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35 - Algemados ao destino

Actualmente

Depois do mutante abrir a boca, apanhar Óscar não foi difícil, porém, quando a DOM chegou ao hotel dúvidas pairaram no ar, pois Estela estava com o psicopata criminoso e no preciso momento em que Bernardo abrira a porta, pai e filha abraçavam-se. Aquilo colocava Estela numa posição delicada. Ela estava longe de perceber que mais uma vez arriscava ser presa por um crime que não cometera.

- Mãos para cima - gritou Bernardo.

Melinda apareceu por trás de Bernardo e Estela quase caiu estatelada no chão com a surpresa.

Pai e filha não obedeçaram à ordem da autoridade. Bernardo repetiu as suas palavras com mais agressividade. Óscar começou a levantar os braços ligeiramente hesitante, demoradamente. Estela não fez nada.

- Estava a falar com os dois - falou Bernardo - Mãos para o ar. Estão presos.

Bernardo adentrou para dar passagem a Pedro e Inês. Os dois tiraram as algemas de seus coldres.

- O que estão a fazer? - questionou Estela com alguma revolta nascendo acima de sua garganta, que parecia se torcer.

- Estamos a fazer justiça, Estela - disse Bernardo - Justiça. És cúmplice, qual é o teu papel nisso tudo?

- O que é "isso tudo"? - perguntou - É por o meu pai estar vivo? Só soube agora.

- Que conveniente - comentou Bernardo.

Melinda sentia os lábios extremamente secos. Só queria poder colocar um batom de cieiro, porque a secura estava incomodando-a. Não falara nada enquanto os seus colegas fecharam as algemas nos pulsos de seu avô e de sua mãe. Durante a viagem na viatura polícial também se mantivera calada, mesmo ouvindo a sua progenitora chamando por si na parte de trás da carrinha. Estela tinha a cara praticamente colada à grelha que separava os políciais dos bandidos. Pedro e Inês seguiam noutro carro da polícia.

- Bernardo, do que se trata tudo isto? - perguntou Estela a certo momento.

- De tráfico...

- De droga? O meu pai? Isso é um erro.

Bernardo olhou de esguelha para Melinda, apesar de estar a conduzir. Estava começando a acreditar na inocência de Estela, porém não conseguia conceber que ela tivesse descoberto a verdade minutos antes da polícia aparecer. Parecia surreal. Talvez ele acreditasse se tivesse conhecido Ezlíria, assim como Ernesto conhecera um dia. Talvez assim ele tivesse noção do que ela fazia com o destino, porque a Deusa do destino, como não poderia deixar de ser, tinha um enorme sentido de oportunidade. Afinal das contas, talvez ela tivesse algemado Estela e Óscar ao destino que lhes convinhas.

Almas perversas merecem destinos cruéis.

- Señior Óscar - disse Bernardo num tom acima do normal - Conta você ou conto eu?

- Não tenho nada a contar. Sou inocente do que me acusam. Vocês não sabem o que estão a fazer, não sabem quem eu sou.

Bernardo deu uma risada falsamente exagerada.

- A questão está precisamente nesse ponto, a gente sabe quem você é. Você pensava que nomes como Hernandez ou Enzo Garcia o esconderiam da polícia e do que anda a fazer há anos?

- Polícia - Óscar cuspiu a palavra - Do que a polícia me pode acusar? Tráfico humano? Não me façam rir.

Melinda cerrou os punhos. Tivera vontade de socar o homem e talvez o tivesse feito se não estivesse sentada no banco frontal da carrinha polícial. Independentemente de ser seu avô, ela não pensaria duas vezes. Ela nunca o conhecera sem ser histórias e fotografias, não era o suficiente para a fazer sentir afecto por o homem. Ele não estivera presente na vida dela, então era-lhe indiferente. Só depois de a vontade de socar seu avô de sangue se atenuar, lembrou-se novamente dos laços de sangue que a ligavam a ele. Ele não parecia ter noção que a sua neta estava bem na frente do transporte. Nem devia saber e para já, não precisava.

- Ora, um señior (como dizem os espanhóis) tão inteligente e bem informado não sabe que existe um departamento policial chamado DOM, encarrege de crimes... bem você sabe?

- DOM?!

A voz de Óscar soara surpresa, atónita. Ele era inteligente o bastante para entender que aquela sigla deveria querer dizer algo sobre o mundo sobrenatural, tendo em conta o tom com que Bernardo falara. Não, ele não sabia que aquela força polícial existia. Ouvira uns zunzuns irrelevantes aos quais nunca fizera atencão, aos quais nunca dera importância e agora percebia do que estavam a falar. Estava tão lixado! Onde estava Epaminondas que não o avisara da chegada da polícia? Nunca deveria ter confiado num surdo para proteger sua dianteira.

🔥🔥🔥

Epaminondas acabava de chegar à sede. O local estava vazio. Aquele lugar nunca estava vazio. Sentiu um gorgulhejar em seu estômago.

- O que se passa aqui? - perguntou ao vazio, como se a resposta lhe fosse aparecer à frente.

Quando chegou ao local onde o impulsionador se encontrava deparou-se com o caos. Alguns balcões haviam sido jogados no chão, assim como tudo que estivera em cima deles anteriormente. O chão estava repleto de cacos de vidro e vários tipos de substâncias esquisistas, inclusive viscosas. Algumas flores pequenas haviam crescido onde uma dessas substâncias caiu.

- Que raios...?

Foi então que avistou a porta vermelha... aberta. Ninguém estava saíndo, ninguém estava entrando, ela apenas esta aberta. As vibrações de som provenientes daquele espaço outrora fechado e repleto de seres sobrenaturais era inexistente. Ele sentia que as criaturas não estavam mais lá, mas precisava ver com os seus próprios olhos.

Mal saiu da sala pegou o telemóvel e escreveu uma mensagem a Señior, mas o homem não visualizava, nem respondia.

Deixando o impulsionador inundado e a sala de encarceramento dos seres sobrenaturais para trás, Epaminondas dirigiu até o hotel de Señior mais rápido do que alguma vez dirigira, mas não encontrou Óscar em lugar nenhum, foi então que uma receptionista avisou que o patrão saíra dali algemado, ele e uma mulher loira, os dois seguidos de perto por quatro policiais. Então a ficha de Epaminondas caiu, tudo havia sido descoberto. Aquele era o fim. O fim de uma era. Ele nem sequer conseguia sentir necessidade de fugir, na verdade, não sabia porquê, mas sentia alívio, como se um peso fosse tirado de si. Durante todos aqueles anos, ele tivera muitos momentos de hesitação, sabia que havia ultrapassado os limites há muito tempo e provavelmente era isso que o fazia ficar e concordar com tudo. Perdido por cem, perdido por mil. Não havia maneira de lavar a sua consciência e recuperar a sua alma, ele já a havia vendido ao diabo há uma trintena e não tinha como voltar atrás. No entanto, saber que tudo acabara, a Rede acabara proporcionava-lhe uma sensação indescritível. Talvez analisando tudo de outro ângulo, ele entendesse que tudo aquilo era ainda mais errado e sádico do que ele já desconfiava. Como é que ele se deixara enredar num esquema daqueles? É claro, a banshee, aquela maldita banshee que no mesmo dia matara a sua família e deixara-o surdo. Aquela nódoa negra na sua vida fizera com que fosse o homem perfeito para ser o assistente do diabo. Assim como o tinhoso, ele usava vários nomes Señior Júlio Hernandez, Señior Carlo Ayer, Señior Enzo Garcia... e Epaminondas nunca tivera a honra de saber seu verdadeiro nome. Afinal, a amizade não era recíproca, não totalmente de maneira a fazer Señior baixar as defesas, mas parecia que o mesmo não se aplicava àquela mulher loira que fôra algemada consigo, pelo menos ele suponha.

De momento, Epaminondas precisava sair dali, daquele lugar com quadros bonitos, do luxo do hotel, precisava de ar livre. Fizera tanto mal a tanta gente e afinal ele só precisava que Señior tivesse saído de cena para entender o quanto se transformara sob a influência daquele homem, cego por a sede de vingança. Afinal das contas, ele nem sequer conseguira apanhar a banshee que matou a sua família e o deixara surdo. Tão pouco tivera pistas que o levassem até ela. Ele não era assim no passado, era um homem bom e trabalhador. Trabalhava nos correios e o ordenado não era uma pipa de massa, mas era um trabalho honesto que podia mencionar para as pessoas que se cruzavam consigo, não era como o trabalho que fazia para Señior. Na verdade, o que é que ele era mesmo para o seu patrão? Ele era mau, Epaminondas era mau. Ao longo dos anos ele esquecera-se de fazer análises de consciência. A mulher era a sua bússola, sem ela perdera o rumo e transformara-se num monstro. Chegar a essa conclusão era um golpe e tanto, mas tinha de lidar com isso, fazer alguma coisa a respeito, não podia ficar parado. Só que ele não sabia com quem falar, porque simplesmente não havia ninguém. A única pessoa com quem ele confidenciava era Señior. Ele se fechara para o resto do mundo há muito tempo. Pelo menos para o mundo dos vivos.

Voltou ao carro e dirigiu por meia hora. Chegou num cemitério comprido e percorreu imensas campas até chegar onde queria. A sua mulher e a sua filha haviam sido enterradas lado a lado numa campa de pedra barata no fim do cemitério. Falou com as duas. Já não o fazia há mêses. Quando acabou de falar em voz alta, como se elas o pudessem ouvir, viu uma mulher não muito longe fazer o mesmo.  Ela devia ter mais ou menos a sua idade. Movido pela curiosidade e querendo adiar uma decisão definitiva sobre o que fazer, Epaminondas aproximou-se da mulher sorrateiramente. Antes de dizer alguma coisa, avaliou o rosto da mulher. Era bonita.

- Oi. Lamento a sua perda. Quem era?

A mulher olhou para ele.

- O meu marido. E você? Quem perdeu?

- A minha esposa e a minha filha.

- Quanto tempo? - ela perguntou.

- Pouco mais de trinta anos - Epaminondas respondeu - você?

- Também. Pouco mais de trinta anos.

Epaminondas olhou então a lápide do homem. Destacava-se por ser de mármore e ser tudo menos simples. Quem estava ali tinha dinheiro. Pensou isso até colocar enfim os olhos na fotografia. Era surdo, mas em compensação via muito bem e aquele ali era o seu patrão ou alguém muito parecido. Na lápide estava escrito "Aqui jaz Óscar Rebelo Aires, marido, pai e filho. 1944-1986.

- Óscar - pensou Epaminondas em voz alta.

- Conheceu-o? - perguntou a mulher.

- Mm - atrapalhou-se - Acho que não. Não sei. Ele morreu de quê?

- Ataque cardíaco - ela respondeu sem hesitações - E a sua família?

- Acidente caseiro. Monóxido de carbono.

Habituara-se a dizer aquilo. Não era adequado dizer que tinha sido uma banshee por aí. Corria o risco de ser convidado a integrar um manicômio.

- Eu sou o ... - por momentos pensou inventar um nome, mas acabou por se render à verdade - Epaminondas.

- Ah, compreendo a hesitação. Os seus pais não foram muito simpáticos a escolher um nome.

Epaminondas sorriu. Ele também nunca gostara do seu nome.

A mulher estendeu a mão.

- Eu sou a Ema. Ema Aires - disse olhando para o nome da campa à sua frente.

Aires...

Aires...

Aquele nome, aquela fotografia, seria coincidência?

- Você é a mãe da escritora? A Estela Aires? - perguntou.

- Um fã? Eu sou, sim.

- É isso. Que honra conhecer a mãe da Estela Aires. Nunca pensei que hoje seria um dia tão... - a mulher o olhava atenta - cheio de surpresas.

Ele estivera enganado o tempo todo. Pensava que Señior ajudava Estela porque tinha um interesse sexual nela, agora estava sentido-se sujo por isso, afinal todos os favores, todos os cuidados com a escritora eram porque se estava comportando como um pai coruja, atento e protector. Afinal aquele homem monstruoso fazia algo por alguém, por a filha. Ele a protegia, a salvaguardava. Ela era a única pessoa com quem Señior tinha sido verdadeiramente altruísta desde que Epaminondas o conhecia.

Com o vestido ondulando levemente e o olhar sorridente, Ezlíria tinha seus pés pairando acima de uma sepultura aleatória naquele grande e vasto cemitério. Olhava Ema e Epaminondas e traçava mais uma linha do destino, invisível ao olhar dos mortais. Era mais que hora de Epaminondas ver o que sempre estivera perto da campa que costumava visitar, a campa de Óscar. Uma das coisas das quais Epaminondas não tinha conhecimento era a morte falsificada de Señior, mas não o admirava. Aquele homem sempre fôra um poço de mistérios. Reparava mais que nunca que o seu patrão de uma maneira ou de outra conseguira a juventude que tanto queria. Ele não mudara nada após aquela fotografia. Isso ele sabia, assim como tudo que era crime em sua vida. Até era bem fácil entender o falso óbito, dado tudo que ele sabia sobre as ambições egoístas e fúteis do homem, mas porque Señior nunca lhe dissera seu verdadeiro nome?

Nomes têm poder, ele dizia.

Afinal, o que Señior pensava que Epaminondas poderia fazer com o nome dele? Que nome ele teria no registro do hotel, por exemplo? Aquele hotel que ele comprara com dinheiro mais sujo do que lixo?

- O senhor não tem mais filhos? - perguntou Ema, descontraída porém temendo causar embaraço.

- Não. Nunca mais tive família e você?

- A minha família teve algumas perdas - disse tristemente - Primeiro foi o meu marido, sem que a gente estivesse à espera. Anos depois o meu genro. E o meu neto foi raptado e nunca mais apareceu. Provavelmente também foi morto. Ninguém sabe.

- Eu lamento - disse Epaminondas. Para sua própria surpresa lamentava realmente.

Entretanto Ema virou-se de um jeito que fez com que Epaminondas não pudesse ver o movimento de seus lábios. Ela estava contando sobre o mediatismo em torno do caso de seu neto na época de seu rapto, porém Epaminondas não sabia que ela estava falando e Ema não tinha como saber que ele era surdo. Ele disfarçava tão bem... até o momento em que não conseguia mais ver os lábios de seu interlocutor.

Entretanto ela virou-se outra vez para ele.

- Tenho três filhos, mas sabe... os passarinhos voam do ninho e alguns não voltam mais.

- Eu tive apenas uma filha - olhou para trás, para a campa da filha e da esposa - Mas isso eu já disse, não é mesmo?

- Eu lamento. Perder um filho ou um neto é perder uma parte de nós mesmos. Espero que consiga superar a dor, pois não sei se algum dia superarei a minha.

Alguns paralelepípedos do chão do cemitério estavam soltos e Epaminondas quase caiu após dizer adeus a Ema, carregando consigo um peso gigantesco na consciência. Se tivesse caído seria o karma o atingido, sabia disso e até desejou que tivesse acontecido. Talvez isso faria sua culpa diminuir.

🔥🔥🔥

Epaminondas não tinha acesso a toda a documentação de Señior. Maior parte o homem tratava ele mesmo em pessoa, como um empresário muito meticuloso com as suas próprias posses, porém Señior não estava ali para ver. Epaminondas abriu todas as gavetas e olhou toda a documentação até encontrar o que queria e até um pouco mais do que esperava. O nome com que Señior assinara a sua compra do hotel não era Óscar Rebelo Aires. Epaminondas previra isso, mas precisava confirmar. Em vez de seu verdadeiro nome, outro nome se apresentava no espaço dedicado à assinatura do proprietário do edifício: Xavier Aires Torres.

Epaminondas releu o nome várias vezes, pois o seu cérebro parecia estar rejeitando a informação. Porque Señior falsificaria o nome e guardaria o sobrenome Aires? Ainda mais sendo Aires um sobrenome não muito comum. Xavier... aquele nome realmente dizia-lhe alguma coisa, mas...

A criança... a criança que o próprio Señior raptara com a ajuda do Tigre.

Epaminondas acabava de compreender que Señior raptara o próprio neto. Com certeza ele não calculara a fuga de Xavier pouco tempo depois. Epaminondas sempre se questionara sobre aquele rapto, até porque se fosse uma criança sobrenatural, Señior tinha mandado um bicho-papão e não tinha ido ele mesmo com o seu capanga.

Ele tomara a identidade do neto ou colocara o hotel em nome do neto? O homem que conhecia não era assim tão altruísta, mas com Estela ele era bem generoso. Tudo que saíria de sua mente não passaria de suposições, mas sentia um aperto, era a aflição em sequer imaginar que Señior poderia ter matado o miúdo, o próprio neto. Seria ele capaz?

Epaminondas encontrara também um testamento. Señior deixava tudo aos seus quatro filhos por partes iguais.

Quatro?

- Quatro filhos? - disse em voz alta. Temeu que as paredes tivessem ouvidos.

Mas aquela senhora no cemitério dissera que tinha três.

Um bastardo? Pensou.

Porquê só agora descobria essas coisas? Tudo no mesmo dia?

A resposta estava do outro lado da janela, pairando no ar, trajando um vestido preto com terminações arroxeadas, um decote vantajoso e uns seios perturberantes. Seus olhos roxos a faziam extremamente bela e divina. Quem mais poderia ser a responsável por tanta coincidência senão ela, Ezlíria?

🔥🔥🔥

Haviam regras importantes que diziam respeito à travessia da fronteira entre mundos. Cila explicara isso aos oficiais da DOM com muita paciência. A mãe de Melinda ficaria com Bernardo, dando explicações que não conseguiria e Señior estava sendo deportado para a prisão de seres sobrenaturais. Se ele tinha estômago para traficar seres sobrenaturais para seu ganho pessoal, iria aprender como seria pertencer àquela mundo, sendo tratado como um deles numa prisão onde ele não seria ninguém, a não ser o único humano. Afinal das contas ele nem era tão humano assim.

- Eu vou - declarou Melinda.

- Humanos não podem entrar na travessia - explicou mais uma vez Cila - ainda mais uma adolescente - enfantizou.

- O Señior é uma exceção - disse Sana - Não precisamos de explicar porquê. Policiais humanos não podem, mesmo sendo da DOM e muito menos uma menina. Afinal quem és tu?

- Eu posso - disse Melinda que para surpresa das Artemísias abriu um enorme par de asas flamejantes.

O seu rosto se abriu em fendas de fogo e seus olhos ficaram laranjas.

- Eu posso, não por ser policial, que eu sou mesmo a propósito. Sou a Melinda Torres e para além de ser neta desse psicopata, eu sou uma fénix.

- Tu és - disse Sana, olhando-a sem piscar e aproximando-se - Eu pensava que tinha sido eu...

- Estás a falar de quê? - perguntou Melinda.

- Os trovões. Eu sou uma kitsune, eu os provoco, às vezes sem querer, mas não fui só eu, não é?

- Ainda não entendi - disse Melinda.

- Tu renasceste das cinzas recentemente, não foi? Por isso estás uma adolescente.

- Sim - respondeu Melinda - Mas já andava trovejando antes.

- Tu andavas ansiosa - comentou Bernardo - Tem trovejado desde que...

- A minha mãe saiu da prisão - Melinda terminou.

Sim, era verdade, ela andava nervosa, stressada, com o peso daquele caso nos ombros, a descoberta sobre si mesma, mas pior que tudo era o facto de sua mãe estar livre e tê-la visitado no hospital com insinuações e provocações sobre a paternidade de Xavier. Era indiferente se ele não era filho de Rogério, porém Melinda odiava a sua progenitora com todas as forças. Aquela mulher era um baú de mentiras e maldade.

- Vamos! - declarou Tânis - A travessia leva o seu tempo.

- Melinda - disse Bernardo - Pega uns dias. Quando chegares a gente quer saber como é o mundo das fadas.

Melinda sorriu e olhou Maurício ali presente. Aproximou-se dele e colocou a mão em sua bochecha de forma suave.

- Quando eu voltar a gente comecará de novo, sem fugir de mafiosos a quem deves dinheiro, tá? Sem eu precisar de salvar.

- Eu juro que não me vou meter em sarilhos. Volta logo, beldade!

Quando ela o procurara em Marrocos, Maurício havia lhe lançado exatamente aquele elogio. Na altura ela o comparara aos trolhas portugueses, mas naquele momento de despedida aquilo lhe soubera a nostalgia. O brilho nos olhos de Maurício era inverossímil.

Em sua aparência, o comboio que fazia de travessia era comum, porém Melinda sentia a magia em torno dela. Ali dentro, na companhia de seu avô psicopata e das Artemísias, Melinda arrependeu-se apenas de uma coisa: não ter beijado os lábios desejáveis de Maurício. Não esquecera de mandar uma mensagem a Lavínia, nem de ligar à sua avó que estava saíndo do cemitério numa visita ao marido morto que estava na sua frente, vivo da silva, de mãos atadas e boca tapada. Ela apenas esquecera de mostrar a Maurício o amor que transbordava de seu coração a cada vez que o via. Prometera a si mesma que quando voltasse à sua dimensão, ela iria fazê-lo e nunca mais iria parar. E as roupas de seu ex iriam conhecer o caixote de lixo. Sentia mais que nunca que era hora de reescrever uma nova história, desta vez com um final feliz. Sentia que esse final feliz seria ao lado de Maurício. Ele era o sonho que ela tivera em meio a uma vastidão de pesadelos. Ele era o futuro esperando seu regresso, portanto ela não demoraria... pensava ela.

🔥🔥🔥

Só falta um pequeno capítulo e o epílogo.

A seguir vem Dom de Tempo e depois Dom de Ar, que se passará na estadia de Melinda do outro lado do véu, no reino das fadas.

Não tenho banners, para já, então vos apresento as capas temporárias.


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