•Capítulo Doze•
Késsio
Saí do apartamento de Janete por volta das 23h da noite, ela ainda estava dormindo e decidi não acordá-la. Olhei para a porta do apartamento ao lado e fiz uma nota mental para resolver aquele problema quando voltasse. O som ainda estava ligado, e eu estava me perguntando como Janete conseguia dormir com todo aquele barulho.
Desci os lances de escada e saí do prédio na noite fria, conferindo minha Sig Sauer no cós traseiro da minha calça jeans. Meus outros equipamentos permaneciam dentro do carro, era mais seguro mantê-los longe de Janete.
Atravessei a rua silenciosa e entrei em meu carro. Sentado atrás do volante, puxei a gola do meu casaco para cima, para aquecer o meu pescoço e dei marcha ré no carro, antes de sair silenciosamente pela rua. Seguiria para o leste de Brownsville*, e esperaria por algum sinal de Charlie. Esse desgraçado teria de aparecer.
A noite esfriara mais a medida que a madrugada chegava, mas o aquecedor da lanchonete 24horas me mantinha aquecido enquanto eu me mantinha sentado perto da saída de emergência, perto da janela de vidro. As ruas estavam desertas, apenas um carro passava por ali de vez em quando, mas nenhum sinal dos pequenos marginais de Charlie.
Fora como eu imaginei, a partir do momento que Charlie soube que tinha alguém aqui atrás dele, o pequeno merdinha enfiaria o rabo entre as pernas e recolheria seus pequenos marginais da rua.
Peguei o meu celular e olhei as horas. Uma e trinta da manhã. Me perguntei se Janete havia acordado e percebido que eu não estava lá, ela com certeza sabia que algo estava acontecendo. Como ela não saberia? As mulheres sempre foram mais inteligentes do que os homens, mesmo que a maioria do sexo masculino não aceitasse isso. O homem tem a força bruta, mas não tem a inteligência que uma mulher possui, o que é mais importante.
Tomei um gole da água com gás que pedira. Dois adolescentes, aparentando ter entre 16 e 19 anos vieram pela rua do lado de fora, o andar desleixado dos dois deixando claro que eram mais dois meninos metidos a marginais.
Eles empurraram a porta da lanchonete com força desnecessária e entraram, suas vozes altas e escandalosas enchendo o local. Eles foram até o balcão e ficaram tão ocupados intimidando a atendente que sequer notaram a minha presença.
— Me passe uma cerveja, vadia. — O outro menino riu.
A mulher pegou uma garrafa de cerveja e colocou na mesa, seus olhos vindo para o fundo da lanchonete onde eu estava sentado, observando tudo.
— São 5 dólares… — Ela disse, sua voz baixa.
— Não iremos pagar. — O jovem ladrou, ela abriu a boca para retrucar. — Cale essa sua boca gorda.
Ele disse mais alguma coisa com ela e o outro começou a rir. Mas eu não ouvi, pois estava focado demais nos olhos amedrontados da mulher que me fitava de trás do balcão, ela estava envergonhada.
Quando ela não disse nada, os dois garotos falaram mais alguma ladainha e se viraram para sair, mas acabaram me vendo sentado no fundo da lanchonete, com o olhar fixo neles. Os dois pararam por um momento, as expressões presunçosas sumindo dos rostos jovens.
— Vamos, cara. — O jovem que não comprou nada falou em tom baixo.
Eles saíram apressados da lanchonete e eu me levantei, atraindo o olhar da atendente para mim novamente. Parei em frente ao balcão e coloquei uma nota de cinquenta na superfície lisa e me virei, saindo sem falar nada.
O vento frio bateu em meu rosto quando saí pela porta. Olhei para o lado e lá estavam eles, andando rapidamente em direção a primeira esquina que havia ali.
Atravessei a rua e apertei o botão no pequeno controle para destravar as portas do meu carro, o que fez um pequeno barulho. Os dois adolescentes saltaram e olharam para trás.
Fingi que não os tinha visto, entrei no meu carro tranquilamente e sentei atrás do volante, me ajeitando sem pressa enquanto observava os dois virando a esquina.
Merdinhas medrosos, pensei sorrindo.
Girei a chave na ignição e dirigi devagar para fora dali, virando a esquina no fim da rua e seguindo os moleques de longe, com os faróis desligados. Eles sabiam que eu estava seguindo-os, e também sabiam que eu não era um idiota qualquer como eles, que gostava de se gabar porque tinha um revólver fulero e vendia drogas em uma esquina.
Chalie estava fazendo um péssimo trabalho colocando aqueles meninos para trabalhar para ele. Sequer foram treinados adequadamente, se caíssem nas mãos do inimigo — eu, no caso, — não precisaria ir muito longe para arrancar as informações necessárias deles.
O marginal do dia anterior fora prova o suficiente disso.
Segui eles por mais alguns metros, até que eles entraram em uma casa. Estacionei e fiquei ali por um tempo, vigiando debaixo de uma árvore. Pelas janelas eu podia ver sombras correndo para lá e para cá. Eram de crianças, brincando.
O que esses fodidos merdinhas estavam pensando se metendo com Charlie? Não sabiam que na primeira oportunidade estaria colocando suas próprias vidas em risco, e pior, a vida de suas famílias?
Balancei a cabeça, triste com aquilo. Eles tinham uma escolha e a estavam fazendo errada. Podiam estudar e seguir a vida normalmente, mas estavam se metendo com pessoas perigosas que não davam a mínima para as suas vidas.
Decidido a sair dali, girei novamente a chave na ignição e parti, dirigindo pelas ruas de Brownsville e em direção ao apartamento de Janete. Parei no último semáforo indo naquela direção, mesmo a rua estando deserta, parei apenas para matar o tempo. Janete imediatamente me veio a mente.
Aquela mulher estava acabando comigo, tirando a minha concentração de coisas vitais, embora ela não estivesse ciente disso. Tamborilei os dedos no volante, lembrando do que tinha acontecido no dia anterior, apenas algumas horas atrás, como ela se contorceu sob mim, pressionada contra aquele armário.
Mas não era apenas sexo, tinha algo nela que estava me atraindo como um imã. Eu simplesmente não conseguia tirar ela da cabeça. Nesses últimos três meses que ficamos longe um do outro eu olhava para outras mulheres, pronto para dar o próximo passo, mas só Janete me vinha a mente. Como uma praga, consumindo cada espaço do meu cérebro.
Suspirei, perdido em pensamentos sobre ela, e não vi que alguém se aproximava pela lateral do carro.
A batida alta soou na janela ao lado da minha cabeça eu encontrei o cano de uma pistola apontado diretamente para o meu rosto.
Bela merda, pensei, um pouco de diversão seria bom.
Abri a porta do carro, ignorando o que o homem latia do lado de fora e deixei que ele se jogasse para dentro do meu carro, mas, no último momento o puxei para fora pela parte de trás da jaqueta, jogando-o o mais longe que pude. Sua arma caiu de sua mão, longe de seu alcance e ele arfou, se mantendo em seus pés enquanto levantava os seus olhos escuros para mim, como um cachorro bravo.
Fiquei parado, esperando o ataque que eu sabia que viria, e ele veio nem meio segundo depois. O homem se lançou para mim, acertando um soco no lado do meu rosto, e outro bem na minha testa. Ele era desleixado, seus socos descordenados, não me surpreenderia se quebrasse o pulso durante o ataque.
Deixei o meu corpo cair contra o carro e quando ele veio para cima de mim, agarrei o seu punho no ar. Sorri para ele, satisfeito com sua expressão surpresa.
— Acho que já deixei o bastante. — Torci o seu punho para baixo, me deliciando com o grito do homem, sem soltá-lo, e com o punho direito, acertei um soco certeiro em seu nariz. O sangue desceu imediatamente e eu o soltei, seguindo o homem quando ele cambaleou para trás, segurando a mão quebrada com a mão boa e bufando pela boca.
— Quem é você? — Ele perguntou, perplexo.
O homem caiu de joelhos no chão e eu me agachei na frente dele, descansando os cotovelos nos meus joelhos. Ele me fitou com seus olhos agora amedrontados e eu apenas sorri, pois em situações como aquela a adrenalina, a sede por sangue e por tortura cantava alto em meu sangue, dançando em minhas veias rapidamente. Dantas e eu éramos parecidos, no fim das contas, eu só mantinha a minha sede de sangue em controle, e a soltava nos momentos certos.
— Ninguém. — Me levantei, ainda ficando em sua frente. — Cuidado, você pode não sair vivo da próxima vez.
Sem avisar, acertei um chute certeiro em seu estômago, o homem se curvou, gemendo, e começou a tossir. Agarrei seus cabelos escuros e levantei a sua cabeça, e não esperei para acertar um soco certeiro e seu rosto, tão forte que o desacordou no mesmo momento.
— Talvez eu devesse adotar alguns métodos de Dantas. — Resmunguei, voltando para o carro.
Pouco mais de cinco minutos depois, eu estava na escadaria do prédio em ruínas onde Janete morava e indo em direção ao seu apartamento. Abri a porta — que ainda estava destrancada, o que significava que Janete estava dormindo, — e fui para o quarto dela. E sim, ela estava na cama, esparramada, a coberta mal cobrindo-a, deixando toda aquela pele pálida a mostra.
Observei-a dormir por alguns minutos e fui para o banheiro, lavei a bochecha dolorida e a testa que começava a inchar e depois de secar, saí e fui para a sala. Não tinha sono, nenhum. Então resolvi ficar sentado no pequeno sofá da sala de Janete enquanto as últimas horas da madrugada passavam.
— Késsio?
A Sig Sauer do Késsio⬇
Pistola Sig Sauer P226 X-Short Classic Cal.9x19
*Brownsville: Brownsville é um bairro residencial localizado no leste do Brooklyn, na cidade de Nova York. Também é o bairro com maior taxa de criminalidade de NY.
Espero que tenham gostado!!!!! Até o próximo capítulo!!!
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