•Capítulo Vinte e Oito•
Dantas
Caio riu, eu ignorei, ou iria matá-lo ali mesmo. Já estava louco para matar alguém a alguns meses. Era como uma abstinência, eu precisava de sangue, carnificina para manter minha cabeça em ordem, colocar a raiva e o rancor para fora.
— Ela estava muito receptiva comigo, então você chegou e acabou com tudo.
Por algum motivo, ficar do outro lado da rua vendo Caio flertar com essa garota me fez vir até aqui. Eu não a queria, não mesmo. Mas tinha algo sobre ela que me fez mudar de ideia. Eu não ia transar com ela, mas ia descobrir o que exatamente estava me atraindo para ela.
Naquele momento ela estava apoiada no balcão, de costas para nós. Tinha um corpo bonito, um torço magro e seios mais volumosos e uma anca um pouco mais larga, mas não muito. Se fosse a dez anos atrás talvez eu tentasse algo com ela, mesmo que fosse só sexo casual, mas agora eu não sentia a menor vontade.
Sexo para mim passou a ser algo cada vez menos presente, e cada vez mais rançoso. Eu não sabia mais o que era desejar uma pessoa.
— E como Luke está? — perguntei, tentando tirar sua atenção da garota.
— Cada vez mais babão, nem Julia o suporta mais.
— Todos nos sabemos que ele será um ótimo pai.
— Sim. — Caio respondeu com um sorriso, ele sabia o que eu estava tentando fazer. — E julia está animada, já que Janete deve ter o bebê quase na mesma data que ela.
— Imagino. — Olhei sobre seu ombro para a mulher, ela estava tentando disfarçar seu olhar, que sempre voltava para nós, mas era péssima nisso.
— Mal vejo a hora de conhecer meu sobrinho. — Isso era verdade.
A cada dia que passava eu olhava para Janete e imaginava como Késsio era sortudo por tê-la. Além de linda, era compreensiva, atenciosa e engraçada.
— A Famiglia está crescendo, e Enrico quer comemorar isso com uma grande festa. — Mal tinhamos notícias do Capo. Ele ficava lá, enfurnado na Italia, cuidando dos negócios grandes de verdade.
— Estava pensando em ir passar uma temporada na Italia assim que meu sobrinho nascer. Dar tempo a Késsio e a Janete, deixá-los sozinhos.
— Késsio vai sentir sua falta, você sabe.
Meneei a cabeça em negação.
— Ele tem a Janete e isso é o mais importante. Eu preciso sair daqui, esse lugar está me sufocando cada vez mais.
— Tudo vai dar certo.
Olhei para Caio, ele sabia que não era verdade, tudo deu errado anos atrás, quando ela morreu e levou minha felicidade com ela.
Katty
— Como pode, dois homens lindos e musculosos em um dia? — Perguntei a Denner ainda sem acreditar.
Denner olhou para mim com um olhar inconformado.
— Você não conta, é meu chefe.
— E gay. — completou.
— Certo, e gay. — sentei na banqueta, ainda tinha mais alguns minutos antes do pedido dos dois colírios ficar pronto. — Eu deveria soltar meus cabelos?
— Daria muito na cara, você não acha? E você fica linda de qualquer jeito.
— Aaahh, obrigado. — falei piscando os olhos.
Colin chegou com o pedido dos dois homens, peguei a bandeja que ele colocou em cima do balcão e me virei, indo para aquela mesa.
Soprei uma mecha de cabelo do meu rosto e parei sorri assim que cheguei a mesa, os dois homens olharam para mim.
— Vocês vão amar a refeição, substitui uma janta, já que Colin é bem generoso. — Tagarelei, pegando os pratos e colocando na frente de cada um.
Coloquei a bandeja debaixo do braço e olhei para cada um. Sim, os dois eram lindos, mas o de olhos acinzentados e barba por fazer era amedrontador, mas muito lindo. E ele me chamou a atenção.
— Já volto com a bebida de vocês. — Voltei para o balcão e peguei os dois copos de leite. — Aqui está. — Falei, colocando um copo na frente de cada um.
O homem mais sorridente olhou bem para mim.
— Qual o seu nome? — Ele perguntou, seus olhos colados em meu rosto.
— Katty. — Lhe dei um sorriso de boca fechada. — E o seu?
— Sou Caio, e esse é meu amigo Dantas. — falou, apontando o outro homem. — Ele é um pouco sério, mas logo você se acostuma.
— Haaã. Certo. — sorri, segurando a bandeja na frente do corpo. — É um prazer conhecer vocês dois. Voltam sempre e apreciem a refeição.
— Obrigado, Katty.
Saí dali e fui atender as outras mesas, afinal, Denner estava a muito tempo olhando para mim. E isso significava "Vá atender as outras mesas!".
Já passava das oito da noite quando saí da lanchonete, as ruas ainda estavam movimentadas, e aproveitei essa deixa para ir para casa. Estava andando rápido, com as mãos dentro dos bolsos do meu casaco, já que não tinha luvas. Eu recebia uma boa quantia na lanchonete, já que era bem movimentada, Denner e Colin não tinham problemas para me pagar.
Estava ouvindo música em meu fone de ouvidos, e estava tão absorta na canção que nem prestara atenção no que estava acontecendo ao meu redor.
Atravessei a rua sem olhar e tive que pular para o passeio, um carro passara raspando em mim. Tirei os fones de ouvido e prestei mais atenção. E tinha Mark, que poderia estar me seguindo. Afinal, esse era o passatempo dele nos últimos meses.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem rápida para Denner.
Quase chegando em casa.
A resposta veio imediatamente.
Tranque as portas e as janelas, me mande mensagem ou ligue qualquer coisa.
Sorri, Denner era um amor.
Certo, obrigado.
Voltei a guardar o celular no bolso do casaco e virei a rua, já conseguia ver a minha casa de longe. Ela não tinha cerca ou muro, era de tijolos marrom, de dois andares e tinha janelas quadradas de vidro. A pouco tempo coloquei cortinas escuras, exatamente para caso Mark estivesse por perto não conseguisse ver do lado de dentro.
Atravessei a rua correndo e entrei na casa fechando a porta.
Agora tinha que fazer meu jantar, e tentar sobreviver até o próximo dia.
Liguei a luz e tirei meu casaco, colocando no gancho que ficava atrás da porta da sala. Tirei meus sapatos ali mesmo e fui para a sala que ficava conjugada a pequena área de entrada, ligando a luz no caminho.
Assim que entrei na cozinha escura, soube que algo não estava certo. Sequer tive tempo de correr, fui agarrada por trás, um braço circulando a minha cintura com força e uma mão tampou a minha boca.
Meu coração foi lá na boca, pois eu conhecia bem aquele cheiro, convivi por seis anos com ele.
Mark.
— Katty. — Disse a voz que eu conhecia tão bem. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu pisquei várias vezes, tentando contê-las.
Como ele tinha entrado ali? Deus, que porra Mark estava pensando... Ele sabia que não podia chegar perto de mim, mas merda, ele estava pouco se fodendo pra isso. Eu deveria saber, mas tola, ignorei o que a minha intuição disse esse tempo todo, era questão de tempo até ele fazer alguma coisa.
Mark enfiou o rosto em meus cabelos e inspirou fundo, podia sentir seu corpo duro atrás de mim, sua excitação, e aquilo me deixava anojada.
— Eu senti sua falta. — Falou ao meu ouvido. — Eu sei que você não quis fazer o que fez, por isso estou aqui para te dar uma chance de acertar as coisas comigo.
Não consegui mais segurar e as lágrimas que estava prendendo desceram pelas minhas bochechas, parando na mão dele em minha boca.
— Oh meu deus, você até se emocionou! Não se preocupe, nós vamos conversar. — Sua voz estava com um tom completamente doentio, e a cada segundo que eu passava na companhia de Mark, eu sentia que era um segundo mais próximo da minha morte. — Venha.
Ele me levou para a mesa que tinha na cozinha, então me soltou. Respirei fundo e olhei para trás rapidamente, me virando de frente pra ele.
— Mark. — Minha voz saiu falha, nem eu estava me reconhecendo naquele momento. — Mark, você não pode vir aqui.
Sua expressão ficou séria, a mesma que ele fazia antes de me bater.
— Eu sei que você está preocupada comigo. — Ele deu um passo mais perto de mim e apontou a cadeira. — Sente-se.
— Mark...
— Senta. Na. Porra. Da. Cadeira! — Gritou, ainda apontando a cadeira.
Sem tirar meu olhar dele, fui para trás e arredei a cadeira, assim que me sentei, o perdi de vista.
Ouvi seus passos se aproximando atrás de mim e fechei os olhos, chorando silenciosamente, tentando fazer minha mente acreditar que aquilo era só um pesadelo, que não estava acontecendo de verdade.
— Nós podemos resolver isso de duas formas. — Ele disse, então senti sua mão no meu ombro, apertando com força. — Você se ajoelha e implora pelo meu perdão... — Então sua voz estava em meu ouvido, sussurrando. — Ou eu vou fazer do meu jeito.
Apertei os olhos fechados e inspirei forte pela boca.
— Você decide, amora. — sua mão apertou com mais força meu ombro. — Você não vai querer que seja do meu jeito.
Eu teria que fazer aquilo, ou só deus sabe o que ele faria comigo.
Me levantei e virei para ele, então me ajoelhei em sua frente, meus olhos focando em lugar nenhum, nem mesmo nele, e falei:
— Por favor, me perdoe.
— Diga olhando para mim. — Disse, agarrou meu rosto com a mão e me fez olhar para ele. — Agora sim, diga.
— Por favor, me perdoe. — Ele sorriu, e aquilo fez mais lágrimas virem aos meus olhos.
— Diga de novo, parece que você não quer isso, mas eu sei que você quer.
— Me perdoe... — Fui interrompida, pois ele acertou meu rosto com um tapa, lançando minha cabeça para o lado.
Abri a boca, respirando assustada e toquei o rosto, voltando a me indireitar e olhar para ele.
— Fale direito, vadia! — Gritou, agarrando meus cabelos. — Implore pela porra do meu perdão!
Eu estava perdida, tão perdida, não sabia mais o que fazer, não tinha como correr, Mark era mais forte, ele me pegaria e...
— Por favor, me perdoe. — Disse entre o choro, ele levantou a mão para mim novamente e eu recuei, mas ele não me bateu, me incitou a continuar. — Eu te amo, não sei onde estava com a cabeça quando te denunciei. Eu não vou fazer mais isso.
— Diga de novo que me ama.
— Eu te amo.
Com isso, ele me puxou para cima e contra ele, me abraçando, sem saber o que fazer, atordoada e com a cabeça rodando, o abracei de volta.
— Agora, amanhã, quero que vá até o seu trabalho e se demita, não se preocupe, eu vou vir morar com você e te manter.
Olá meus amores, estou aqui, tentando voltar aos poucos.
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