que não chega.
Onde ele está? Estava aqui, eu senti.
O quarto está vazio, apenas eu.
— L-Lucca? — chamo, com a boca seca.
Não recebo resposta, afinal, o que ele estaria a fazer no meu quarto durante a madrugada?
Nunca tive um sonho tão vívido, parecia que ele estava aqui, falando para mim, me tocando, prestes a arrancar tudo de mim com o toque dos seus lábios nos meus.
E de um minuto para o outro, eu acordo afobada e sem entender um mísero segundo do que vivi momentos atrás.
O meu despertar essa amanhã é como um levitar que me deixa em transe. Abro os olhos de um jeito miúdo, sentindo as minhas pálpebras pesarem toneladas. Um bocejo escapa da minha boca e é suficiente para eu gemer de dor.
Cada músculo do meu corpo está travado e dolorido, como se eu tivesse me envolvido em uma luta intensa durante a noite, mas só consigo ter flashes do sonho estranho com Lucca.
Embora eu gostaria que partes do sonho fossem reais, eu prefiro que, se essas dores forem consequências dele, que tudo vá embora e eu não me lembre de nada, nem sinta nada.
O sol quer se anunciar, mas as cortinas do meu quarto estão fechadas, o que eu agradeço porque sei que meus olhos inchados não aguentariam o impacto dos raios.
Movo uma perna para o lado, querendo sair da cama, mas tenho que fazer um esforço imenso para levantar. Parece que bebi durante a noite inteira, e eu nem sei o que é álcool há mais de uma semana!
Cruzo a porta do quarto, me apoiando nas paredes para caminhar, sentindo os meus músculos adormecidos, como se uma força estivesse sobre mim, um manto cobrindo o meu corpo, pesado, para dar cabo das minhas forças. E está funcionando.
Chegando na frente da porta do escritório do meu pai, entro sem bater, respirando profundamente a cada passo vacilante que dou.
— Papa, o senhor ainda tem aqueles...— paro de falar ao me dar conta de que ele não está no escritório.
Ele sempre está aqui antes de ir trabalhar. Sempre!
Olho para o relógio na parede e constato serem dez da manhã. Nem o meu relógio natural pôde me acordar hoje, de tão morta que eu estava. O que quer dizer que papa já saiu para trabalhar e eu fiquei dormindo até tarde demais.
Me aproximo da sua secretária e começo a abrir as gavetas para achar um dos analgésicos frutados que lhe dei, pois, os meus acabaram. Acho que terei que engolir uns três para acabar com a minha dor, se quiser aparecer na empresa hoje.
Não encontro o que procuro, então fecho as gavetas e as deixo de jeito que encontrei, mas algo em cima da secretária chama a minha atenção. Um dossiê com fotos de diversas garotas, algumas que eu já vi em publicidades agenciadas pela LeBlanc, e outras que parecem jovens demais para o limite de idade da companhia.
Os dossiês contêm informações detalhadas sobre cada uma. Idade, moradia, nome completo, ocupação, peso, horários, tamanho de roupa, cor dos olhos, até fotos do dia a dia das meninas, tiradas como se elas não soubessem que estavam sendo fotografadas, em atividades cotidianas.
Franzo o sobrolho, achando estranho o método de escolha que o meu pai utiliza para admitir modelos na empresa, e mais ainda, a aparência de todas elas.
São sete, e todas têm o corpo magro, rosno fino e desenhado e cabelos loiros, quase dourados. Parecem bonecas de tão bonitas que são.
— Dauphin, Dauphin — ouço a voz da minha mãe na porta e pouso os dossiês de volta.
Ainda com o sobrolho franzido e a mente em parafuso pelo que acabei de ver, caminho até a porta, tentando fingir normalidade, e sorrio para ela.
— O que é isso no seu pescoço? — ela guincha, me pegando para analisar mais de perto — Lexi!
— Erh...hm...brotoejas — minto, sabendo que deve haver uma marca da minha mão ali.
— Não minta para mim, Alexa. Eu sou sua mãe, conheço as suas brotoejas, e acima de tudo, sou mulher, sei o que é uma marca de enforcamento!
Minha mãe é jovem e vivida. Já teve alguns namorados antes de papa e aos seus quarenta e sete anos, sabe muito mais do que aparenta. Mas eu me recuso a imaginar ela sendo enforcada pelo meu pai, até faço cara feia com a menção.
— Eu...— procuro uma nova mentira —...caí e bati com o...— a quem eu quero enganar? — Quer saber, maman? Eu transei.
Os olhos dela se arregalam diante da minha frase e os meus também.
Quase me agacho e começo a escavar um buraco no chão para me esconder quando ela abre a boca num "O" bem grande.
De onde aquilo saiu? E como eu tive coragem de contar tão abertamente para a minha própria mãe, que eu transei por aí?
— Lexi — ela solta num tom baixo de surpresa — Você vai se sentar comigo e me explicar o que acabou de me dizer!
— Eu estou com uma dor de cabeça tremenda e ainda tenho que ir pra' empresa, maman — protesto, torcendo o rosto — Não pode ficar pra' mais tarde?
— Mais tarde eu não vou estar com essa vontade louca de torcer a sua orelha! — ela ralha — Lexi, você nunca foi assim. Com quem está...transando? E por que tão rápido? Mal terminou com o P...Pierce? Pedri?
— Pierre, maman — corrijo, não sentindo nada pela primeira vez ao citar o seu nome — E não fale como se o defendesse, vocês sempre o odiaram.
Contorno o corpo da minha mãe, arrastando os pés para fora do escritório, e me dirigindo para o meu quarto. Ela me segue, tagarela.
— E com razão, ele é um puto traidor! — guincha, indignada — E eu tenho a certeza de que esse tal com quem dormiu também não presta.
Rolo os olhos, já no quarto, reviro a minha mesa de cabeceira para encontrar o único analgésico frutado que sobrou. O meu achado do século.
Me atiro na cama de barriga para baixo e fecho os olhos, sentindo que essa conversa ainda vai longe.
— Desconfia tanto assim do meu dedo para homens? — murmuro, gemendo baixinho para aplacar a dor — Pierre foi o meu primeiro namorado.
— E errou logo de primeira — noto que se senta na beirada, pois, o colchão afunda — O que você tem de bonita, tem de ingênua também, minha Dauphin.
Deveria me sentir ofendida com o seu comentário, mas não consigo esboçar emoção diferente de neutralidade. Estou tão entediada que se ela disser que sou um golfinho ou uma fada de verdade, eu vou aceitar.
— Maman, é só sexo — bufo, impaciente — Das duas uma, ou um dos dois se cansa do outro, ou eu me apaixono e ele me dá um pé na bunda, já que sou tão ingênua.
Nem eu acredito nas minhas próprias palavras.
O que eu disse a ele no meu sonho está bem reavivado na minha memória. A forma que confessei como me sinto em relação a ele, diante da sua declaração, me faz sentir vergonha só de lembrar.
Mesmo que não tenha sido ele lá e apenas um fruto do meu sonho, é constrangedor ter admitido para mim mesma que eu gosto...que eu amo o Lucca.
E sei que não é um amor normal. É um jeito de amar pouco saudável, e que deveria me deixar preocupada comigo mesma, mas desperta em mim a necessidade e a agonia de estar com ele. Quando ele não está, é como se me faltasse o ar para respirar, e quando ele está, eu anseio que aperte o meu pescoço, que ele extraia todo o ar de mim, que me tire tudo, até não sobrar nada. Que leve tudo, mesmo sabendo que ele nunca será meu como eu sou dele, que esse amor é apenas do meu lado, e que ele pode ter outras depois, eu não me importo. Eu só quero ser dele, mesmo que seja só mais uma das suas garotas. Eu o amo insanamente.
É esse o meu tipo de amor.
— Olhe para mim, Dauphin — ela pede, serena, e eu o faço, abrindo brevemente os olhos. Ela me olha pelos segundos em que eles permanecem abertos, me analisando com afinco, até me sinto nua — Das duas uma, a segunda.
Rapidamente me recolho da cama, fugindo do julgamento instigante da minha mãe, que a qualquer momento, poderá me fazer revelar até a cor da calcinha que estou usando agora.
Não quero que ela se preocupe, não quero que interfira. Não no meu relacionamento com Lucca.
Com Pierre eu me sentia pressionada sempre com a sua insistência em que eu deixasse o meu namorado na altura e voltasse para casa, pois, segundo ela, tinha "alguém muito melhor me esperando". Não sei qual dos dois eu odeio mais, Pierre ou Bryan, só sei que quero ambos bem longe do meu contacto.
— Não fale besteira, maman — peço, indo até o closet para me ocupar a escolher uma roupa para hoje.
— Não faça besteira — ela me corta, parando na porta do closet — Sabe que Bryan Durant está te esperando há muito tempo, ele é um bom partido, um bom homem.
Dou uma risada amarga, tentando não explodir com a minha própria mãe, ela não sabe de nada.
— Claro, tão bom que me seguiu e tentou me agarrar em plena festa de boas-vindas! — ironizo, pegando uns jeans justos para usar com botas de cano alto.
Não vejo quando minha mãe sai da porta e adentra o closet, só noto quando já está na minha frente, pálida e com o sobrolho franzido.
— O quê?! — exclama, indignada.
— Isso mesmo que ouviu, maman — continuo sorrindo — Saiba que não quero ter nada com um homem sem escrúpulos como Bryan Durant, nem nenhum outro a quem vocês decidam me oferecer. Me deixem viver!
Ela engole em seco e se aproxima, pousando as mãos cálidas nos meus ombros.
— Nós achamos que ele seria bom para você, parecia um bom partido para...— começa, a voz baixa.
— Para os negócios, um bom partido para os negócios, não para mim — interrompo, pegando uma camisa branca simples e oversized — Peça ao papa para dizer a ele que esqueça de mim e dessa aliança ridícula.
— E se ele pedir desculpas, Dauphin? Não podemos simplesmente romper o vínculo com os Durant dessa maneira...
— Não estou pedindo para romper o vínculo com a família — a corto mais uma vez, chateada — Apenas cortem o vínculo imaginário que vocês criaram entre Bryan e eu.
— Dauphin, me ouça...— insiste, mas eu não quero mais ouvir.
— Ele tentou me agarrar, maman! — guincho, indignada com a sua insistência.
— Tudo bem, tudo bem. Não vamos mais falar sobre isso — ergue os braços magros em rendição — Me diga, esse...rapaz com quem tem dormido...a trata bem? Não quero que se decepcione de novo.
— É melhor que ele não me trate bem, porque assim eu não criarei falsas esperanças — falo de boca para fora, lembrando de que já estou completamente fodida com aquele ogro — Repito: é só sexo.
— Então por que os seus olhos estão tão brilhantes agora? — insinua, me fitando com atenção. Odeio o quanto minha mãe me conhece — Repito: das duas uma, a segunda.
Meu silêncio diz tudo e não tendo nada para falar, eu contorno o corpo da minha mãe e volto para o quarto, pousando as minhas roupas na cama e sentindo um vazio enorme tomar conta do meu peito, e lágrimas se acumularem nos meus olhos.
Olho para o teto para evitar que elas caiam e dou um tapa forte no meu rosto.
Se concentre, ta chienne!
— Sei que é tudo muito bom e prazeroso agora, mas...não se esqueça que isso já aconteceu. O que vai fazer se receber mais um pé na bunda?
O que eu vou fazer se Lucca decidir me abandonar? O que vou fazer quando esse mês do contrato acabar? Falta pouco, por volta de duas semanas, e eu não sei lidar com a ideia de que a pouco e pouco, vamos chegando ao dia em que ele dirá que não sou mais dele, e eu terei que me adaptar a não o pertencer mais.
Mas a minha mente já se adaptou a ele de tal maneira, que eu durmo pensando nele, sonho com ele e acordo com a porra da sua imagem na minha cabeça, como uma fodida assombração.
É medonho e dói inteiramente, a alma e o corpo.
Eu não sei o que irei fazer.
— A senhora acabou de dizer que isso já aconteceu — começo, fingindo estar confiante com minhas palavras — É só fazer o mesmo que fiz na primeira vez, me afastar e seguir com a minha vida.
Minha resposta é cortante e não dá chance de contrapor à ela, que apenas se aproxima, sorri pequeno e beija a minha bochecha, abandonando o meu quarto depois.
Uma súbita sensação de melancolia me assola e o buraco no meu peito aumenta gradativamente, causando em mim um sentimento inexplicável de perda.
As lágrimas teimosas caem mesmo depois de um grande esforço de as conter, e os meus joelhos, que já tremiam, vacilam, e eu caio sentada na beirada da cama, chorando silenciosamente.
E é entre as lágrimas grossas e salgadas, que eu tomo um banho e me arrumo, com a mente a mil e o coração a dois mil, ambos acelerados e ansiosos por vê-lo.
Sei que ele não é meu como sou dele, mas desde que tenha o seu toque em mim, de nada posso reclamar e nada mais posso pedir.
Saio do elevador e aceno para Maddy, ainda meio indisposta do sonho desgastante que tive, e caminho em cima das botas pretas de couro, que chegam quase até o meio das coxas.
Passo reto a porta do meu escritório, percorrendo o corredor sem olhar para trás, nem para os lados. Meu corpo me guia até o escritório do Lucca, como se estivesse sendo puxada para lá, e eu entro sem bater, ansiosa para ouvir sua voz.
A amostra no sonho foi boa, embora medonha, mas foi pouca. Para mim, nunca é demais a dose de Lucca. Bebo dele até me sentir entorpecida e sempre quero mais.
Dois passos para dentro e o meu sorriso morre. Um homem está sentado no sofá de frente à secretária, virado de costas para mim, Lucca na sua cadeira como sempre e uma mulher de channel atrás dele, com as mãos nos seus ombros, fazendo uma massagem.
Uma mulher fazendo uma massagem no meu homem!
E por mais que ele se remexa no lugar, parecendo incomodado, ela ainda está lá, tocando-o, algo que eu nunca tive permissão de fazer. Algo que eu anseio com todo o meu ser.
— Não sabia que tinha visita, eu volto depois — murmuro, diante do seu olhar frio em cima de mim.
Então o homem sentado no sofá se vira para trás e abre um sorriso largo, e eu noto alguns detalhes na sua aparência que me remetem a Lucca, mas nada chega aos pés da sua beleza e imponência. Só Lucca sabe abalar as minhas estruturas.
— Não, fique. Eles já estavam de saída — sua voz reverbera pelo meu corpo inteiro, pairando nos meus ouvidos como um mantra.
— Não sabia que tinha funcionárias tão belas, Dami! — o homem sorridente fala, se levantando para vir até mim.
Dami?
Seu galanteio me faz sorrir, mas nunca tirar os olhos do meu dono, mesmo quando recebo um beijo na mão, como um perfeito cavalheiro.
— Sou Lorenzo, querida. E você? — ele se apresenta, sem soltar a minha mão.
Noto Lucca se levantar num rompante pelo canto do olho e se aproximar, sendo seguido pela mulher. Os dois captam a minha atenção mais uma vez, e o meu sorriso morre novamente, se tornando uma expressão de puro desgosto, algo que não consigo disfarçar, e até Lucca nota e ergue uma sobrancelha inquisidora, com aquele olhar de "é melhor parar de ser uma pirralha agora mesmo".
Eu coloco o meu melhor olhar de "foda-se", travando uma batalha silenciosa com ele.
— Alexa LeBlanc, filha do dono de tudo isso aqui — a mulher dita, abrindo os braços com a menção da palavra "tudo".
O seu tom é um pouco condescendente, o que me faz perguntar a mim mesma se todos do ciclo de Lucca têm um toque de sarcasmo na língua.
— Oh, senhorita Alexa, é um prazer conhecê-la! — Lorenzo exclama, parecendo surpreso.
— Satisfação — Lucca corrige, presumo que incomodado com a menção da palavra "prazer".
— É um prazer conhecê-lo também, Lorenzo. Me chame apenas de Alexa, por favor — digo em tom provocativo, pois, se uma mulher pode tocá-lo, diferente de mim, outro homem pode ser gentil comigo, diferente dele.
Lucca endurece mais ainda a expressão e só não rosna para não dar nas vistas, provavelmente.
— Giada, Lorenzo — chama os dois, que o olham com atenção — Para fora. Tenho coisas mais importantes para fazer.
— Com certeza — Lorenzo ri mais abertamente, quase uma gargalhada — Alexa, nos vemos por aí.
Certamente não acontecerá. Lucca faz questão de me afastar de cada homem que se aproxima, então acho que não voltarei a vê-lo, mas não digo nada, apenas sorrio.
— Sou a Giada, mas você já ouviu. Até mais — a mulher diz, com uma simpatia precária e é a primeira a sair, depois Lorenzo a segue.
A porta se fecha num clique suave e agora só estou eu, Lucca e o seu descontentamento quase palpável.
Minha cabeça baixa automaticamente, mas logo faço questão de levantá-la para olhar diretamente pra' ele.
— Um: você entrou sem bater. Dois: me desafiou. Três: deu corda para o Lorenzo — ele enumera, se aproximando lentamente como uma pantera.
— Quatro: encontrei você sendo massageado por aquela mulher — respondo, soando ríspida demais, o que o faz inclinar a cabeça para o lado.
— De onde saiu tudo isso, hm? Quando se tornou uma pirralha? — interroga, colocando os braços atrás do corpo, parecendo ameaçador.
Não respondo. Se em algum momento fui uma pirralha, desconheço.
— Foi o que eu pensei — murmura, se afastando para ir sentar na sua cadeira.
Observo atentamente os seus passos pesados pelo escritório e os seus movimentos sublimes ao se sentar. Sensual pra' caralho e nem um pouco esforçado. A naturalidade com que age me deixa de pernas bambas.
— Vem aqui — ele chama, e eu me coloco em marcha até ele, como uma boa garota que sou.
Na sua frente, sou puxada pelo pulso e obrigada a me sentar no seu colo. Me ajeito, com uma perna de cada lado do seu corpo e as mãos nas minhas coxas, enquanto as suas repousam na minha cintura.
— Tire esse biquinho do rosto. Lorenzo e Giada são meus primos — esclarece, provavelmente para explicar a aproximação com a mulher.
— Hm, sei...— sibilo, fingindo desinteresse.
— Me conte, como está sendo o seu dia? — ele pergunta, casual, mas afunda o rosto no meu busto, fungando como sempre faz, o que me deixa mole na hora — Hm, Fadinha?
— Eu tive um sonho — minha voz falha, diante da sua respiração contra a minha pele.
— Eu também. Sabe o que aconteceu lá? — continua, passando os dentes de leve no meu ombro — Eu te punia de três maneiras diferentes, para cada vez que você foi uma garota má hoje.
Engulo em seco, tentando me manter quieta para ter uma conversa séria com esse diabo, mas ele não colabora.
— No meu sonho...— gemo quando ele me lambe até o pescoço —...eu não disse a palavra de segurança.
Lucca para de repente, erguendo o olhar para o meu rosto e eu vejo uma sombra de curiosidade e até preocupação nas suas íris.
— E o que aconteceu? — ele instiga, voltando a acariciar a minha cintura.
— Eu fiquei com dor e...sem ar — continuo — Foi estranho, você ia me beijar...
A preocupação some do seu olhar, dando lugar à repreensão. Eu me acanho imediatamente, arrependida de ter contado sobre o sonho, mas aliviada por não ter falado sobre a parte em que ele dizia que me amava e eu dizia de volta.
— Seus sonhos são muito ilusórios, por isso não passam de sonhos — diz, com frieza na voz e no olhar.
— Os sonhos refletem os nossos desejos — murmuro, com o pouco de determinação que me resta agora.
— Fadinha...— solta em tom de aviso.
— Meu dono — devolvo, manhosa e magoada — Por que não me beija? Por que não me deixa...tocá-lo? — tento passar as mãos pelo seu peito, mas ele me trava, agarrando os meus pulsos com firmeza.
— Achei que já tivesse deixado claro que...
— Não, não deixou — balanço a cabeça, negando, e fungo — Eu não entendo.
— Talvez seja melhor que não entenda — determina, apertando mais os meus pulsos — E não tente mais infringir as regras. Nem sempre consigo ser gentil.
Você nunca é gentil...
— Me desculpe, meu senhor.
— Está desculpada, pequena — me larga lentamente, só para afagar a minha bochecha. Fecho os olhos, é bom demais — Mas ainda quero puní-la três vezes.
— Tudo para satisfazer o meu amo — murmuro, em meio a suspiros.
— Você é uma menina tão boa...minha menina — elogia, me fazendo sorrir pequeno — Por isso merece uma recompensa.
— Qual? — abro os olhos, maravilhada mais uma vez com o seu rosto belo, como sempre fico.
— O chalé em Aspen. Lembra? — diz sem parar de me acariciar.
— Huhum — assinto, acenando com a cabeça.
— Vamos para lá no final de semana que vem — revela, o que expande o meu sorriso — A minha pequena merece.
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Alguém aqui disse que eles iriam pro' chalé juntos, né'? Então...
Gostaru? Diz que achou.
Dá like e comenta essa porra, vadia!
*link direto no perfil.
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