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49 - Vingança


Mal tínhamos posto os pés na areia da praia e um vento forte soprou em direção à água. Nós olhamos para trás e o mar estava sendo sugado para dentro das brumas. Então veio o tsunami.

A onda nos atingiu como um tapa, uma mão espalmada que esmaga um inseto. Fiquei completamente atordoada, dando voltas dentro d'água.

Nadei para a superfície, tossindo desesperadamente. Eu estava no meio do nevoeiro e logo a segunda onda me engoliu. Elisa me puxou para cima. Voltamos engasgando para a superfície.

Mas a sereia das brumas nos queria afogados e quebrou outra onda, nos forçando para baixo. Consegui emergir, o peito queimando de engolir água.

— Essa piranha está me irritando de verdade! ¾ Elisa apareceu tossido. ¾ Vou pintar as unhas com o sangue dela! Das mãos e dos pés! — gritou sua ameaça! — Bem vermelho!

E pude ver a imagem daquela loura irritada passando nas unhas um esmalte carmim. Nunca mais olharia para um frasco de esmalte vermelho da mesma forma!

— Vocês estão bem? — Gael nos encontrou.

— Não por muito tempo. — Elisa respondeu. — Ela vai continuar com a turbulência até nos afogar. Nossa única chance é voltar à praia mergulhando. Em baixo da água as sereias não cantam, então o único perigo são os olhos elas.

Não tivemos tempo de discutir mais nada, a sombra da água sobre nós só nos permitiu de tomar o mais fôlego possível antes de submergir.

A sereia etérea nos queria na água. Só que, se uma sereia quer você dentro da água, com certeza ela tem um bom motivo para isso.

O mar não era profundo e, por causa da agitação, a água estava escura e turva. Qualquer sombra ou vulto evocava na minha mente perturbada o bicho papão que outrora dormia embaixo da cama.

A falta de visibilidade, as algas que se emaranhavam em nós, as rochas que se assemelhavam a bocarras, e a consciência de podermos estar completamente perdidos, deixavam o meu peito carregado.

Estranhamente, não tinha aparecido sequer uma sereia. Eu esperava de todo o coração que isso não significasse que eu já estava afogada e não tinha percebido. Se o barqueiro aparecesse para buscar o meu corpo eu ia ter um treco!

Um brilho no leito chamou a atenção para a lâmina de uma faca curva. Agarrado ao cabo, um pulso sem o resto do corpo. Então notei os ossos. Caveiras espalhadas, engolidas pelas algas, crânios, esqueletos, pelves humanas. Um cemitério feito de sal e água.

O ar me faltou, o medo me empurrando para fora do mar. Eu precisava respirar! Eu precisava sair dali!

Mas o meu olhar foi fisgado por algo pior do que os ossos descarnados. O grito que me escapou desperdiçou o restante de ar que meus pulmões ainda prendiam.

Uma forma humanoide emergiu do chão.

Com uma fileira escrota de dentes, uma forma humanoide emergiu do chão. Espinhos dividiam o crânio em simetria, separando olhos selvagens e insanos. Aquela coisa avançava, crescendo sobre nós.

Gael investiu contra o animal. Mas o Gael era uma criatura de asas, uma criatura dos ares, comparado àquilo, ele nadava com a agilidade de uma pedra. Aquilo estava em seu território natural. Alguma coisa entre o couro de um crocodilo, a boca de um tubarão e a silhueta de um homem.

O desferiu um golpe com a cauda e um dos espinhos da ponta se rasgou a coxa do Gael. O sangue borrou a água.

Elisa me puxava para cima, agarrando as minhas roupas. Ele ia morrer! A coisa ia comê-lo bem ali na minha frente! Eu não sabia de onde tirava força em momentos de desespero, o meu corpo doía pela falta de oxigênio, mas consegui me soltar do puxão de Elisa e nadei na direção dele. Não podia deixar o Gael para trás. Essa era uma necessidade mais urgente do que respirar.

A minha faca se cravou com tanta força entre o pescoço e o ombro, que não consegui tirar do couro. O réptil fechou com violência os dentes sobre o meu corpo, e teria me entalado pela cintura se não tivesse sido agressivamente puxado pelo Gael.

A lateral do meu corpo ardeu como fogo e a mancha horrível de sangue se espalhou ao redor. Elisa se juntou ao embate violento entre caçadores e besta.

Eu ia desmaiar.

Precisava respirar. Comecei a nadar para a superfície e pensei que não ia conseguir. Mas engoli uma golfada de ar com um desespero e uma urgência selvagem. E fui subitamente arrastada para baixo com velocidade.

O animal abocanhando a mochila em minhas costas, me puxava cada vez mais para o fundo. Ele me sacudia violentamente de um lado para o outro. A mochila se desprendeu de mim, ainda entre os dentes da criatura e eu senti o impacto bruto da minha cabeça contra um rochedo. A lágrima, aquela coisa queria a lágrima! A sereia das brumas queria o que roubamos dela. E a besta conseguiu pegá-la.

O meu corpo ficou instantaneamente mole e leve com a pancada, a visão escurecendo e apagando as imagens ao redor.

Um rabo de sereia foi a última coisa que vi. Elas haviam finalmente chegado. Chegado para nos afogar.   

Olá a todos!

Reta final chegando! Ansiosos? Monte de bjos!

E @priscilavalette, obrigada pela dica! Nunca mais vou olhar para um esmalte vermelho da mesma forma de antes! Agora eu sei que é sangue de sereia! kkkkkkkkkkkkkkk

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