Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 4 - Despedidas e recomeços


A

mala estava pronta em cima da cama e Amybeth sorriu de satisfação. Sua vida ia começar a partir daquela viagem e ela mal podia esperar para embarcar naquela aventura ao lado de Elliot.

Ele ainda estava relutante, embora já tivesse concordado em partes pela sua ida com ele até a França. Amybeth entendia o porquê. Elliot estava pensando no pai dela, a quem não conhecia pessoalmente, mas já ouvira falar do respeito que a sociedade de Londres tinha pelo conde.

Ela foi até a janela e lançou seu último olhar para a paisagem lá fora, sentindo um pequeno aperto em seu coração. Amybeth nascera naquela casa e ali também crescera, por isso, era impossível que ela não sentisse amor por aquelas terras.

O que ela detestava era a hipocrisia da sociedade, que fingia ser cheia de moral e bons costumes, mas, no fundo, cometia os mesmos pecados de quem ela apontava com seu dedo acusador. Amybeth estava cansada de ter que refrear suas vontades, suas opiniões e explicar seu posicionamento diante de fatos da vida. Ela nascera em uma época errada e em um corpo errado, como sempre dizia para Anne.

Se fosse um homem, a sua fala seria ouvida, respeitada e debatida ao invés de ser ignorada por ser mulher. Ela amava a moda, a delicadeza feminina e gostava de se sentir bonita e ser admirada por isso. O que era maçante, em seu ponto de vista, era ter que suportar calada aquilo com o qual não concordava, apenas porque se falasse tudo o que se passava em sua cabeça, seria certamente vista de forma negativa.

Não que se importasse, mas se preocupava com sua irmã e seu pai. Eles não mereciam ser rechaçados por conta de sua personalidade inquieta, forte e sem filtro. Era por isso que precisava ir embora, pois,  sua felicidade nunca estaria em Londres. Estava abrindo mão dos luxos que tinha, da rotina enfadonha de acordar e dormir, sabendo exatamente como seria o dia seguinte. Ela não nascera para ter suas asas podadas e sim para voarem pelo mundo, onde encontraria exatamente o que estava procurando: a liberdade.

Amybeth saiu da janela e se olhou no espelho. Estava disfarçada por roupas masculinas, e ninguém a reconheceria daquele jeito.  O bilhete falso que Anne escrevera fora aprovado por ela. Detestava envolver sua irmã naquela história, mas sem a ajuda dela, nada do que planejara se concretizaria. Anne era uma parte sua também, e a levaria com ela por onde fosse.

 Se ela tivesse o mesmo idealismo que Amybeth tinha arraigado em seu coração, a garota ruiva a convenceria a partir com ela. Que alegria seria, conhecer o mundo em companhia da irmã, porém, Anne nunca abandonaria o pai de ambas. Ela tinha um senso familiar, que Amybeth nunca cultivara de fato dentro de si. Não era egoísmo de sua parte, apenas era uma forma diferente de ver as coisas.

Em sua opinião, um filho deveria ser criado para ganhar o mundo assim que se tornasse adulto, pois,  experiência de vida era somente conquistada se fosse vivida na íntegra. Mas, o que via com frequência, especialmente no caso de uma garota, era uma servidão ao marido e filhos com a qual nunca concordaria. Era disso tudo do que estava fugindo. Nunca seria esposa de alguém, ou mãe de meia dúzia de filhos. Não criticava quem tinha esse tipo de sonho, mas ela, definitivamente, não se encaixava nesse estereótipo.

Com cuidado, Amybeth saiu do quarto e caminhou até o de Anne, que a estava esperando para se despedir. Aquela seria a parte mais difícil, no entanto, tinha que ser feita. Iria sentir falta de Anne mais do que qualquer coisa, entretanto, o mundo lá fora também a estava esperando, e não podia deixar que essa oportunidade passasse por ela, sem que fizesse pelo menos uma tentativa de encontrar seu destino fora dali.

Ela entrou no quarto, cuja porta já estava aberta e sorriu para a irmã, que se manteve séria, sem esboçar nenhuma reação. Amybeth conhecia Anne, e podia imaginar o que estava se passando na cabeça dela, mas desta vez, ela decidira por si mesma o que queria fazer de sua vida e nenhuma palavra da ruivinha a faria mudar de ideia.

— Então, você vai mesmo fazer essa loucura. — Anne disse, olhando para Amybeth com tristeza.

— Pensei que isso já tivesse ficado claro. — Amybeth respondeu, colocando sua mala no chão do quarto.

— Vai levar só isso? — A ruivinha perguntou, surpresa, pois,  Amybeth tinha um guarda-roupa inteiro de roupas da moda, e ela não conseguia acreditar que sua irmã deixaria seu conforto para trás por conta de uma aventura maluca.

— Sim, para aonde vou, não precisarei de muita coisa. Aliás, você vai precisar usar minhas roupas, porque todos sabem como me visto, e não é exatamente com vestidos como os seus. — Amybeth disse, com um olhar crítico para as vestimentas da irmã.

Anne usava roupas recatadas demais. Não que suas roupas fossem escandalosas, mas Amybeth gostava de um certo decote, mesmo que inocente, para prender a atenção de quem lhe interessasse.

— Ainda acho que isso não vai dar certo. — Anne comentou, abraçando o travesseiro na frente do corpo, enquanto um pânico repentino tomava conta de sua mente. — Não sei me comportar como você e muito menos me vestir como você. Vou acabar estragando tudo, e você não estará aqui para me ajudar.

— Querida, não fique assim. — Amybeth disse, se sentando na cama de Anne e segurando suas mãos, que naquele momento, estavam extremamente frias. — Vai dar tudo certo. Sei que estou te fazendo um pedido totalmente egoísta e se não quiser fazer o que combinamos, entendo, mas vou embora do mesmo jeito. Não aguento mais viver aqui e se tiver que enfrentar a ira de nosso pai por isso, que seja. — A garota ruiva disse, observando o medo nos olhos da irmã.

Não tinha o direito de forçá-la a fazer algo para o qual não estava preparada. Na noite anterior, quando conversaram, Anne parecia estar disposta a ajudá-la, mas, após  longas horas  de reflexão, talvez tivesse pesado sobre os ombros dela a responsabilidade de um casamento arranjado.

— Não, tudo bem. Eu acho que posso tentar. Quem sabe, depois de um tempo, eu não possa dizer a verdade, não é? — Ela disse, tentando sorrir, mas, no fundo, sabia que nunca poderia fazer isso. Seu pai a odiaria e Gilbert certamente a abandonaria à própria sorte, gerando um escândalo tão grande do qual sua família nunca se recuperaria. — Eu nunca mais vou te ver? — Anne perguntou em seguida.

Nunca imaginara que chegaria o dia em que ela e sua irmã gêmea tomariam rumos opostos. Em sua mente, imaginara que se casariam, mas morariam perto uma da outra, criariam seus filhos juntas e envelheceriam lado a lado. Sempre fora ela e Amybeth, como conseguiria ser apenas uma?

— Vai, sim, mas não sei te dizer quando. —  Amybeth respondeu, sentindo o coração doer.

Era difícil imaginar sua vida longe de Anne. Elas estiveram juntas a vida toda e compartilharam tudo, desde roupas, segredos e sonhos. Entretanto, aquela seria uma grande oportunidade para sua irmã também, porque ela aprenderia a ser mais forte, não dependeria de ninguém e escreveria sua própria história com a inteligência e brilhantismo que possuía. Um dia, Anne lhe agradeceria por tê-la libertado de sua presença, porque às vezes, Amybeth sentia que a ruivinha vivia à sua sombra, se escondendo do mundo para não se magoar.

Amybeth tivera culpa nisso, sabia admitir, porque sempre criara um mundo colorido para Anne, não desejando que ela perdesse aquela alegria que via nos olhos azuis como os seus. Sua irmã merecia o melhor da vida, principalmente por ter um espírito puro, tão diferente dela que parecia ter vindo aquele mundo, já com uma visão cínica de tudo. Talvez, ela tivesse errado por protegê-la tanto, mas não se arrependia, porque entendia que era o que sua mãe teria lhe dito para fazer.

— Promete ao menos me escrever? Vou querer saber onde você está e o que estará fazendo. — Anne pediu, um tanto desesperada. Estava começando a entrar em um pânico imenso ao pensar que sua irmã estava indo embora, e se separariam sabe se lá por quanto tempo.

— Viajarei para a França, como te contei, mas prometo te escrever. Vou querer saber tudo sobre o seu casamento com o bonitão Duque Blythe. — Amybeth disse com um sorriso maroto.

— Pensei que você não o achasse atraente. — Anne comentou, olhando surpresa para a irmã.

— Não posso negar que ele é bonito, mas esse tipo de bom moço não me interessa de verdade. Gosto de um homem de atitude, aventureiro e objetivo, assim como eu.

— Elliot, você quer dizer. — Anne concluiu, um tanto preocupada.

Todos sabiam da fama de Elliot, mas Amybeth parecia não se importar. Na verdade, ela se sentia atraída, como se quanto mais fosse proibido, mais ela desejava para si. Anne tinha medo de onde isso arrastaria a irmã, principalmente porque Amybeth estava indo embora com ele para um país estrangeiro, onde estaria longe da família e sozinha. Contudo, não disse nada, pois,  seus argumentos seriam rebatidos e no fim, acabariam se separando de forma nada feliz.

— Sim, Elliot. Mas antes que diga que estou apaixonada, quero esclarecer que, ele é apenas um meio para o que desejo conquistar. Não pretendo ter nenhum tipo de relacionamento romântico. Gosto da amizade que temos, mas é só isso.

 Amybeth sabia que estava dizendo uma meia verdade. Ela e Elliot tinham bem mais que uma amizade, mas não mentira quando dissera que não queria nada sério com ele. Era jovem demais para se preocupar com coisas do coração, pois, queria bem mais que um marido e uma casa no centro de Londres. Talvez nunca se casasse, mas quem se importava? Viveria feliz e solitária a vida toda, se esse fosse seu destino.

— Se é o que quer, só me resta desejar boa sorte. — Anne disse com tristeza.

— Bem, está na hora de ir. Elliot disse que me esperaria perto do portão dos fundos. — Amybeth explicou, e Anne teve que conter as lágrimas que lhe subiram aos olhos, pois, sua irmã detestava esse tipo de coisa.

— Vou sentir saudades. —  Anne disse, abraçando Amybeth, que retribuiu com todo o amor, que sentia por sua irmã gêmea.

— Eu também. E se as coisas ficarem insuportáveis por aqui, me avise, pois, virei te buscar com prazer.

— Eu queria que não tivesse que ir. — Anne falou, com a garganta apertada.

— Pense em quantas aventuras vou ter para te contar quando nos encontramos de novo. Vamos ser felizes, Anne, cada uma, a sua maneira. — Amybeth respondeu, se separando da irmã, enquanto pegava a mala e caminhava para a porta. — Se cuida. — Amybeth pediu e Anne respondeu:

— Você também. — Anne respondeu, e ao ver Amybeth passar pela porta, ela sentiu com grande dor, que era a última vez que estava vendo a irmã.

Com essa sensação terrível dentro de si, ela se deitou na cama e chorou toda a sua tristeza, enquanto as lembranças dos momentos que passara ao lado da irmã, desfilavam em sua cabeça.

Do lado de fora do casarão, Amybeth também enxugava as lágrimas. Não quisera que Anne visse esse seu momento de fraqueza, pois raramente chorava. Ela julgava que lágrimas eram um desperdício de energia e que era melhor ser prática que perder tempo com sentimentalismos.

Entretanto, aquele era um momento atípico em sua vida, pois, vivera ao lado de Anne por vinte e dois anos. Estava se despedindo dessa época, assim como, estava iniciando sua vida adulta longe da irmã e do país onde nascera.

Quando chegou perto do portão, ela enxugou as lágrimas rapidamente e avistou Elliot com uma carruagem à sua espera. Ele acenou discretamente e Amybeth caminhou rapidamente até ele com um sorriso animado e os olhos brilhando de ansiedade.

— Pensei que fosse desistir. — O rapaz disse, olhando-a com uma intensidade quase desconcertante.

— Você já me viu desistir de alguma coisa? — Ela perguntou, entregando sua mala para o cocheiro.

— Não, mas é sempre bom perguntar. Vai levar somente uma mala?

— Sim. Pensei que assim seria mais fácil. Posso comprar algumas coisas quando chegarmos a Paris. Tenho algumas economias, pois, meu pai costumava me dar uma mesada todos os meses para que eu pudesse usar o dinheiro para o que eu quisesse, assim como, minha irmã.

— Sabe que não precisa se preocupar com isso. Eu posso te comprar o que quiser. — Elliot disse, sorrindo para Amybeth que respondeu:

— Não estou fugindo de um patriarcado para cair em outro. Posso pagar pelas minhas coisas, Elliot.  Não estou fugindo da vida que tenho para ser sustentada por você. Quando chegarmos a França, quero arrumar um emprego. Sei que não será fácil, mas estou disposta a aprender o que precisar.

— Certo. Aqui está a sua nova identidade. Tive que falsificá-la, porque não poderíamos arriscar de alguém te reconhecer no navio. — Elliot disse, lhe entregando os documentos. — Partiremos pela manhã, por hoje, ficaremos em um hotel perto do porto.

— Entendi. — Amybeth concordou, entrando na carruagem com a ajuda de Elliot.

Quando a carruagem se pôs em movimento, Amybeth colocou a cabeça para fora da janela, sentindo a brisa tocar seu rosto, dando-lhe a certeza exata do que era a real liberdade.

Às sete da manhã, Anne desceu as escadas com os olhos inchados de tanto choro e usando um dos vestidos de Amybeth. Não sabia como se passaria pela irmã, porém, teria que dar um jeito. Ela não era atriz, nunca foi boa em mentir e tinha quase certeza que aquele plano mirabolante de Amybeth estava fadado ao fracasso.

Ela entrou na sala de refeições, onde seu pai tomava seu café acompanhado de Gilbert, e disse, tentando não parecer tão desolada:

— Anne foi embora.

— O que quer dizer?  — Seu pai perguntou, parando com a xícara de café no ar, enquanto Gilbert a olhava espantado.

— Aquela tola da minha irmã foi embora. — Anne imitou uma das falas de Amybeth e esperou ser convincente, pois,  o jeito que seu pai olhava para ela parecia saber que ela estava mentindo. — Aqui está o bilhete que ela me deixou.

Seu pai passou os olhos pela letra floreada de Anne e olhou para a ruivinha com incredulidade e perguntou:

 — Por que eu nunca soube que Anne queria ser enfermeira?

 — Ela sabia que o senhor não lhe daria permissão, assim, ela decidiu fugir. — Anne disse, odiando por ter que enganar seu pai e odiando mais ainda por ele se deixar em ganhar, pois, apesar de todos os anos que vivam juntos, Walter nunca soubera diferenciar ela e Amybeth.

Quando crianças, seu pai as confundia todo o tempo, a ponto de pedir para a babá delas não vesti-las com roupas iguais, pois,  ele não queria passar pelo constrangimento de não saber com quais das filhas estava falando. Quando ambas se tornaram adultas e com gostos diferenciados por roupas e atividades sociais, aquela tarefa fora mais fácil para Walter. Entretanto, observando-o falar com ela sem perceber que não era Amybeth, a ruivinha deduziu, decepcionada, que ele continuava não as reconhecendo de jeito nenhum.

— Como essa menina conseguiu partir sem que percebêssemos? — Walter perguntou, passando as mãos pelos seus cabelos grisalhos e ralos. — Eu esperava que você me desse trabalho, mas não Anne. Ela sempre foi uma moça tão sensata.

— Existe um ditado que li em um livro uma vez, que diz: é debaixo das águas mansas que se escondem as ondas. Creio que essas palavras resumem bem o que Anne é. — Ela disse quase sorrindo. Era tão estranho falar de si mesma como se fosse outra pessoa. Amybeth tiraria aquilo de letra, mas Anne tinha que se policiar para não acabar deixando escapar algo que plantasse certa desconfiança na mente de seu pai.

— Nunca ouvi você dizer que gostava de ler. — Walter comentou, olhando-a com estranheza.

— E não gosto, mas Anne de vez em quando me convencia a ler alguma coisa. Ela sempre me dizia que a beleza física por si só não se sustentaria com o tempo, e que eu precisava de cultura para conquistar um marido de valor. — Anne respondeu, olhando de soslaio para Gilbert, que até aquele momento não tinha dito uma palavra. Ele ouvia atentamente a conversa que ela estava tendo com Walter, mas não esboçava nenhuma opinião, como se devia esperar de um cavalheiro como ele.

— Deus! Sua irmã é uma desmiolada. Acho que viver enfiada naquela biblioteca acabou afetando sua imaginação. Não posso imaginar coisa pior para essa família. Ela foi embora bem perto do seu noivado. O que vamos dizer às pessoas? — Walter disse, o que fez, de certa forma, Anne sentir-se magoada.

Ela nunca dera motivo a seu pai para se preocupar. Era sempre Amybeth que vivia metida em confusão, e Anne lhe dava cobertura, porque era isso que irmãs faziam: protegiam uma à outra. Mas agora, ouvindo seu pai se referir a ela com tanto desgosto, a ruivinha se perguntava se tinha valido a pena ser tão obediente e zelosa com sua família.

— Não creio que esse seja o caso. Anne sempre foi uma garota dedicada e preocupada com o bem-estar das pessoas. Não me espanta que ela tenha decidido seguir por esse caminho. O senhor devia se orgulhar dela. — A ruivinha disse, tentando defender a si mesma, já que não tinha mais ninguém para fazer isso por ela. Amybeth com certeza teria dito algo parecido ao pai, porque sua irmã nunca permitira que ninguém dissesse nada que não fosse elogio a Anne.

Entretanto, analisando bem todas as situações em que tivera que ouvir algo depreciativo sobre sua pessoa, Anne tentava se lembrar o que havia nos olhos das pessoas quando a encaravam. Por certo, tinham o mesmo pensamento que seu pai e, só não o expressavam abertamente, pois, sabiam que acabariam comprando uma briga enorme com sua irmã gêmea.

Agora estava por sua conta. Mas, ao mesmo tempo, sabia que tinha caído em uma enorme armadilha. Seu coração estava pesado e sua alma perdida. Seu único consolo era saber que Amybeth seria feliz, pois havia absolutamente nada que não faria por sua adorada irmã.

— Eu me orgulho dela, assim como, me orgulho de você. Todavia, é triste perceber que ela não nos ama na mesma medida, se foi capaz de nos deixar para seguir um sonho descabido. — O conde disse com tristeza. — Vou para o meu quarto.

— O senhor está bem? — Anne perguntou, preocupada.

— Estou sim, só quero pensar um pouco. — Walter disse, se encaminhando para a escada, cujos degraus subiu, sentindo os anos pesarem em suas costas.

Observando o pai sumir de suas vistas, Anne refletiu por um segundo sobre suas últimas palavras. Se ele ao menos soubesse que, ela sacrificara tudo por amor a ele e a Amybeth, não falaria tão negativamente sobre o seu caráter.

Ela sempre soubera que não era amada pelo pai como ele amava sua irmã gêmea, por isso, se contentara em ficar em segundo plano. Contudo, em vista de tudo que estava acontecendo, Anne não conseguia deixar de sentir aquela enorme mágoa em seu coração.

— Amybeth, tem alguma ideia em qual cidade sua irmã pode ter ido trabalhar como enfermeira? Se quiser, podemos ir atrás dela e trazê-la de volta. — Gilbert se ofereceu.

Ele tinha ficado abalado por Anne  ir embora. Esperava conhecê-la melhor, mesmo que soubesse que só poderia estar com ela como um membro da família. Contudo, tinha um senso de honra que não deveria ser ignorado. Amybeth seria sua esposa, mãe de seu herdeiro e Anne ficaria em sua memória apenas como uma doce lembrança.

Anne o olhou intensamente, fazendo Gilbert prender a respiração por um segundo.  Aqueles olhos eram os mesmos que o fitaram na primeira noite que passara ali na mesa do jantar, e no jardim, quando conversaram por alguns minutos no dia anterior. Logo, ele se lembrou que por mais que aquele olhar azul o lembrasse da outra gêmea, quem estava ali era sua noiva e não a irmã dela.

Anne ia agradecer o duque pela gentileza, mas passou por sua cabeça que Amybeth jamais seria tão agradável assim. Ela não tinha se simpatizado com Gilbert, portanto, a ruivinha tinha que seguir o roteiro que se propusera a representar. Munindo-se de coragem, ela respondeu:

— Por que se importa, duque?  O senhor mal a conhece, portanto, não vejo motivos para essa pergunta.

— Você será minha esposa, Amybeth. O mínimo que posso fazer é oferecer minha ajuda nesse momento. — Gilbert respondeu com certa autoridade, atingido pela maneira como a garota ruiva tinha recusado sua oferta.

— Eu agradeço, mas duvido que minha irmã queira ser encontrada. O melhor que tenho a fazer é deixar que Anne seja feliz como deseja. Se me der licença, eu tenho algumas coisas para fazer em meu quarto. — Ela falou, se virando em direção à escada.

— Fique à vontade. Vou dar uma volta pela cidade e mais tarde, talvez você possa me emprestar um livro para passar o tempo. — Gilbert pediu.

— Claro. — Anne respondeu, subindo as escadas o mais rápido possível, temendo não ser capaz de representar aquele papel por muito tempo.

Enquanto isso, o jovem duque a observava, se perguntando porque sua futura noiva parecia estar fugindo de algo, mas logo em seguida, deixou esse pensamento de lado, saiu de casa e foi até sua carruagem, onde o cocheiro o esperava para seu passeio matinal.

Os dois dias que faltavam para o noivado passaram bem rápido, deixando Anne ansiosa pela responsabilidade que assumira. Quando concordara em fazer parte do plano da irmã, ela agira por amor e não pensara em si mesma. Mas agora estava apavorada e sem ninguém para lhe dar qualquer tipo de orientação, pois, em quem confiaria para contar seu segredo?

Então, ela fez a única coisa que lhe pareceu coerente naquela situação. Foi procurar uma de suas poucas amigas, pois, somente ela poderia lhe dar algum conselho naquela situação. Assim, no dia anterior ao seu noivado, Anne saiu bem cedo e foi até a casa de sua amiga Diana, onde sabia que encontraria um conselho e certo apoio. Embora pudesse imaginar o que ela diria sobre seu casamento com Gilbert.

Por esta razão, ela saiu cedo de casa um dia antes de se tornar oficialmente noiva do duque da Cornualha e estava morrendo de medo. Não tinha se preparado para isso, e seu coração parecia disparar a cada segundo.

Como poderia imaginar que, em sua vidinha dentro da biblioteca de sua casa, caberia um casamento com um duque importante? E que ela tomaria o lugar da irmã para que Amybeth pudesse ser livre. Se arrependeria? Desejaria não ter aceitado o plano de Amybeth?  Mas, lá no fundo, Anne sabia que nunca diria não a sua irmã, porque o que mais desejava no mundo era que ela fosse feliz, e não havia nada que não fizesse para que Amybeth tivesse o que almejava.

Ela chegou na porta da casa da amiga e bateu na porta. Uma das criadas a atendeu e a levou até a sala de estar. Os Barrys não eram exatamente ricos, mas tinham uma bela propriedade herdada de seus antepassados, como a maioria das pessoas por ali.

Anne sempre se encantava com cada detalhe de cada cômodo. A mãe de Diana era apaixonada por quadros e flores, por isso, na sala onde estava, várias obras populares enfeitavam as paredes. Sabia-se que não eram tão valiosas, porque a família da amiga não dispunha de dinheiro para isso. Mas, certamente, valorizavam a estética da casa, assim como, o vaso de flores frescas que enfeitava a mesa de centro naquele momento.

— Anne, minha amiga. Não sabia que vinha. — Diana disse do alto da escada, com um enorme sorriso no rosto.

— Desculpe-me, Diana. Eu sei que devia ter avisado, mas eu precisava falar com você com urgência. Será que podemos conversar em particular?  — Anne perguntou, olhando com ansiedade para a amiga, que lhe lançou um olhar preocupado.

— Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu, sim, mas não posso falar aqui. — A ruivinha respondeu, sussurrando e olhando para os lados, temendo que alguém aparecesse e ouvisse sua conversa com Diana.

— Vamos para meu quarto, então. — Diana disse, tornando a subir os degraus da escada, imediatamente seguida por Anne.

Quando chegaram no quarto da morena, Diana trancou a porta e falou:

— Aqui teremos a privacidade que precisamos. — A amiga de Anne disse, apontando para a cama, onde a ruivinha se sentou, e em seguida, Diana fez o mesmo.

— Pode dizer, querida. O que a aflige? — Ela disse, segurando a mão de Anne nas suas.

— Não sei por onde começar. — A ruivinha disse, constrangida.

De suas poucas amigas, Diana era a única em quem confiava depois de Amybeth. Elas se conheciam desde criança e estavam sempre juntas desde então. Agora a amiga estava sendo cortejava por um rapaz de excelente índole, mas ela não estava tão interessada, embora sua família já tivesse quase tudo acertado para um casamento futuro.

— Não tenha medo. Estou aqui para te ouvir. — Diana respondeu, encorajando-a.

Engolindo em seco, Anne começou a relatar tudo o que tinha acontecido em poucos dias, e a cada novo detalhe que acrescentava, ela via a expressão de Diana mudar. Não sabia o que sua amiga estava pensando, mas não parecia muito contente com o que Anne estava contando a ela. Quando a ruivinha acabou de contar tudo, Diana perguntou:

— Como você aceitou tal disparate? Ficou maluca, Anne?

— Eu precisava ajudar Amybeth. — Anne se justificou, envergonhada pelo olhar crítico que Diana lhe lançou.

— Aposto que foi ela que te convenceu, não é? — Diana disse, aborrecida.

Ela nunca gostara de Amybeth pela sua arrogância e olhar de soberba. Vomitava o feminismo pela garganta, não aceitava uma opinião contrária à sua, era sarcástica, irritante e cruel em alguns momentos. Sua única qualidade era ser irmã de Anne, cuja bondade não conhecia limites. Nunca dissera o que pensava de Amybeth para Anne, pois, sabia o quanto a ruivinha amava a irmã. Contudo, aquela história tinha ido longe demais e mostrava exatamente o tamanho do egoísmo de Amybeth, que não hesitara em sacrificar Anne em prol de sua própria felicidade.

— Sei o que deve estar pensando, mas ela não me obrigou. Eu aceitei ficar no lugar dela e não posso voltar atrás. — Anne respondeu.

Ela tinha a sensação de que Diana nunca se simpatizara com Amybeth, embora guardasse sua opinião para si mesma. A amiga não compreendia sua relação com sua irmã gêmea, e de como pareciam viver em dois corpos separados, mas apenas com um só coração. Eram o espelho uma da outra, vibravam na mesma sintonia e sentiam as dores de suas almas como se a intensidade delas também tivessem a mesma potência.

— Isso é loucura, Anne. Vai se casar com um homem, fingindo ser alguém que não é. Como pensa que isso vai dar certo? — Diana perguntou, tentando colocar algum juízo na cabeça da ruivinha.

— Você não entende. — Anne disse, levantando-se da cama. — Eu não devia ter vindo.  Desculpe-me por envolvê-la nisso. — Ela continuou rumando para a porta.

— Anne, espere. Vamos conversar melhor sobre isso. — Diana pediu, arrependida de suas palavras. A ruivinha viera ali para pedir o seu apoio e acabara deixando seu lado crítico falar por ela.

— Tudo bem, Diana. Não fiquei chateada. Talvez você esteja certa no que me disse agora a pouco, mas Amybeth é minha irmã gêmea e jamais conseguiria dar-lhe as costas, como eu sei que ela nunca o faria também.

— Você pode contar comigo, Anne. Somos amigas há tanto tempo. Sei que meu defeito é ser sincera demais. Apenas me diga o que precisa e farei o possível para te ajudar.

— Não há muito o que fazer agora. Muito obrigada por me ouvir mesmo assim. Se quiser ir ao jantar do meu noivado, será bem-vinda. Ele acontece amanhã às sete e meia da noite. — Anne disse com um sorriso triste, e assim deixou Diana com a sensação que tinha falhado com sua melhor amiga.

O dia do noivado enfim chegou e Anne se sentia arrasada por dentro. Ela sentia saudades de Amybeth e a preocupação com o paradeiro da irmã não a deixava tranquila.

Amybeth era bastante esperta, inteligente e sabia se virar muito bem no mundo lá fora. No entanto, ela nunca fora para tão longe e Anne procurava não se desesperar com o pensamento de que nunca mais veria a irmã, pois, não sabia como lidaria com isso se nunca mais tivesse notícias dela.

Sua irmã dissera que entraria em contato assim que pudesse, mas estavam em tempos de guerra, e quem sabia o que poderia acontecer? Era inconcebível para Anne que Amybeth tivesse ido para um país da Europa, onde poderiam ser invadidos a qualquer momento.  Porém, com a mania de Amybeth de estar sempre a procura de aventura, viver no limite estava em seu sangue, não era de se admirar que colocasse a própria vida em risco para ter a sensação de que estava realmente viva.

Anne nunca entendera esse lado estranho e inexplicável da irmã. Desde criança, a ruivinha observara que não era só na personalidade que diferiam. Amybeth tinha uma característica que sempre deixava a ruivinha preocupada e, ao mesmo tempo assustava. Diversas vezes, sua irmã se colocara em situações que poderiam facilmente ceifar lhe a vida e nestes momentos, enquanto via a felicidade brilhar nos olhos dela, Anne tinha a nítida sensação de que não conhecia Amybeth tão bem quanto pensava.

Havia algo emocionalmente muito errado com ela, pois, quando os dias se arrastavam sem nenhuma novidade, em uma daquelas calmarias que Anne adorava, Amybeth parecia entrar em um estado de recolhimento interior. Ela se tornava introspectiva, mal-humorada e triste. Mesmo que Anne perguntasse a ela mil vezes qual era o problema, Amybeth nunca lhe dava uma resposta que a convencesse. Era por isso que Anne sentia medo, porque Amybeth não conhecia limites quando pensava em se divertir e aliviar o peso de suas emoções inconstantes.

Às sete em ponto, Anne ouviu uma batida discreta na porta de seu quarto e quando a abriu, ela encontrou uma das criadas da casa no corredor, que lhe disse:

— O duque desejava conversar com a senhorita por alguns minutos antes do jantar de noivado.

— Onde ele está? — Ela perguntou, sentindo-se inquieta por aquele pedido inesperado.

— No escritório do conde. — A criada a informou.

— Diga a ele que estou indo. — Anne respondeu e após de verificar a sua aparência mais uma vez, ela seguiu o mesmo caminho que sua criada fizera antes.

Ela entrou no escritório do pai e manteve a porta aberta, pois, não seria de bom-tom encontrar-se com o homem com quem iria se casar em uma sala com as portas fechadas. Por mais inocente que o encontro fosse, isso seria visto como um pecado hediondo pela sociedade local, principalmente se tivesse empregados para testemunhar tão ato.

O duque estava observando um quadro que seu pai adquirira em um leilão anos antes, onde uma mulher ruiva sorria, enquanto levava um botão de rosa ao nariz para sentir o aroma da flor delicada. De modo a chamar a atenção do duque, Anne disse:

— Boa noite, duque.

Gilbert se virou e seus olhos se mostraram vivamente surpreendidos pela aparência de sua noiva. Ela usava um vestido azul-marinho de mangas curtas, cujo colo ficava adoravelmente à mostra. A renda que enfeitava o decote destacava ainda mais sua pele alva, e a cintura marcada acentuava o quanto sua noiva era delgada. Sem dúvida alguma, Amybeth estava belíssima, e seus cabelos ruivos presos no alto da cabeça facilmente deixavam evidente a qualquer um, que a linhagem daquela garota era nobre.


— Está lindíssima, senhorita. — Gilbert comentou, fazendo com que o rosto da ruivinha corasse levemente pelo elogio inesperado.

— Obrigada. O senhor está muito bem, duque. — Anne disse, observando discretamente o traje de seu futuro marido, cuja beleza morena não deixava de surpreendê-la.

Certamente Gilbert sabia como se vestir e realçar tudo o que chamava a atenção em uma mulher. Ele não era um homem muito alto, mas suas maneiras elegantes o deixavam incrivelmente atraente, e o ar aristocrático que ele exibia sem esforço algum, contratava lindamente com seus traços faciais fortes.

Anne sempre apreciara homens com maxilares marcados, como se tivessem sido especialmente desenhados por mãos talentosas. Ela vira poucos assim nas festas que frequentava, mas o Duque Gilbert Blythe tinha todas essas qualidades que pareciam tão naturais nele, como uma marca de nascença que nunca poderia ser removida.

— Desculpe-me ter pedido que viesse até aqui. Mas eu precisava lhe entregar algo. — Ele disse, tirando a cartola que fazia parte de seu traje daquele dia, deixando seus cachos brilhantes caírem em torno de sua cabeça e testa, fazendo-o parecer um daqueles príncipes saídos de um conto de fadas.

— O que é? — Anne perguntou, tentando não deixar que ele percebesse o quanto a figura masculina dele a deixava impressionada.

Gilbert pegou um estojo prateado que estava sobre a mesa, o abriu e respondeu:

— Eu queria te dar esse colar. Meu pai me disse que ele era de minha mãe. Então, eu julguei que seria justo dá-lo à mulher com quem vou me casar.

— É maravilhoso. — Anne disse, olhando com assombro para a joia, cravejada de esmeraldas. Nunca tivera nada tão caro. Ela tinha até medo de usar e perdê-la por alguma razão.

— Combina com seus olhos. — Gilbert disse, pegando a joia do estojo, abriu o fecho e colocou no pescoço de Anne, fazendo-a sentir um certo arrepio com o toque suave dele em sua pele.

— Obrigada. — Ela agradeceu, sem encará-lo, pois, a presença dele a deixava inquieta.

— Por nada. — Gilbert respondeu e depois comentou: — A mulher desse quadro parece muito com você.

— Meu pai o comprou em um leilão há alguns anos, porque ela o lembra minha mãe. É por isso que a achou tão parecida comigo. Meu pai nunca a esqueceu. Ela foi o amor da vida dele.— Anne respondeu, de certa forma emocionada, pois, a história do romance de seus pais sempre a comovia.

— Olhando para você, eu entendo porque ele nunca a esqueceu. — Gilbert falou, fazendo o coração de Anne se agitar no peito.

— Acho melhor descermos para o jantar. Os convidados devem estar esperando. — Anne disse, desejando se afastar daquele homem que era um perigo imenso para sua paz de espírito.

— Tem razão.  — Gilbert respondeu, ralhando consigo mesmo pelo comentário e desejando não tê-la ofendido com sua fala impensada.

Ambos saíram do escritório e quando chegaram à escada, ele pediu, dando o braço para Anne:

— Permita-me. — Anne assentiu e assim desceram juntos as escadas e foram para a sala de refeições, onde todos a esperavam, inclusive Diana, que lhe lançou um sorriso compreensivo.

— Enfim, os noivos. — O pai de Anne disse, fazendo com que os convidados os aplaudissem discretamente.

Anne sentou-se na cadeira que lhe fora destinada e Gilbert fez o mesmo, ficando de frente para a ruivinha, com quem trocou olhares intensos o jantar todo.

No fim do jantar, Gilbert fez o pedido e enquanto ele colocava o anel de noivado no dedo anular de Anne, do outro lado da cidade, Amybeth se olhava no espelho.

Ela lançou um olhar para o chão, observando, sem pena, seus fios ruivos espalhados pelo quarto. O novo corte de cabelo realçara sua beleza esplendorosa, mas não fora por isso que os cortara.

Iria começar uma nova vida, assim precisava também de uma nova aparência. O mundo era tão cheio de possibilidades maravilhosas, que ela mal esperava para vivê-las com toda a curiosidade que tinha dentro de si. Elliot havia lhe dado um documento com um novo sobrenome.

Agora ela era Amybeth Macnult, e era assim que seria conhecida dali em diante. Com um último olhar para sua aparência no espelho, ela sorriu, segurando sua mala nas mãos e saindo do quarto de hotel, indo à procura de Elliot fora dali.

Quando já estava dentro do navio, que a levava para o seu novo destino, Amybeth fechou os olhos e sorriu mais uma vez, sentindo e um mundo de sonhos borbulhando em sua alma.

 
Olá, pessoal. Desculpem-me a demora em atualizar. Mas aqui está o capítulo de hoje. Espero que gostem e me deixem suas opiniões.  Beijos.









 




Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro