Capítulo 4
-Mamãe que cheiro delicioso. -digo sentindo o aroma do almoço que minha querida mãe havia acabado de preparar.
Sábado havia chegado mais rápido do que eu pensava, e eu permanecia ignorando meus conflitos internos e seguindo colocando qualquer outra coisa que pudesse me chamar atenção na frente dos meus questionamentos.
Nesse momento, minha atenção estava focada no maravilhoso caldo de frango na minha frente. Minha mãe era uma cozinheira de mão cheia, e nessas horas eu pensava no quanto a genética havia falhado em mim porque eu não conseguia sequer fritar um ovo sem me queimar com o óleo.
-Sua mãe aqui bota pra quebrar. -ela diz e me tira um ataque de risos pela sua tentativa de conversar de forma mais jovial. -Cozinhar é um dom minha filha, e apesar de você não conseguir ligar o fogão sem quase colocar fogo na casa inteira, eu ainda acredito que você desenvolverá um dia.
-Nem se eu quisesse dona Teresa, a minha companheira de rodas aqui não facilita o processo. -digo fazendo uma expressão dramática e me surpreendo com um ataque de cócegas da minha mãe.
-Para de ser treiteira menina, não coloque a culpa na cadeira porque eu tenho certeza que se você não estivesse nela ainda nem chegaria perto da cozinha. -ela diz e eu concordo mentalmente, ao mesmo tempo que tento tirar as mãos dela da minha barriga. As batidas na porta interrompem meu momento de tortura.
-Os convidados chegaram dona Teresa.
-Salva pelo marimbondo.
-GONGO MÃE, PELO GONGO. -digo inutilmente já que ela já havia saído apressada pra atender a porta.
Sorrio comigo mesma e me encaminho pra cozinha, vendo o pastor com um sorriso largo e um rapaz de costas observando umas fotos na estante da sala.
-O GORDO CHEGOU PRA COMER. -anuncia o pastor e todos caímos na gargalhada. Meu irmão e meu pai aparecem na sala sorrindo e o cumprimentando.
-Tio, vai me matar de vergonha dessa forma. Como o senhor chega já dizendo uma coisa assim? -encosta o rapaz que deve ser o tal sobrinho do pastor Ed que veio passar as férias em sua casa. Começo a quebrar a distância e me aproximo de todos.
-Pare de besteira Miguel, estou em casa, considero esta como a minha família. -responde o pastor animado e minha família concorda alegremente, fechando-os em uma roda de conversa no qual eu não estava incluída.
Bufo de indignação e tento fazê-los notar a minha presença entrando com a cadeira de rodas. Sem querer, realizei o movimento rápido demais e a cadeira acaba indo parar nos pés do sobrinho de Ed.
-AI. -o rapaz geme de dor e me olha assustado.
Ah não, só me faltava essa.
-VOCÊ? -digo surpreendida por estar vendo aquele mesmo homem novamente e todos da família me olham confusos.
-DE NOVO? Senhorita qual é o seu problema com os meus pés? Será possível que terei que andar com algum tipo de proteção pra acabar com o seu projeto interno de me deixar manco? -ele me olha indignado e minha família se olha tentando entender.
-Que gracinha, os jovens já se conhecem. -diz pastor Ed com os braços abertos animado e meu pai cruza os braços.
-Conhece minha filha de onde rapaz? -pergunta meu pai com a voz mais grossa que o normal.
-Da igreja senhor Antônio. Ela passou com a cadeira nos meus pés. Duas vezes. Contando com agora se contabilizam três.
-Esmeralda minha filha, que falta de educação com um rapaz bonito como esse. -diz minha mãe achando que estava falando baixo, mas na verdade eu sabia que todos ali haviam escutado.
-Minha irmãzinha interagiu com alguém, que bonitinho. Desculpa ela Miguel, a quatro olhos não enxerga muito bem. -zomba Fred e eu o lanço o melhor olhar de chamas que conseguia.
-Parem com isso aqui. -digo exasperada e direciono meu olhar para o tal Miguel. -Não era meu propósito te deixar manco, até semana passada eu nem sabia que você existia. O mundo não gira ao seu redor. -solto de forma irônica e viro a cadeira indo rápido em direção a cozinha.
Ouço meus pais gritarem um "Esmeralda Silva volte aqui" e ignoro procurando um copo com a desculpa de beber água.
-Nem o mundo gira ao seu redor, senhorita. -ouço a voz dele novamente e me viro, respirando fundo. Eu estava sendo grossa, eu sabia, mas algo dentro de mim falava mais alto quando os olhos claros em tom de castanho desse homem encontravam os meus.
-Então não precisamos nos preocupar com mais nada. Você continua no seu mundo, e eu no meu. -digo rápido e sem pensar, percebendo só depois o quanto aquela frase havia saído sem coerência.
-Se ainda não percebeu, o "mundo" em que estamos é o mesmo moça. -ele diz e se abaixa encontrando o meu olhar.
Me perco por um segundo pensando que talvez minha mãe estivesse certa em dizer que ele era um rapaz bonito. Seu cabelo em um tom de loiro médio perfeitamente penteado e a pequena covinha que ele tinha perto do sorriso torto me deixaram pensando no porquê de eu estar reparando nesses detalhes.
O segundo passou.
-Não significa que quero você nele. -digo ríspida recuperando a minha postura. Eu não ia ser gentil com ele só porque ele era o sobrinho do pastor. Eu não me abria, e muito menos me aproximava de ninguém. Não será ele que irá mudar isso.
-Você é sempre assim com todas as pessoas que não conhece senhorita? -ele pergunta se levantando e me olhando em curiosidade e frustração.
-Sou, lide com isso. -digo e ele abre a boca em surpresa, soltando uma risada que eu não esperava logo depois. Somos interrompidos com a presença da minha mãe, que aparece na cozinha com as mãos na cintura.
-Esmeralda espero que não esteja expulsando o pobre rapaz de nossa casa. Não foi essa a educação que lhe dei. -ela diz com tom repreensivo e meu irmão aparece atrás, sussurrando um "se deu mal" e saindo.
-Não se preocupe com isso dona Teresa, Esmeralda acabou de me pedir desculpas pelo ocorrido, dizendo que não irá acontecer novamente. -ele responde com um sorriso gentil e educado, derretendo a minha mãe.
-Ah, tudo bem então Miguel, já que é assim, vamos todos pra mesa então que a comida já está pronta. -ela diz sorridente e eu o olho incrédula. Ele estava tentando conquistar a minha mãe?
-Não foi nada disso qu...-digo e ele me interrompe colocando uma maçã na minha boca e empurrando a minha cadeira pra fora da cozinha sem que eu pudesse completar a frase. Minha mãe estava de costas pegando a panela.
-O que ia dizer Esmeralda?
-Ela disse que não há comida melhor que a sua, e que eu irei amar experimentar. -Miguel responde voltando a cabeça para trás na cozinha e me deixando do lado de fora.
Ouço o sorriso da minha mãe e ele volta me olhando e soltando o primeiro botão da sua camisa que estava abotoada até o pescoço. Retiro a maçã da minha boca e o olho em estado de choque.
-Que palhaçada foi essa Miguel?
-Eu a salvando de uma bronca de sua mãe.
-Desde quando eu lhe pedi pra me salvar de alguma coisa? -pergunto e antes que eu o xingasse de mais alguma coisa que não seria permitido, ele coloca a maçã de volta na minha boca.
-Estou aprendendo a lidar.
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