. . . . . ╰──╮ 38. Kai╭──╯. . . . .
Continue aguentando firme
Porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos
Apenas seja forte
Porque você sabe que eu estou aqui por você
Não há nada que você possa dizer,
Nada que você possa fazer
Não há outro jeito quando se trata da verdade
Então continue aguentando firme
Porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos
Avril Lavigne - Keep Holding On
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"Dizer que me impressionei comigo mesma foi pouco, jamais imaginei sequer em um ato como esse, mas sigo muito mais impressionada com ele que ao invés de me oferecer um puro olhar de ódio, me ofereceu um brilho nos olhos, como se estivesse orgulhoso de mim" (Diário de Ayana)
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Durante a reunião, contei o que havia acontecido até aquele momento sem ocultar nada do que fosse realmente importante. Aylin e Yugo falaram sobre a decisão de virem após eu saltar do navio. Também falaram que Lissa, que chegou pouco tempo depois do incidente, invadiu a cabeça da Aylin deixando que todos vissem toda a sua verdadeira história. Segundo Yugo foi uma das coisas mais traumatizantes que ele viu na vida e eu podia entendê-lo.
Aylin estava disposta a acabar com a guerra, mas disse que a decisão estava nas minhas mãos. Lissa deixou claro que eu estaria no comando assim que nos encontrássemos e ela iria seguir o que eu decidisse.
– Aylin, você lembra das profecias? – perguntei na esperança de alguma resposta.
– Não – ela respondeu com um tom de desculpas – eu nem lembrava que fazia profecias, mas pelo que eu entendi funciona como as outras coisas, eu fico supostamente "ausente". Nunca lembro o que acontece nesse meio tempo.
Bufei com a resposta, mas claramente ela não tinha culpa.
– Vocês lembram – apontei com a cabeça para Trix e Ayana – por que não compartilham com a gente.
– Não – Ayana respondeu de maneira categórica e minha raiva cresceu um pouco mais.
– Viatrix? – olhei para ela e ela primeiro olhou para a amiga e depois de novo para mim.
– As duas primeiras o senhor já conhece – ela engoliu em seco ao notar o olhar mortal de Ayana para ela.
– Eu quero ouvi-las de novo e quero ouvir as outras.
– Tudo bem – Viatrix respondeu baixo evitando a todo custo Ayana – antes de fazer isso, deixe-me avisar uma coisa, na verdade são várias profecias em uma só. Talvez vocês encontrem alguma coisa que ainda não encontramos.
– Eu não quero escutar – Ayana se levantou abruptamente da mesa.
– Desculpa aí, Milady – Daneel a sentou com a bainha da sua espada, sem dúvidas doeu, mas ele não parecia nada feliz com a atitude da amiga – é a primeira vez que vou ouvir essa maldita profecia na íntegra e quero que você esteja aqui para eu conseguir te dar todas as broncas que quis te dar durante todos esses anos.
– Vocês são idiotas? – ela gritou – acha que saber essa maldita profecia vai mudar alguma coisa?
– E não saber vai resolver alguma coisa também? – Yugo falou tranquilamente – não leve a mal moça, mas já quebramos um futuro que parecia inevitável antes também.
Ele tinha razão, quando tomamos o reino, tínhamos uma linha temporal ativa que nos levaria direto para a morte e no fim nenhum de nós morremos.
Ayana fuzilou Yugo com os olhos, mas o semblante sério dele fez ela desviar o olhar como tantas outras vezes ela havia feito comigo. Ela seguia com medo de homens em geral, mas dessa vez eu não estava disposto a defendê-la.
– Nenhuma profecia da Aylin falhou até agora – ela sussurrou – por que vocês se acham tão especiais a ponto de acharem que dessa vez vocês podem fugir disso?
– Engraçado escutar isso da pessoa que tentou mandar a gente embora para que essa profecia não acontecesse, não é? – me levantei irritado também.
– Eu estava apavorada – ela gritou de volta – e olha só para onde o meu desespero me trouxe? Se eu não tivesse tentando mandar vocês embora talvez eu poderia ter pensado com mais calma, mas na droga do meu desespero eu resolvi levar vocês até aquele maldito navio... no fim a Aylin segue certa na profecia.
Talvez já tendo o suficiente a vi se dirigir até a porta, mesmo com Daneel novamente colocando a bainha da sua espada na frente dela.
Me adiantei até a porta.
– Sai da frente – ela falou de maneira cortante.
– Não – respondi – você fica. Você sabe de coisas que pelo visto ninguém mais sabe, então você fica.
– Sai da frente, Kai – ela gritou – eu não quero ouvir essa merda de novo.
– Volte para o lugar – falei tentando me controlar, mas quando eu acabei de falar a frase, escutei o estalo e o rosto esquentar por um tapa.
Quando olhei para ela, em seus olhos eu pude ver o mais puro horror e medo por seu ato, ainda assim ela não se afastou e nem recuou. Por um lado, eu senti orgulho dela, por finalmente ter ultrapassado o limite do próprio medo, mas por outro lado, eu não iria simplesmente mudar de ideia. Eu precisava dela ali para me tirar qualquer dúvida e não estava disposto a aceitar um não.
Respirei fundo, mas todo o meu corpo tremia.
– Se quiser me bater de novo, eu aconselho que se afaste da próxima vez – falei controlando a voz.
– Por quê? Vai me bater?
– Eu não bato em mulheres – respondi ainda controlando a respiração e deixando a voz moderada – isso não significa que eu aceite apanhar de graça.
– Vem – Viatrix a segurou pelo ombro. Para ser sincero eu nem cheguei a ver a hora que ela se aproximou – Vamos, Ayana. Sinceramente eu concordo com eles. Talvez eles encontrem alguma solução que nós não conseguimos enxergar ainda.
Ayana seguia olhando nos meus olhos, eu podia enxergar um misto de várias emoções ali: medo, frustração, raiva, tristeza, assombro e acima de tudo eu enxergava a surpresa em seus olhos, como se ela não fosse capaz de acreditar em tudo o que estava acontecendo.
Contra todas as expectativas, ela se deixou levar por Trix até a cadeira que ela estava sentada antes. E mesmo assim ela simplesmente não desgrudava seus olhos de mim.
Voltei para o meu lugar me sentindo cansado e derrotado, mas não iria deixar que isso mudasse a minha postura. Respirei fundo de novo, eu já havia passado por cima do que sentia inúmeras vezes, já havia vestido a máscara fria inúmeras vezes, dessa vez não seria diferente.
– Pode começar Trix – falei me sentando novamente.
Ela acenou e mesmo sabendo que Trix começaria, os olhos de Ayana seguiram em mim.
"Rosa... Rosa de sangue
como a mulher dos meus sonhos
como aquela de quem nunca saberei todos os segredos
e para quem sempre terei uma história nova.
Misteriosa, elegante e cheia de enigmas.
Rosa de sangue, leve-me...leve-me para longe destas malditas ilhas,
leve-me junto com as correntes marítimas,
mesmo que para isso ele pague com a vida.
Em Terras Estranhas você seguirá
Para que o novo rei possa reinar
Em mares de sangue você irá nadar
Até que o antigo rei por fim cairá
Quando o novo rei surgir
Das asas de um corvo ele irá sair
Saiam todos das cidades habitantes da terra
Sua idade de ouro se transformará em idade de guerra
Se escondam até que o rei possa chegar
E com mãos de ferro a todos possa governar
Mas enfim a humanidade poder salvar.
Enquanto há espera que venha a donzela
Donzela guerreira,
filha de Athena
Invencível na guerra
Não haverá quem sobreviva quem ficar de frente a ela
Deusa Feiticeira
A teus pés cairão
Todo aquele que queira
passar por ti sofrerão
Silenciosa e pensativa
deve ser a filha de um líder
e ameaçadora em batalha;
feliz e generosa
deve ser toda guerreira
até o momento de sua morte.
Não deixe sua coragem acabar
Aqui sua vida deve terminar.
Mantenha o sorriso firme
embora sua cabeça esteja curvada pela tempestade.
Durante a vida você teve muito prazer
Mas um dia todos devemos morrer
Minha criança, minha criança!
Está tudo bem, tua alma é forte!
A filha de heróis deve morrer assim.
Devolva a honra ao seu brilho obscurecido
Pegue a espada imortal, ó sangue do meu sangue e leve-a.
Corra, vingue-nos e morra bravamente.
Deixe que seu rei possa enfim triunfar
E a paz nessa Terra possa enfim começar a reinar
A sua alma estará quebrada
E na alma do rei perfurará diversas facas
Quando ele tenha que proferir as palavras
que manterá a sua alma para sempre selada
Muitas pessoas irão ruir
Mas quatro pessoas de lá irão sair
Para que a palavra possa correr
E a maldição do mundo enfim romper.
Oh demônio, amaldiçoado a viver
Vá até o inferno antes da sua alma perecer
Fiquei pensando nos versos que eu acabara de ouvir, para mim pareciam apenas palavras jogadas ali para assustar e causar alarde, mas depois de tudo o que eu passei, obviamente não iria levar como uma profecia tola.
– Obrigado Trix – falei ainda de maneira pensativa – Você e Ayana podem sair.
Primeiro ela ficou de boca aberta, talvez tentando assimilar o que eu tinha acabado de dizer. Preferi explicar meus motivos antes de causar alarde.
– Você e Ayana já sabiam a profecia. Conheço a visão de vocês em boas partes dessa profecia e mesmo se eu pedir nenhuma das duas vai me falar o que pensam, portanto, quero só quem não conhecia a profecia aqui. Vejo nos olhos da Ayana que ela não vai me responder mesmo que eu pergunte qualquer coisa.
– Bem a sua cara – Ayana bufou – então com licença, "majestade".
A última palavra saiu com um ódio tão profundo que um calafrio percorreu todo o meu corpo. Ela não esperou que eu falasse uma segunda vez e saiu apressada da sala. A preocupação ameaçou a tomar conta do meu corpo e meus instintos me gritavam para ir atrás dela, mas me segurei.
– Kai – Trix falou baixo – por favor, não fique bravo com ela. Ela só está com medo.
– E ela tem razão de estar – respondi cruzando os braços ao olhar para Trix e seu semblante triste – eu não imagino como deve ser passar ano após ano sabendo que a sua morte que vai salvar as outras pessoas. O que realmente não me entra na cabeça é o porquê vocês simplesmente aceitaram isso.
– Porque nunca encontramos uma alternativa – ela olhava para baixo – apesar de ter sido por pouco tempo, obrigada por fazê-la feliz. A primeira vez que a vi sorrir de maneira sincera foi com você e eu nunca vou conseguir agradecer o suficiente.
Ela não esperou respostas, apenas deixou seus passos a guiarem para fora do salão também.
– Parece que as coisas não andam fáceis para você no fim das contas – Yugo olhou para mim e se apoiou na mesa – e aí? O que vamos fazer?
– Primeiro eu quero entender esse monte de verso estranho que eu ouvi e quero a opinião de cada um. Aylin como era o começo?
Aylin:
- Rosa... Rosa de sangue
como a mulher dos meus sonhos
como aquela de quem nunca saberei todos os segredos
e para quem sempre terei uma história nova.
Misteriosa, elegante e cheia de enigmas.
Rosa de sangue, leve-me...leve-me para longe destas malditas ilhas,
leve-me junto com as correntes marítimas,
mesmo que para isso ele pague com a vida.
– Essa parte nem tem muito o que pensar – falei – Trix havia dito que Rosa de Sangue era o nome do navio que levou Aylin embora no dia que nos conhecemos. "Como aquela de quem nunca saberei todos os segredos" sem dúvidas remete ao selo que colocaram na memória da Aylin. A profecia começou a se cumprir já no dia da fuga dela. Quem coloca os nomes nos navios aqui?
– Os carpinteiros normalmente – Daneel respondeu – Rosa de Sangue foi um dos navios mais famosos de Uru-anna. Pelo que eu soube, quando pediram um navio para a fuga, ele entregou o navio mais rápido que ele tinha na época.
– E ele sabia da profecia? – era uma pergunta pertinente, seria fácil seguir uma profecia se você acreditasse nela.
– Não – Daneel disse tranquilamente – Uru-anna vive isolado. Não se importa com profecias ou relações sociais. Dizem que é apenas um velho louco que vive para o seu trabalho.
– Entendo – no fim não era uma coincidência nem mesmo isso – continue Aylin.
Em Terras Estranhas você seguirá
Para que o novo rei possa reinar
Em mares de sangue você irá nadar
Até que o antigo rei por fim cairá
– Essa parte deve estar falando da nossa guerra – Yugo falou – Aylin era a única que não era de Vixen ali, por isso deve estar falando de terras estranhas. O mar de sangue deve ter sido a nossa luta contra o rei e a rainha. A queda do rei foi ali.
Um novo calafrio percorreu meu corpo, até ali já estávamos seguindo a profecia da Aylin. Acenei com a cabeça concordando com ele e Aylin seguiu.
Quando o novo rei surgir
Das asas de um corvo ele irá sair
Saiam todos das cidades habitantes da terra
Sua idade de ouro se transformará em idade de guerra
Se escondam até que o rei possa chegar
E com mãos de ferro a todos possa governar
Mas enfim a humanidade poder salvar.
– Das asas de um corvo ele irá sair – murmurei – ele está falando de Zyon. Zyon que fez com que chegássemos aonde chegamos, mas e essa segunda parte?
– Acho que está falando dos nossos recuos – Daneel falou – quando a guerra ficou descontrolada, passamos a tirar os cidadãos das partes mais afetadas e os mandamos para outros lugares. Khur virou um verdadeiro campo de batalha, assim como Nikatawa. Agora o fim é com você, você me mostrou o como você governa, acho que é uma parte que nem precisa de explicações.
– Ele sempre foi assim – Yugo deu de ombros – sua palavra sempre foi lei.
– Continue Aylin – pedi.
Enquanto há espera que venha a donzela
Donzela guerreira,
filha de Athena
Invencível na guerra
Não haverá quem sobreviva quem ficar de frente a ela
Deusa Feiticeira
A teus pés cairão
Todo aquele que queira
passar por ti sofrerão
– Está falando da Ayana – Daneel falou – só quem viu ela lutando pode entender isso.
– Sim – sussurrei ao lembrar da sua feição pétrea e impiedosa quando estávamos lutando contra as lâmias. Seria impossível dizer que a Ayana do campo de batalha era a mesma Ayana que vivia ali comigo.
Silenciosa e pensativa
deve ser a filha de um líder
e ameaçadora em batalha;
feliz e generosa
deve ser toda guerreira
até o momento de sua morte.
Não deixe sua coragem acabar
Aqui sua vida deve terminar.
Mantenha o sorriso firme
embora sua cabeça esteja curvada pela tempestade.
Durante a vida você teve muito prazer
Mas um dia todos devemos morrer
– Sem dúvidas essa parte é de agora – Daneel deu de ombros – nunca tinha visto ela tão hesitante. Quero dizer, não é que ela estivesse feliz, mas também não parecia tão apreensiva.
– Quando temos consciência de que algo acontecerá eventualmente, não é tão ruim quanto saber o momento exato em que ocorrerá – respondi achando aquilo óbvio – qualquer um estaria assim no lugar dela.
– Não acho que seja só isso – Daneel cravou seus olhos em mim – Ela nunca se permitiu criar mais laços dos que ela já tinha. A mãe dela, Basil, Argus e Hagne estão mortos, Trix e Aylin vão para a morte certa, agora ela adicionou você na lista. Ela mesma admitiu isso, não lembra?
– Ela deveria parar de se preocupar comigo – suspirei me sentindo derrotado.
– E você deveria parar de se preocupar com ela – Daneel deu de ombros – falar é mais fácil do que fazer, não é mesmo?
O estudei um tempo, até fazer um sinal qualquer para que Aylin seguisse.
Minha criança, minha criança!
Está tudo bem, tua alma é forte!
A filha de heróis deve morrer assim.
Devolva a honra ao seu brilho obscurecido
Pegue a espada imortal, ó sangue do meu sangue e leve-a.
Corra, vingue-nos e morra bravamente.
– Aqui não tem segredo também – falei com a mão no queixo – está falando da morte dela, mas a pergunta que não quer calar... como sabem que é dela que a profecia fala?
– Isso é fácil responder – quem respondeu para a minha surpresa, foi Aylin – quando ela era criança, ela recebeu uma espada que foi passada de geração em geração para as mulheres da família dela, para que elas pudessem presentear seus maridos quando estes fossem para a guerra. Era só uma história estranha para nós. A mulher recebia essa espada, que é chamada de espada imortal porque a espada nunca se quebrou ou enferrujou e essa espada supostamente protegia seu marido durante as lutas e quando eles voltavam para elas a espada voltava para as mãos das mulheres que a passariam para a mais velha das filhas e assim por diante. A diferença é que Ayana, quando recebeu a espada ela fez uma coisa que mulher nenhuma antes tinha feito. Ela afiou a espada e treinou, dizendo que não dependeria de um homem e que ninguém mais era digno de segurar aquela espada. Enfim, ela ficou conhecida como a filha de Athena assim que amarrou a espada na cintura e juntou os primeiros rebeldes, ainda antes da profecia. É estranho lembrar disso, porque é uma história que eu nunca esqueci realmente, mas até o selo ser quebrado eu nunca tive certeza se era uma história real. Acho que foi isso que me fez reconhecer ela logo no primeiro dia.
– A espada imortal é a espada que ela usa em lutas – Daneel falou para mim – ela nunca se separa da espada. Não teria como ser outra pessoa na profecia além dela.
Deixe que seu rei possa enfim triunfar
E a paz nessa Terra possa enfim começar a reinar
A sua alma estará quebrada
E na alma do rei perfurará diversas facas
Quando ele tenha que proferir as palavras
que manterá a sua alma para sempre selada
– Eu quero muito que vocês digam que eu entendi essa parte de uma maneira errada – suspirei e abaixei a cabeça – então segundo a profecia, eu que vou condenar Ayana, é isso?
O silêncio que reinou foi muito pior do que qualquer resposta que eles pudessem ter me dado e ao invés de me responderem, Aylin preferiu terminar de recitar.
Muitas pessoas irão ruir
Mas quatro pessoas de lá irão sair
Para que a palavra possa correr
E a maldição do mundo enfim romper
Oh demônio, amaldiçoado a viver
Vá até o inferno antes da sua alma perecer
– O que será que essas duas últimas linhas significam? – Daneel ficou pensativo.
– O demônio amaldiçoado a viver não é o pai das lâmias? – Aylin perguntou – Acho que está falando dele. Ou seja, talvez essa derrota pode ser a salvação da sua alma ou algo do tipo.
Tinha sentido. Minha cabeça dava voltas nesses versos e eu precisava pensar com urgência em uma saída.
– Mande seus pais embora, Aylin – falei tentando controlar o que eu sentia – somente quatro pessoas irão sobreviver. Vamos tentar diminuir o número de pessoas que estão com a gente.
– Kai – Aylin falou de maneira quase carinhosa, o que me apavorou de certa maneira, ela não costumava falar daquele jeito nunca – quem está aqui, veio sabendo que iria morrer. Eu não conhecia a profecia inteira, porque como eu te falei, eu não lembro de nada quando me ausento, mas muitos por aí comentam partes da profecia. Os sacerdotes estão aqui para que o selo que vai prender o pai das lâmias seja forte o suficiente para nunca se romper. Eles estão aqui para usar toda a energia que eles têm para isso e quando um sacerdote usa toda essa energia eles...
– Eles morrem – terminei por ela, ela mesma já tinha feito isso e Yugo a salvou, eu não poderia me esquecer disso.
– Todos eles sabem que vão morrer e ainda assim estão aqui? – eu não conseguia nem começar a imaginar a situação – então, quem irá sobreviver?
– Para quem sempre usou a lógica você está bem perdido, hein? – Yugo suspirou – Eu e você não somos sacerdotes, então não iremos morrer, o mesmo vale para aquela moça chamada Viatrix. Ayana irá morrer de acordo com a profecia e Aylin é uma sacerdotisa. A questão não é saber quem são os quatro que irão sobreviver e sim quem será o outro a sobreviver com a gente.
Olhei para Yugo, pelo visto Aylin já tinha conversado bastante com ele sobre isso, mas ele não parecia feliz também. Ele amava Aylin, mesmo que nunca tivesse dito isso a ela e nem ela para ele. Meus olhos se abriram ainda mais e eu engoli em seco.
– Não – por fim eu falei – não iremos fazer isso.
Por algum motivo todos pareceram respirar aliviados após isso.
– E o que você pretende fazer? – Yugo perguntou menos tenso.
– Vamos tentar achar outra solução. Nós pensamos melhor quando estamos juntos. Vamos voltar para Vixen e de lá pensaremos em um plano. Talvez Lissa tenha a solução para salvar mais gente. Eu sei que ninguém gosta de usar ela como arma, mas me desculpo com ela depois que tudo isso acabar. Ela não deixa ninguém morrer, lembram? Daneel, no primeiro dia falaram que você fortificou a barreira de novo, consegue fazer o inverso? Quero dizer, você consegue fazer com que a barreira se enfraqueça de novo?
– Isso é fácil, mas preciso estar em Falcón Island para isso. Não conheço os sacerdotes daqui. Os de lá eu sei exatamente quem consegue passar mensagens de maneira rápida.
– Perfeito – falei organizando melhor a minha ideia – vamos para Vixen, podemos levar os sacerdotes e tentar encontrar um plano lá, junto com a Lissa. Provavelmente voltaremos com mais gente, então vou precisar que a barreira se enfraqueça para que entremos de novo.
– O que essa Lissa faz afinal de contas? – Daneel perguntou de maneira curiosa.
– Ela troca vidas – dei de ombros – ela mantém alguém vivo em troca da morte de outra pessoa. Por exemplo, Aylin uma vez foi baleada e para salvar a Aylin, Lissa fez com que outra pessoa morresse no lugar dela. É mais ou menos isso.
– E se ela vier e morrer? Talvez não seja uma boa ideia arriscar a vida de alguém tão valioso quanto ela – Daneel olhou diretamente para mim, com um olhar ainda mais curioso.
– Ela não pode morrer – respondi tranquilamente – ela foi amaldiçoada a viver.
– Interessante – Daneel falou realmente admirado – Talvez seja isso que Argus tenha dito sobre a Ayana sobreviver. No fim esse filho da mãe pode realmente estar certo.
– Exatamente – falei sentindo a esperança renovando dentro de mim – segundo o que eu entendi nenhuma profecia da Aylin falhou até agora, do mesmo jeito que nenhuma linha temporal do Argus falhou também. Só que agora uma certeza está se confrontando com a outra. Um dos dois precisa estar errado e eu vou fazer o possível para que seja a profecia da Aylin a falhar e vou levar os meus amigos embora comigo para Vixen de novo no fim disso tudo e Ayana estará entre eles.
A certeza das minhas palavras fez todos sorrirem aliviados. Eu me recusava a perdê-los. E eu enfrentaria qualquer um para isso.
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