Prólogo
Greenville, Alabama – 4 de Julho de 1941.
Os fogos de artifícios dividiam seu brilho com a luz do luar. Antes das pequenas faíscas iluminarem o céu, ele era um grande breu aveludado, apenas com a forte luz da lua. Ela se mostrava imponente, mas agora já dividia o palco escuro com as linhas dos fogos. Uma hora azul outra vermelha, eram como fitas de seda brilhosas jogadas para o alto, elas brincavam de subir, formarem uma flor e depois desaparecerem em fumaça.
Quatro de Julho sempre foi meu feriado favorito. Todos os anos era sempre a mesma coisa. Acordar cedo para ajudar na preparação das comidas, arrumar a mesa, esperar pelos convidados. Quando o jantar acabasse, vir para o celeiro subir no segundo andar e, através da grande janela, poder contemplar o brilho dos fogos de artifícios.
Mas esse ano tinha sido diferente. Eu estava sozinha, não tinha meus melhores amigos de infância para contemplar os fogos comigo, não tinha as risadas e alegrias que esse feriado sempre nos proporcionava. E o pior de tudo, o amor da minha vida estava indo para a guerra.
Quando achei que as lágrimas haviam secado, uma teimou em escorrer pelo meu rosto insistindo em lembrar que a dor ainda estava ali.
Os fogos de artifícios começavam a se dissipar e por mais que a noite estivesse quente, até demais, para o verão, comecei a sentir um arrepio. Era como se meu corpo já soubesse o que me esperava. Cada instinto dentro de mim, gritava para que eu fosse atrás de Liam. Meu cérebro mandava que minhas pernas fossem até ele, mas, minha mente não obedecia. Não sabia nem se seria capaz de sair do celeiro um dia.
Só queria ficar ali até que não fosse verdade, ou até mesmo enquanto a guerra durasse.
Outra droga de lágrima escorreu pelo meu rosto. Eu achava que já tinha chorado o suficiente, logo depois que Liam havia me mostrado a carta da junta de alistamento militar ao qual ele precisava se apresentar em semanas.
Aquilo não podia estar realmente acontecendo. Esperava fortemente que fosse um daqueles terríveis pesadelos. Esperava acordar em minha cama e ver que tudo isso não passava de um delírio. Mas era tudo verdade, a Guerra era real e isso aconteceria cedo ou tarde. Só não queria acreditar que aquilo era real.
Ainda estava me sentindo sufocada, sabia que deveria estar aproveitando cada minuto ao lado dele, mas, talvez se eu não acreditasse tudo aquilo desapareceria.
Que besteira de se pensar, mesmo que eu ficasse ali para sempre, ele ainda teria que ir lutar do outro lado do mundo. Eu precisava de Liam, agora mais do que nunca.
E quase como uma transmissão de pensamento, senti o toque de sua mão em meu ombro.
Por mais que só estivéssemos namorando há menos de um ano, eu reconheceria seu toque de qualquer jeito, afinal nos conhecíamos a minha vida toda.
- Sei que pediu para ficar sozinha, mas Liv, eu preciso de você. - Ele já estava abaixado do meu lado e ainda tinha apenas a mão em meu ombro. Coloquei a minha mão sobre a dele e a puxei para carícia-lá com meu rosto.
Ele se sentou no chão logo atrás de minhas costas. Me apoiei em seu corpo e deixei que minha cabeça relaxasse em seu ombro. Ele pegou minhas duas mãos nas suas e as apoiou em meu colo.
- Desculpa ter fugido daquele jeito, eu só não estou conseguindo acreditar. - Sabia que as lágrimas iriam voltar, tentei segura-las ao máximo.
- Eu sei, mas, assim como você estou desesperada. Só quero e preciso que você me diga que acredita na promessa de que voltarei. - Ele apertou um pouco mais minha mão.
-Você sabe que eu vou voltar e vamos ter os três filhos que sempre planejamos não é mesmo? - Não tive coragem de olhar para seu rosto, mas sabia que ele estava com medo, podia sentir em sua voz isso. Mesmo com toda a tensão ele ainda podia lembrar de algo tão irrelevante agora, mas, que antes me deixaria furiosa.
- Quem sempre quis três filhos foi você, seu bobo! - Lhe dei um leve tapa na perna.
- E sim...eu sei que irá voltar, você não ousaria me deixar sozinha em um mundo que você não existe. -Liam me abraçou mais forte e encostou seu rosto no meu.
- Eu jamais te deixaria só. - Ele falou com toda a convicção que tinha, mas sabíamos no fundo, que nenhum de nós tinha certeza absoluta sobre nada.
Deixamos que o silencio tomasse conta do local. Continuamos olhando para o céu, que agora tinha apenas fumaça do que antes havia sido fogos.
Queria que aquele momento fosse eternizado, não sabia ao certo o futuro que me aguardava. Queria permanecer nos braços de Liam para sempre, mas, assim como os fogos que logo depois de atingirem seu auge de beleza sumiam, assim seria se algo acontecesse com ele. Um momento lindo se tornaria apenas fumaça do que um dia foi algo incrível.
Afastei esse pensamento com toda força mental que tinha, por que no momento apenas o abraço dele bastava.
Apenas ele bastava!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro