. . . . . ╰──╮ 6. Ayana ╭──╯. . . . .
Mar, misterioso mar
Que vem do horizonte
É o berço das sereias
Lendário e fascinante
Marisa Monte - Lenda das Sereias
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"Quero simplesmente gritar. O único foco de luz que eu enxerguei para conseguir ajudar quem sofria se apagou ao ver o coração de pedra que estava à minha frente. Ele tem coração? Talvez o tenha, mas está escondido, e eu não tenho tempo para procurá-lo" (Diário de Ayana)
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Olhei com uma raiva quase descontrolada para o líder de Vixen, eu esperava que ao menos ele me escutasse um pouco mais. Esperava que ele impusesse alguma regra como cobrar taxas ou exigisse qualquer outra coisa, mas ele estava categórico em relação a sua resposta e havia deixado claro, independente do que eu falasse, a resposta continuaria sendo não. E apesar da resposta categórica, ele ainda exigia a verdade de mim. Patético.
– Talvez eu tenha esperado demais de um tirano como você – falei incapaz de conter minha frustração – conseguiu tudo através do medo e da violência no fim das contas. Quer ser categórico com a sua resposta? Então a minha você já tem. Se quiser apodrecer nesse navio fiquei à vontade, mas saiba que não é bem-vindo aqui.
– Você esqueceu de algo importante – ele se aproximou lentamente e de maneira ameaçadora. Talvez minhas palavras o tenham irritado, ele me olhou de cima, fazendo com que eu me sentisse momentaneamente vulnerável e pequena – minha vontade é lei. E sim, talvez você tenha esperado demais de alguém que não se importa com o que você ou o seu povo pensam.
Olhar para seus olhos profundos e negros me causavam arrepios. Ele era assustador e o olhar que ele me dava parecia querer me forçar goela abaixo que mesmo ali ele podia ser superior a mim se quisesse. Homens em geral me davam medo, mas eu era capaz de controlar o que eu sentia, mas Kai parecia diferente. O único homem que havia me causado tanto medo até aquele momento havia sido lorde Daneel. Lorde Daneel era meu amigo de infância, então eu estava habituada à sua arrogância, mas o homem a minha frente tinha a mesma expressão de Daneel, o mesmo olhar... tinha a mesma determinação. Se a vontade dele não fosse cumprida, ele não hesitaria ao tirar a vida de quem o desobedeceu. Em tão pouco tempo eu já o odiava e esse ódio fazia meu corpo tremer e meu coração bater de maneira furiosa.
Por mais que parecesse fraqueza, eu desviei o olhar. Ele sem dúvidas não deixou esse gesto passar desapercebido, porque um pequeno sorriso malicioso se desenhou em seus lábios e a raiva ameaçou me afogar ali mesmo.
– Sai do meu navio – falei novamente.
– Não sem respostas.
– E o que pensa fazer para consegui-las? Me torturar? Me ameaçar de morte? Talvez me bater como um bom homem que precisa colocar a mulher no seu devido lugar? – por algum motivo seu semblante parecia ficar mais sombrio a cada provocação minha – Vamos, Milorde – senti o cinismo escorrer pela minha voz – deixe-me te levar até a sua carruagem real.
Eu precisava de ar e ficar ali com aquele homem me apavorava. Eu precisava sair dali o mais rápido possível. O homem a minha frente não parecia ter coração. Senti meu mundo desabar ao constatar que as possibilidades de ele ser o homem da profecia eram grandes. Nós estávamos perdidos. Vencer aquela guerra e viver em paz era sem dúvidas uma grande utopia.
– Saia – forcei a palavra. Mesmo a minha voz parecia não querer me obedecer mais, até mesmo o ato de falar me parecia difícil sem que aquele líder me permitisse e aquilo me enojava. Me irritava profundamente o medo que ele estava causando e manter minha pose não estava sendo fácil, mas já havia me adaptado a esse tipo de encenação, meu medo não podia me dominar e ele já tinha visto o suficiente da minha fraqueza, ato reflexivo que eu estava determinada a nunca mais mostrar, principalmente para ele.
Ele abriu a porta de maneira violenta, parecia estar de péssimo humor e até mesmo seu amigo abriu espaço para que ele passasse ao ver sua expressão.
– Acho que a conversa não foi muito boa – Yugo resmungou para Aylin que apenas acenou com a cabeça ainda olhando para Kai – talvez tenhamos que embebedá-lo de volta para casa.
Kai grunhiu alguma coisa, fazendo com que Yugo risse da reação do amigo, mas eu não estava com humor para aquelas coisas. Queria chegar o mais rápido possível até o barco que tiraria aquele homem com a sua presença sinistra de perto de mim.
Passei por eles sem me dignar a olhar para ninguém, meu maxilar estava forçado a um ponto que me doía o rosto e hora ou outra eu precisava apertar as mãos para não agarrar minha adaga. Nada estava saindo como planejado. Hagne se posicionou ao meu lado me dando cobertura e proteção como normalmente fazia, e para o meu alívio, ela não perguntou nada.
Enquanto andávamos com passos firmes pelo navio e o silêncio reinava entre nós, olhei um dos meus homens parados, fumando na borda do navio. "Ele não deveria ficar ali", pensei comigo, mas não chamei a atenção dele. Cada homem ali havia sido treinado e sabiam todos os riscos que corríamos ao estarmos ancorados no limbo.
– Que se dane – falei para mim mesma de maneira irritada. Se eu soubesse que me arrependeria dessas palavras, eu jamais as teria soltado, mas as soltei ainda mais alto – Que se dane tudo.
Hagne colocou a mão no meu ombro para tentar me acalmar um pouco, mas mesmo a sua mão apertando o meu ombro, de repente me pareceu não ter peso nenhum. Meu corpo formigou inteiro e eu parei de andar.
O silêncio pareceu preencher o lugar de repente. Não havia sons de água mais, o estranho silêncio chegou junto com um alívio resignado, como se alguém me dissesse: "Chega. Parou. Vai embora. Você pode fazer isso, você tem o direito de viver em paz. Está na hora de viver por você mesma, não tem problema ser egoísta".
Aquilo não estava certo, tentei engolir a saliva que se acumulou na boca e mesmo esse ato me pareceu extremamente difícil. O suor escorreu pelo meu rosto e pelas minhas costas. Aquela paz não era real, o som das águas precisava ser ouvido. Deixei meus olhos voltarem para o homem que fumava perto da borda e próximo a ele havia uma mulher nua, encolhida, como se quisesse se proteger do frio, embora jamais fizesse frio no limbo.
O homem que fumava tentava ajudá-la, qualquer pensamento que eu pudesse ter parecia lento e qualquer movimento parecia ir em câmera lenta.
– Não – eu tentei falar, mas minha voz parecia presa na garganta.
A estranha mulher ergueu a cabeça e olhou para ele, os cabelos negros molhados iam até a cintura e o homem parecia enfeitiçado. Eu precisava quebrar a nevoa que cobria minha mente ou seria tarde demais. "Talvez já seja", o pensamento invadiu a minha cabeça de maneira instantânea "deixá-lo morrer agora seria um ato de misericórdia, melhor morrer com ar nos pulmões do que afogado".
Aquilo também não me parecia certo, mas minha cabeça parecia querer lutar com todas as forças contra os meus instintos de sobrevivência. "Acorda" pensei, "acorda agora". Mordi o lábio inferior, primeiro de maneira fraca e lenta, como tudo ao meu redor, mas o forcei, forcei até que a informação da dor chegasse na minha cabeça junto com o gosto metálico de sangue e somente após isso minha cabeça despertou.
A moça sorriu e pulou novamente para a água. O homem seguiu novamente para a borda, esticando sua mão para alcançá-la de novo.
– Não! – por fim gritei e puxei minha espada correndo em direção ao homem – Sereias! Acordem!
Gritei com toda a força que meus pulmões me permitiam enquanto via a movimentação de mais daqueles seres vindos da água.
Meu grito repentino e desesperado pareceu despertar Hagne também que puxou sua própria espada e de maneira ágil puxou outras adagas para os nossos "convidados".
– Não deixe nenhuma delas vivas se quiserem voltar para casa – Hagne falou de maneira apressada.
Ela era rápida e sabia o que fazer.
A canção das sereias finalmente ecoou na minha cabeça, o que significava que eu estava completamente acordada. O alarme soou. Tentei a todo o custo alcançar o homem que já estava praticamente dependurado para o lado de fora do navio e quando o alcancei, a sereia pulou e o mordeu, arrancando assim metade do seu pescoço. Forcei o maxilar, era tarde para ele, mas poderia não ser tarde para os outros. Eu precisava avisar Trix, ela precisava ficar atenta com as águas e o ideal era tirar o navio deles da barreira. Busquei instintivamente o sinal para que Trix pudesse ver desde o outro navio. Um sinalizador vermelho foi visto pelo céu e poucos segundos depois vários outros sinalizadores da mesma cor foram vistos.
– Amarrem os homens – gritei novamente – não deixem essas malditas subirem no navio!
Eu ia de um lado para o outro de maneira frenética, tentando arrumar cordas, matando as sereias que conseguiam de algum modo subir a bordo. Me esqueci por completo de Kai, Aylin e Yugo. Quando minhas preocupações se voltaram para a sacerdotisa, meus olhos a buscaram instintivamente. Havia inúmeras sereias próximos a eles, mas para a minha surpresa, nenhum deles pareciam enfeitiçados. Yugo protegia Aylin de cada uma que chegava. Kai não ficava atrás, tendo derrubado diversas sereias antes que chegassem perto de seus amigos.
Tentando voltar minha cabeça para a minha tripulação e entendendo que os três não pareciam realmente precisar de ajuda, tentei salvar com as cordas o máximo de homens possível, e mesmo no desespero para tentar salvá-los, o mar ao redor do navio estava tingido de vermelho.
"A sorte favorece uma mente preparada", a frase que meu irmão me repetiu diversas vezes veio de maneira automática para a minha cabeça, eu precisava pensar e agir de maneira racional, não resolvia me deixar levar pelo pânico nesses momentos.
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