. . . . . ╰──╮ 17. Kai ╭──╯. . . . .
O tempo fica parado
Há beleza em tudo que ela é
Terei coragem
Não deixarei nada levar embora
O que está na minha frente
Cada suspiro
Cada momento trouxe a isso
Christina Perri - A Thousand Years
【န ━━━━━━━━━━ ~DနM~ ━━━━━━━━━━ န】
"Eu tenho uma confissão... ou talvez não. A verdade é que seu sorriso e sua voz estão se repetindo como eco na minha cabeça, como uma melodia que gruda e nunca mais sai... eu gosto dessa sensação, mas sinto que devo me proteger..." (Diario de Ayana)
【န ━━━━━━━━━━ ~DနM~ ━━━━━━━━━━ န】
Nossa pequena jornada começou. Ainda tinha na cabeça a figura chorosa de Anastácia na cabeça. No fim Ayana tinha sorte por ter alguém que se importava tanto assim com ela. Apesar de ter sido uma cena triste, foi também uma cena bonita, pois só mostrava o imenso carinho que ela tinha por aquele casal da pousada.
– Aqui – Ayana chegou com um kit com diversas adagas e punhais. Além de uma espada embainhada – ensinar você a lutar com espada pode demorar bastante, mas sei que você é quase invencível com adagas.
– Sabe, é? – perguntei olhando para o jogo fantástica que ela me entregou em mãos, eram sem dúvidas as adagas mais bonitas que eu já tinha visto. Com diversos formatos diferentes para diversos tipos de lutas.
– Vi você brigando, mesmo na sua briga corporal, você consegue manter uma boa postura e posiciona os pés sempre de uma maneira que te dê vantagens, independente se está avançando ou recuando.
– Conseguiu ver tudo isso naquele mínimo tempo em que eu me defendi de algumas sereias? – apertei os olhos em sua direção
– Estou à frente de tropas, tenho costume de analisar as lutas e defesas, tanto de aliados como de inimigos – ela deu de ombros como se aquilo fosse uma coisa muito simples – Preciso que você aprenda o mínimo de uma espada, porque se acontecer de lutarmos com outros seres humanos pelo caminho, uma adaga ganhar de uma espada é bem difícil por conta do alcance, a diferença mínima de alcance já faz diferença em uma luta. Enquanto você não tem a segurança necessária para isso, vamos te fortalecer com as adagas, explicar pontos fracos dos seres que poderemos encontrar e irei te ensinar pelo menos a defesa em uma luta de espada.
– E por quê? Já parou para pensar que posso usar tudo isso contra você algum dia? – não é que eu não quisesse aprender, na verdade não precisar depender de outros para me defender seria realmente bom, mas duvidava que esse aprendizado viria de maneira gratuita.
– Quando você estiver de volta a Vixen e for novamente um potencial inimigo, eu me preocupo com isso. Enquanto você está desse lado da barreira e está comigo, eu preciso que pelo menos saiba se defender.
– Simples assim? Sem nada em troca?
– Acredite Kai – ela falou um pouco mais séria – nem todos se acham o centro do universo. O fato de você ser desagradável não significa que eu não quero te fazer chegar vivo em Vixen. Prefiro que não haja mais choros no mundo e tenho certeza de que sua pequena trupe choraria se algo acontecesse com o palhaço central.
Apesar da provocação eu ri. Ela realmente estava sempre na defensiva.
– Você nunca pensa em você?
– E por que eu deveria? – ela por algum motivo pareceu irritada com a pergunta – já olhou a sua volta? O que eu ganharia se pensasse em mim agora?
– Acho bom que pense nos outros, mas não é bom se excluir das suas próprias prioridades. Você é tão importante quanto qualquer outra pessoa, não?
Ela forçou o maxilar e olhou para o outro lado.
– Pare de falar como o meu irmão – ela reclamou sem olhar para mim – pare de fingir que se importa. Iremos treinar enquanto andamos mesmo, não podemos parar e infelizmente você terá que aprender em poucas semanas o que outros levaram anos para aprender. Aqui, essa é uma adaga quebra-espadas.
Ela me entregou uma adaga que mais parecia um pente de ferro do que verdadeiramente uma adaga.
(Imagem meramente ilustrativa e retirada de um banco de imagens)
– Apesar de não ser fácil de fato prender uma espada com ela – Ayana seguiu explicando e fazendo pequenos movimentos demonstrativos enquanto andávamos – os dentes delas muitas vezes atrasa o adversário, mesmo que seja por uma fração de segundos e isso pode te dar a abertura necessária. Por você não ter técnicas de lutas, talvez seja uma boa arma para que você possa abrir alguma vantagem. Não é uma arma fácil de conseguir, os ferreiros dizem que é extremamente difícil fazer uma que seja realmente efetiva, então deixarei a minha com você. Me entregue quando for embora. Coloque isso – ela me entregou também um colete militar – pode não ser a coisa mais bonita do mundo para alguém tão importante como você, mas tem diversos compartimentos para que você possa guardar todas as adagas e outras armas. Além de obviamente te dar alguma proteção. Se acontecer alguma coisa e formos atacados por guerreiros, venha para perto de mim imediatamente. Sei que seu orgulho vai gritar, mas passe por cima do orgulho e se mantenha vivo. Pode fazer isso?
– Você realmente me conhece pouco – eu ri – acha que sobrevivi todos esses anos nas ruas agindo de acordo com o meu orgulho?
– Ótimo – ela falou, mas claramente estava surpresa – é...
– Você não esperava por isso? – perguntei realmente curioso.
– Não – ela admitiu – nenhum homem que eu conheço admite que é uma opção passar por cima do orgulho e muito menos admite que não se importa de ser defendido por uma mulher.
– Então nenhum homem que você conhece realmente passou por uma situação em que a vida deles dependia disso – dei de ombros.
Ayana seguia me olhando, algo em seus olhos demonstravam uma curiosidade incomum, mesmo assim ela fez um pequeno sinal com a mão e rapidamente Trix, Argus e Hagne se aproximaram.
– Eles irão ajudar em algumas coisas práticas e com as explicações – ela me olhou parecendo fascinada ainda – vamos aproveitar a caminhada e quando pararmos, tiraremos um tempo para um treino prático, tudo bem?
– Como quiser, "milady" – respondi de maneira cínica, mas senti um pequeno sorriso malicioso surgindo.
Ela tentou em vão ocultar um sorriso e até mordeu a boca para que não ficasse visível e aquele pequeno ato fez meu coração acelerar.
– Ela sorriu – Argus olhou com os olhos arregalados – Deuses, ela realmente está segurando um sorriso?
– Idiotas – ela abaixou a cabeça e saiu de perto.
– Que mágica você fez? – Hagne perguntou olhando Ayana se distanciar e depois me olhou com tanta curiosidade quanto Ayana estava olhando antes.
– Eu não fiz nada – dei de ombros, mas também senti dificuldades em esconder o sorriso.
– Acho que a explicação ficou para nós pelo visto. Vamos lá galã – Argus sorriu com a brincadeira – vamos para as explicações básicas. Só não usa essa mágica comigo porque eu ainda pretendo me casar com uma mulher algum dia – ele olhou de maneira carinhosa para Hagne, que tentou esconder a vergonha com essa última frase.
Por algum motivo sua piada sem graça também me fez rir. O clima ali parecia muito mais amigável do que eu esperava e apesar da paisagem a nossa frente ser um puro caos criado por batalhas e guerras sem fim, eles mantinham um bom clima, o que era incrível.
Ele pacientemente pediu para que eu sustentasse a espada que Ayana havia me entregado e pegou a dele fazendo pequenos movimentos para frente.
– Em uma luta, a distância pode ser a diferença entre a sua derrota ou a sua vitória. Vale lembrar que a sua derrota é sem dúvidas também a sua morte. Essa vantagem começa na escolha da sua espada. Existem diversas delas e apesar de parecer absurdo, todos estamos de acordo que é a espada que nos escolhe e não ao contrário. Vamos começar falando da distância, a distância ideal para você e o seu oponente é onde você consiga acertá-lo, mas ele não consiga acertar você, isso seria logo resolvido então com uma espada mais longa, porém nem toda espada longa é de fácil manuseio.
– O que explica a quase invencibilidade de uma arma de fogo – Viatrix praticamente atropelou a explicação de Argus – como eu queria aprender a usar uma...
– Vamos voltar para a realidade, que tal? – Argus fez careta – armas de fogo aqui não são reais, o que é uma pena, soube que a mira do líder aqui é perfeita – olhei um tempo para ele, pelo visto eles sabiam de muitas coisas sobre mim – Não me olha com essa cara – ele riu – Sua fama em Vixen não é segredo para ninguém. Sei apenas o que todos sabem. Voltando às explicações: além das espadas temos o arco e flecha, se você tem a pontaria boa, podia testar também.
– Eu posso ensinar ele a usar arco e flecha – Trix falou animada.
– Tanto faz – Argus deu de ombros. Eu estava um pouco desconcertado com a animação de cada um deles ali.
– Acho que uma Katana seria uma boa opção para ele – Hagne entrou na conversa também de maneira animada.
– E por que não uma espada longa? – Argus cruzou os braços.
– A katana tem a lâmina curva e é longa. Ela costuma ajudar muito o usuário por si só. Ela auxilia na hora do corte e alinha o fio, além de ser uma lâmina grossa, apesar de ter só um lado de corte. Uma lâmina reta dá a desvantagem se ele errar só um pouco no alinhamento de fio.
– Nesse caso também poderíamos usar a cimitarra ou o sabre – Ayana apareceu novamente parecendo ter se recomposto – mas vocês não estão esquecendo de nada? Primeiro: nem todos entendem de espadas e duvido que o líder aqui esteja entendendo alguma coisa. Depois, podem sonhar com quantas espadas vocês quiserem para ele, já pararam para pensar que não temos essas espadas a disposição e que ele não vai ficar tempo suficiente para que uma espada seja forjada especialmente para ele? Aceitem ou não, ele terá que se contentar com um sabre, que é a que temos disponível no momento. Mas olhem pelo lado positivo, bando de malucos, o sabre também é curvo, é longo, além de estocar e cortar muito bem.
– É realmente uma boa escolha para um espadachim inexperiente – Hagne colocou a mão no queixo pensativa – mas são tecnicamente mais curtas que as espadas longas que muitos daqui usam.
– E por isso ele tem uma adaga quebra espada, Hagne – Ayana revirou os olhos – agora parem de sonhar tanto. Logo ele estará do outro lado matando a quilômetros de distância, diferente de nós, meros mortais que precisamos aprender a lutar de verdade. Agora é o seguinte, Argus fica responsável por combate corpo a corpo usando a espada, Hagne fica com a defesa em punhais e vai explicar pontos fracos de cada um dos possíveis seres que vamos encontrar, Trix vai ensinar o básico de arco e flecha. Eu fico com os duelos para ver o que ele aprendeu e corrijo as aberturas.
– E combate corpo a corpo sem arma? – Argus perguntou estranhando.
– Se algum de vocês ganhar dele em um combate corpo a corpo então fiquem à vontade para ensinar, mas eu duvido. Seria mais fácil ele dar aula para vocês do que o inverso nesse caso.
– Olha só, isso me pareceu um elogio – falei tentando provocá-la.
– Isso foi somente um fato, não se ache muito – ela revirou de novo os olhos e saiu da minha frente, indo atender um outro pequeno grupo que a havia chamado.
【န ━━━━━━━━━━ ~DနM~ ━━━━━━━━━━ န】
Conforme os dias passavam, os treinos se intensificavam. Dificilmente me davam descanso e não me deixavam tirar a luva de couro da mão e mesmo com a luva, os calos eram tão visíveis e doloridos que parecia que continuar segurando uma espada seria impossível.
Ayana todos os dias passava alguma pomada na minha mão alegando que logo aquilo melhoraria.
Aprendi nesses poucos dias a fazer fogueira e a diferença entre cada uma delas, armar barracas, racionar para garantir água e comida. Parar em pontos estratégicos, inclusive estudar locais abandonados para proteção do frio. Aprendi o básico de uma caça e algumas plantas que poderiam ser comestíveis. O único que realmente não precisaram me ensinar por completo, foram os primeiros socorros para o caso de feridas.
Aprendi o básico para me defender com uma espada, um aprendizado que se tornou muito mais difícil do que eu imaginava. Defesa com as adagas e o que fazer em caso de confronto com um oponente usando uma espada. Pontos fracos das lâmias e de outros seres. Curiosamente, o que eu me dei melhor foi com o arco e flecha. Trix me ensinou a diferença entre arcos modernos que tínhamos para esportes em Vixen e os arcos rústicos que fazíamos pelo meio do caminho. Me explicou a força que eu deveria usar e como era feita a mira.
– Olha só – Ayana parou para ver meu treino com o arco e flecha – Não é que ele leva jeito com isso.
– Se ele treinar um pouco mais, com certeza vai ficar melhor do que 90% dos meus soldados – Trix sorriu largamente – tenho medo de que ele me desbanque se continuar assim.
– É bom que ele aprenda a se defender de todas as maneiras, mas acho que seria bom se ele ficasse aos seus cuidados em caso de emergência então. O que você acha, Trix?
– Acho que ele vai ser bem mais efetivo a distância mesmo. A mira dele é perfeita e teríamos mais chances com ele na minha equipe.
E foi assim que eu passei oficialmente a fazer parte da equipe de longa distância, pelo menos enquanto eu estava com eles.
Ayana era dura com os seus subordinados, mas todos pareciam venerá-la de certa maneira. Todos queriam um pouco da sua atenção, todos queriam mostrar o que tinham aprendido ou o quão bem tinham feito algum trabalho. Ela ouvia todos, tinha tempo para todos. Ela se preocupava com todos, mas me incomodava o fato dela nunca estar inclusa em suas próprias preocupações. Ela dormia pouco, comia o mínimo para que sobrasse para todos e somente o suficiente para mantê-la com energia.
Argus, que frequentemente vinha falar comigo, disse que os filhos dos deuses tinham uma recuperação rápida e por isso o corpo deles exigiam inclusive menos comida, mas que Ayana precisava aprender a se cuidar.
Eu, dia após dia, me sentia mais cansado, mas não reclamava. Aquela vida era de fato dura e podia entender o humor instável de Ayana.
– Ela é incrível, não é? – Argus se sentou ao meu lado embaixo de uma árvore. Eu estava ajudando a fazer flechas com madeira nobre. Um meio certeiro de destruir a natureza, mas garantir flechas suficientes para um ataque.
– Quem? – perguntei sem tirar os olhos do meu trabalho, trabalho que levava muito tempo, mas que curiosamente estava me deixando orgulhoso.
– Ayana – ele deu de ombros e automaticamente levei meus olhos para a mulher que ajudava a inspecionar alguns materiais pouca coisa a frente.
– Sim, acho que sim – respondi e tentei voltar para o meu trabalho, mas aparentemente ele não estava disposto a me deixar continuar.
– Você gosta dela, não gosta? – ele perguntou diretamente – eu já percebi a maneira que você a olha. Apesar disso, o que mais me surpreende é o quanto ela fica sorridente quando você está perto.
– Você está falando besteiras – respondi desistindo da flecha que eu havia iniciado ao notar que seria impossível ficar tranquilo naquele momento – já escutou a quantidade de vezes que ela disse que me detesta? Eu pelo menos já perdi as contas.
– E você já percebeu o quanto ela faz isso para chamar a atenção de uma das poucas pessoas que não a ficam bajulando ou tentando mostrar o que conseguiram fazer de bom?
Aquilo não provava nada, obviamente, mas não podia negar que meu coração bateu um pouco mais rápido com a simples possibilidade.
– Só cuidado – ele me cutucou um pouco antes de se levantar – até um beijo nesse lugar arcaico pode significar muito mais do que parece. Não faça com que o primeiro beijo dela seja uma droga.
– Primeiro beijo? – arqueei uma sobrancelha – você só pode estar brincando.
– Ah, como eu gostaria – ele olhou significativamente para Hagne – aqui até pegar na mão é um ato bem íntimo. Seria muito mais fácil se não fosse assim.
Que novidade, eu estava em lugar arcaico que conseguia destruir até uma das melhores partes da vida.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro