A carta do James renovou suas energias, assim quando chegou na mesa para o almoço sua cara já estava melhor e percebeu que sua mãe lhe sorriu discretamente. Ela era muito observadora e não queria deixá-la preocupada.

O almoço era strogonoff com massa e batata palha. Sua comida favorita. Então é claro que ela teve que repetir o prato. Afinal não iria perder a oportunidade de se empanturrar com aquela delícia. Ela gostava de comer e comida sempre lhe deixava melhor.

Após o almoço foi para seu quarto ler a outra carta, pela letra em cima já sabia que era da Ana.

Querida amiga anônima,

Obrigada por essa carta e obrigada por suas palavras. Não havia me dado conta do quão forte me tornei. Estava sempre a pensar em mim como algo frágil, fraco. Foi importante poder acolher sua visão. Estava precisando sentir essa força e agora ela está pulsando dentro de mim. Ainda não é do jeito que eu queria, mas já posso senti-la.

Sabe que nossa amizade é para os dois lados né. Quero poder lhe ajudar e lhe motivar tanto quanto você faz comigo. Como assim você me admira por ser forte e não fugir? Do que você tem fugido? Você ajuda tantas pessoas e tenho certeza de que é uma pessoa maravilhosa, por que haveria de fugir de algo? Isso não faz o menor sentido. Espero que se sinta à vontade para me contar. Prometo não mostrar ao meu irmão. Ele sempre me garantiu que não lia nenhuma de minhas cartas, antes de me entregar, que apenas descobriu o conteúdo após eu lhe mostrar. Eu confio nele, então estamos seguras. Você deveria confiar também.

Talvez eu não seja uma ótima conselheira que nem você, mas sei que dividir o fardo o torna mais leve. Aprendi isso com você. E isso foi apenas o começo do tanto que você me ensinou. Deixe-me retribuir o favor, permita-me auxiliá-la. Não importa o que seja, não fuja, encare de frente. Se não isso irá lhe assombrar o resto da vida. Pode dar errado? Pode, mas é melhor tentar do que nunca saber a resposta. Se der medo, vai com medo mesmo e imagine nessa hora que estou segurando a sua mão. Somos amigas certos e se eu lhe conhecesse pessoalmente, com certeza estaria ao seu lado segurando sua mão.

Se não conseguir explanar sobre o que lhe aflige, pelo menos me conte se conseguiu encarar e ir com medo.

Com muito carinho,

Da sua amiga,

Ana

A carta de Ana lhe fez repensar sobre várias coisas. Primeiro que era bom ter uma amiga, já a considerava assim, mesmo tendo trocado poucas cartas e palavras. Sentia-se bem com a garota e conseguia se conectar de uma forma que tinha dificuldade com outras pessoas próximas de sua idade. Ela tentaria desabafar com a Ana e falar de suas inseguranças também. Seria ótima ter uma amiga com quem pudesse dividir suas preocupações, sentimentos e todo o resto.

Pensando nisso colocou-se em marcha e foi a cozinha fazer os doces para o dia seguinte. Hoje sairia algo diferente, iria fazer torta de bolacha ou então como em alguns lugares chamam de pavê. Pegou todos os materiais necessários, colocou uma música animada e desligou sua mente dos problemas. Cozinhar era seu momento e focava sua mente ali. Também era sua terapia.

Sua torta era um pouco diferente das receitas normais que se via por aí. Ela fazia uma espécie de merengue com manteiga e após bater bem na bateira mistura com creme de leite e Nescau, as vezes era cacau, mas o que tinha era Nescau e por isso ele seria usado. Depois quebrava as bolachas em pedaços pequenos, colocava dentro do pote, misturava tudo e voilà, estava pronto. A aparência não era tão bonita quanta as tortas tradicionais, mas o gosto era incrível.

Separou os pequenos potes, os encheu com seus maravilhosos doces, colocou as devidas tampas e foram parar na geladeira. Estavam prontos para serem levados no dia seguinte.

Assim tratou de ir escrever os post-it que deixaria nos doces. Quanto a Ana e James, ela iria pensar com carinho na resposta que daria a eles.