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•Capítulo Trinta•

Dantas

A noite estava fria, resultado do dia ensolarado. Eu vagava pelas ruas de Manhattan  a procura de qualquer coisa que chamasse a minha atenção,  mas como sempre, não tinha nada. 

Mas a garçonete continuava voltando a minha cabeça, e eu me via novamente em frente a lanchonete fechada. Em cima, no apartamento que eu sabia que os donos da lanchonete moravam, as luzes estavam acesas, e quando me dei por mim, estava subindo as escadas nas laterais da lanchonete até o alto, onde estava a porta e uma pequena varanda. 

Toquei a campainha e ouvi os passos do outro lado, logo a porta foi aberta pelo loiro mais alto que eu. Ele olhou para mim, confuso. 

— Boa noite. — Cumprimentei. 

— Boa noite, a lanchonete está fechada. 

Levantei uma sobrancelha para ele.  

— É, eu percebi. — Ficamos olhando para cara um do outro. — Sua garçonete…

— O que tem ela? — Perguntou,  e eu vi como ele ficou agitado. 

— Tem um homem a perseguindo a dias, e hoje eu a vi com ele. 

O loiro começou a tremer, o grande corpo como se estivesse tendo calafrios. 

— Por que quer saber? 

— Eu posso ajudá-la.  

Ele olhou para mim por um momento, como se considerando a ideia. 

— O que você pode fazer? 

— Primeiro me diga o que está acontecendo e eu saberei. 

Ele passou a mão pelo rosto e se colocou de lado, abrindo caminho para mim. 

— Entre por favor. 

Entrei na residência, o local era bem arrumado, com paredes cinzas escuro e bancadas de granito preto, com uma grande cozinha conjugada com a sala e mais um cômodo,  que supus ser o quarto. O outro homem, o moreno, estava no fogão cozinhando algo, e assim que ele me viu franziu o cenho. 

— Oh, olá.  O que faz aqui? — perguntou, indo para junto de seu companheiro. 

— Ele veio nos ajudar com Katty. 

— Oh meu deus, certo! Sente-se ali no sofá,  já me junto a vocês.  

O loiro me guiou para um dos sofás pretos que estava na sala e enquanto eu me sentava, ele se sentou no outro. 

— Me conte tudo. — Pedi, colocando os cotovelos nos joelhos.  

O homem suspirou e logo o seu parceiro se sentou ao lado dele, enxugando a mão com um pano de prato.

— Aquele homem se chama Mark, e foi namorado de Katty durante alguns anos. Já faz um tempo que ele ficou agressivo e começou a bater nela, mas Katty demorou para se separar dele, tinha poucos meses que o tinha feito, e conseguiu uma medida protetiva contra ele. Funcionou por algum tempo. 

O moreno meneou a cabeça com pesar. 

— Ela sabia que estava sendo perseguida de uns dias para cá,  Colin e eu oferecemos abrigo, pois na casa onde ela mora é muito perigoso.  Mas ela não quis porque é a única ligação que ela tem com os pais falecidos.

— E então? — Perguntei, incitando-o a terminar. 

— Mark apareceu na casa dela ontem, e… Merda, não quero nem imaginar o que ele fez com ela. Mas hoje ela veio aqui e pediu demissão forçada por Mark,  e também pediu ajuda, para encontrarmos alguém que a ajude e acabe com Mark, mas Colin e eu não temos qualquer tipo de ligação com alguém que possa ajudá-la. Eu me ofereci a ir lá e acabar com ele mas ela tem medo de ele ter algum tipo de arma. 

— Mark é um abusador. — Falei, sentindo uma chama acender nas minhas veias. — E eu sou a pessoa que vai ajudá-la.  Katty,  não é mesmo? 

Eles concordaram. 

— Mas quem é você? — O Colin perguntou. 

— Sou Dantas, executor da máfia local, a Cosa Nostra. Guardem essa informação com a vida de vocês,  e eu sou o único que pode ajudar Katty agora, sem ter problemas com a polícia.  

Eles olharam um para o outro.

— O que podemos fazer para ajudar? 




Katty

A comida estava cheirosa, mas o mesmo cheiro fazia meu nariz arder. O fato de eu estar fazendo isso para Mark é o que deixava tudo… podre. 

Todo o meu corpo doía pelas últimas horas, por ter Mark novamente… em mim. E ele não se cansava, continuava e continuava, ignorava o meu choro, e me batia, me chamando de criança, falando que eu não aguentava nada.

Porra, como aquilo doía,  não o ato em si, mas o fato de outra pessoa não respeitar seu corpo, suas decisões. Mark estava tão doente, preso a mim. 

Desliguei o fogo e escorri toda a água da massa. 

Peguei o molho de queijo e coloquei na mesa, e virei a massa em uma tigela de vidro. Alguém precisava me ajudar rápido,  eu não estava aguentando mais. 

Mark veio da sala, onde assistia televisão e se sentou na mesa. 

— Uau, o cheiro está ótimo meu amor. — Falou, esfregando a mão uma na outra. 

— Fiz para você. 

Coloquei um prato na frente dele e fiquei observando enquanto ele se servia, animado. Parecia o Mark de antes de tudo isso, mas eu sabia como era doente, louco. 

— Coma bastante.  — Falei, olhando para fora, pela janela sobre a pia. A rua estava além dos arbustos secos e eu podia ver os carros passando, de vez em quando alguém descia a rua. A escuridão já tinha tomado o céu. 

Olhei para o relógio. 23:37 da noite, era quase madrugada. E nada. Ninguém viera me ajudar. Mas eu sabia que alguém viria, Denner me prometeu. 



Algumas horas depois.

— Katty, meu amor, venha cá.  — Acordei com a voz de Mark em meu ouvido. 

Todo o meu corpo arrepiou, estava nua novamente, pois ele exigiu que eu dormisse assim. E ele estava… atrás de mim… querendo novamente.  

Fechei os olhos, sentindo as lágrimas saírem. 

— Você está chorando de novo? — perguntou com voz irritada. 

— Me desculpe, eu só estou passando um pouco de mal. 

Mark me virou para cima e se sentou, olhando para mim. 

— Eu odeio quando você chora. — Falou, sua mão acariciando minha bochecha. — Eu vou fazer você se sentir bem. 

Ele abriu as minhas pernas e se colocou entre elas, instantaneamente senti meu estômago revirar,  a ânsia vindo com tudo. Me virei rapidamente e vomitei sobre o chão, todo o meu corpo retesando com os espasmos. 

— Porra! — Mark se levantou e correu para o banheiro. — Você vomitou em mim. 

— Desculpe, eu falei que não estava bem. 

— Mas vomitar em mim! O que está acontecendo com você Katty? — Ele parou por um momento. — Você ficou com outro depois de mim? 

— Não,  não fiquei com ninguém. — Ele agora estava sério e vinha para mim. — Mark… !

— Ficou sim, e talvez esteja grávida,  por isso tanto mal estar. — Ele agarrou meus cabelos, puxando minha cabeça para trás.  — Eu prefiro tê-la  morta, do que com o filho de outro!

Ele levantou seu punho cerrado, e eu gritei.

— Mark, não! 

Mas o soco não veio, e Mark foi jogado com tudo para o chão aos pés da cama. 

Encostei contra a cabeceira da cama assustada e foi quando vi, o homem da lanchonete, o de cabelos mais compridos. Ele… Ele… Eu havia esquecido o nome!

Mark se empertigou no chão e se levantou. 

— Porra…! — Exclamou quando viu o homem, e os dois foram com tudo para cima um do outro, Mark nu, e o homem completamente vestido. Todo de preto. 

O homem deu um soco no rosto de Mark, que o lançou contra a parede e o segurou lá pelo pescoço. Mark ficou vermelho, seus olhos não saíam de mim. 

— Um merdinha que gosta de bater em mulher. — O homem disse, e sua voz estava irreconhecível.  — É o meu tipo. 

E com isso, socou Mark contra a parede uma, duas  vezes e o jogou no chão,  chutando-o várias vezes por todo o corpo. Mark segurou a perna do homem e o puxou para o chão, o que acabou levando-o para cima dele, e Mark foi socado várias vezes na cara, e eu podia ouvir o barulho da carne de Mark sendo massacrada pelos punhos letais do homem. 

Os cabelos de Mark foram agarrados e sua cabeça socada com força contra o chão,  várias e várias vezes, até eu ouvir o osso se quebrando, o sangue espirrando para todos os lados, e Mark deixou de lutar, ficando mole. Mas o homem não parou, se levantou e levou Mark com ele, arrastando-o pelo chão até a janela aberta. 

Ele pegou Mark como se fosse um boneco de pano e o jogou pela janela, do segundo andar da minha casa, e eu pude ouvir o corpo caindo com tudo no chão.

Ainda não podia acreditar que aquilo estava acontecendo,  ele viera me… salvar!

O homem se virou para mim e a máscara de ódio que cobria seu rosto caiu quando me viu, só então percebi que ainda estava nua.  

— Oh meu deus… — Me cobri com a coberta e ele andou pelo quarto, passando pelo sangue no chão até que estava na porta.

— Vista-se e desça,  você não pode ficar aqui. 

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