Capítulo 2
"Everyone thinks that we're perfect/ Please don't let them look through the courtains"_ Dollhouse, Melanie Martinez
Mamãe estacionou o carro ao ar livre. O casarão era exatamente como eu me lembrava, talvez até o número de folhas na videira. A única diferença era a placa dourada com letras pretas onde lia-se "Orfanato Derek Para Meninas Adolescentes" colocada bem acima da porta de entrada. Se estivesse em um filme de terror, aquela seria a casa onde eu morreria. O cheiro de mofo já não existia mais, porém ainda não era de todo agradável. A grama na entrada precisava ser cortada e estava adquirindo um tom amarelado de outono. Dos lados direito e esquerdo havia um muro de tijolos que se escondia quase inteiramente por debaixo de mais videiras. Se eu fosse dona daquele lugar, colocaria um parquinho para as meninas naquela grama sem graça. Ou apenas um balanço. Subir e descer sentada num banco de madeira e sentir o vento em meus cabelos me deixava muito feliz. Mamãe entrou pela porta sem esperar por mim.
"Olhe Niss" Brenda falou "É Stel. Está esperando por você."
Apoiado no muro à direita estava um rapaz de minha idade vestindo jeans e uma camiseta vermelha de algum filme que eu dera de presente em seu décimo sexto aniversário. O piercing em sua sobrancelha refletia a luz do sol em meu rosto e isso era um pouco irritante, mas ignorei e corri para seu encontro. Larguei minha mochila e Brenda no meio do caminho, ignorei a placa de "não pise na grama" e me joguei em seus braços.
-Finalmente –ele disse. Sua voz sempre fazia cócegas em meu ouvido. Era uma delícia conversar com Stel Derek. –Não sei se ia aguentar viver aqui sem você por muito mais tempo.
Brenda sempre dizia que se não conhecesse Stel, confundiria-o com o tipo errado de garoto. Ele combinaria muito bem seus cabelos negros desgranhados com dois alargadores em suas orelhas. E mais alguns piercings em seu rosto seriam aceitáveis. Talvez até tatuagens em seus braços, e cigarros em seus dedos, mas Stel não era assim. As únicas pinturas que tinha em seu corpo eram as iniciais MD para Melanie Derek, sua falescida mãe, e um pequeno cachorro de pelúcia pintado em aquarela rosa e azul, em minha homenagem. Ele não gostava muito da idea de ter mais coisas brilhantes em seu rosto e nem tatuagens por seu corpo. Além de tudo, a primeira impressão que Brenda tivera de Stel era que ele era o maior "pegador", e ela até advertiu-me a trancar bem a porta de meu quarto quando estivesse me trocando, por precaussão. Porém, descobri logo que ele não era nada disso. Ele me ensinou a jogar seu videogame, eu o insentivei a abrir os olhos no cloro da piscina para me ver dar minhas cambalhotas. Ele sempre perguntava como fora meu dia e sentava comigo no intervalo da escola quando nenhum de meus três bons amigos aparecia. E nesses seis anos de convivência, Stel só estivera com duas garotas. Eu adorava como o cheiro que me fazia lembrar de Stel não era um perfume, mas o simples aroma de roupa limpa misturado com cheiro natural de Stel Derek.
-Está se sentindo bem? –Nos afastamos do abraço.
-Sim –eu sorri verdadeiramente.
-Vem, vou lhe mostrar seu novo quarto. E já logo aviso: é uma merda.
-Por favor, Nisseny –mamãe falou, colocando a cabeça para fora da porta de entrada. –Sorria para as meninas. E arrume seu vestido. Está amassdo dos lados.
Fiz o que ela mandou. Peguei Brenda do chão e me desculpei, mas ela entendia e não ficou zangada. Sem nenhum tipo de cerimônia, Stel abriu a porta para a Casa de Bonecas. As escadas ao fundo, à esquerda e à direita, estavam ocupadas por meninas que conversavam ou faziam lição de casa em cadernos muito coloridos. As portas próximas à escada e à minha direita estavam fechadas. Stel subiu pela escada da esquerda e eu tentei lembrar-me disso.
"Não vai querer se perder por aqui, Niss" Brenda disse e eu concordei.
As garotas me cumprimentavam com um enorme sorriso no rosto. Pareciam simpáticas para mim e eu sorri para todas elas. Disse um oi apressado e me apresentei como pude conforme subia as escadas. "Oi! Chamo-me Nisseny, prazer. Olá..." Ninguém disse nada, mas continuaram a sorrir. Brenda grunhiu, sinal de que não gostara delas, mas nenhuma me olhou de uma maneira diferente, como costumavam fazer. Apenas sorriram.
"É efeito da Casa de Bonecas" Brenda lembrou-me. Roupas bem passadas, fragrância suave e sorrisos brancos. Eram todas bonequinhas de meu padrasto e eu tinha pena delas. Pelo menos tinham um lugar onde viver.
Stel andou até o fim do corredor cujo papel de parede bem colocado era verde escuro com detalhes dourados. A porta marrom de cada quarto tinha os nomes das meninas que dormiam ali presos na porta em letras de madeira coloridas. Algumas garotas sairam da porta para me ver chegar e eu senti-me muito bem. Arrumei mais uma vez as "marias-chiquinhas" para ter certeza de que tudo estava em ordem e continuei seguindo Stel. Subimos mais um lance de escadas e andamos mais uma vez até o fm do corredor. Haviamos andado do fundo para a frente da casa no terceiro andar. A janela ali no fim do corredor era triangular e separava duas portas uma da outra. Stel abriu a da direita.
-Ai está –ele disse, colocando minha mochila no chão. –Não disse? Uma merda. Pelo menos você ganha um banheiro só para você.
Ele apontou para a outra porta em frente a do quarto. Não era tão mal assim. À esquerda havia um armário velho de madeira escura, e sua última porta era um espelho enorme. A cama, à direita, era menor do que a do meu antigo quarto, mas os lençóis ainda eram floridos. O carpete era branco e macio, as cortinas bem leves e a lâmpada branca deixaria tudo mais claro. Em cima da cama havia uma caixa com uma fita vermelha fechando-a. Stel andou até ela e estendeu-a para mim. Havia um cartão preso à fita onde lia-se "para colorir sua vida com as cores de sua personalidade, S.D."
-Comprei um presente para você. Achei que iria gostar.
Peguei a caixa em minhas mãos e fiquei com dó de abrir. O laço estava tão bem amarrado que me deixava mais feliz do que o fato de eu ter ganhado um presente em si. Sentei-me no chão, como nas manhãs de Natal, e abri-o. Um enorme sorriso formou-se em meu rosto. Eram duas caixas de tintura para cabelo: uma rosa choque e uma roxa. Levantei-me e abracei Stel mais uma vez.
-E faça isso logo. Não da para me acostumar com seus cabelos castanhos.
-Muito obrigada –saltitei até minha cama e joguei-me nela.
Sentia saudades da maciez de lençóis descentes, de um colchão bom, de travesseiros macios. O cheiro do carpete, o tom verde das paredes, o balanço das cortinas... Nada disso existia no hospital. Dividi todos esses meus pensamentos com Stel e depois perguntei sobre como a sopa era servida naquela casa. Ele expremeu-se ao meu lado na cama e aproveitou para falar sobre sua vida nos últimos anos e como tudo funcionava no casarão. Eu não ouvi direito por fiquei apreciando o Tic Tac em meu cérebro entrar no rítimo das batidas de meu coração. Quando estávamos ambos prestes a cair no sono, uma batida forte na porta nos assustou. E ele passou por ali. Meu padrasto, Sandro Garfield Derek II. Ele revirou os olhos ao analisar minhas vestimentas. O que ele disse a seguir eu jamais me esquecerei.
-Recebo-te aqui, mas aja de acordo com minhas regras. Nada de loucuras na frente das meninas e muito menos para os fotógrafos que vêm aqui. Não pule, não dance, não cante com os pássaros e principalemente, não converse com esse cachorro idiota. Ande de roupas limpas, não faça barulho entre as dez da noite e as seis da manhã e comporte-se diante de visitas, entendeu, Nisseny?
-Não –admiti. Ele dissera aquilo tudo muito rápido. Demorei um pouco para assimilar mas assim que entendi a última frase, concordei. –A não, espera. Entendi sim. Nada de pulos.
Stel deu risada e seu pai se enfezou. Pediu para que eu decesse para o jantar no horário e bateu a porta quando saiu.
"Não sei como Stel pode ser tão bom tendo ele como pai" Brenda bufou. Concordei e levei-a para minha cama.
-Ainda conversa com Brenda? –Stel perguntou.
-Claro que sim –respondi. –Não é educado fingir que não ouve.
Stel concordou e nós dois sentamos de frente para o espelho, com o chão forrado de panos velhos. Dividi meu cabelo no meio e Stel me ajudou a descolorir e pintar meu castanho de um colorido que me representava. Ele então se retirou para se preparar para o jantar. Eu abri minha mochila e tirei três vestidos de lá. Estendi-os no chão e analisei-os.
-Qual deles me deixaria menos... louca? -Perguntei para Brenda. –Quero causar uma boa primeira impressão.
"E aquelas meninas merecem que você seja "aceitável"?" ela enfezou-se. Se não fosse uma pelúcia, teria franzido o cenho com certa raiva em seus olhos. "Elas estavam cochichando, sorrindo para zombar de você, Nisseny."
-Não é verdade –eu discordava. –Elas apenas sorriram. Não é assim que deve ser? Sorrir e acenar?
Brenda teria revirado os olhos se fosse capaz. Eu optei por vestir um vestido branco de tule com mangas compridas. Era adornado por desenhos de botões de rosas amarelas e um laço azul na cintura. Abri o armário para guardar os outros e acabei derrubando uma caixa de madeira antiga. Não me demorei em olhar seu conteúdo, imaginei ser algo dos antigos donos do lugar pois havia uma foto de uma grande família sorridente. Fui no banheiro para tomar um banho e firmar as novas cores de meu cabelo. Usei o secador preto que estava disponível para meu uso e prendi minhas ondas coloridas no topo de minha cabeça. Voltei para o quarto e perguntei para Brenda o que ela achava.
-Está bonito –uma nova voz respondeu.
Virei-me para a porta, mas não havia ninguém lá. Olhei então para o espelho e não era meu reflexo colorido que estava ali. Era uma garotinha com um ursinho de pelúcia. O Tic Tac em meu cérebro ficou mais agitado.
Olá! Tudo bem? Gostaram do capítulo de hoje?
E que tal um bom mistério? Um suposto suicídio num hotel deixa os hóspedes muito desconfiados. Quem são suspeitos? Existe um culpado? Leiam "Soap" da ErikaGrecy! E nos vemos no próximo capítulo! (:
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro