33 - Sr. M
A pele sobre meu estômago já apresentava o esboço da tatuagem natural que em breve se estamparia ali. Era uma rosa-dos-ventos que descia por entre os seios até o umbigo. Nunca mais ia usar biquíni, só maiô a partir de agora!
Elisa escondeu o guardião em uma cidade vizinha à nossa. E a primeira coisa que pensei é que ele era doido de pedra. Será que era nisso que eu iria me transformar? Talvez a mente humana não soubesse lidar com a magia desenvolvida e acabasse sucumbindo à loucura.
— Certa direção. — o homem girava à minha volta fazendo sinais no ar. — Certa direção. Certa direção.
Ninguém sabia o nome dele, então Elisa o chamava de Sr. M. M de maluco!
— Sr. M. o que são esses sinais? — Elisa perguntou.
— Filtro de sabedoria. Filtro de sabedoria. Filtro de sabedoria.
— Pode desenhar para gente? — Gael lhe entregou papel e caneta.
— Você! — ele espetou o dedo no nariz do rapaz. — Muito caminho. Muito, muito. Seu caminho muito longo ainda. — pegou o papel e a caneta, e foi se sentar embaixo da mesa.
O guardião entrou em desespero e nós corremos para ele. Todo mundo se enfiando debaixo da mesa, que alegria!
— Não pode ser. Assim não pode ser. Não, não! — ele atirou a caneta longe. — Não pode ser!
— Sr. M? — Elisa tentou acalmá-lo. — O que está errado?
— Não pode, menina. Não, não, não. — apontou o risco na folha. — O céu sim. O mar sim. O céu e o mar.
— O que tem o céu e o mar? — eu me aproximei para ver bem a folha de papel. — O senhor desenhou o céu e o mar?
— Não, não. O céu e o mar pode. — ele bateu sobre o traço.
Tinha só um risco na folha. Um risco azul. Azul! Como o céu e o mar!
— A cor está errada! Não pode ser azul, é isso?
— Não pode, não pode.
Uma caneta preta foi entregue ao guardião, que logo começou a desenhar, e dessa vez sem aborrecimentos. Quando terminou todos olhamos intrigados para a obra de arte.
Tem algum leitor por aí amante de quadros abstratos que gostaria de nos ajudar? Estamos precisando.
— O que é isso? — Elisa perguntou.
— Filtro de sabedoria. Acaba tudo.
Ele saiu do esconderijo. Nós fizemos o mesmo. Sr. M nos ignorou completamente depois disso. Nem sequer olhava para a gente.
— Esse poderia ser o símbolo dos sábios. — a folha foi estendida sobre a mesa e Gael apontou três espirais unidas em uma ponta. — O símbolo dos sábios em cima de uma flor.
A flor tinha oito pétalas e o algarismo romano IV em cima. Mas que raio podia ser aquilo?
— É uma bússola! — quase dei um pulo. — Não é um número quatro é a letra N, de norte. — indiquei. — Norte, sul, leste, oeste. Nordeste, noroeste, sudeste, sudoeste.
— Não é uma bússola. — Elisa corrigiu. — É uma rosa-dos-ventos.
— O símbolo de um guardião. — Gael completou.
— Dois símbolos unidos. Sábio e guardião. — a loira pontuou.
— Certa direção. Filtro de sabedoria. — repeti as palavras do homem que não sabíamos se era maluco ou não. — A magia dos sábios pode servir como um filtro? A sabedoria que indica uma direção certa.
— Uma sabedoria que filtre a entrada em nosso mundo. — Elisa saboreou as palavras.
— Se eles pudessem fazer isso já teriam feito. — Gael advertiu.
— Não quando o preço a pagar é a morte. — Elisa encarou o desenho. — Os guardiões fizeram um sacrifício no passado. Agora é a vez dos sábios fazerem o mesmo. O grande sábio precisa entregar a sua vida ao portal.
— Um sacrifício só pode ser feito de coração voluntário. — Gael enfatizou. — E eles jamais concordariam com isso.
— Olha em volta. — Elisa começou a sorrir. — O que sobrou no desenho? O que você vê, Gael?
Espalhados pelo papel, estrelas, peixes, conchas — aquilo são pedras? — um pente, um polvo.
— Um oceano? — arriscou.
— Só tem um jeito — ela já tinha sacado tudo — de obrigar alguém a querer algo que ela realmente não quer.
— Com o fruto da persuasão.
— BINGO! — Sr.M explodiu atrás de nós, quase me matando do coração! — Bingo, bingo, bingo!
Ele pulava, ria e dançava. Todos nós começamos a rir. Tinha uma alternativa à caçada. A mescla entre guardião e sábio poderia impedir que os humanos cruzassem a fronteira, e o povo natural ficaria seguro.
Fácil, não? No entanto, as coisas fáceis tinham uma tendência horrível a se tornarem complicadas.
Antes de sairmos Sr. M encarou Gael face a face.
— Uma lembrança! — o homem falou de olhos arregalados. — Um dia, seu maior desejo... é uma simples... lembrança! Seu caminho muuuuuito longo ainda.
Então o homem se perdeu em si mesmo e nos ignorou completamente mais uma vez.
Olá! Esse é o novo guardião. Gostaram? Bem maluquinho, né não? Achei o apelido da Elisa bem apropriado! kkkkkkkkk
Não esquece da estrelinha, bjo!
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