. . . . . ╰──╮ 51. Ayana╭──╯. . . . .
Não estou pedindo por muito
Só que você seja honesta comigo
Meu orgulho é tudo o que eu tenho
Estou pedindo, querida
Por favor, tenha misericórdia de mim
Vá com calma com o meu coração
Mesmo que não seja sua intenção me machucar
Você está sempre acabando comigo
Por favor, tenha misericórdia de mim
Sou um fantoche sob seu controle
E mesmo que você tenha boas intenções
Preciso que você me liberte
Mercy - Shawn Mendes
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"Sinto como se me afogasse sem ter forças para subir até a superfície. A tristeza parece muito maior do que eu e não vejo nenhuma luz para me tirar da escuridão" (Kai)
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Muito diferente da esperança que eu quis dar para Kai, eu sabia que por mais que tentássemos, não chegaríamos nas barreiras. Eu não sabia dizer que força era aquela que nos puxava para a ilha de Nikatawa, talvez fosse o destino brincando com a gente, ou mandando que seguíssemos o rumo certo.
Desde que eu vi a nossa localização, uma calma havia tomado conta de mim. Desde então meu destino não me parecia tão cruel. Kai se levantou pouco tempo depois de eu o ter levado para fora. Ele estava preocupado com Aylin e Yugo e eu podia entender. Fiquei ali, olhando a costa de Nikatawa se aproximar e acabei por recitar baixinho:
Não deixe sua coragem acabar
Aqui sua vida deve terminar.
Mantenha o sorriso firme
embora sua cabeça esteja curvada pela tempestade.
Durante a vida você teve muito prazer
Mas um dia todos devemos morrer
Minha criança, minha criança!
Está tudo bem, tua alma é forte!
A filha de heróis deve morrer assim.
Devolva a honra ao seu brilho obscurecido
Pegue a espada imortal, ó sangue do meu sangue e leve-a.
Corra, vingue-nos e morra bravamente.
Deixe que seu rei possa enfim triunfar
E a paz nessa Terra possa enfim começar a reinar
A sua alma estará quebrada
E na alma do rei perfurará diversas facas
Quando ele tenha que proferir as palavras
que manterá a sua alma para sempre selada
Eu me sentia forte, me sentia preparada. Kai havia me dado prazer e felicidade para uma vida inteira e eu me sentia finalmente completa. Me sentia triste apenas por duas coisas: a primeira é porque eu sabia que Kai sofreria. Eu esperava que a lógica que eles chegaram sobre quem sobreviveria estivesse certa e rezei internamente para que Aylin fosse a quarta sobrevivente, mas ver tantos outros soldados que não eram sacerdotes ali me fez estremecer. No fim, os quatro poderiam ser qualquer um deles.
Passei a mão na barriga, ainda reta e sem sinal de nenhuma gravidez e ali estava o motivo da minha segunda tristeza.
– Me perdoem – falei esperando que eles pudessem me ouvir ou pelo menos sentir o carinho que eu já sentia por eles – me perdoem por não poder ver o rosto de vocês e por não poder salvá-los. Espero que saibam que eu os amo e que o pai de vocês também os ama. Sinto muito por não poder fazer diferente.
Fiquei ali, abraçada a minha própria barriga com a tristeza instalada dentro de mim, mas ainda assim sem expulsar a paz que me envolvia. O céu estava claro, o vento estava fresco.
O céu azul trazia paz e tranquilidade e as águas me deixavam de certa maneira nostálgica. Olhei para o lado e me surpreendi ao ver Yugo e Aylin sozinhos em um canto. Ele a abraçava de maneira carinhosa, uma cena que mesmo eu que os conhecia há pouco tempo não esperava ver. Era como se, de certa maneira, eles estivessem se preparando para o que viria juntos.
Pensei em Kai. Onde será que ele estaria? Ele disse que iria atrás de Yugo, mas já tinha visto que ele não estava com os amigos.
– Vamos fazer de tudo para que fiquem bem – Trix se aproximou. Talvez tenha notado que eu seguia vendo Yugo e Aylin – como você está?
– Estranhamente calma – respondi – acho que no fim é assim mesmo, não é? Posso te pedir um favor?
– Se estiver ao meu alcance – ela se sentou ao meu lado.
– Se você sair viva dessa... – comecei, mas ela me cortou.
– Nem pense nisso – ela suspirou – eu me recuso a ficar aqui sem vocês. Quero seguir os meus amigos.
Aquilo de certa maneira me deixou triste, mas eu a entendia, mesmo assim, não queria que ela morresse.
– Mesmo assim, se você sobreviver... me promete que não fará nada contra a própria vida e que sairá da guerra?
– Não – ela respondeu categoricamente e eu suspirei. Não poderia insistir, acabaríamos brigando se eu continuasse. Mesmo assim, fiz esse pedido internamente, se ela sobrevivesse, eu esperava que ela levasse meu último pedido em consideração.
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Resolvi procurar por Kai, não queria que ele passasse por tudo aquilo sozinho. Quando o encontrei ele estava parado, na popa do navio, olhando o horizonte. Quando me aproximei um pouco mais, ele virou as costas para mim. Seu rosto estava escondido e de repente suas costas altas e ombros largos pareciam pequenos, cansados e muito, muito solitários. O que eu poderia dizer a ele? Como eu poderia fazê-lo se sentir melhor? Eu procurei em minha alma por algo, qualquer coisa, mas não encontrei nada. Depois de um silêncio interminável e miserável, ele finalmente falou.
– Por que diabos eu fiz... tudo isso? – sua voz saía forçada e baixa.
Como poderia ser essa a carta que o destino havia dado a ele? Simplesmente não me parecia justo. Ele não merecia passar por tudo aquilo.
– Foi só para que no fim eu te trouxesse para um bastardo que faz da humanidade o que quer? Eu ralei para no fim dar a mulher que eu amo para o inimigo? Eu queria te mostrar o quanto você é importante, queria te mostrar o mundo. Queria te carregar até o topo. Queria ver a verdadeira guerreira que você é em outras batalhas que não essa. Eu queria ver até onde um moleque de rua e uma rebelde poderiam chegar.
Sua voz começou a tremer. Eu nem tinha certeza se ele ainda se lembrava que eu estava ali. Se ele sabia, parecia que não se importava mais de que alguém mais pudesse ouvir o que ele dizia.
– Achei que estávamos buscando o mesmo sonho. Desde que fosse por você, eu senti que poderia fazer qualquer coisa, mas você seguirá sendo uma guerreira até o fim. Você no fim irá seguir até os braços da morte por vontade própria... então o que diabos eu estou fazendo aqui? Depois de todas aquelas pregações hipócritas que eu fiz de nunca abandonar um companheiro, eu no fim estou aqui, sabendo que você está mentindo sobre ir para Vixen, sabendo que está decidida a acabar com isso, levando também os nossos filhos e eu... e eu estou permitindo que você se entregue aos lobos. Inferno, eu sou igualzinho qualquer idiota dessa ilha no fim das contas... me responde... por quê? Droga... por que não me deixou morrer naquele dia, Ayana? Por que simplesmente não fugiu?
Ouvir aquilo me dilacerou. Eu não podia suportar ouvir aquilo e ficar parada. Envolvi meus braços ao redor dele o máximo que eu pude e pressionei meu rosto contra suas costas. Ele não disse nada.
– Quando eu falei para Daneel que eu tinha a sensação de que acabaria assim, mas que deixaria você fazer as coisas do seu jeito, ele disse que você descobriria e disse que eu estava pedindo demais de você, que esse era um fardo que homem nenhum deveria ter de carregar.
Segurei as lágrimas, eu não podia chorar. Kai estava com muito mais dor do que eu naquele momento, mas mesmo me repreendendo, de novo eu estava chorando. As lágrimas começaram a cair e eu me esforcei para seguir em frente.
– Eu sei que você se preocupa, mas estou fazendo isso também por você, porque eu também sinto o mesmo. Eu também quero que você e todos os outros possam viver bem. Você não vê? Não é sua culpa. Você não pode se culpar. Eu não quero que você morra, então por favor, continue vivo mesmo depois que tudo isso acabar. Eu quero ser hipócrita agora e pela primeira vez não quero te dar escolha. Viva, não existe outra escolha que não seja essa para você..., mas por favor, não se culpe.
Kai ouviu, sem dizer nada, ou talvez ele nem tivesse me ouvido. Por que as palavras pareciam tão impotentes quando eu mais precisava delas? De que serviriam se eu não pudesse confortar alguém que cuidou de mim quando eu mais precisei?
Depois de vários longos minutos, senti Kai relaxar.
– Você está fazendo isso para me salvar..., mas o que diabos eu devo fazer depois disso? Minha vontade de te salvar foi o que me trouxe aqui. Desde que eu saltei daquele navio, tudo o que eu fiz foi para te salvar. Quando isso acabar, eu não sei mais o que terá para mim. No fim eu nunca fui nada – ele riu de maneira curta e breve, mas não havia nenhum humor naquela risada – Sério, Ayana – ele forçou o punho – pare de me dar todo esse trabalho de merda. Eu sou um ladrão, um assassino e não um rei, caramba. Eu nunca pedi para ser um rei.
Ele sufocou um soluço e ficou em silêncio. Fiquei ali, grudada nele por muito tempo. Vendo a claridade do fim da tarde bater nos seus cabelos loiro escuro.
Enquanto eu pudesse, eu não o soltaria.
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