18 - A Rede
Gente, eu publiquei sem querer. Ainda não estava pronto. Aqui está. Para quem leu antes, eu marquei um 🌂 onde estava, para não terem que voltar a ler o que já leram.
Actualmente
Sílvia não queria sair de sua casa, porque simplesmente sentia o mundo gritando aos seus ouvidos. Ir à escola seria penível, sentia a cabeça prestes a explodir, mas pensava que não era possível, não até conseguir pensar no meio de um turbilhão de vozes sussurundo dentro de si "A Sara morreu por causa de ser empática e levou pessoas com ela, sim, foi por causa disso e agora sou eu quem está a sentir a cabeça a explodir. Nossa, eu vou morrer. Vou morrer e vou deixar os meus pais em muito sofrimento por perderem as duas filhas que tinham".
Não havia muito o que fazer a não ser ligar para Melinda, o problema é que Melinda não atendia. Sabia que a agente trabalhava numa divisão secreta, portanto, não podia simplesmente ligar para a polícia e queixar-se do seu problema. Íriam achar que era uma louca e desligar a chamada na sua cara. Queria que houvessem outras opções, mas não haviam.
Já começava a pensar em suicídio, quando Melinda retornou a ligação. Para si foi um alívio.
- Oi? - ouviu Melinda do outro lado.
- Senhora agente? Até que enfim, é a Sílvia Craveiro. Porque não me atendeu? Pareceu-me que era para ligar quando precisasse.
- Desculpa, minha querida. Passei a noite no hospital e não tinha o telemóvel comigo.
Sílvia fez uma leve pausa para constatar que não colocara o bem estar de Melinda em causa. A sua mão esquerda foi automaticamente até à sua testa. Estava um pouco melhor, mas também tivera febre na noite anterior. Uma febre provocada por os pensamentos de todos que se encontravam perto de si. Aquilo não era mais um dom e sim uma maldição.
- Eu também tive febre. Tem momentos em que não consigo controlar o meu poder de empatia e ouço os pensamentos sem poder bloqueá-los, mas ontem tive um pico bem alto e só me apetecia... não interessa. Preciso de ajuda, senhora agente.
- Claro. Eu vou ver o que posso fazer. Sei com quem devo falar.
- Tudo bem, só por favor, seja rápida, porque eu temo não aguentar muitos mais momentos como o de ontem.
- Sílvia, os teus pais sabem que andas a passar mal?
Pelo tempo que Sílvia demorou a responder, Melinda percebeu que a resposta era não. Entendia perfeitamente que a garota não quisesse preocupar os pais, sobretudo quando eles tinham perdido uma filha há bem pouco tempo, nenhum pai merecia ver seus filhos partirem primeiro, mas eles precisavam saber.
- Eles... pensam que estou mal porque todos estamos mal; tristes. Depois que a Sara morreu, eu não pisei mais o chão lá fora. Não estou a ir à escola e todos entendem porque acreditam...
- Que estás de luto porque perdes-te a tua irmã gêmea.
- Exatamente. E eu estou, mas todo este caos dentro de mim é muito maior que isso. Eu sei que sou apenas uma miúda para si, Agente, mas já sabe algo sobre o que se está a passar?
- Sílvia, eu não sei...
Maurício interrompeu-a apenas com o olhar. Ele estava conduzindo e Melinda estava ao seu lado falando com Sílvia, pensando que Maurício não ouvia, mas ele conseguia ouvir a adolescente perfeitamente.
- Mel, diz-lhe a verdade. Conta-lhe do Impulsionador.
- Eu sou uma agente, Maurício - disse após meter a mão à frente do telemóvel - E ela uma garota. Não posso contar detalhes da investigação para uma civil.
- Ela não é uma civil qualquer. É uma empata afectada por o impulsionador do Señior.
- Ainda assim preciso de protegê-la a ela e aos dados confidenciais da nossa unidade - respondeu Melinda.
- A minha opinião é a minha opinião e vale o que vale, mas pessoalmente acho que dificilmente alguém é protegido estando na ignorância.
- Agente! Agente! - Sílvia chamava.
- Sim, Sílvia, desculpa, estava a trocar ideias com o consultor da... minha unidade.
Não, Melinda sentia que definitivamente não era uma boa ideia meter a adolescente a par do que a DOM tinha descoberto, mas sentia que a tinha de ajudar, sem sombras de dúvidas.
Enquanto Melinda terminava a conversa, Maurício viajava em recordações. Lembrou-se de algo que nem sabia que havia vivido. "Como me fui esquecer disto?" pensou. Fazia tanto tempo que não falava com o seu tio Raúl, que não se lembrava mais porque o desprezara até bem recentemente. Simplesmente sabia que tinha razões para ser hostil, apesar de não lembrar mais de quais. Agora começava a simpatizar com ele sem nem se aperceber. Os seus olhos olhavam na direcção certa, mas como as memórias lhe tiravam o foco da condução, o pneu do carro roçou no passeio, fazendo Melinda desviar a atenção e olhar Maurício ligeiramente surpresa e amedrontada. A chamada terminara sem que ele se apercebesse.
- O que foi?
- É que - Maurício disse, marcando uma pausa para engolir em seco e sacudir a cabeça tentando a todo custo tirar da mente a memória que o assolara - Eu acho que sei o que vai ajudar a Sílvia Craveiro.
- A sério? Que bom. O que é?
- Muito a sério. Tem a ver com o meu tio e ele vai-te dizer o que é. Com certeza saberá melhor que eu.
O olhar de Maurício não estava mais amistoso como antes. Na verdade, desde que Melinda o conhecera, nunca o vira com aquela expressão ressentida e rancorosa. Como agente das autoridades, sabia definir esses dois sentimentos pelas expressões faciais.
- O que foi, Maurício? - perguntou Melinda começando a ficar preocupada.
- Prefiro não falar disso agora.
O problema das memórias é o facto de por vezes serem difíceis de atingir e noutros momentos serem difíceis de tirar da mente. Maurício sentia clarões tapando a sua visão, fazendo-o reagir ao medo e reprimir o seu corpo e os seus movimentos, como se tivesse viajado no tempo até à sua infância. A estrada ficou desfocada, pois o foco de Maurício se concentrara na dor que sentira noutros tempos, tempos esses em que era apenas uma criança e não tinha armas para lutar contra a maldade do mundo dos adultos.
- Maurício, atenção, olha o carro - Melinda gritou em pânico - Pára o carro, páraaaaa...
Quando Maurício entendeu a situação em que estava, já era tarde demais. O carro tinha atravessado uma ladeira que levava a uma floresta. Não tivera tempo sequer de travar o carro, que o capô já estava amassado, após atingir uma árvore. O airbag do condutor abrira num arrombo. As defesas do corpo de Melinda tomaram a liberdade de correr soltas e quando Melinda abraçou Maurício, este sentiu um enorme par de asas aquecer suas costas, protegendo-o de algo, um perigo alheio ao acidente de carro.
- Maurício, tudo bem? Estás bem?
Ele abriu os olhos que tinha fechado com o impacto do impulso e viu os olhos de Melinda, de um laranja luminescente, a sua pele aberta em fendas de onde escapavam raios de fogo e quando olhou para os lados percebeu que não eram dois braços que o abraçavam e sim penas, penas laranjas e vermelhas que formavam duas asas aladas como jamais vira na sua vida.
Melinda seguiu os olhos do homem e então suas asas o largaram diminuindo e se desvanecendo em seu corpo. Os seus olhos tomaram ligeiramente a cor verde, as fendas de seu rosto se fecharam e seus cabelos antes esvoaçantes e a brilhar cairam sobre seus ombros, ainda quentes como se tivessem acabado de sair de uma máquina de secagem de um salão de cabeleireiro.
- Tu... tu... Mel...
Maurício queria dizer alguma coisa. Tinha definitivamente coisas para dizer, mas não conseguia fazer as palavras saírem de sua boca. Qualquer coisa que dissesse iria parecer um absurdo.
- Eu... - começou Melinda, mas calou-se de boca aberta. Também ainda estava a assimilar o que acabara de acontecer.
Abriu a porta do carro e saiu. Maurício fez o mesmo. Precisavam respirar fora daquele carro sem conserto.
- O que aconteceu? - perguntou Melinda - Por momentos pareceu que não estavas mais presente, que não estavas mais a conduzir. Nunca te vi perder o foco de nada que tivesses a fazer. Por pouco isto não acontecia num sítio mais perigoso, no meio da estrada ou na ponte.
- Desculpa, Mel, preferia que não estivesses no carro comigo. Não consegui evitar, eu... distraí-me.
- Bom, é melhor chamar a assistência para rebocar o carro.
- Espera ... - ele andou em sua direção com as mãos fazendo o gesto da sua palavra - Precisamos falar sobre... isto. Mel, tu és... O que tu és?
Melinda estava assustada com o que vira no espelho antes. Pensara ser um sonho quando acordara na cama de hospital, mas agora não podia negar ser real, independentemente do significado disso. E aquelas asas? Elas haviam realmente surgido de suas costas? As suas costas? Estava surpreendida, porque Maurício por sua vez, não parecia estar com medo, estava em choque com certeza, mil perguntas querendo organizar-se para puderem sair de sua boca, mas não tinha medo de Melinda. Por incrível que pudesse parecer, estava a sentir-se ainda mais atraído por ela, que antes. Sentir as asas quentes o abraçando foram das melhores coisas que sentira na vida. A sensação de protecção e proximidade era revigorante.
- Eu não sei, mas não tens medo?
Maurício deu mais um passo até estar tão perto de Melinda que podia sentir o calor emanando de seu corpo e a sua respiração descompassada. O homem colocou uma mão abaixo de seu queixo, erguendo o rosto de Melinda para o seu, de maneira a não puder recuar o olhar.
- Eu nunca tive medo de ti, nem terei - Melinda podia constatar em seu olhar, que era sincero - Não tive em Aziz quando provocas-te pessoal da pesada e me salvas-te de uma valente sova e não terei agora que sei que és uma criatura sobrenatural.
Um burburinho de borboletas bateu asas freneticamente dentro das entranhas de Melinda, todas querendo soltar-se, mas todas se unindo de maneira a fazer Melinda gostar da sensação. Ser uma criatura sobrenatural era inegável e na verdade, ela sempre fôra seduzida por essa crença, mas parecia uma enorme partida ou uma piada mal contada.
- O que achas que eu sou?
- Eu não sei. Só sei que és lindíssima nas duas formas. És como...?
- Como o quê, Maurício?
- Como um sol raiando.
Sem se aperceber, a mente de Maurício deixou de acessar as memórias que o desconcentraram e o fizeram ultrapassar a ladeira, entrar na zona florestal e bater numa árvore de tronco particularmente grosso, porque agora ele só conseguia pensar em Melinda e no quanto ela era especial, não que ele não estivesse ciente disso antes de ela o abraçar com seu par de asas indescritíveis, ele sabia que era era especial, mas afinal, ela conseguia ser mais especial ainda.
Abraçou-a como se o mundo fosse desmoronar a qualquer momento. Aquele calor que emanava do corpo de Melinda era tão aconchegante, que Maurício ignorou o barulho de galho partido que ouviu algures perto de si. Não deveria ser nada de inabitual numa floresta, barulhos de galhos e alguns animais levando a sua vida.
Melinda não falou nada, porque ficou sem palavras. Era um acontecimento raro aquele. Sentia que estava tendo um vislumbre de paraíso. Não queria sair daquele abraço, não queria deixar de sentir os ombros largos de Maurício, algo que a atraía bastante nos homens. Queria puder ficar naqueles braços para sempre ou então que o tempo parasse naquele momento, onde a magia eram eles os dois e a brisa da floresta.
- Um sol raiando - ela relembrou as palavras em voz alta - Foi a coisa mais bonita que me disseram.
- Só mereces melhor do que isso.
- Espera - disse Melinda. Largou os braços musculados de Maurício e olhou para trás - Ouvi alguma coisa.🌂
Os dois ficaram alerta, olhando ao redor, até que uma mulher apareceu, uma mulher diferente, para dizer o mínimo. Os seus olhos eram de um verde sobrenatural, tinha galhos em seus cabelos castanhos, como se fizessem parte dos cabelos e não como se estivessem grudados, vestia um traje colado ao corpo com uma mistura de cores que misturava o castanho com o verde, as cores que pintavam aquele panaroma atrás de si. Ela corria na direcção deles, com uma expressão assustada.
- Fujam - disse a mulher, que quanto mais próxima estava, mais se podia ver que não era humana.
Melinda e Maurício trocaram olhares e voltaram-se para a mulher, que mal os alcançou, os abraçou inesperadamente e os fez vivenciarem algo muito diferente do comum. O seu corpo tomou a forma de uma árvore e Maurício e Melinda ficaram agarrados a dois grossos galhos a metros do chão, agachados por as folhas da árvore.
- O que é isso? - perguntou Maurício completamente em choque, tentando agarrar-se não só à árvore, como à sua sanidade.
- Eu li sobre isso logo após ir para a DOM - respondeu Melinda muito mais calma, o choque inicial já se tinha dissolvido - Na verdade, ainda não passei dessa criatura.
- Que é...
- Uma dríade.
- Claro, é tão... óbvio.
O pânico não o abandonava. Agarrava-se à árvore como se sua vida dependesse disso. Quando Melinda percebeu qual era o seu problema e ía dizê-lo, homens armados surgiram à distância. Estavam correndo, perseguindo alguém. Maurício fechou os olhos para conter o mínimo de calma que conseguia, mas Melinda viu-os e percebeu como se tivessem jogado a resposta na sua cara, eles perseguiam a dríade. Pararam mesmo perto do carro de Maurício, destruçado e de capô rebentado.
- Maurício - Melinda sussurou - Por favor não fales alto, nem te mexas.
- Como se pudesse.
Lá embaixo, após um instante de silêncio perturbador, em que os homens observaram o carro e o rodearam, uma conversa se iniciou.
- Isto acabou de acontecer - disse um dos homens.
- Como é que sabes? - perguntou o outro.
- É como se a cena ainda estivesse quente.
- Não interessa nada - disse um terceiro. Melinda só conseguia perceber que era uma voz diferente. Não conseguia ter una visão total sobre o solo, que lhe desse a possibilidade de ver todos eles e ver quantos eram - Esqueçam essa. A gente nunca conseguirá apanhá-la. Pode-se camuflar não importa onde.
- E se pegar-mos fogo à floresta?
- Seu idiota, mesmo que tivessemos gasolina connosco, ela não ía servir de nada morta.
- É uma pena não a termos apanhado. É uma espécie requisitada, não sei porquê. Não existe uma maneira de a conseguir-mos identificar no meio das árvores normais?
- Sim, já fizemos isso para a encontrar-mos da primeira vez, lembras-te?
- Então voltamos a fazer.
- Nós poderíamos, se este idiota não tivesse matado a bruxa.
- Que bruxa? Ela não é uma bruxa, é uma augenide.
- Uma quê?
- Augenide é um ser humano capaz de reconhecer uma criatura sobrenatural pela cor de sua aura. Não tem nada a ver com bruxaria. És um idiota.
- Pelos vistos sou um idiota bem útil para o big boss, apanho qualquer esquisitice.
- Seres sobrenaturais são incríveis, não esquisitos.
- Se os admiras tanto, porque os apanhas e os entregas ao Señior?
O defensor das criaturas calou-se e um outro sugeriu que desistissem. O restante acabou por concordar.
- Eles foram-se embora - Melinda contou a Maurício - Calma, Maurício, só não olhes para baixo.
- Não precisas pedir duas vezes.
- Por favor, querida... dríade, transforme-se outra vez na sua forma humana.
A árvore diminiu num ápice e de repente estavam os dois abraçados à mulher que correu até eles.
- Os meus pés estão no chão - falou Maurício entusiasmado, largando a dríade.
- Obrigada - disse Melinda.
- De nada, linda criatura - respondeu a dríade olhando Melinda de forma intensa.
- Como?
- Sou uma dríade, posso sentir.
- Sei o que és. Tenho lido sobre isso desde que...
- Fazemos parte da polícia que cuida de casos do outro mundo - disse Maurício, ao ver que Melinda ficara sem saber o que dizer.
- Da DOM? É por isso que estão aqui? Sabem o que se está a passar? Têm de nos ajudar, estamos todos em perigo - apertou as mãos de Melinda.
- Exatamente. Somos da DOM, sim, sabemos do Impulsionador.
- Do quê? - indagou a dríade, recuando de um passo sem entender.
- Não é disso que você está a falar? Eu ouvi eles falarem do Señior. Ele criou um aparelho que capta as ondas dos poderes sobrenaturais e potencializa-os. Ele faz isso para as criaturas ficarem expostas. Ele procura uma cura para alguma coisa.
- Isso explica muita coisa, mas então porquê o tráfico? - questionou a dríade.
- Tráfico? - indagaram Maurício e Melinda em uníssono. Logo de seguida entreolharam-se.
- Sim. Esse "seja lá quem" captura-nos e vende-nos. Deve ser bilionário à custa do tráfico de seres sobrenaturais.
- Tráfico de seres sobrenaturais? Isso existe?
- Com certeza esse tal (o que vocês disseram) foi o pioneiro, mas sim. Há anos que existe.
- Ok, ok - disse Melinda - vamos falar disto no laboratório. Temos de sair daqui, não é seguro.
🔥🔥🔥
- Eu sou a Melinda Torres.
- Você é.
- Conhece-me?
- Você tem a sua reputação no mundo sobrenatural.
- Porquê? Acabei de entrar para a DOM.
- Vamos falar do que importa - disse a dríade, no que pareceu ser uma fuga, mas Melinda não se importou - O meu nome é Gaia.
- Eu sou a Inês - acenou do seu computador.
- Eu sou o Maurício.
- Eu sei - respondeu a dríade - vocês falaram enquanto estavam nos meus galhos.
Maurício nem se queria lembrar daquilo. Tinha tanto medo de alturas que nunca fizera escalada nas aulas de educação física. Recusara-se mesmo após ser ameaçado de levar nota zero, que levou, mas preferia isso que cair e morrer ou pior, ficar paraplégico.
- Quem me dera ter visto isso - disse Pedro - Eu sou o Pedro e este é o Dr. Raúl.
Gaia cumprimentou-os com a cabeça.
- Alguns dos meus irmãos e irmãs foram capturados - lágrimas de seiva cairam de seus olhos - pelos vistos tem bastante gente que dá um bom dinheiro por nós.
- Para quê? - perguntou Pedro desgostoso.
- Ora, para fazerem de nós seus bichinhos de estimação que lhes propõem benefícios.
- Que utilidade tem uma dríade para um humano? Quer dizer, não quero ofender.
- Não me sinto ofendida. Nunca fui capturada, então não sei, só posso supor que é pela nossa magia, ou por a fantasia de falar com uma árvore.
- Eu falava com uma árvore quando era criança - comentou o Dr. Raúl.
- Porque é que isso não me admira? - largou Pedro, sem poder se conter.
Os outros, com a exceção de Gaia abafaram o riso.
- Nós pudemos fazer a plantação crescer. Acredito que quem cultive em massa e tenha esse tipo de negócios benefeciaria bastante com a magia de uma dríade. Podendo nos subjogar às suas ordens podem cultivar muito, muito mesmo.
- O que lhes dá imenso lucro - concluiu Melinda - Deve ser isso mesmo, é o dinheiro que faz o mundo dos humanos girar.
- Dinheiro feito de árvores - comentou Maurício - É bem irónico. Eu lamento.
- Não precisa - disse Gaia - tudo bem, nós sabemos o nosso papel na ordem natural do mundo e normalmente a gente transforma-se em árvores que afastam o interesse dos lenhadores.
- Quer dizer que nem todas as árvores são dríades? - perguntou Pedro.
- Existem duas dríades para cada centena.
- Ó, ainda assim são muitas - disse Inês - Só quero dizer uma coisa. Você é muito linda.
Um corvo entrou por uma janela.
- Esse é o meu tio Erni - explicou Melinda.
- Ó, um metamorfo - disse entusiasmada - Seres incríveis. Aparecem bastante na floresta, sobem os meus galhos e fazem buracos para habitarem. Eles adoram habitar dríades. Magia gera magia.
- Lembra-se que falamos do Impulsionador, pois bem, é por isso que o meu tio está em forma de corvo, porque com o descontrole de seus poderes sobrenaturais, estar na forma humana é um perigo. A qualquer momento pode-se transformar num animal à frente de qualquer pessoa.
- E existe o fator da roupa. Se ele se metamorfosear agora em humano, fica sem roupas e bem...
- Eu entendo - constatou Gaia - os humanos não têm o hábito de andar nuos em público. Mas na floresta...
- Não precisamos ouvir isso - disse Inês - Enfim, a Melinda devia estar a descansar, ela passou a noite no hospital. Ela ao menos almoçou? - olhou autoritária para Maurício.
- Passamos no quiosque do Comando e compramos na relote dois cachorros quentes, um para cada um - respondeu Maurício.
- Menos mal, ao menos sei que ficou com o estômago bem forrado. Os cachorros quentes do Dr. Castro são deliciosos - respondeu Inês.
- Não trouxeram nada para mim - sussurou Raúl entredentes.
- Bem, toda a equipe. Hoje a gente, sem querer esbarrou...
- Literalmente batemos de frente - falou Maurício.
- Com o nosso caso. A gente descobriu qual é a profissão do Señior. Ou pelo menos a principal. Ele é um traficante.
- De droga? - indagou o Dr. Raúl fazendo uma careta de descrença - Vende LSD?
- Nada disso, tio. Muito pior.
- Armas? - sugeriu Inês.
- Pior - disse Melinda, tentando parar as adivinhas, mas não conseguiu. Antes que pudesse continuar, já alguém havia lançado uma suposição.
- Nãooooo. Ele trafica pessoas?
- É por aí - respondeu Maurício.
- Ele é traficante de seres sobrenaturais. Exatamente. Ele não usa só o impulsionador para expor quem é mágico. Para além de procurar uma cura, ele captura as criaturas para as vender a pessoas que pagam por elas.
- Nossa, isso é horrível.
- É - respondeu Gaia - E aquilo que eu ía dizer lá na floresta, é que ainda há algo que devem saber.
- Ainda mais? - perguntou Pedro.
- Com certeza. Eles conseguem o auxílio de algumas criaturas para os ajudarem.
- Se não consegues vencê-los, junta-te a eles - comentou Raúl.
- É exactamente isso aí. Alguns até fazem de boa vontade. Depois tem aqueles que se recusam a obdecer, tipo alguns augenides.
- Mas são humanos. Eu ouvi eles a falar - disse Melinda.
- Sim, são humanos muito úteis para quem quer capturar seres sobrenaturais, porque eles têm o dom natural de reconhecer qualquer ser mágico, seja humano ou como eu.
- Isso é maravilhoso - comentou Raúl - tenho que estudar um cérebro de um augenide.
Se Gaia não tivesse sentada, teria recuado com o comentário.
- Não ligues ao meu tio - Maurício pousou a mão em seu ombro - Ele é muito curioso, mas ele nunca faria mal a ninguém - o pior daquela afirmação, é que ele não acreditava nela. Queria acreditar, mas não acreditava.
- Bom - disse, desprezando a centelha de medo que se apoderara de si - eles matam-nos.
- Matam quem não colabora com eles? Os homens que trabalham para o Señior?
- Sim, com certeza. Mataram a augenide que me descobriu. Ela foi forçada, coitada. E eu conheço-os por outro nome, sem ser "os homens que trabalham para alguém".
- Qual?
- A Rede.
🔥🔥🔥
Oi, maior capítulo até agora.
A espera valeu a pena?
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Até o próximo capítulo..
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