•Capítulo Vinte e Três•
Janete
— Eu comprei o café da manhã, Dantas já comeu. — Késsio falou quando finalmente paramos de nos agarrar na cozinha.
— Chocolate quente? — Perguntei quando ele me soltou e foi até o armário, onde tinha colocado tudo que tinha comprado.
— Também. — Ele pegou uma pequena sacola com torradas e um pequeno pote de manteiga. — Comprei um pouco de tudo, não sei do que exatamente você gosta.
Me aproximei e fiquei ao seu lado, olhando enquanto ele passava manteiga na torrada com uma faca que ficava impressionantemente pequena em sua mão. Késsio olhou para mim enquanto colocava a torrada em um prato e começava a preparar outra.
— O que foi? — ele perguntou, dividindo sua atenção entre mim e a torrada.
— Não é nada. — Respondi, encostando contra o armário e sorrindo. — Mas é tão surreal que você esteja aqui, preparando algo para mim comer. Isso tudo parece um sonho.
Késsio colocou outra torrada no prato e limpou os dedos na calça, se virando completamente para mim.
— Para mim também. Nos últimos meses eu não conseguia parar de pensar em você, no que você estava fazendo, se estava bem. — Ele olhou para o meu rosto por um momento, observando a minha reação as suas palavras.
— Isso é bom, não é? — Perguntei por fim, quebrando aquele clima desconhecido que estava se formando entre nós.
— Eu acho que sim. — Ele voltou a passar manteiga nas torradas, e um silêncio incomodo caiu sobre nós, deixando-nos absortos em nossos pensamentos.
Dantas
Em meus sonhos eu podia ouvir gritos, gritos de uma mulher, gritos cheio de dor. Podia ouvir uma voz familiar me pedindo para me afastar, implorando por isso. Eu conhecia aquela voz, eu ansiava ouvi-la todas as manhãs quando acordasse, suave, me desejando um bom dia, mas não queria ouvi-la como estava naquele momento, cheia de dor.
— Karine... — Ouvir minha própria voz me fez parar, eu não tinha falado aquilo... Eu já tinha vivido aquilo.
Olhei para frente e vi a mulher de cabelos escuros, ela estava de pé na beira do terraço do prédio, abraçando seu próprio corpo, que tremia.
— Karine! — Chamei por ela de novo, mas ela não olhou para mim. Sabia que ela não estava bem, pois ainda chorava, e a cada segundo que passava meu coração apertava mais, o desespero me consumia porque cada segundo a mais era uma oportunidade que ela tinha de pular. — Eu vou sair da sua vida, você nunca mais vai ouvir falar sobre mim, nem da minha família, então por favor... Saia daí.
— Você não entende, Dantas, eu não quero mais continuar assim.
Karine parou de chorar, o vento forte que nos açoitava parou repentinamente. Ela se virou para mim, e quando vi o seu rosto, recuei um passo, aterrorizado. Ela estava em carne via, um cadáver de pé, em decomposição. O vento voltou a soprar e o aroma fetido veio com ele, me fazendo tossir, fazendo meu estômago embrulhar.
— Me deixe ir! — O cadáver gritou para mim, o cadáver de Karine, que continuava me olhando, mesmo naqueles poços escuros onde uma vez estiveram seus olhos, ainda tinha tristeza, dor. — Apenas me deixe ir, me deixe descansar em paz!
— Mas eu não... Consigo... — Caí sobre os meus joelhos aos prantos, as lágrimas em meus olhos escorrendo pelas minhas bochechas, meu peito apertando.
— Dantas. — Chamou sua voz, dessa vez mais próxima, e quando olhei para cima, Karine, de volta a sua forma normal, estava diante de mim. Seus olhos escuros me fitando com profunda tristeza. — Você precisa me deixar ir, você precisa...
— Dantas? — Abri os olhos e encontrei o rosto preocupado de Janete olhando para mim.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, me sentando. Ela se afastou um pouco, mas não muito, e continuou me olhando.
— Não.
— Ótimo. — Olhei para os lados, franzindo o cenho quando não vi sinal de Késsio em nenhum lugar. — Onde está Késsio?
— Ele saiu faz algum tempo.
— Porra. — peguei meu celular no bolso da minha calça. — Dormi o dia todo. — Já se passava das cinco da tarde, não tinha dormido tanto fazia dez anos.
— Você está bem? — Janete perguntou, o que me fez olhar para ela com um pouco de surpresa.
— O que a faz pensar que eu não estou bem? — perguntei, mais por estar surpreso com sua preocupação, estava acostumado a receber apenas o medo das pessoas, principalmente das mulheres.
— Tem algo em você que não sei explicar.
Olhei para o celular em minha mão, sentindo um leve formigamento por trás dos olhos. Que porra, Dantas!
— Eu tenho que ir. — Falei, colocando o celular de volta no bolso e me levantando. — Diga a Késsio que vou estar logo ao lado.
Com isso, me levantei e saí, deixando-a sozinha. Fui para o apartamento do lado e assim que estava sem companhia, permiti que as lágrimas que estava segurando saíssem.
Me sentia um fraco. Fraco. Fraco.
Késsio
Era sábado e eu tinha abortado a missão, mas eu ainda verificaria se a informação que o pequeno merdinha de Charlie me deu era verdadeira. E era. No entanto, como Luke e eu previmos, Charlie sabia de tudo. Já se passavam das oito horas da noite e Charlie tinha chegado a alguns minutos, o merda de cabelos loiros escuro parecia mais um Ken da vida real, tão afeminado quanto o personagem. Ele se vestia como um garoto no colegial, o famoso playboy riquinho, com sua camisa pólo de gola e calça cargo. E tinha aquele sapato de velho que eu não sabia o nome.
Ele estava rodeado de homens, todos vestidos com roupas normais, mas que escondiam algo a mais por baixo daquelas roupas.
O lugar que o garoto tinha dito estava escrito PUB, mas mais parecia uma balada. E eu tinha pensado que seria um restaurante no fim, mas quando vi, lembrei que os russos adoravam lugares tumultuados que dava para se misturar.
— Que porra. — Resmunguei dentro do carro, olhando para o lugar. Teria que entrar, mesmo que não fizesse nada. Estaria indo contra a ordem de Luke, mas eu precisava ver o que eles estavam fazendo.
Peguei minha SIG e saí do carro, batendo a porta para fechá-lo. Atravessei a rua e fui para o pub - boate, e passei facilmente pelo segurança. Assim que entrei, a música alta bombardeou meus ouvidos. O lugar estava cheio, sequer tinha jeito de ver algo claramente por conta dos corpos se movendo e das luzes que açoitavam a minha visão.
Dei a volta pelos fundos e fui na direção da placa que indicava os banheiros.
Desviei de algumas pessoas que passaram por ali, duas mulheres sorriram para mim, mas apenas ignorei e continuei procurando. Com certeza devia ter uma ala privada.
Perto das paredes estava vazio, então andei ao lado dela para não ter que ficar desviando das pessoas, sempre olhando para os cantos e para cima.
Vi Charlie um tempo depois, ele estava na parte de cima. Uma pequena área que permitia que ele tivesse uma visão amplificada da boate. Me aproximei do bar e me sentei de costas para ele, dessa vez onde tinha mais pessoas. Uma mulher e um homem alto serviam as bebidas. O homem, devo admitir, bem apessoado, sorria e flertava com as clientes, enquanto a mulher o repreendia apenas com o olhar.
Estreitei os olhos, olhando melhor ao redor.
— Você vai querer alguma coisa? — A mulher perguntou, sorrindo para mim.
— Uma água.
— Com limão?
— Não, apenas água. — ela acenou e saiu. Logo ela estava de volta com uma garrafa de água.
— Aqui. — peguei a garrafa, mas não tomei.
— Quem é o dono dessa boate? — Perguntei, a mulher parou o que estava fazendo e olhou para mim.
— Você não sabe? Todos aqui no Brooklyn sabem.
— Eu não sou daqui.
— Ah! — Ela voltou a fazer o que estava fazendo. — É de Ashworth.
Olhei ao meu redor, só então percebendo a fria em que tinha me metido.
O capitulo não ficou como eu queria, mas não consigo me concentrar corretamente hoje. Então, fiz o meu melhor, espero que tenham gostado e até o próximo!
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