Capítulo 4
"Picture, picture! Smile for the picture!"_Dollhouse, Melanie Martinez
-Vamos Niss, ou vai se atrasar.
-Atrasar-me? Seria uma tragédia!
Decidi que, infelizmente, não teria tempo para colocar minhas meias naquela manhã. A consulta com a doutora começaria em alguns minutos e eu jamais me perdoaria se chegasse atrasada. A doutora era pontual e isso deveria ser recíproco. Prendi as duas metades de meu cabelo eu um único rabo de cavalo com um pedaço elevado no topo, o qual eu ajustei com uma presilha de joaninha. Combinava com meu vestido curto vermelho e preto. Vesti as sapatilhas apressada e desci as escadas com Brenda pulando em meus braços. As meninas já haviam tomado o ônibus para ir a suas escolas e cursos técnicos. O lugar estava muito vazio. Assustadoramente silencioso.
-Estou pronta.
-Boa sorte lá –Stel aproximou-se e deu-me um beijo na bochecha.
Eu podia sentir seu hálito de café e isso aqueceu meu estômago. Abracei-o com um sorriso no rosto.
-Obrigada. Nos vemos de tarde.
Entrei no carro de mamãe e afivelei o cinto. Acomodei melhor minha pelúcia em meu colo e mamãe suspirou.
-Poderia... Tentar deixar Brenda de vez em quando –ela sugeriu. Cogitei por um instante, mas não consegui imaginar-me sem a cadela amarela de pelúcia. Principalmente numa consulta com a doutora. Ela me lembrava o que devia ou não dizer. –Pelo menos dentro da casa. Garfield não gosta disso. Além do mais, se você pode, então as outras podem também. É injusto.
Realmente era injusto, mas eu cuidaria para que essa fosse a única injustiça que cometeria naquela casa. Assim, seria facilmente perdoada. Ainda não estava completamente sã e precisava de Brenda para me ajudar. Caso o contrário, seriam tantas as minhas injustiças que seria punida e choraria de madrugada, como a figura do espelho me explicara. Eu não respondi nada para mamãe. Fiquei um tanto chateada por te-la deixado triste. A forma como suas sobrancelhas se curvavam e seus lábios não sorriram fazia-me triste.
Eu não sabia bem o que esperava ao entrar no carro. Afinal, só havia me consultado com a doutora no hospício. Mamãe dirigiu por menos de meia hora até uma vila próxima e entrou numa rua estreita. Parou o carro em frente a um prédio de construção moderna com grades nas janelas. Nós subimos até o quarto andar e sentamo-nos em cadeiras pretas coladas na parede. A porta a nossa frente tinha o nome de minha doutora e estava fechada. Esperamos em silêncio, e não demorou muito para que a porta se abrisse e ela chamasse o nome de minha mãe.
-Vou ter uma palavrinha com sua mãe e depois nós conversamos –ela me explicou. –Consegue esperar ai, não?
-Claro! –respondi.
Brenda e eu também esperamos em silêncio. Repassei silênciosamente o que devia e o que não devia falar. A figura do espelho não. Como eu não gostava da casa sim. Brenda não disse uma palavra sequer e eu estava grata por isso. Assim, não me confundiria quando entrasse na sala dela.
-Nisseny –a doutora apontou a porta –por favor.
Entrei. Havia uma poltrona, uma escrivaninha e um divã. Deitei-me, empolgada. Nunca havia deitado num daqueles. O ar cheirava a perfume que, de alguma forma, combinava com o papel de parede escuro. A doutora elogiou minha nova cor de cabelo e eu lhe contei tudo sobre meu dia. Omiti o que deveria omitir. Ela não pareceu feliz.
-Sua mãe estava me contando sobre como você parecia distraida no jantar. O que me diz?
-Bom, era uma bela cristaleira. A luz refletia ali e fazia a louça brilhar. Apenas me distraí –não era, de tudo, mentira.
Ela anotou alguma coisa em um caderninho de capa lisa. Perguntou-me sobre meu novo quarto, sobre as meninas, sobre meu padrasto e sobre Brenda.
-Siga o conselho de sua mãe. Tente deixar Brenda de vez em quando. Começe indo jantar sem ela, depois ir à padaria e então vir às minhas consultas sem ela. Não precisa livrar-se dela, apenas diminuir o quanto a usa. Consegue fazer isso por mim?
Minhas mão suaram. Brenda não disse nada. Eu assenti. A doutora já havia feito tanto por mim...
-C-certo –gaguejei. –Posso tentar.
Brenda teria arregalado os olhos se fosse capaz. O tic tac em meu cérebro ficou mais alto. Desesperei-me por um momento e mudei de posição no divã.
-Eu não gosto muito daquela casa. Não gosto nem um pouco, para falar a verdade.
-Só passou uma noite lá. O que tem de tão ruim?
-Gerfield e suas regras –eu admiti.
-Sim, mas a casa é dele. Além disso, há outras garotas lá. Elas também devem seguir regras. Imagine se todas fizessem o que bem entendiam. Seria uma bagunça, não acha? –não respondi pois ela estava certa. –Fez alguma amiga?
-Não.
A viagem de volta para a casa de bonecas fora ainda mais silênciosa do que a ida. Mamãe não ligara o rádio, Brenda não me perguntara nada. Tudo o que eu queria era deitar-me na grama do jardim de trás e dormir. Talvez tomar yogurt de frutas na banheira. A consistência do yogurt branco misturando-se aos pedaços de frutas e caldas coloridas era quase mágico. Especialmente quando feito na presença de dezenas de bolhas de sabão numa banheira. Acordei de meus pensamentos com mamãe suspirando ao passar pelo nosso vizinho mais próximo: uma casa luxuosa com um homem de terno acenando para nós. Então ela bufou e eu ajeitei-me no banco para enxergar melhor o que me esperava na entrada do casarão. Todas as meninas já estavam de volta, vestidas, penteadas, e exibindo sorrisos mais bonitos do que os das bonecas de porcelana. Elas posavam para os flashes de uma câmera profissional. Garfield sorria ao lado delas, tentando achar o melhor ângulo para as fotos junto do fotógrafo.
-Nisseny... –mamãe olhou para Brenda em meu colo. - Ah, esqueça. Ele não vai querer que estejamos na foto mesmo.
Ela estacionou o carro em um lugar qualquer e desceu. Eu saí, confusa. As meninas estavam todas quietas demais, muito comportadas. Parecia mentira.
-Serena, querida –Garfield andou de braços abertos para receber minha mãe com um beijo. Em todos os seis anos de convivência com ele, nunca tinha visto um beijo parecer tão verdadeiro quanto aquele. Até mamãe assustou-se. –Junte-se à foto. É como uma mãe para as meninas, não é?
Elas assentiram. O movimento fora tão sincronizado que recuei. O fotógrafo tinha um sorriso simpático e parecia incomodado com o vento que fazia naquela tarde. Ele sorriu na minha direção e eu retribui, contente.
-E esta, quem é? –ele disse.
-Chamo-me Nisseny –estendi a mão para cumprimentá-lo, mas meu padrasto entrou no meio, cortando minha apresentação rudemente.
-É minha afilhada. Acho que ela não se incomodará em esperar lá dentro –ele olhou diretamente para Brenda.
"Tem como deixar mais óbvio que eu não sou bem-vinda?" Brenda reclamou.
-Não, acabei de ter uma idéia –o fotógrafo quase pulou de impolgação. –As garotas órfans e a família gentil que as acolheu. O que seria melhor para o jornal do que isso? Com certeza as instituições vão se interessar e as meninas terão mais condições do que já desfrutam. E talvez alguém se sensibilize e venha adotar alguém.
Eu esperava que as meninas sorrissem a menção da probabilidade de terem uma nova casa, mas elas mal se moveram. Garfield fez muita força para não revirar os olhos. Abraçou o ombro de minha mãe e disse:
-Então assim seja.
Stel andou de onde estava até nós e Brenda fez com que eu não pulasse para abraça-lo ainda.
"Deixe que o efeito da Casa de Bonecas te atinja por enquanto. Isso parece muito sério."
Após a foto com todas as garotas, o fotógrafo quis uma apenas de minha família. Mamãe sorriu com a postura perfeita. Garfield pôs uma mão na cintura dela e uma em meu ombro. Stel tinha sempre a mesma cara em todas as fotos, e eu sorri. Aquela fora a foto mais falsa que já tirara em toda a minha vida.
O Projeto voltou com tudo, e eu também! Hurray! (Tem até selo agora gente)
Quero muito voltar a escrever a história de Nisseny, e espero que vocês também queiram acompanha-la! Apesar de estar entrando em um período um pouco ativo, espero sempre encontrar pelo menos cinco minutos para essa história! Já tenho alguns capítulos prontos, e quero estipular uma data certa para as postagens, mas mais sobre isso mais para frente. Se vocês me seguem aqui, saberão.
Então é isso, vou continuar com as indicações de história no próximo capítulo, então não esqueçam de acessar a conta do ProjetoCrybaby para participar e ler mais histórias inspiradas pela nossa diva master Melzinha CryCry.
Bjs e até a próxima :)
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