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. . . . . ╰──╮ 3. Kai ╭──╯. . . . .

Eu não sei aonde estou indo
mas sei muito bem onde eu estive
me apoiando nas promessas de músicas antigas
E eu já me decidi, não vou perder mais tempo
aqui vou eu de novo
Here I go again – Whitesnake

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"A volta de Aylin e uma gangue com o símbolo de um corvo. Tudo parece um pesadelo, tudo parece uma terrível queda livre para um destino que eu tanto temo quanto anseio." (Diário de Ayana)

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– Isso não é verdade – Aylin respondeu mais pálida do que o normal – isso é só uma lenda criada para assustar as pessoas. Meu pai jamais faria isso.

– Talvez – Viatrix pareceu não se imutar – entenda, quando uma lâmia escolhe alguém não existe recusa para ele. Ele não tem escolha. Existem dois tipos de acordos, o forçado, que é quando a lâmia escolhe o seu par e o voluntário, que é quando o homem escolhe a lâmia. Agora que você já sabe disso, deixe-me te informar uma coisa... eu não disse que foi seu pai que fez o acordo.

– Isso não é verdade! – Aylin gritou e se levantou com raiva. Ela tremia de maneira visível e parecia que iria colapsar e mesmo com esse ataque de fúria, Viatrix não se imutou.

– Yugo, leve a Aylin para dentro. Dê alguma coisa forte para ela tomar – falei olhando para Yugo. Aquela história era tão absurda quanto a última que eu havia escutado, mas algo dentro de mim se remexia de maneira ansiosa. Aylin nunca tinha sido de fato uma albina comum. O sol não a incomodava, suas feridas cicatrizavam mais rápido do que a de outras pessoas e sua pele não tinha uma única mancha, era exatamente o que Viatrix tinha dito, Aylin tinha uma pele que mais parecia porcelana.

Aylin se debateu um tempo para não sair dali, mas Yugo era forte o suficiente para levá-la mesmo contra sua vontade. Assim que eles saíram de vista, me virei novamente para Viatrix.

– Digamos que a sua história realmente me parece fantástica. Tem alguma prova de tudo isso? – perguntei estudando sua reação.

– Talvez – ela olhou para a arma na minha cintura – que tal fazer um teste? Dentro do limbo não existem armas de fogo, a que está na sua cintura não passa de um mero enfeite agora. Aqui não existe luz ou eletricidade e até mesmo o propelente da sua arma perde a força aqui. Aqui existe só a mais pura energia natural de centenas de sacerdotes e filhos dos deuses mantendo a barreira. Sua arma está carregada?

– Está sempre carregada – respondi apertando um pouco os olhos.

– Perfeito – ela sorriu de novo – quero que aponte a sua arma para a minha cabeça e atire.

– Ficou louca? – perguntei apertando ainda mais os olhos.

– Talvez – ela deu de ombros – pense da seguinte maneira: se eu morrer, então toda a história é inventada e você pode seguir seu caminho para fazer sei lá o que nas ilhas quebradas do Oeste. Se a sua arma não funcionar, você pode tentar uma segunda vez, mas vai saber que pelo menos alguma coisa verdadeira tem em tudo o que eu narrei.

– Antes disso, deixe-me fazer algumas perguntas – cedi ao desejo louco de beber um pouco – você odeia esses filhos dos deuses?

– Eu? – seus olhos se abriram um pouco com a pergunta – jamais. Odiar os filhos dos deuses não resolve nada, são tão vítimas quanto qualquer outra pessoa – após o susto inicial, sua feição relaxou e ela voltou a sorrir – além do mais, eu não seria capaz de odiar meu irmão ou a Milady.

– Então seu pai fez um acordo e ofereceu tributo de recém-nascidos para uma dessas lâmias? – perguntei arqueando uma sobrancelha.

– Pois é – ela suspirou – ele era um desgraçado que morreu como o verme que era. Meu irmão o matou, sabe como ele morreu? – um sorriso malicioso se torceu em sua boca e ela parecia se divertir ao falar da morte do pai – ele morreu com a garganta cortada dentro de um banheiro imundo ainda com a calça arriada e a bunda suja.

Fiquei olhando-a falar aquilo e senti um leve incômodo. Aquelas palavras não pareciam cair bem com ela, mas deixei esse pequeno preconceito de lado e mesmo eu não tendo falado nada, o sorriso forçado que estampava seu rosto sumiu lentamente.

– Aylin nasceu com um dom incomum – sua voz já não era mais do que um sussurro – ela sempre foi capaz de ver qualquer ser espiritual além de fazer profecias. Ela pode ver por que seus olhos adaptam a energia de qualquer um. Após uma profecia surgir com o seu nome os atentados contra a sua vida passaram a ser frequentes. Os pais dela tentaram protegê-la, mas foram incapazes de proteger a jovem sacerdotisa da maldade humana. Eles eram sacerdotes importantes e tinham diversos seguidores fiéis que acreditam na profecia. O filho do duque a encontrou em uma masmorra, mas já haviam tirado muitos dos seus órgãos nessa época. O jovem mestre deu a sua vida para salvá-la. Os pais de Aylin a levaram até Vixen e colocaram um selo em sua memória, fazendo-a esquecer de tudo o que ela tinha vivido. Segundo eles, era um selo tão poderoso que mesmo que alguém tentasse acessar a sua memória, não veria nada mais do que o que eles limitaram da memória dela.

– E que profecia é essa? – ela tremeu com a pergunta e seu rosto ficou um pouco mais pálido.

– Não posso te responder isso – ela murmurou – apenas Milady poderia fazê-lo, mas duvido.

Vi em seus olhos que ela realmente não o faria, talvez eu devesse trocar as perguntas por enquanto e esperar para descobrir sobre essa profecia depois.

– E por que só salvaram a ela? – perguntei querendo entender melhor aquela história.

– Os pais dela juraram voltar e manter a barreira pelo resto de suas vidas. Aylin não tinha por que ficar nesse inferno e era melhor tê-la a salvo do que como arma ou alimento em mãos inimigas. Mais vale salvar uma vida do que nenhuma e no caso dela, salvar a Aylin significa salvar a milhares de outras pessoas. No fim, nada disso importa mais. Vocês estão aqui de novo, as barreiras estão enfraquecendo, e nossa única saída é encontrar esse maldito demônio e sua esposa para que deixem de procriar lâmias.

Sim, a história parecia absurda. Tirei minha arma do coldre e apontei para a cabeça da jovem. Eu já tinha tirado diversas vidas, se ela morresse a culpa seria apenas dela, ainda assim precisei respirar fundo para apertar o gatilho. Tentei uma vez e logo a segunda.

Roy, que havia escutado toda a história mudo e estático, puxou a arma dele e fez o mesmo e da mesma maneira que ocorreu comigo, sua arma não disparou.

Ela se levantou da cadeira e olhou para os homens que a acompanharam até ali. Eles não haviam movido um músculo desde que começamos a conversa.

– Estamos em um trecho extremamente perigoso – ela se espreguiçou – fale com a Milady e se tiver qualquer oportunidade de voltar para Vixen, não a desperdicem. Não sejam tolos o suficiente para entrarem no inferno por vontade própria.

Assim que ela acabou de falar, um sinalizador verde foi visto próximo ao navio.

– Milady chegou – Trix virou novamente para mim – será que vocês poderiam nos acompanhar até o navio dela?

– Isso não vai rolar – falei tranquilamente – não confio em você. Não vou entrar no navio de alguém que eu nem sei se é amigo ou inimigo.

Ela suspirou, pareceu pensativa durante um tempo, depois tirou sua espada da cintura ainda embainhada e jogou no chão. Depois levantou a saia do vestido e tirou diversas facas, algumas dinamites e adagas. Depois tirou o que aparentava ser um adorno de cabelo, mas na verdade era tão pontudo que mataria alguém sem muito esforço e jogou junto com as suas outras diversas armas.

– Se um dos meus companheiros levar vocês até lá. O resto de nós poderemos ficar como moeda de troca – ela falou por fim. Agora sim estava falando a minha língua e não pude evitar um sorriso.

– Roy, amarre-a – falei tranquilamente – Trix, mande seus homens soltarem todas as armas assim como você o fez.

– Obedeçam – Trix fez um sinal com a cabeça – apenas Hagne que não precisa. Você irá levá-los até Milady.

– Sim, senhora – para a minha surpresa, a voz que eu ouvi do menor dos soldados era de uma mulher.

Hagne tirou o elmo, se ajoelhou com a sua espada a frente e esperou de cabeça baixa. Hagne era muito jovem ainda. Seu cabelo curto e negro dava um toque especial para ela, e novamente me senti em um jogo ou um filme qualquer antigo.

– Estou começando a acreditar que é regra todas as mulheres que aparecem serem bonitas – Roy resmungou do meu lado.

– Talvez – eu respondi. De fato, Hagne era muito bonita como a grande maioria das mulheres que eu havia conhecido até aquele momento desde a quadrilha das Kitsunes, mesmo assim se todas eram bonitas, então não havia nada de especial nisso, mas resolvi seguir a conversa com Roy – aproveita Roy, não vi anel no dedo de nenhuma delas até agora.

Ele sorriu de maneira predatória e eu acabei por fazer um pequeno sinal negativo com a cabeça.

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