Capítulo 3
-Não, seus pés não foram arrancados, lide com isso. -digo sentindo as veias do meu corpo saltarem. Aquele homem não estava querendo comprar uma discussão comigo, não agora.
-Lide com isso? -ele pergunta com um tom de voz abismada. Permaneço ouvindo a sua voz pelas minhas costas. -Mas que imprudência! Seus progenitores não lhe deram educação?
-Ah faça-me o favor. Se és fresco a este ponto, eu que deveria questionar seus progenitores sobre a sua masculinidade. Vire homem. -digo descontando toda a minha raiva naquele desconhecido e sinto passos se aproximarem.
Ele se posiciona em meu campo de visão e se abaixa fitando meus olhos. Quando vejo seus lábios se mexerem em menção de pronunciar uma resposta à altura daquele insulto, seus olhos castanhos se arregalam em surpresa.
-VOCÊ...você está chorando? -sua voz muda drasticamente e sua face emana compaixão. Era só o que me faltava, mais um com pena de mim.
-Não lhe interessa. -digo limpando rápido as lágrimas dos meus olhos e viro a cadeira em direção de volta ao culto. Eu não estava com sede mesmo, e não preciso ficar aqui olhando pra esse desconhecido abusado.
-Ei espera...-ouço sua voz novamente e respiro de alívio ao ver Madeline aparecer em meu campo de visão.
-Esme percebi que você estava mal e vim lhe ver. O culto acabou e...
-Olá. -o mesmo homem se aproxima mancando e eu respiro cansada. Ele não possuía desconfiômetro?
-Olá, boa noite. -diz Mad sorrindo e apertando a mão do rapaz em gentileza.
-Pelo menos sua amiga é educada. -ele diz de forma sarcástica e eu reviro os olhos.
-Ela foi grossa com você? Oh moço perdoe a minha amiga, ela não é muito apta a gentilezas. -fala Mad e eu a olho incrédula.
Eu era perfeitamente gentil.
O homem sorri.
-Isso eu meio que percebi. Eu aceito as suas desculpas inexistentes senhorita se me disser qual é o seu nome. -ele diz e eu continuo olhando pra direção da saída esperando Madeline responder. Nada. -Senhorita? -ele toca em meu braço e eu me assusto ao perceber que a pergunta era pra mim.
-Não me toque. -digo retirando o braço. -Não lhe interessa o meu nome.
-ESMERALDA! -grita Mad e o homem nos olha confuso.
-Obrigada Madeline por revelar meu nome a um desconhecido. -digo a lançando um olhar de fúria e o homem se põe a sorrir.
-Seu nome é esmeralda? -ele diz se envolvendo no riso que agora já era quase uma gargalhada. -Se for assim meu nome é Ouro, prazer.
O olho incrédula e viro a minha cadeira com o máximo de estresse que ainda se instaurava em mim, passando em cima do seu outro pé.
Ele grunhe de dor e eu ando em direção a saída, ouvindo os passos rápidos de Mad tentando me acompanhar enquanto se desculpava novamente com o homem estranho.
Era só o que me faltava. Eu não podia ter um segundo de paz. Quando saio vejo o carro do meu pai estacionado e vou em sua direção. Desvio o caminho, no entanto, quando vejo que o mesmo estava conversando com o pastor um pouco distante.
-Claro pastor Ed, ficaremos incrivelmente satisfeitos em ter a sua presença e a do seu sobrinho em nossa casa no próximo sábado. -diz meu pai todo sorridente.
-Estarei lá meu caro Antônio, marcado. -o pastor responde apertando a mão do meu pai. Ele percebe a minha presença e se vira pra mim, me surpreendendo com um abraço que deve ter sido desconfortável de dar haja vista que sua coluna devia estar carregando quase 70 anos nas costas. -Esmeralda, que bom vê-la aqui, minha querida.
-Olá pastor, fico feliz em vê-lo também. -digo retribuindo com um sorriso gentil e sincero.
-Já vou lhe avisando, seu pai me convidou pra almoçar na sua casa. Você sabe que eu tenho tentado comer pouco pra acabar com o apelido que as crianças estão me dando de seu barriga de um tal seriado mexicano chamados Chaves. -ele diz passando a mão sobre o estômago e tirando um sorriso de todos. Pastor Ed era um homem com muito senso de humor. -No entanto, eu jamais recusaria a comida de Dona Teresa.
-Minha mãe é uma ótima cozinheira mesmo. Entretanto pastor, está em ótima forma. Eu diria que a leve curvatura que tem por detrás da camisa dá até um charme pessoal, tenho certeza que se dona Amélia ainda estivesse viva ela estaria mais do que satisfeita. -digo e tiro um sorriso saudoso do pastor, que sempre demonstrava saudade nos olhos quando alguém tocava no nome de sua falecida esposa.
Ela morrera a poucos anos, e infelizmente eles nunca tiveram filhos. Ed sempre dizia que os filhos de coração que ele tinha na igreja bastavam, e que eu era um deles. Porém, no fundo todos sabiam que ele devia se sentir sozinho morando em sua casa que havia apenas um papagaio.
-Nunca soube como a minha doce e amada Amélia olhou pra mim. Foi puro projeto de Deus. -ele diz sorrindo. -Mas vou aqui parar de enrolar vocês, que já devem estar cansados. Tragam o Fred no próximo domingo, digam a ele que o grupo de louvor está precisando de um novo integrante.
-Pode deixar que vou puxar a orelha daquele ali pastor. -diz meu pai sorrindo e se posicionando atrás de mim pra empurrar minha cadeira.
-E ah, antes de ir, Esmeralda minha filha, nunca se esqueça que os propósitos de Deus são sempre maiores que os nossos. Se quisermos ouvi-lo, temos que dar espaço para ele falar ao nosso coração. -pastor Ed diz e meu coração se aperta.
Eu não queria ter escutado isso.
-Obrigada pastor, até sábado. -digo sorrindo e fingindo que aquela frase não me afetou como deveria.
No entanto, só eu sabia o tamanho do estrago que essa noite havia causado dentro do meu ser.
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