Capítulo Oito - Netflix & Chill {part 1}
Dacre disse que está chegando. Ai meu Deus, ele está quase chegando! Eu já fui no supermercado umas quinze vezes essa semana, perguntei para Sam que roupa deveria usar e ainda fiz questão de dar um jeito nessa sala. Mas as coisas não parecem em ordem e eu tenho medo do que ele vai pensar quando eu abrir a porta. Talvez ele se decepcione um pouco, não sei.
Já tomei um banho e vesti o meu pijama – uma camiseta dois números maior do que eu, calça larga e meia. Estou conferindo o meu celular e com raiva da Sam por ela não me responder. Eu estou ansiosa. Eu estou subindo nas paredes mentalmente. Meu Deus, eu acho que estou surtando.
A campainha toca e eu corro até a porta. Certeza que é o Dacre, nem preciso conferir no olho mágico, o perfume dele já está invadindo o meu apartamento.
Abro a porta e ele está do outro lado com seu sorriso meio cafajeste e uma mochila nos ombros.
– Ei – ele passa a mão pelo cabelo. – Cheguei na hora.
– Espero que não esteja de mudança – aponto para a mochila e deixo ele entrar.
– Eu não podia vir da gravação para cá de pijama, Laura. – Ele tira o casaco e o pendura na cadeira da mesa de jantar.
– Você teve que trabalhar hoje?
– Nada impossível de dar conta. Ainda tem maquiagem no meu rosto? – eu até tento conferir, mas ele se afasta para olhar o apartamento, as paredes sem cor preenchidas por fotografias e estantes de livros. – Apartamento legal.
– Obrigada.
A sala de estar faz parte de um cômodo que eu e Sam chamamos de Cômodo da Sobrevivência. Logo após a porta de entrada, você dá de cara com a mesa de jantar de quatro lugares que nós compramos juntando moedas durante o ano. Se eu não tivesse organizado as coisas, teria duas pilhas de livros em cima dela e alguns casacos e camisetas jogadas pelas cadeiras.
Mais à frente, temos o sofá enorme que os pais de Sam deram pra gente quando reformaram a sala da casa deles de frente para a televisão que ganhamos em um sorteio na nossa antiga escola – no começo a gente pensou em vendê-la, mas decidimos guardar para nosso apartamento. Sim, Sam e eu planejamos morar juntas depois do ensino médio.
À direita da entrada temos a cozinha. Um balcão separa a sala da parte mais frequentada da casa. É apenas uma cozinha, mas Sam tem esse vício por decoração e a nossa parece tirada do Pinterest. É uma coisa de outro planeta e totalmente a cara da minha melhor amiga.
As janelas dão visão para a rua e o céu já escuro – odeio quando o sol se põe quatro da tarde, mas não tanto quanto odeio quando ele se põe dez da noite. Morar no quarto andar de um pequeno edifício tem certas vantagens.
O Cômodo da Sobrevivência tem tudo o que precisamos para nos movimentarmos pouco quando chegamos exaustas. Já perdi as contas de quantas vezes eu dormi no sofá, com um livro na cara e comida na mesa de centro.
E, à esquerda, no corredor, temos dois quartos e um banheiro. Nada demais por lá.
– Você quer que eu cozinhe algo ou vamos pedir comida? – Dacre projeta seu corpo para se sentar no balcão.
– Pedir comida dá menos trabalho. – Cruzo os braços e me apoio no sofá.
– Ok, onde é o banheiro? – aponto para a porta do meio. – Eu vou colocar o meu pijama e tirar essa maquiagem da minha cara – ele abre a mochila e tira o notebook de dentro dela – enquanto você conecta a sua televisão, pode ser?
– Não tem nenhum desses filmes na Netflix não? – aproximo-me para pegar o notebook.
– Infelizmente não. – Ele me beija rapidamente. – Você achou mesmo que rolaria algo como um Netflix and chill aqui? – ele ri.
– Não, nada a ver.
– Eu que sou o cafajeste e nem pensei nisso. – Ele abre a porta do banheiro e me olha mais uma vez. – Dois minutos, eu não vou demorar.
Roubo o cabo HDMI do videogame de Sam – uma completa nerd – e conecto ao notebook. Me jogo no sofá, no meio do mar de almofadas, travesseiros e cobertores. O aquecedor está ligado, mas eu nunca sei quando ele vai funcionar sem me deixar na mão.
Encaro as minhas meias brancas enquanto meus pés balançam em um ritmo impaciente. Netflix and chill? Quem ele acha que eu sou? Estamos aqui para assistirmos aos filmes prediletos dele.
A porta do banheiro se abre e eu imediatamente caio no riso.
– Dacre – tento falar entre as minhas breves pausas. – Mas que diabos – minha barriga está doendo de tanto rir – de pijama é esse?
– O que foi? – o sotaque dele torna o momento ainda mais engraçado.
Dacre está usando um daqueles onesie ridículo de Stitch. Meu Deus do céu, que visão engraçada.
– Por que você está usando isso? – aponto para o onesie ridículo quando consigo me recuperar da crise de risos.
– Eu achei que seria legal – e ele tira uma mão de trás das costas. – Eu arrumei um para você.
– Meu Deus, Dacre, você nunca vai me ver usando algo ridículo assim. Nem por cima do meu lindo cadáver!
Dacre revira os olhos e parece um pouco chateado por eu ter rejeitado sua ideia – quem ainda usa esses onesie ridículos? –, mas não tenta forçar. Ele larga o onesie que tinha para mim na cadeira e abre o zíper do seu.
Minha mente não tem nem um segundo para se preparar para o que vem. Dacre tirando o onesie parece até uma cena de strip particular – Sam me considera muito pura para pensar nessas coisas, ela estaria desapontada. Para a minha felicidade, ele está sem camisa por debaixo do onesie e os músculos que ele andava escondendo debaixo do casaco se revelam. Infelizmente, ele está usando uma calça de moletom – eu esperava muito que ele estivesse de cueca.
Fecho a minha boca antes que Dacre me flagre secando esse corpo que ele tem. Ele entra no banheiro para pegar seu sapato e mochila, colocando-os ao lado do seu casaco.
– Podemos começar a maratona agora? – caio no sofá e encaro o teto.
– Claro, não podemos perder muito tempo se vamos assistir cinco filmes. – Ele vai até seu notebook, que está na mesa de centro.
– Sério mesmo que são cinco filmes?
– Eu trouxe três para hoje, os outros dois podemos ver outro dia. Você já assistiu à Clube dos Cinco?
– Nunca.
– Vamos começar por ele então. – Ele liga a televisão e dá play no filme.
Puxo um cobertor para mim e Dacre pega um travesseiro para si. Ele passa seu braço por trás de mim, fazendo com que me aproxime dele, mas eu evito encostar minha cabeça em seu ombro. Por mais que seu corpo já seja uma distração, eu não quero dormir no meio do filme.
O começo do filme me lembra várias cenas de filmes que eu comecei a assistir, mas dormi no meio. Dacre me explica que eles usam esse filme como referência para vários outro, incluindo um que ele participou. Clube dos Cinco mostra cinco adolescentes na detenção enquanto apresenta cada um deles e seu background. A fotografia é interessante, as atuações são muito boas e o final é satisfatório.
Dacre destila seu conhecimento sobre os atores, o local das filmagens e a história sempre que pode. Ele até comenta que uma das cenas foi feita sobre completo improviso.
– Ei, você quer alguma coisa para beber? – levanto-me do sofá e vou até a geladeira. – Água, chá, suco ou cerveja?
– Achei que você não bebesse nada alcóolico.
– Não quando estou saindo com um estranho e estou guiando ele pela cidade no meio de uma nevasca. Cerveja então?
– Pode ser.
Pego duas garrafas, abro-as e as levo até o sofá. Dacre pega a sua sem me olhar e passa para o próximo filme, mas não começa a reproduzi-lo.
– Se você fosse uma das pessoas na detenção, quem você seria? – ele me puxa pela cintura para que eu me sente ao seu lado. Abraço minhas pernas e inclino minha cabeça.
– Acho que a Allison – mordo meu lábio. – Eu sempre me senti um pouco deslocada com meus gostos estranhos e hábitos esquisitos.
– Como assim? – Dacre é curioso. Depois do nosso encontro na semana passada, eu li tudo o que podia sobre ele enquanto ele me perguntava algumas coisas e tentava me conhecer melhor.
– É difícil explicar, mas eu nunca senti como se me encaixasse em algum lugar. Quando eu vim para o Canadá, eu pensei que acharia meu lugar, e eu pensei que tinha achado, porém eu mudei muito. Acho que talvez eu não tenha um lugar.
– Bom, isso é difícil. Acho que se você estiver fazendo o que gosta, não precisa ficar em um lugar só.
– Você não sente falta de casa? – eu sinto que não deveria ter feito essa pergunta, por mais que ele não pareça desconfortável por recebê-la. Eu não vejo meus pais pessoalmente desde que comecei a faculdade, eu sinto muito a falta deles e dos meus irmãos.
– Um pouco, principalmente depois de longos períodos longe ou em turnê de divulgação. E você?
– Eu não vou para casa há dois anos. – Não chore agora, Laura. – Eu sempre estou ligando e mandando mensagem para os meus pais, mas não é a mesma coisa.
– Por que você ainda não foi vê-los? Seus irmãos não sentem falta de você?
Bebo alguns goles da minha cerveja antes de respondê-lo. E quando eu estou prestes a fazê-lo, ele tira a garrafa da minha mão e a segura.
– Você não precisa responder, Laura.
– Não, eu tenho medo de ir e não voltar mais. Porque eu já perdi tantas coisas ficando aqui que voltar faria meu corpo pedir para morar lá de novo. – Balanço a cabeça. – Isso deve ter soado confuso.
– Não, eu acho que te entendo. Vamos voltar logo para o filme antes que você comece a chorar.
O filme começa e Dacre se senta no chão. Eu me deito no sofá, coloco um travesseiro sob a minha cabeça e me enfio debaixo do cobertor vermelho. Taxi Driver é um dos filmes prediletos de Dacre de todos os tempos. Ele não me revela muito sobre o enredo, apenas diz que esse filme possui algumas polêmicas em torno dele.
Foi uma semana cansativa, meu corpo começa a sentir os efeitos dela em um péssimo momento. Levo a minha mão até o cabelo de Dacre e faço cafuné nele. Mas meus olhos continuam insistindo em fechar.
– Podemos fazer uma pausa? – eu sinto que perdi uma parte do filme enquanto lutava com meu corpo. – Eu acho que já podemos pedir uma pizza.
Dacre não me responde.
Em um movimento rápido, seu corpo está sobre o meu e nossos lábios já estão conectados. As luzes aqui dentro estão apagadas, a cidade lá fora tem sua vida, mas eu não quero saber do que acontece lá fora.
Os beijos de Dacre vão além da minha boca. Ele vai descendo pelo meu pescoço, mordendo levemente a pele exposta e respirando bem devagar. Eu não estou subindo as paredes nesse exato momento porque as minhas mãos estão subindo as costas definidas dele. Os suspiros estão escapando da minha boca e Dacre parece querer mais e mais disso.
Dacre passa seus braços pelas minhas costas e me leva consigo quando ele se senta. Estou ofegante e viciada na sensação que ele acabou de fazer correr pelas minhas veias.
– O que foi? – ele passa a mão pelo seu cabelo bagunçado.
– Eu não esperava por essa. E aquele negócio de que não ia rolar Netflix and chill?
– Você realmente acreditou naquilo?
E ele está certo, eu fui enganada – ele é um ator, o que mais eu esperava? Eu estou de volta à boca dele, resolvendo assuntos que vão levar a noite toda. Seus braços estão ao redor do meu corpo, impedindo-me a todo custo de me afastar. Nem se eu quisesse eu me afastaria.
As mãos de Dacre encontram o final da minha camiseta e começam a subir pela minha pele. Encontro seus olhos por um segundo, levanto meus braços e ele tira a minha camiseta. Seus lábios estão na minha pele de novo, eu estou respirando rapidamente e sentindo tudo o que não sentia.
Nós não perdemos o controle total por muito pouco.
As trancas da porta de entrada fazem o seu barulho usual e eu me assusto. Isso não pode estar acontecendo!
...
Ei, ei! Eu dividi esse capítulo em duas partes porque deu quase quatro mil palavras, então né.
A parte 2 vai ao ar em breve.
Isa
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro