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6 - Hipocôndria

Atualmente

Não sabia onde estava, nem porque estava ali, mas vislumbrou uma clareira a meio de uma vasta floresta e isso a fez alcançar aquele bocado sem árvores, sem nada.

O pôr-do-sol era visível dali.

Ouviu um relincho, o que fez Melinda olhar em volta, procurando pelo animal que emitira tal som. E então o animal apareceu, mas não era um animal deste mundo, era uma mula que no lugar da cabeça tinha chamas flamejantes. O animal relinchava como numa imploração e Melinda empunhava sua arma como se fosse disparar, embora não tivesse intenção de o fazer. Afinal, o que isso faria a uma criatura que literalmente pegava fogo?

Não era a primeira vez que sonhava com aquilo. Na verdade, aquela mula perseguira-a toda a sua vida, desde que se lembrava de sua própria existência. Claro que o sonho ía mudando conforme ía crescendo, mas a mula de cabeça flamejante sempre estava presente, que nem uma maldição que teimava em acompanhá-la.

Nunca contara a ninguém, porque não achava importante. Devia ser só uma dessas fantasias de desenhos animados, algo com ligação com o cavaleiro sem cabeça que se perpetuara no seu subconsciente desde os tempos de infância.. Nem sequer considerava um pesadelo, embora aquilo a deixa-se com uma sensação estranha durante o dia inteiro. Com o passar dos anos, apercebeu-se que coincidentemente sonhava com aquilo nas noites de quinta para sexta-feira e que durante toda a sexta-feira tinha alucinações auditivas com o relincho do animal. Sempre fôra assim, mas nos últimos tempos o sonho acontecia com mais frequência.

Não pensou muito nisso, quando acordou. Puxou as persianas para cima e depois de se arranjar e comer o pequeno-almoço dirigiu-se à pequena pensão onde deixara Maurício e o Dr. Raúl na noite anterior. Havia cogitado deixá-los dormir em sua casa, afinal das contas era só uma noite, mas precisava da sua privacidade mais que nunca depois de tanto tempo de viagem. Dois homens desconhecidos em sua casa não iria ser nada ético, não para uma agente principal da PSP ou da DOM. Bom, as duas eram a mesma coisa. Iria ter que se familiarizar com o fato de pertencer a duas frentes policiais, fazendo de uma a oficial, e da outra a espécie de amante. O sentido de aventura aumentava quando pensava nesses termos. Ela adorava a sensação, porque... segredos são como torres. Era o seu trocadilho, uma frase que ela mesma criara para si, depois de todos os segredos obscuros que era obrigada a abrigar dentro se si. Ela os transportava consigo. Em seu trabalho, na sua vida íntima, estavam os segredos. Eles estavam sempre lá e eram parte de si, a Torre que os abrigava, como outrora, em tempos bem distantes, uma torre abrigara uma dragão-fêmea que fôra mãe e morrera a seguir.

O sobrenome era uma coincidência, se acreditarmos nas coicidências. Aqueles que crêem no destino diriam que era o destino sendo irónico, talvez poético, mas para Melinda que pouco se via ao espelho era só um sobrenome, ela não sabia o quanto os nomes têm poder, o quanto um nome é importante na vida de alguém.

Quando meteu as mãos no volante de seu carro, sentiu um calor preenchê-la, um calor harmoniozo e apraz, apesar de seu instinto predador, aquele que a fazia olhar para o livro que Pedro lhe emprestara e que ela deixara no banco do pendura ao seu lado, no dia anterior. A verdade é que algo a fazia sentir-se desnorteada, como se ela mesma se estivesse a tornar um caso como o de Sara Craveiro. Obviamente ela queria a resolução do caso, mas por alguma razão tinha momentos de distração, alguns até que pareciam ficar em branco na sua mente e não sabia explicar. Começara no dia anterior. Não se lembrava de ter retornado a casa, nem de ter tomado o banho que deixara o seu corpo a cheirar a baunilha e por último não se lembrava de ter entrado no elevador e ter feito o caminho até seu carro. Seria normal?

O cientista e seu sobrinho já a esperavam à frente da pensão quando chegou lá.

Quando chegou ao comando levou os dois homens até o escritório de Bernardo Teles e antes de tomar o lugar no seu próprio escritório, passou por o escritório de Marília, no outro lado do edifício. A mulher também acabava de chegar. Era a sua psicóloga. Conhecia-a desde o dia em que seu pai morrera e em que seu irmão tinha sido levado. Tinha-a como a sua maior confidente. Marília era uma jovem em seu terceiro dia de trabalho na época, agora tinha vinte e seis anos de profissão e a polícia fazia parte de sua vida. Era sua segunda família, mas Melinda para si seria sempre especial. Para Marília, Melinda era bem mais que a policial implacável que todos ali conheciam, era uma pessoa frágil e forte ao mesmo tempo, era a filha que nunca tivera, era aquela menina que vira o pai morrer e ficara sem o irmão no mesmo dia. Durante anos ficaram sem se ver, mas quando Melinda adentrou o seu gabinete após entrar na PSP à alguns anos atrás, Marília a reconheceu. Os seus olhos eram o espelho de sua alma. Ela reconheceu a menina no mesmo instante, apesar do sorriso que outrora tinha sido destruído, apesar dos anos que haviam passado.

- Mel? Tudo bem? Precisas de alguma coisa?

- Preciso, Marília. Tens tempo para mim?

Com a mão, Marília fez o gesto para que entrasse. Melinda fechou a porta atrás de si e sentou-se naquele sofá pequeno, porém afável.

- Queres um chá?

- Sim, por favor. O mesmo de sempre.

A caneca quente em suas mãos voltou a fazer aquela sensação de calor vir à tona e tomar conta de todo o seu corpo. Era bom sentir aquilo, mas não estava habituada a senti-lo. Não era como estar à frente de uma lareira ou perto de outra fonte de calor, era como se a fonte de calor fosse ela mesma. E de repente, quando percebeu aquilo, ali mesmo no gabinete da psicóloga, sentiu medo. Medo de suas veias pegarem fogo e queimarem por dentro, assim como Sara e todos os pacientes das urgências do Hospital.

Partilhou esse sentimento com Marília, a única pessoa em quem confiava plenamente, mais que sua avó, mais que sua irmã, mais que ao seu próprio espelho.

- Talvez este caso esteja a ter um impacto maior sobre ti, querida - explicou Marília - Tu és muito empática com as pessoas, é isso que te torna tão boa no que fazes. E sinto que te sentes muito ligada à pequena Sara.

Ligada? Não pensara nisso dessa maneira. Achava que Sara era a peça chave, sem sombra de dúvidas, mas ligada a ela? Porquê? Nunca a conhecera em vida. Quando a vira, já a adolescente estava morta e levara os seus segredos consigo ou... talvez tivesse que olhar para aquele caso de um outro ângulo. O que todas as adolescentes daquela idade tinham? Uma rede social ou um diário e em muitos casos as duas coisas. E algumas até confundiam as duas coisas, mas tinha a certeza que não era o caso de Sara. É, talvez se sentisse conectada com a garota, por alguma razão.

- Mel? Estás aqui? - perguntou Marília sentindo Melinda viajar em seus pensamentos.

- É, sabes Marília, é sempre bom falar contigo. Acho que vou falar com o médico de família dela.

- Mas o que é que isso tem a ver, querida?

- Ela foi diagnosticada com Hipocôndria. E sabes... a minha intuição diz-me que esse diagnóstico não era tão preciso assim.

O seu telemóvel tocou. Pedro ligava-lhe.
Despediu-se da psicóloga, agradecendo pela conversa e atendeu o seu parceiro.

- Mel, porque não me contas-te? O chefe acabou de me dizer que não somos mais parceiros.

- Seremos sempre parceiros, Pedro - e quando Melinda dizia aquilo, era de uma promessa que se tratava. Sim, ela precisaria sempre dos serviços de Pedro, assim como Pedro poderia sempre contar consigo e não seria o senhor Bernardo Teles a modificar isso com uma ordem hierárquica. Ela sabia que não podia contar a Pedro no que a DOM consistia, mas sabia que o homem confiava nela de olhos fechados e seria de olhos fechados que ele a ajudaria. Melinda sabia isso.

- É lindo da tua parte dizeres isso - mesmo sendo irónico, o sentimento era verdadeiro e Melinda sabia isso - Mas factos são factos.

- Para te provar que ainda somos parceiros, vais-me dizer quem é o médico de família da Sara Craveiro e eu vou voltar ao meu carro para chegar lá num instante.

- É, acho que a parceria continua. É para já, Melinda, mas podes-me contar um pouco mais?

- Sim, trata-se do hipocondrismo do qual supostamente a adolescente padecia. Quero perceber mais sobre isso.

- Isso ainda tem alguma coisa a ver com os livros da Luana Almirante?

A voz de Pedro pareceu alegrara-se à menção do nome da escritora.

- Veremos. É como se houvessem várias pontas de um rolo e todas estivessem certas, mas a ordem de puxar possa mudar o resultado. Tem sentido para ti?

Pedro pensou um pouco, o dossier medical da adolescente já estava no ecrã à sua frente.

- Na verdade tem. Bom, encontrei o nome do médico e a morada do gabinete medical. Vou mandar por mensagem. Depois dá notícias.

- É claro... parceiro.

Quando ía colocar o telemóvel no bolso este caiu no chão, após alguém embater em Melinda no parque de estacionamento policial.

- Sygnómi - disse a mulher e Melinda estranhamente entendeu. Era "desculpa" em grego.

O toque daquela mulher era... atemporal. Tinha os cabelos pretos e perfeitamente ondulados e perdera a noção com certeza que estava em Portugal.

- É desculpa que se diz - respondeu Melinda, sorrindo e fazendo a mulher sentir que estava tudo bem.

- Exacto. Desculpe novamente - disse a mulher em português indo numa direção que não dava a lugar nenhum. Melinda estranhou, mas não perdeu tempo a pensar nisso, o seu foco agora era entrar no seu carro, colocar no GPS os dados que Pedro lhe fornecera e investigar, que era o que fazia melhor.

A mulher por quem passara olhou para trás, olhando Melinda sem que esta percebesse.

"Gíne kalýteri gynaíka apó ti mitéra sou*" disse em voz alta. Ao seu lado um homem surgiu do nada e sussurou ao seu ouvido "É muito feio espiar, maninha"

- Alex?

- Vamos embora, Lissa! Sabes que não pudemos dar nas vistas, não com ela. Um dia a gente será oficialmente apresentado, mas ainda não é a hora. Agora... Temos coisas a fazer noutra época.

- Pega pela curiosidade - a mulher sorriu - Vamos então.

Da mesma maneira que tinham aparecido, desapareceram, como se nunca tivessem lá estado. Não era Melinda que procuravam, mas já a haviam encontrado... noutra época, noutra linha do tempo.

🔥🔥🔥

O médico de família de Sara Craveiro era um homem de óculos enormes e redondos que dava pelo nome de Américo Condessa. Parecia ser demasiado sério e Melinda até o achara de uma antipatia atroz. Ela detestava pessoas antipáticas e que se julgavam superiores a si, algo claro na expressão corporal daquele homem. O seu queixo estava consecutivamente levantado. Fez de conta que não viu e mostrou o seu distintivo sem demoras. Se o homem não fosse tão alto, era bem capaz de o tapear com o distintivo em sua cara arrogante.

- Não sei se sabe, inspectora...

- Agente - corrigiu Melinda.

- Ou isso. Sou um homem muito ocupado.

- Eu também - mexeu no casaco de maneira a que sua pistola se visse. Isso não fez o homem mudar de postura, mas percebeu que aquela policial não era uma qualquer.

Na verdade achou que ela seria louca para lhe apontar a arma e apenas isso o fez cooperar.

Melinda sentou-se sem convite. O médico nunca o faria e ela vira isso no olhar dele, mas ela não precisava de ser convidada para se sentar. Nenhum homem a iria humilhar e essa era uma promessa que ela se fizera a si mesma desde que tinha quatorze anos de idade.

- Você tinha uma paciente da qual eu quero informações, sobre o estado médico, resumidamente.

- Dê-me uma boa razão para eu quebrar o sigilo profissional.

- Bem, primeiro, eu tenho um distintivo e uma pistola no meu coldre, segundo, trata-se de um caso policial.

- Venha com um mandato, então - disse o médico.

Ele sabia tanto quanto ela que tinha razão. Com um mandato ela poderia ter acesso a todas as informações que queria, mas não achou que seria preciso um, não para o tipo de informações básicas que queria. Para não falar que Sara estava morta. Seria assim tão grave quebrar o sigilo? Mesmo sem mandato, ela continuava a ser uma agente.

- Passo a explicar, Dr. Condessa. Eu estou a investigar um caso e as informações que quero não são nada demais.

O médico preparava-se para falar quando ela pegou na pistola e a apontou a uma jarra de flores na sua secretária.

- Você acha que eu sou louca o suficiente para atirar e eu serei se você não me deixar falar até ao fim, entendido? Eu não peço nada demais. As informações são sobre uma paciente que morreu. Se for preciso eu venho com um mandato, sem problemas, mas acredite, se eu vier com mandato, você entrará na lista de suspeitos e você não quer isso, portanto Dr. coopere e ponto final, não me faça enervar.

O médico engoliu em seco, apesar de seu queixo continuar altivo.

- De que paciente se trata?

- Sara Craveiro. Era uma adolescente de desasseis anos e morreu há três dias de... - combustão intravenosa, quiz dizer.

Não esquecera que aprendera aquilo com Maurício e rapidamente até se perguntou se teria feito bem deixá-los lá sozinhos, enquanto tomara a rédea da situação conduzida por sua própria linha de pensamentos.

O médico oscilou a movimentação de sobrancelhas em descrença.

- De? - perguntou o médico, abrindo arquivos e ficheiros em seu computador - De um vírus. Não entendo.

- É. Imagino que ainda não haja uma causa de óbito crível, estamos a investigar isso mesmo. Você diagnosticou a jovem com hipocôndria, certo?

- Sim. Efectivamente. Já sei de quem se trata.

- Prontos. É sobre isso que quero saber. Como pode ver, nada demais. Pode-me dizer então, qual era realmente o estado dela?

- Bom, na verdade o hipocondrismo dela era sobretudo alheio.

- Alheio? - indagou Melinda.

- É. Ela metia na cabeça que os outros estavam doentes.

- Pensei que os hipocondríacos fossem pessoas que pensam que elas mesmas estão doentes, não os outros.

- Não está errada, mas a hipocôndria da Sara era definitivamente em relação ao outros, na maior parte das vezes - explicou o médico.

- Diria então que era uma pessoa empática?

- Sim, talvez.

Sara com certeza havia sido uma pessoa com forte empatia pelas pessoas que a rodeavam no geral, mas não se podia dizer o mesmo daquele médico de feitio intragável. Melinda sabia o que seu instinto lhe dizia, dadas as informações que obtivera. Era o que ela precisava de saber e não estava disposta a ter que ficar muito mais tempo em tão má companhia, por isso deu a conversa por terminada e partiu rumo ao Comando.

Não havia dúvidas que a companhia de um cientista acabado de sair de um sanatório e um falsificador golpista era bem melhor que a daquele Dr. Américo Condessa. Até o nome do homem ela desdenhou ao sair do consultório.

- Nome ridículo - sussurrou.

- Como disse? - perguntou a secretária que fingiu não ter entendido.

- Nada - respondeu Melinda - Pensei alto.

Há um tempo que não sentira tanto ódio por alguém e nunca pensara que pudesse ser real, mas tinha sido ódio à primeira vista. Quem diria?

🔥🔥🔥

O brilho nos olhos do cientista era incomparável e absolutamente explêndido. Quando entrou em seu laboratório, sentiu que tinha entrado no paraíso. Agira que nem uma criança dentro de um parque de diversões e ainda que Maurício quizesse repelir pensamentos parecidos com os do tio, ele achara o laboratório incrível. Tinha tudo que um cientista deseja e precisa ter em seu laboratório.

O salário que Bernardo Teles havia proposto em nome de seus superiores não era grande coisa, mas um apartamento no campus da universidade estava de óptimo agrado e compensava o ordenado pequeno. Era um lar que lhes estavam oferecendo e ele estava entre fugir, que era o que sempre fazia quando dava o golpe ou quando algo corria mal, e ficar, porque finalmente tinha uma casa para morar sem ter que pagar aluguer e claro, o melhor de tudo era que não estava a cometer nenhum crime. Isso estava-lhe a dar estranheza. Nunca pensara sentir-se partilhado em duas dúvidas dessa maneira.

O que o inclinava bastante a fugir era a presença do tio. Não, ele não acreditava que ele tinha matado aquela mulher há dezessete anos atrás, mas isso não significava que ele fosse inocente ou que não causara a morte dela. Já para não falar da ética ou na verdade e a falta dela.

A revolta que ele tinha pelo tio estava em si há muito tempo, ele apenas se esquecera devido ao tanto de aventuras e enrascadas que se metera ao longo dos anos. Tivera tempo e muito a fazer para não pensar mais no passado, mas eis que o passado sempre encontrava uma maneira de se transformar em presente, de se entregar à alma dos esquecidos. Agora ele só queria poder inventar um soro do esquecimento para o poder tomar. Se não soubesse ou se lembrasse do que seu tio era capaz, seria mais fácil viver, nem precisava de perdoar, pois nem saberia que havia algo para perdoar. Talvez seu tio devesse trabalhar nisso, agora que tinha um laboratório e uma parafernália de tubos de ensaio.

O dia tornou-se mais leve na presença de Melinda. Quando ela chegou, trazendo consigo uma fragrância frutada, o seu dia melhorou bastante. Definitivamente, as ruivas tinham um charme especial e ele nunca percebera isso.

Ela era carinhosa e amigável. Trouxera uma caixa de napolitanos para o Dr. Raúl e ele não prescindiria de pegar em pelo menos um e comer.

- Para si - disse a ruiva estendendo a caixa.

O cientista cantarolava "se um dia por magia eu voltar, oh oh oh oh oh", mas logo parou para agradecer Melinda e pegar num bolo.

- Ai que maravilha - elogiou imediatamente após a primeira mordidela - Acho que nunca tinha comido nada assim. Como se chamam?

- Napolitanos - responderam Melinda e Maurício ao mesmo tempo. O que fez com que se entreolhassem e sorrissem.

O cientista pareceu surprendido.

- Que interessante - respondeu o Dr. Raúl.

Obviamente os dois pensaram que o Dr. Raúl achara o nome do bolo interessante, mas o homem era imprevisível. Havia sempre a possibilidade de ele estar falando de outra coisa.

Melinda pediu as novidades. Sim, os homens ficariam e o Dr. Raúl já havia assinado um contrato de trabalho, mas Maurício estava um pouco reticente. A sua vida de nómada durava há demasiado tempo. O homem tomara gosto em não ter para onde ir, nem para quem voltar e na verdade, a segunda opção ele nunca tivera e o tio melhor que ninguém sabia disso. Sabia até bem mais que o que dizia.

Alguém bateu à porta. Melinda abriu e se espantou.

- Bom dia - disse um homem à sua frente, guiando uma vaca malhada que não atingira ainda a idade adulta, para dentro do escritório.

O cientista quando viu o animal ficou felicíssimo, o que fez Maurício sorrir sem querer.

- O que se passa aqui? - perguntou Melinda.

Ao que este lhe respondeu.

- Foi um pedido especial do meu tio ao chefe. É... você foi buscar um homem excêntrico. Lide com isso!

- Não tenho problemas com isso - e ela não tinha mesmo - Eu só quero entender.

Mais homens entravam com vários farros de palha e alguns de erva. Como ela não vira aquele recanto lá no fundo vazio? Eles estavam metendo a palha lá, fazendo uma espécie de quarto para o animal.

- É por causa do genoma - Melinda o olhava, esperando ele desenvolver a teoria - É usado geralmente pelos cientistas para remédios, entender o desenvolvimento de doenças e sobretudo no caso do meu tio, desvendar o quebra-cabeças da evolução humana.

- E precisava de ser uma vaca? - perguntou a agente.

- Elas têm de setenta e cinco a oitenta por cento de semelhança com o ser humano e...

- E?

- As vacas têm óptimas qualidades para os cientistas.

- Está bom. Isto aqui portanto é normal num laboratório científico?

- É mais comum do que você acredita.

- Pára - ordenou Melinda.

- Com o quê, agente?

- De me tratar por você. Somos da mesma idade. E... - Maurício esperava a conclusão de sua frase - Não precisas de me tratar por agente. Melinda está óptimo.

- Combinado - Maurício disse pegando sua mão e abanando em cumprimento, como se apenas nesse momento estivessem a ser apresentados.

E por momentos, o olhar de Melinda fez com que ele desejasse que fosse essa a realidade. Somente agora sentira vergonha da maneira como se conheceram em Arzila.

O cientista aproximou-se de Melinda, com um segundo napolitano na mão, já pela metade.

- Então, agente Torres, o que me diz da Gina? É linda não é?

- Gina? - indagou Melinda, percebendo instantaneamente que o cientista falava da vaca - É sim.

Podia até ser surpresa para si, mas sim, a Gina era um espécime lindo que ela iria adorar acariciar mais tarde, quando descobrisse o porquê de setenta e uma pessoas morrerem de combustão intravenosa e foi por isso que deixara o laboratório onde iria estar durante muito tempo no futuro. Apenas foi interrompida por três macas com sacos pretos, com corpos no seu interior. Bernardo vinha metros atrás, como se quizesse guardar distância do panorama.

- Agente Torres - disse - Ainda bem que está aqui. O Dr. Raúl já está pronto para começar.

- E eu já comecei, chefe.

- O Pedro contou-me. Como foi a conversa? Devia ter-me avisado.

Melinda contou os detalhes.

- Excelente trabalho, Torres. Isso me deixa uma certeza. Este é mesmo um caso da UNDOM.

- É, sinto o mesmo, só não me peça para voltar ao consultório daquele homem.

- Não vou pedir. Para já, ouça o que o Dr. Raúl tem a dizer sobre isto - apontou.

Não havia estudantes por perto, estavam em aulas.

- Eu ía para o comando, mas com certeza vou ser precisa aqui. Eu... vou só buscar uma coisa ao carro.

E ía... No banco da frente estava o livro de Pedro, mas no porta-luvas estava o mesmo de Sara Craveiro, O inimigo invisível. Sentia que devia partilhar aquilo que lhe estava a passar pela cabeça com alguém, mas não com Bernardo, não para já. Maurício parecia ser bastante inteligente a ponto de entender e ter a mente suficientemente aberta a ponto de acreditar.

Para si, a explicação era simples, ainda que inacreditável.

Tradução:

*Gíne kalýteri gynaíka apó ti mitéra sou - sê uma mulher melhor que a tua mãe

🔥🔥🔥

Oi, brasinhas. Este capítulo contêm crossovers de futuros livros da saga. São dois intrusos que vieram cá parar. 😊

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