•Capítulo Cinco•
Jack, o homem que me ajudou, me trouxe para casa depois que eu fui atendida no hospital. Ganhei um pequeno corte na nuca e o médico me fez ficar lá na intravenosa, recebendo soro na veia — porquê estou desidratada — por duas horas, e também foi o tempo que ele disse que eu não podia dormir. E a única coisa que eu queria fazer agora era deitar e dormir, mas já estava tarde e eu precisava me aprontar para ir trabalhar.
Olhei as horas uma última vez, eram quase dez horas da noite. Me arrumei, vesti o uniforme da boate e peguei a minha bolsa.
Amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo essa noite, afim de deixar o corte tomar algum ar, o médico também disse que seria bom. Mas o frio essa estava mais do que extremo.
O trajeto até a boate foi, como sempre, cansativo, e quando eu cheguei e bati ponto a noitada já havia começado e Ian trabalhava a todo vapor.
— Graças a deus que você chegou. — Ian falou, já jogando o meu avental. — Hoje está mais movimentado do que nunca.
Sorri para ele de boca fechada e fui guardar a minha bolsa. Coloquei o avental e fui ajudá-lo.
Depois de algumas horas, estávamos no meio da madrugada quando Ian finalmente perguntou:
— Você está bem?
Não olhei para ele, me ocupei com os copos que estava lavando.
— Estou ótima. — limpei o suor da minha testa com a costas da mão.
Merda, o que estava acontecendo? Tudo estava girando novamente.
— Você está pálida. — neguei firmemente, enfiando as mãos debaixo da água.
— Só não consegui dormir direito.
— Janete, — Ian parou ao meu lado, seu corpo enorme me tirando da vista das pessoas que estavam sentadas no bar. — Você quer descansar um pouco? Eu seguro aqui por alguns minutos.
— Está bom, estou me sentindo fraca hoje. — falei, fechando a torneira e secando as mãos no avental. — Eu não vou demorar.
Ele concordou e foi atender os bêbados no bar. Peguei uma garrafa de água do freezer e fui para a despensa, sentando em um dos caixotes. Abri a garrafa de água e tomei um gole. No mesmo instante o meu estômago rebelou e eu desisti daquilo.
Suspirando, coloquei a garrafa no chão, descansei os cotovelos nos joelhos e coloquei o rosto entre as mãos.
Meu deus, nunca pensei que chegaria tão no fundo do poço assim. A minha vida depois que eu saí da casa dos meus pais sempre foi difícil, mas eu nunca tinha deixado de pagar uma conta, ou ficado sem comida.
O que eu faço?
Minhas mãos tremiam com o nervosismo e o suor brotava na minha testa. Estava tendo uma crise de ansiedade? Com certeza devia ser isso, com toda essa pressão que estou passando nos últimos meses.
Respirei fundo, a ânsia de vômito voltando. Merda. Endireitei o corpo e prendi o ar. Precisava relaxar urgentemente. O médico também disse que eu poderia ter vertigem e ânsia de vômito por causa da pancada na cabeça.
— Janete? — Ian chamou da porta da despensa. Olhei para ele e ele paralisou. — Meu deus, você está muito mal!
— Está tudo bem, é só ânsia de vômito. — falei, me levantando. Mas não fui muito longe, minhas pernas estavam bambas e eu desabei.
Ian me segurou no momento certo.
— Você vai ao hospital.
— Eu já fui... Essa tarde.
— Você vai de novo.
Olhei para ele, vendo o rosto do meu amigo girar.
— O bar...
— Eu vou ligar para Clhoe e Stella e pedir para virem mais cedo. — Ele me carregou em seus braços. — Veja só o quanto você emagreceu. Oh santa merda...
Não ouvi mais nada, pois desmaiei no próximo momento.
Esfreguei os olhos enquanto esperava a médica que estava atendendo naquele horário, doida para sair dali. Sempre odiei hospitais, todas as vezes que eu ia a um, recebia más notícias.
Ian estava em algum lugar do lado de fora me esperando. Assim que cheguei, eles me colocaram novamente no soro e recolheram meu sangue para fazer uma série de exames. Agora, não sei quantas horas depois, estava esperando a médica.
Olhei as horas no meu celular. Já passava das cinco da manhã e eu tinha perdido meio período do trabalho. Merda, aquilo seria descontado do meu salário.
A porta se abriu e eu me virei para ver uma mulher de meia idade entrando. Era loira como eu e tinha os olhos verdes claros. Ela sorriu para mim.
— Janete Galeman? — Perguntou enquanto ia até a sua mesa.
— Sim.
— Sou Megan. — Ela colocou os papéis, que supus ser os exames, sobre a mesa e olhou para mim com um sorriso. — E temos boas notícias para você. E más.
— Só diga.
Ela suspirou.
— Você está anêmica, a quantidade de ferro em seu sangue está surpreendentemente baixa.
— Eu já imaginava isso. — Resmunguei.
— Você precisa se alimentar melhor.
— Eu faria isso se tivesse dinheiro. — Respondi, de repente irritada. Quando percebi que estava descontando a raiva de minhas frustrações em uma pessoa que não tinha nada a ver com aquilo, suspirei, me sentindo a pior pessoa do mundo. — Me desculpe. Eu não queria falar desse jeito.
— Você está passando por um momento difícil, eu te entendo. — Ela disse com simpatia.
Maneei a cabeça afirmativamente e perguntei: — Que boa notícia é essa que você tem para me dar?
Ela sorriu, então disse: — Você está grávida!
Aquilo caiu como uma pedra no meu peito, me sufocando. Não consegui tirar os olhos da mulher na minha frente, abismada demais. Como... Como aquilo podia ser possível? Eu nunca fiz sexo desprotegido. Nem mesmo com Késsio... Oh merda.
Apoiei os cotovelos na mesa de ferro e segurei o meu rosto, sentindo o pânico crescendo dentro de mim.
Deus, grávida? E dele! Dele! Não percebi que estava chorando até que senti um toque suave no meu ombro.
— Janete?
Neguei com a cabeça, não queria olhar para ela, não queria fazer nada. Tudo o que eu conseguia pensar era em como contaria isso para Késsio. Entrar em contato com ele seria fácil, pois tinha Julia, mas se ele não quisesse assumir aquele filho e não me ajudasse... Eu não sabia o que faria.
Teria um filho, para ele passar fome comigo?
— Eu nunca pensei que viria em uma hora como essa... — Levantei meu olhar para a mulher. — Eu mal consigo pagar as minhas contas básicas, não consigo comprar a minha própria comida! Estou vivendo da sopa solidária que é servida na igreja, meu deus! E se o pai não quiser me ajudar... Oh deus, não quero nem imaginar.
Solucei, sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Acalme-se, tem um jeito para tudo.
Ignorei o que ela disse. Como pagaria as despesas médicas nesses nove meses? Teria que pegar um empréstimo no banco?
A única coisa que eu tinha certeza naquele momento era que, se Késsio não aceitasse aquele filho, eu seria obrigada a dá-lo a adoção. Não tinha condições de criá-lo sozinha e lá ele teria uma cama para dormir e comida na barriga... Se estivesse comigo? Provavelmente morreria de fome, ou iríamos para a rua.
— Janete, não pense em nada precipitado. — A doutora Megan disse. — Eu posso te ajudar com algo? Eu conheço uma ONG que faz doação de alimentos...
— Eu não tenho como cobrir as despesas médicas, doutora, eu não sei o que fazer.
— Eu sei que você vai dar um jeito. — ela segurou a minha mão. — Eu olho em seus olhos e vejo um mulher forte, uma sobrevivente.
Estava sentada no meio fio em frente ao hospital a espera de Ian, e durante esse tempo eu chorei como se o mundo estivesse desabando ao meu redor. E de certa forma estava. Estava tentando não pensar naquele brotinho que estava na minha barriga. Minha mente estava um completo caos.
— Então, como foi? — Ian perguntou, olhei para cima e vi ele parado com um milkshake em cada mão. Ele me entregou um e eu suguei como uma louca o canudo, me deliciando com o liquido doce, sabor chocolate.
— Eu estou grávida.
— O quê? — Ele gritou, surpreso.
— Eu estou grávida, merda, Ian!
Me levantei limpando as lágrimas do rosto e olhando ao redor.
— Meu deus, Janete.
— Sim. — Sorri sem ânimo. — E o melhor é que eu não tenho como bancar todas as despesas que um filho implicam.
— Mas e o pai? — Ele perguntou, seu cenho franzindo.
— Está em Manhattan.
— Ah, é o cara de Manhattan?
— Sim. — Olhei para a rua, desesperada. — Não fiquei com ninguém depois dele.
— Você vai contar pra ele?
— Sim, mas não agora. Nesse momento eu preciso discernir isso tudo e procurar uma forma de manter esse bebê.
Késsio
Olhei para a mensagem de Luke em meu celular novamente. Estava na hora de ir para o Brooklyn e dar um jeito em Charlie e o velho Ashworth. Estava louco para ir, mas não por esse motivo. O verdadeiro motivo tinha nome, e os olhos azuis mais bonitos que eu já vi.
Saí do meu carro e entrei no saguão do prédio onde Luke morava. Passei sem parar na recepção e fui direto para o elevador. Apertei o botão do andar onde Luke morava com Julia e o elevador começou a subir. Tinha que falar com ela, precisava de algo.
E só ela podia me dar.
Assim que o elevador parou e as portas deslizaram abertas, eu saí e fui para a porta do apartamento de Luke. Toquei a campainha e depois de um momento a mesma se abriu, revelando Julia, que vestia uma blusa de Booth.
— Késsio? — Ela disse, surpresa ao me ver.
— Oi.
— Estou surpresa. — Ela abriu mais a porta, me convidando para entrar. Mas era melhor não, afinal, Luke não estava em casa.
— Eu não vou demorar, só queria pedir algo.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— E o que seria?
Respirei fundo.
— Você poderia me passar o endereço da sua amiga?
Julia arregalou os olhos.
— Você quer o endereço de Janete? — franzi o cenho, me perguntando se ela tinha me ouvido direito.
— Sim.
— Meu deus. Você vai ir vê-la?
— Sim.
Ela negou algumas vezes, como se não tivesse acreditando naquilo.
— Certo... Eu vou perguntar a ela...
— Não diga nada a ela, não sei bem como ela pode me receber. — Julia pensou por um momento, então me respondeu.
— Está bem.
Olá meninas(os).
Não é uma volta definitiva, é só que eu estou buscando... Motivação, e eu sei que vou encontrar essa motivação e força para continuar aqui. Espero que tenham gostado. Até o próximo.
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