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Capítulo 3 - A troca

A janela do quarto no qual Gilbert passara a noite localizava-se em frente ao jardim dos Cuthberts. Era para lá que o olhar do rapaz repousava naquele momento, pois, assim que o dia nasceu, foi impossível para ele permanecer na cama com a quantidade de raios solares que iluminaram todo o ambiente no instante em que abrira os olhos.

Botânica nunca fora sua especialidade, mas era curioso como aquela beleza simples lhe chamava a atenção. Seu pai lhe dera algumas noções básicas, mas o rapaz não conseguira adquirir habilidade para semear uma roseira e vê-la crescer forte e viçosa. Na maioria das vezes, a planta nem sequer chegava a nascer, por isso, ele se contentava em admirá-las em um jardim já projetado, ao invés de desperdiçar seu esforço em algo no qual não teria sucesso.

Contudo, dali onde estava, não conseguia ver com exatidão todas as peculiaridades do jardim, mas esperava que, se o Conde não se importasse, ter a oportunidades de conhecer melhor aquele pequeno paraíso.

Havia outra coisa que teria que fazer naquele dia, e também esperava ter sucesso. Conhecer melhor sua futura esposa estava no topo dessa lista, pois, por mais que a tivesse visto na noite anterior, não tivera, de fato, uma chance de falar com ela abertamente.

Amybeth parecia ser uma garota interessante. Não era tímida, não se importava em agradar e não tinha tentado ser amigável ou simpática com ele durante o jantar. Se ela estava entusiasmada com aquele casamento, Gilbert não tinha como saber, pois ela não o permitira. Sua futura esposa era como uma pedra de gelo, como uma princesa em um castelo de marfim, e alcançá-la parecia estar além de suas forças.

Um sorriso disfarçado surgiu nos lábios bem desenhados do rapaz quando ele se lembrou da irmã gêmea de Amybeth. Seu nome era Anne, como ela lhe contara, e era tão tímida que, em todas as vezes em que olhara para ela, seu rosto delicado se tornava tão rosado, que Gilbert até ralhara internamente consigo mesmo por incomodá-la daquela maneira. Não obstante, era quase irresistível não observá-la, porque tudo o que Anne fazia parecia perfeito.

Seu jeito de segurar o garfo e levá-lo aos lábios com extrema elegância, a forma como cortava um alimento, como se estivesse realizando uma experiência importante, e a maneira delicada com a qual ela limpava a boca rosada com o guardanapo, hipnotizava qualquer um que a observasse com atenção.

Anne e Amybeth eram um contraste fascinante. Eram tão iguais em aparência e tão diferentes em seu modo de ser. Se Gilbert estivesse sozinho com elas em uma sala, seria difícil para ele descobrir quem era quem naquela equação maluca apenas pela aparência.

Nunca convivera com gêmeas antes, mas imaginava que, com o tempo, descobriria uma maneira de distingui-las, porque deveriam existir algumas características da aparência delas que lhe daria algum sinal com qual das duas estaria falando. Seria bastante deselegante da sua parte se confundisse Amybeth com Anne, causando um desconforto irreversível.

Mudando rapidamente o teor de seus pensamentos, Gilbert consultou seu relógio de bolso e verificou que estava na hora do café da manhã. Walter havia lhe explicado toda a dinâmica da casa e, assim, ele saiu de seus aposentos, desceu os degraus intermináveis da escada e se encaminhou até a sala de refeições.

Para sua surpresa, uma das gêmeas estava tomando café e, quando o rapaz entrou, ela disse com polidez:

— Bom dia, duque.

— Bom dia. Desculpe-me perguntar, mas qual das duas gêmeas é você? — Gilbert indagou, desconcertado por sua falta de percepção a respeito das duas irmãs tão incomuns.

— Depende. Qual delas quer que eu seja? —  A ruiva perguntou, com um sorriso discreto, mas com uma pitada de sarcasmo, indicando o quanto ela estava se divertindo com a confusão dele.

— Amybeth? —  Gilbert perguntou, jogando com a sorte, pois imaginava que Anne não teria aquele humor tão ácido. Pelo menos, essa foi a impressão que tivera dela. na noite anterior.

—  O senhor é bastante observador, duque. Como descobriu tão rápido? —  Amybeth perguntou um pouco decepcionada por ele tê-la reconhecido tão facilmente. Geralmente, as pessoas não eram tão perspicazes assim quando tentavam adivinhar a identidade das duas irmãs. Se Gilbert tinha esse dom, seria ainda mais difícil colocar seu plano em prática.

—  Na verdade, eu apenas tentei adivinhar, srta. Cuthbert, e parece que fui feliz no meu palpite, não é? —  O rapaz respondeu, se sentando na cadeira em frente à garota, que lhe sorriu largamente e disse:

— Certamente. Não são todas as pessoas que têm essa sorte.

—  Se não for muito atrevimento da minha parte, eu gostaria de saber onde está sua irmã? —  O jovem duque perguntou, tentando não deixar seu interesse tão nítido, pois não era de bom tom, um homem como ele perguntar sobre outra mulher em frente à sua noiva.

—  Ainda não se levantou. Por que quer saber? —  Amybeth perguntou, sem o mínimo de sutileza, enquanto comia sua torrada com geleia lentamente.

— Nada demais, é que fiquei muito impressionado com a semelhança de vocês duas. É a primeira vez que vejo irmãs gêmeas tão idênticas. —  Gilbert comentou, mas na verdade, queria encontrar aquela paz de novo que sentira ao olhar nos olhos de Anne.

—  Realmente somos parecidas. Arrisco dizer que somos cópia uma da outra. Infelizmente, nossos temperamentos são bem diferentes. —  A ruiva explicou, encarando Gilbert diretamente nos olhos, ao mesmo tempo em que tomava um grande gole de seu café com leite.

—  Por que infelizmente? — Gilbert perguntou, um pouco surpreso com a ousadia de sua noiva em olhar para ele daquela forma. Não se esperava tanta liberdade em uma mulher naquela época. A maioria era discreta e procurava não quebrar as regras, porque sabia bem o que significaria para sua reputação. O Ostracismo público era o terror das jovens que esperam se casar com um bom partido. Entretanto, Amybeth não parecia preocupada com isso.

—  Minha irmã é romântica, meu caro duque. Acredita naquele amor de conto de fadas, cavalo branco, e etc. Eu particularmente, acho tudo isso uma perda de tempo. — Amybeth respondeu, colocando sua xícara de volta no pires.

—  A senhorita não acredita no amor? —  Gilbert perguntou, achando pelo menos um ponto em comum com Amybeth,

—  Não, pelo menos, não naqueles melosos que existem nos livros, fabricados apenas para encher a cabeça de moças inocentes com fantasias impossíveis de alcançar. E o senhor? Acredita no amor? —  A ruiva perguntou apenas por curiosidade.

Queria ver até onde iam os conceitos daquele homem enfadonho. Elliot era tão divertido e era com ele que deveria estar naquele momento, não com um duque preso demais às suas próprias obrigações.

—  Eu deveria acreditar, pois os meus pais casaram por amor. Contudo, tenho visto as barbaridades que as pessoas fazem, dizendo que é em nome do amor, e não consigo crer naquilo que os poetas defendem com tanta veemência. Penso que tal sentimento é algo efêmero. Não posso afirmar que não existe, porém, não consigo me ver enlouquecido e sofrendo por algo que pode destruir pessoas. Essa guerra que estamos vivendo é prova disso. — Gilbert explicou, pensando no quanto as pessoas se inflamavam para falar do amor e sua importância no mundo, quando participavam de uma guerra sangrenta, disseminando o ódio.

—  Se não acredita no amor, por que quer se casar? —  Amybeth perguntou, surpreendendo Gilbert mais uma vez. Ele gostava de uma mulher com personalidade, mas aquela garota ruiva ultrapassava o senso comum. Ainda não eram íntimos o bastante para que ela lhe fizesse tantas perguntas pessoais, mas ele não seria grosseiro, deixando-a sem resposta.

— Quero herdeiros, srta. Cuthbert, e eles só serão legítimos por meio do casamento. Posso não acreditar no amor como base principal de um relacionamento, porém, confio na harmonia e companheirismo que tal compromisso pode construir entre duas pessoas. —  O rapaz concluiu, vendo a expressão de Amybeth tornar a se fechar.

Ele fora criado dentro daqueles conceitos, embora seu pai tivesse uma opinião diferente. Entretanto, Gilbert sempre tivera uma mente contestadora desde criança, e quanto mais conhecimento adquiria, mais cético se tornava em relação à vida e às emoções humanas. A faculdade não só o afiara para as questões de sua profissão, tornando-o um perito respeitado, como também drenara qualquer ilusão romântica de seu cérebro.

Amybeth não respondeu ao comentário do duque, pois filhos não eram uma área que lhe interessasse. Não queria ser mãe e sentia em sua alma que não nascera para isso. Era por esta razão que precisava fugir daquele casamento, porque não seria feliz presa naquela vida que conseguia visualizar em sua mente. Seu destino era outro, e iria atrás dele, mesmo que lhe custasse um preço muito alto.

— Bem, fui designada a lhe apresentar nossa propriedade. Gosta de cavalgar, duque? —  A ruiva perguntou, mudando de assunto.

—  Gosto sim. Mas, vamos sozinhos? —  Ele perguntou, preocupado com aquela ideia, pois não queria que o conde pensasse que ele estava aproveitando da situação.

—  Não, um dos empregados que cuida dos cavalos irá conosco. Meu pai ainda tem uma mentalidade antiga. — Amybeth disse, com uma naturalidade que chocou Gilbert mais uma vez.

Ela era uma verdadeira feminista; isso era bem fácil de constatar pelas suas falas e jeito de agir. Ele tinha bastante simpatia pela causa, principalmente porque sua prima Josie lhe dava uma aula diária sobre todos os direitos que uma mulher deveria ter. Gilbert concordava com essa ideia e apoiava totalmente a luta para que as mulheres ganhassem cada vez mais espaço na sociedade. Mas tanta liberdade por parte de sua futura noiva o desconcertava, e ainda não sabia como faria para lidar com uma garota tão intempestiva.

— Certo. Vou terminar o café da manhã e depois podemos ir. — O duque respondeu e Amybeth assentiu. Quando o rapaz tomou seu último gole de café, ela foi até o quarto colocar roupas mais apropriadas para cavalgar e tornou a voltar para a sala, onde Gilbert a esperava.

O rapaz soltou a respiração ao vê-la surgir, porque honestamente, depois de tudo o que ouvira dela, o rapaz tentara imaginar o que Amybeth vestiria para andar a cavalo com ele pela fazenda. Felizmente, a ruiva surgira com um traje escuro, composto por uma saia longa, blusa de gola alta da mesma cor da saia e botas pretas de cano longo e material resistente como ditava a moda.

—  Vejo que está pronto. — Amybeth comentou, observando o uniforme de montaria de Gilbert. Ele era um rapaz bonito, que sabia se vestir bem e tinha bom gosto para combinação de cores. Era uma pena, que não tivesse atração por aquele tipo de homem.

— Sim, podemos sair no momento que quiser. — Gilbert concordou.

—  Então, siga-me. —  Amybeth disse, levando-o até o estábulo, onde um cavalariço os esperava.

O animal escolhido por Gilbert foi um Alazão de porte majestoso, enquanto Amybeth preferiu um Mustang negro e de crina longa. Isso não surpreendeu o duque, pois uma mulher como ela não combinaria com um cavalo dócil e de personalidade submissa.

Assim, Amybeth o levou para um passeio pelos pontos mais interessantes da propriedade dos Cuthbert, apresentando-lhe um cenário selvagem, mas impressionante. Havia tanto verde naquelas terras que seus olhos não se cansavam de admirar a beleza daquele lugar apaixonante.

Eles pararam em alguns momentos para descansar, enquanto mantinham uma conversa descontraída sobre colheita, condições climáticas naquela região e plantações de milho e trigo. Amybeth respondeu a todas as perguntas feitas por Gilbert com segurança, mostrando ao rapaz que ela entendia absolutamente tudo sobre o que estavam falando.

No entanto, mesmo admirando-a por sua inteligência e eloquência ao falar sobre vários assuntos, Gilbert não se sentia atraído por ela. Várias vezes, enquanto conversavam, o rapaz desejou estar falando com Anne. Aqueles olhos ficaram em sua mente o dia todo e tinham uma vitalidade, que Gilbert sentiu necessidade de ter para si.

Era errado pensar na irmã de sua futura esposa, pois quando viera para Londres, tudo já estava arranjado para seu casamento com Amybeth. Não podia mudar seus planos e simplesmente trocar noiva, porque seu coração decidira que gostava mais de Anne para aquele papel. O que lhe restava era aceitá-la como sua cunhada e se contentar em tê-la em sua vida daquela maneira.

Eles voltaram para casa quase na hora do almoço e, depois de se informar acerca do horário de refeições, Gilbert aproveitou para dar uma volta no jardim. O rapaz caminhou por alguns segundos, admirando as flores que se espalhavam por ali. Algumas ainda estavam em botão, outras já se abriam para o mundo, mostrando toda sua beleza e colorido natural.

Sentada em um banco muito próximo dali, Anne lia um livro sem notar a presença de Gilbert. Ele a viu assim que se aproximou de um canteiro de margaridas, e a visão que tinha dela de onde estava era simplesmente adorável.

Ela parecia tão absorvida pelo livro que nada atrapalhava sua atenção. Às vezes, ela arregalava os olhos de leve, como se estivesse surpresa pelo que acabara de ler. Outras vezes, a ruivinha parava por um segundo, desviava o olhar da página e os fixava na linha do horizonte, como se precisasse de um instante para compreender o conteúdo do livro, para logo depois, tornar a se concentrar na história que a conquistara desde a primeira linha

Ela combinava tanto com aquele cenário que Gilbert mal respirava com medo de que ela o percebesse ali, e com isso, quebrasse aquela magia do sol passando pelas nuvens, refletindo nos cabelos dela, fazendo com que o ruivo adquirisse uma tonalidade tão viva que Gilbert tinha a impressão de estar vendo chamas queimando na lareira.

Amybeth tinha aquela mesma cor de cabelo, mas não parecia tão adorável nela como era em Anne. Observando-a naquele instante, ele conseguia imaginar sem dificuldade nenhuma uma fada em seu reino encantado.

A ruivinha deixou o livro cair sem querer, e Gilbert correu para ajudá-la. Foi naquele momento que, assustada, Anne levantou o olhar ao sentir alguém próximo a ela, corando violentamente ao ver que era ele.

—  Duque. — Ela disse sem jeito, pegando o livro que caíra e se levantando logo em seguida.

—  Desculpe-me. Não quis atrapalhar sua leitura. — Gilbert falou com pesar. O momento mágico tinha passado, mas aqueles olhos azuis eram ainda mais belos do que se lembrava.

—  Não atrapalhou. Eu já ia entrar. — Anne o informou, temerosa que alguém a visse com o duque no jardim. Aquela não era uma situação adequada para uma moça solteira. Seu pai ficaria desapontado se soubesse de seu comportamento. O melhor seria se despedir e voltar para o seu quarto, onde estaria segura e longe de olhares curiosos.

—  Por favor, fique mais um pouco. - O rapaz pediu, ao perceber que ela estava se preparando para sair dali. — Estamos ao ar livre e não há mais ninguém aqui. Acho que podemos conversar um pouco. - Ele insistiu, tentando não se perder naquele rosto. A beleza de Anne tinha algo especial, que Gilbert ainda não identificara. Ela possuía uma energia que vinha de dentro, como se a essência dela dançasse em seus olhos.

— O senhor é o noivo da minha irmã. —  Ela disse, como se aquelas palavras explicassem tudo.

— Isso significa que somos quase da mesma família. Não há nada de mau em apenas conversarmos. — Gilbert tentou mais uma vez, pois tinha a impressão que não teria uma próxima oportunidade de conversar com Anne daquela maneira, e sentia que precisava conhecê-la um pouco mais antes de se afastar dela para sempre.

—  O senhor deve saber como as pessoas podem ser maldosas. Não quero dar motivos para que falem de mim. —  Anne respondeu a contragosto, pois na verdade, ela queria muito ficar e conversar com aquele homem que a impressionara desde a noite anterior.

O duque, além de bonito, era inteligente. Ela prestara muita atenção em como ele conversara com seu pai na mesa de jantar. Era a primeira vez que ficava tão mexida por um rapaz. Nunca ligara para os homens de seu círculo social, pois a maioria era incapaz de manter uma conversa coerente.

Eles falavam sempre dos mesmos assuntos, como festas, viagens e cavalos. Em dois minutos de narrativa deles, Anne estava quase bocejando. Em cinco minutos, ela tinha que se esforçar para manter sua concentração no que estava sendo dito. Em dez minutos, ela tinha que dar uma desculpa para se afastar, ou acabaria dormindo de puro tédio.

Gilbert era diferente. Não só porque era bonito, mas também porque falava de qualquer assunto, sem hesitação. Ouvi-lo era empolgante, principalmente na parte em que ele falara sobre a faculdade que cursara. Anne sempre desejara cursar literatura, mas seu pai não achava que era necessário que ela tivesse um diploma superior.

Em um mundo de homens, as habilidades intelectuais de uma mulher eram ignoradas, pois a sociedade pregava a ideia de que havia apenas dois lugares para ela: o da cozinha e o seu papel de mãe

Era uma situação revoltante, pois mesmo que Anne não dissesse nada em voz alta, por dentro ela se indignava até a alma. Queria ser mais como Amybeth, que dizia exatamente o que pensava, porque não se importava de chocar quem quer que fosse.

Anne era mais comedida, pois pensava muito em seu pai. Não queria que ele tivesse motivos para se envergonhar dela, mesmo quando Amybeth dizia que aquilo não fazia sentido.

— Eu sei, mas não estamos em um lugar público, e eu não faria nada que pudesse colocar sua reputação em risco. — Gilbert afirmou, e ela cedeu, porque ele continuaria insistindo e não a deixaria sair dali, o que acabaria em uma situação desconfortável.

— Muito bem. Sobre o que quer falar?—  Anne perguntou polidamente.

— Que tal começarmos pelo livro que está lendo. Gosta de romance russo, senhorita? — Gilbert perguntou, apontando para o exemplar de capa vermelha, que Anne tinha nas mãos.

—  Gosto sim. São realmente fascinantes. —  Anne respondeu, sentindo-se um pouco mais confortável, pois estavam entrando em um terreno que ela conhecia.

— Não acha esse livro complexo demais para entender? — Gilbert perguntou, fazendo com que uma fagulha de ira começasse a queimar no peito da ruivinha.

— Acha que não tenho capacidade de entender a mensagem do livro? Posso não ser tão inteligente quanto o senhor, mas sei muito bem distintinguir a proposta do escritor.

— Não quis ofendê-la. O que eu disse é que considero esse livro um pouco difícil de entender. Peço desculpas se a deixei aborrecida — Gilbert disse, sem resistir em olhar para ela, porque aquele rosto era perfeito demais.

—  Está tudo bem. —  Anne respondeu, sentindo seu rosto esquentar. Era incrível como o duque a deixava sem jeito. Nem sequer conseguia olhar para ele sem ficar um pimentão. Às vezes, queria ser como Amybeth que era segura de si e sabia como conduzir uma conversa sem se sentir ridícula.- Acho o livre-arbítrio do qual o autor fala se aplica a todos nós. Pelo menos, é o que entendo como mensagem do livro. - Ela contestou, fugindo do outro assunto deliberadamente.

—. O que quer dizer? — Ele perguntou. Obviamente, Gilbert sabia a resposta, mas queria ouvir a opinião dela, porque aquela voz doce conseguia mexer com seu coração de um jeito e do qual não se lembrava mais.

—  Eu quero dizer que todos nós temos o direito de escolha, sendo ela boa ou ruim. Gosto de pensar que isso também se aplica a nossa liberdade pessoal.

— Você gostaria de ser livre, senhorita?—  Gilbert perguntou com curiosidade. Amybeth podia ser uma mulher forte e interessante, mas Anne era quem o fazia viajar dentro daqueles olhos, como se pudesse tocar o céu.

—  Quem não gostaria, não é? Uma garota pode sonhar, mesmo que seus desejos estejam longe do seu alcance.—  Ela respondeu, quase sem pensar. Era tão fácil conversar com Gilbert que ela esquecia completamente de sua timidez.

—  E quais são seus sonhos, Srta. Anne?—  Gilbert perguntou sem se conter. O brilho naquele rosto era irresistível e aquele sorriso discreto, que fazia com que suas inúmeras sardas se destacassem em sua pele clara, escondia uma beleza da qual Anne não tinha consciência.

— Não creio que eu possa lhe dizer, duque. —  A ruivinha falou, abaixando seu olhar envergonhada. De repente, ela se deu conta, que estava tendo uma intimidade com o rapaz, que era totalmente inapropriada.

—  Não quis ser inconveniente. — Gilbert disse, arrependido por ser tão direto. Ela era tão doce, tão ingênua e tão jovem. Olhar para Anne era como estar olhando para um quadro raro e que lhe causava inúmeras emoções.

— Não se preocupe, duque.—  Anne respondeu, ainda mantendo o olhar baixo. Não conseguia encará-lo, porque a maneira como ele a olhava era intenso demais.

Desejando ver o rosto dela melhor, Gilbert deu um passo e levantou o queixo de Anne com o polegar. Ele estava sendo ousado demais, quebrando dois protocolos ao mesmo tempo.

O primeiro era estar conversando com ela sozinho no jardim, e o segundo era estar tocando uma mulher, mesmo que de forma inocente, sem que ela fosse sua noiva.

Mas seu coração não queria ouvir sua razão. Estava enfeitiçado por aquela fada inocente, que o olhava sem quase piscar. Como poderia existir alguém assim? Tão perfeito, mas tão inconsciente do que podia fazer com um homem como ele?

Ela e Amybeth podiam ter a mesma beleza, a mesma aparência e até as mesmas proporções físicas; entretanto, havia algo que as diferenciavam totalmente.

Amybeth tinha a malícia mundana de uma garota inteligente, que desafiava a época que vivia com suas ideias progressistas. Ao passo que Anne era igualmente inteligente, mas sua feminilidade não lhe causava um peso, pelo contrário.

Ela sabia usá-la com graça e charme, fazendo com que todos ao ser redor percebessem que, em sua timidez e gestos discretos, estava uma garota de valor inestimável, e Gilbert se sentia feliz por tê-la conhecido porém, igualmente pesaroso por não poder torná-la sua esposa.

—  Não precisa ter vergonha de olhar para mim. — Ele disse quase murmurando. — Sua beleza é impressionante. — Gilbert continuou, fazendo um carinho no queixo de Anne.

Um sentimento estranho tomou conta de Anne, enquanto um calor se expandia em seu peito. Ela suspirou baixinho, tentando esconder sua inquietação, mas era tão difícil, pois seu coração disparou e seus olhos marejaram sem que a ruivinha entendesse o que estava acontecendo.

Temerosa, ela deu um passo para trás, respirou fundo e disse:

—  Preciso entrar. Com licença. — Assim, ela voltou para dentro sem olhar para trás.

Enquanto fugia do rapaz que a observava se afastar, Anne sentiu lágrimas escorrendo por seu rosto. Não sabia porque estava chorando, mas apenas compreendia que não podia ficar perto de Gilbert novamente. Era errado e terrivelmente perigoso.

Ela foi para seu quarto e passou o resto do dia enclausurada ali, pois estava envergonhada e aborrecida consigo mesma, por ter cedido à tentação de conversar com o noivo de sua irmã.

Todavia, por mais que soubesse que aquilo tinha sido uma loucura, Anne não conseguia parar de pensar em Gilbert, cujos olhos a faziam se sentir diferente e quase eufórica.

Assim, ela se atirou em inúmeras atividades para que sua imaginação não envenenasse sua razão. Não podia sentir nada pelo futuro marido de sua irmã. Qualquer pensamento nesse sentido era pecaminoso e imoral.

Quando a hora do almoço chegou, Amybeth apareceu em seu quarto. Assim que ela entrou, Anne, que estava penteando os cabelos em frente ao espelho, se virou para a irmã e perguntou:

—  Onde você estava?

—  Fui resolver um assunto meu. — Ela respondeu evasivamente.

—  Eu tenho até medo de perguntar o que se passa na sua mente ultimamente. — Anne disse, tornando a se olhar no espelho.

— Por que? —  Amybeth perguntou, se sentando na cama da irmã.

—  Porque você anda cheia de segredos. Não sei mais o que se passa em sua vida.—  Anne respondeu, de certa forma, se sentindo magoada. Era a primeira vez, que sua irmã gêmea não lhe contava o que estava acontecendo. Desde criança tinham partilhado tudo, e a sensação de que Amybeth a estava deixando de fora de algo importante a machucava muito.

—  Desculpe, querida. Não queria que se sentisse desse jeito. Eu preciso mesmo te contar uma coisa, mas peço que mantenha sua mente aberta.— Amybeth falou, tentando encontrar um jeito de falar para Anne o que estava se passando em sua mente.

—  O que é? —  Anne perguntou, parando com a escova no ar, enquanto sentia sua garganta se fechar. De alguma forma, sentia que não iria gostar do que a irmã tinha a lhe contar.

—  Eu vou embora amanhã. — Amybeth disse, sem dar tempo para Anne se preparar para o baque.

—  Como assim? E o seu casamento? Ficou maluca? O que acha que o papai vai pensar?—  Anne deixou que a enxurrada de perguntas tentassem traduzir o pânico que ela estava sentindo dentro de si.

Seu pai ficaria magoado e desmoralizado diante do duque, e com certeza, toda a sociedade de Londres falaria de sua família por meses, fazendo-os de chacota em todas as festas ou compromissos nos quais comparecessem.

—  Sinceramente, irmã. Foi ele quem inventou esse casamento, então ele que resolva essa questão com o duque.—  Amybeth disse com indiferença.

Ela amava o pai, assim como Anne, mas não o deixaria fazer de sua vida um caos. Uma mulher tinha direito de escolher o seu caminho, e que se danasse toda a sociedade com a sua hipocrisia.

— Você não se preocupa com os sentimentos de nosso pai? —  Anne perguntou, chocada com as palavras da irmã.

—  Ele não se importou com meus sentimentos, Anne. Quer que eu me case com um homem que não me interessa.—  Amybeth vociferou, cheia de indignação.

—  Mas o duque não tem culpa disso e não merece ser deixado no altar pelas decisões de nosso pai.—. Anne falou, pensando no rapaz

Gilbert era uma boa pessoa e, pelo pouco que o conhecera, ele era um bom homem também, além de bonito e culto. Era respeitoso e às vezes, a deixava sem jeito, mas ela pudera perceber, após alguns minutos de conversa, que aquele rapaz era bem mais do que seu título.

— Você gosta dele? — Amybeth perguntou esperançosa, pois o sucesso de sua fuga dependia da resposta da irmã.

—  É claro que não. —  Anne respondeu com seu rosto pegando fogo. Ela não queria pensar no que sentia quando estava com Gilbert, pois era totalmente errado.

— Você gosta sim. Eu te conheço desde quando nasci. — Amybeth disse, feliz com sua descoberta.

—  Amybeth, isso não tem graça. — Anne disse aborrecida. Já era difícil abafar seus pensamentos e não precisava de sua irmã jogando aquilo tudo na sua cara.

—  Eu não disse que tinha. Quero apenas que perceba, que o príncipe com o qual você passou a vida sonhando está ao seu alcance. — Amybeth comentou, observando a reação chocada de Anne.

— Amybeth, o duque é seu noivo. — Anne a lembrou, enquanto a outra garota ruiva a observava com um ar divertido.

— Discordo. Nunca disse que aceitava esse casamento. — Ela disse, irritando Anne que lhe disse:

— Pare com isso. Esse assunto não é brincadeira.

—  Eu sei disso, por isso, quero te fazer um pedido. —  Amybeth falou com cuidado para não assustar Anne, que nem sequer imaginava o que ela tinha a lhe dizer.

— Que pedido? — Anne perguntou, mais uma vez apreensiva.

—  Troca de lugar comigo. —  Amybeth pediu, fazendo Anne arregalar os olhos e perguntar:

— Como é?

— Eu sei que o que estou te pedindo algo muito sério mas por favor, me ajuda. Troca de lugar comigo e se case com o duque. Tenho certeza que o fará mais feliz do que eu conseguiria. — Ela explicou, esperando pela reação de Anne, que balançou a cabeça veementemente e disse:

— Você enlouqueceu. Não acredito que está me pedindo esse absurdo.

—  Por favor, Anne, faz isso por mim. Você é minha única irmã e prometemos cuidar uma da outra. — Amybeth quase implorou.

—  Eu não poderia fazer isso. Nós duas somos totalmente diferentes em nossas ações. Mesmo que eu quisesse, não poderia fingir dessa maneira. — Anne respondeu, tentando escapar daquela situação.

— Você me conhece melhor que qualquer pessoa e é a única capaz de se passar por mim, sem que ninguém perceba . —  Amybeth disse, tentando convencer Anne a aceitar aquela loucura.

—  Não posso, por favor, desista desse plano. — A ruivinha pediu em desespero.

—  Não posso te obrigar, Anne. Mas quero que saiba que vou fugir com ou sem sua ajuda. Se nosso pai pensa que vou me submeter às sua ideias malucas, ele está muito enganado. Eu preciso ir embora desse lugar, pois caso contrário, vou morrer de infelicidade. Não fui feita como você para me sentir satisfeita em ser esposa de alguém. Eu não nasci para isso.—  Amybeth contou a Anne, que encarou a irmã com o coração apertado, e disse:

—  Tem noção do que está me pedindo? Isso é demais. Não sei se consigo enganar o duque dessa maneira. Ele não merece se casar com uma mentira.

Amybeth se aproximou da irmã, segurou em sua mão e perguntou:

—  Acha que o duque será um bom marido? Acredita que ele possa fazer uma mulher feliz?

—  Sim.—  Anne respondeu, quase sentindo alivio ao pensar que talvez Amybeth apenas precisasse de um incentivo para desistir daquela ideia maluca.

—  Então, ele é perfeito para você. Eu não te pediria isso, se me dissesse que não o suporta. Quero que seja feliz, Anne, mas eu também preciso ser e não conseguirei isso com este casamento arranjado. — Amybeth disse, apelando para o coração sensível de Anne.

—  Amybeth eu não sei. Isso é arriscado e totalmente errado.—  Anne ainda tentou argumentar.

Contudo, observando o rosto da irmã, ela sabia que Amybeth não ia desistir daquela fuga. E também tinha seu pai e o duque a considerar. Não queria que nenhum dos dois saísse machucado, e acima de tudo, não queria ver sua irmã gêmea infeliz em uma vida que não desejava.

— Que desculpa vamos dar ao nosso pai, se eu aceitar essa loucura? Como vamos explicar a minha ausência? — Anne perguntou, porque somente naquele momento, aquilo lhe ocorreu.

—  Eu já pensei em tudo. Lembra quando me disse que queria ajudar em regiões onde soldados foram feridos pela guerra?

—  Sim.—  Anne respondeu.

—   Vamos deixar um bilhete, dizendo que você decidiu trabalhar como enfermeira em um desses lugares, e que não falou nada para o papai, porque sabia que ele não permitiria

— Então, vamos contar mais mentiras. —  Anne afirmou, com sua expressão aborrecida.

—  Não há outra maneira.— Amybeth disse, olhando em expectativa para a irmã.

—  Certo, eu aceito. — Anne disse, antes que se arrependesse.

Com um sorriso de felicidade nos lábios, Amybeth disse:

—  Eu te amo, Anne.

— Eu também te amo. —  Anne respondeu e ambas se abraçaram com todo aquele amor que as unia desde o útero de sua mãe.

Na hora do almoço naquele dia, Anne observou o duque conversando com seu pai e Amybeth, que adorava discutir sobre política, e se perguntou se o plano da irmã realmente daria certo. Mas quando o olhar do rapaz se prendeu ao seu, foi aí que ela entendeu o tamanho do problema no qual tinha se metido.

Olá pessoal. Terceiro capítulo postado. Espero que gostem dele e me digam o que estão achando da história como incentivo para a continuação dela. Beijos e muito obrigada.

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